No dia 7 de Novembro de 1926, um domingo, o Almirante Hugo Lacerda, governador interino de Macau na época, proferiu o discurso de abertura da da primeira
Exposição Industrial e Feira de Macau. Uma ideia antiga do governador Rodrigo Rodrigues... que teria lugar em Mong-Há e esteve patente até 12 de Dezembro desse ano.
Excertos do dicurso:
"(...) Tudo o que vemos em volta, todas estas
barracas vistosas e engalanadas, cheias de
artigos de variado valor, partiu da ideia
de se estabelecer um simples mostruário
de produtos de Macau. (...) O que vemos em volta não representa
um acontecimento isolado e com restrita
significação como a alguns poderá
parecer; liga-se fundamentalmente com
todo o ressurgimento de actividades
industriais e comerciais que de há tempos
se notam nesta cidade, a despeito de todas
as dificuldades do viver político da China;
liga-se naturalmente com as previsões do
aproveitamento do porto de Macau, este
novo e valioso instrumento do progresso.
Indústria, comércio, navegação e viação
terrestre dão-se as mãos, quando há uma
população obreira como a de Macau e a
que há em volta de Macau. (...) Dentro
do progresso material se deve contar
muito em Macau com o benefício trazido
por forasteiros; não basta a produção e o
tráfego de mercadorias, é preciso atrair
a concorrência de pessoas por todas as formas dignas de uma cidade moderna;
é necessário considerar o valor do que
se chama o Turismo. A Direcção das
Obras dos Portos não tem descurado este
importante aspecto da questão dentro
dos limites das suas possibilidades, indo
até ao ponto de fazer sacrifícios, como
por exemplo o estabelecimento de uma
pista de corridas de cavalos, nos terrenos
conquistados defronte da Areia Preta,
crente em que estes sacrifícios terão
largas compensações indirectamente para
o porto e sem dúvida mais directamente
para a cidade. Pena é que não possamos
fazer neste momento, também a
inauguração deste melhoramento como
se chegou a julgar possível. (...)
Recinto da feira |
Voltando à exposição propriamente
dita e atendamos também aos que nela
trabalharam. O que está à vista não é mais
do que uma tentativa, é certo, mas quando
se considerem todas as dificuldades que
resultaram dos fracos recursos, quando se
considere ainda que tudo isto representa
uma novidade para Macau, quando se
atenda a que a maior parte do trabalho
directivo e não directivo foi realizado
com pessoal das Obras dos Portos, já
tão sobrecarregado de serviços, fica-se
defronte de qualquer coisa admirável;
para cúmulo até a Natureza parece
que quis experimentar a resistência
do prestimoso Comissariado com um
violento tufão que
reduziu o que estava feito já em estado
adiantado a um montão de ruínas.
Foi esse
momento crítico. Mas o momento mais
crítico foi talvez aquele em que, havendo já compromissos importantes, foram
negados quase totalmente os recursos
ao Comissariado. Felizmente que essa
enorme dificuldade foi removida, porque,
a instâncias deste Governo, Sua Exa. o
actual Ministro das Colónias, Capitão
Tenente João Belo, autorizou que, pelos
fundos do Conselho de Administração
das Obras dos Portos, fosse aumentada
aquela importância com $2000 (patacas).
Creio que com esta experiência ficará
bem vincada em todos a convicção da
necessidade de nos futuros orçamentos
da Colónia, ou na distribuição de verbas
da Direcção das Obras dos Portos, se
consignar a importância até pelo menos
de $20 mil para anualmente se realizar
a Feira de Macau. Aproveito ainda esta
ocasião para dizer que este certame veio
dar grandes facilidades para se realizar
um melhoramento mais permanente – o
estabelecimento dum museu comercial
e etnográfico da Colónia - cuja falta se
vinha fazendo sentir e mais se sentiria
com o desenvolvimento da vida do porto. (...)
Não está terminada ainda a missão
do Comissariado da Exposição, mas
por menos que tivesse que fazer de ora
avante, já se tornou digna dos maiores
louvores por todo o seu trabalho e
dedicação, que não poderá ser esquecido
por este Governo e pela Colónia.”