Pictures and Rice paper Drawings
The first few days of my sojourn at Macao convinced me of what must be evident to a visitor at any Chinese port, the native taste for pictures and the desire of shopkeepers to gratify what they well know to be a passion too among all strangers for drawings, paintings & c. But the best specimens to be obtained at Macao are not to be taken as fair samples of the native unassisted art. At Canton, Macao and Hong Kong there has been for years so much imitation of foreign productions and not a little improvement has gradually crept over the designs of the native artists from the influence of Chinnery, an Englishman now deceased. That gentleman was for many years resident in Macao and much to his credit lent his aid in suitable suggestions and instructions to some of the Canton draughtsmen; Lamqua, for instance, known to foreigners for his portrait painting and his younger brother, Tingqua, for his sketches and miniatures. The effect of this upon the native artists of Canton may easily be guessed.
Nevertheless, genuine specimens of uneducated artists are to be found in the south, but especially at the ports farther north. The rude designs of their pencillings are such as may be seen on the commonest ware, the finest porcelain, wood engravings or wall scrolls. Although the want of perspective is a glaring blunder in all their delineations, yet, from the wood engravings in their topographies, or landscape sketches in their works on husbandry which every foreigner meets with now-a-days, it is clear that experience has taught some of them that, in describing the more distant objects, these should lessen in dimensions, as they recede from the point of view. But they have not detected that the more remote the objects become to give effect to them, the more should their outlines diminish in distinctness. (...)
Brief descriptions of Hong Kong, Canton and Macao
Any vessel bound to the port of Canton has to the delta of the Pearl River the area of which is largely occupied with isles and sandbanks This exten sive estuary forms a rough triangle measuring about 100 miles in length on each side Few rivers can be more protected than this for during the late visit of Admiral Seymour the forts along its banks amounted to thirty It is fed by large and numerous branches some of which run two and three hundred miles into the interior of the country When your ship has passed through the mouth of this wide embouchure you may if you please turn to the right to the English island of Hongkong which lies SE by E at a distance of nearly ninety five miles from Canton or to the left to the Portuguese settlement of Macao. (...)
Macao (pronounced Macow) is forty miles to the westward of Hongkong, a Portuguese settlement at precisely the same distance from Canton as Hongkong.
The position of Macao is agreeable to the English sojourner, as it has a pleasant variety of hill and dale in its little territory and is nearly surrounded with water and open to sea breezes on every side. But, apart from its having no good harbour whatever, it has the great drawback of a mongrel Portuguese society, and a low caste pig headed class of Chinese. Besides to some of the present generation of English residents in China, there can be anything but associations of a comfortable kind connected with Macao, recollecting as they must the unfriendly policy which the Portuguese on the spot pursued some sixteen or seventeen years since, and the bitterly hostile bearing which the Chinese of the settlement were encouraged to assume towards 'the red haired English'.
Macao is a peninsula not more than eight miles in circuit. It is attached to the south east point of a large island called in the Chinese tongue, Hiangshan, or as if again to delude the fancy 'the fragrant hill'.
The connecting band is a narrow isthmus which in the native topography is designated 'the stalk of a water lily.'! In 1840, a low wall stretched across this isthmus, the foundation stones of which had been laid about three hundred years ago, with the undisguised object of limiting the movements of foreigners, pedestrian or equestrian. This was the 'notorious barrier' which during the Chinese war of 1840 and 1841 was a source of great uneasiness to the Portuguese settlers of Macao, and the occasion of repeated fits of jealousy between Chinese and English.
As large numbers of the peasantry had to pass the 'barrier gates' with provisions for the mixed population at Macao, it was a frequent manœuvre with the Chinese authorities, out of revenge on the English, to stop the market supplies by closing this gate and setting over it a guard of half-starved and ravenous militia. But to leave Macao and make for Canton, your ship starts and glides by the notorious Bogue Forts threads her course through an involved network islets and mudbanks, and at last drops anchor twelve miles from Canton off the small island of Whampoo.
At Whampoo our near approach to the city of Canton is indicated by the numerous and grotesque egg boats, sampans, bumboats and other small fry of that class which are constantly ferrying between the two places, not to mention the mastheads of junks lying abreast of Canton and the flagstaffs of Chinese, British and other ensigns, which on a clear day are visible at some distance. (...)
Excertos de "Life in China - Fourtheen Years among the Chinese" de William Charles Milne, 1857
Tradulão/Adaptação:
Quadros e Desenhos em Papel de Arroz
Os primeiros dias da minha estada em Macau convenceram-me do que deve ser evidente para um visitante em qualquer porto chinês: o gosto nativo por quadros e o desejo dos lojistas de satisfazer o que bem sabem ser também uma paixão de todos os forasteiros por desenhos, pinturas, etc. Contudo, os melhores exemplares que se podem obter em Macau não devem ser tomados como amostras justas da arte nativa não assistida.
Em Cantão, Macau e Hong Kong tem havido, durante anos, tanta imitação de produções estrangeiras, e uma melhoria não negligenciável infiltrou-se gradualmente nos desenhos dos artistas nativos por influência de Chinnery*, um inglês já falecido. Esse cavalheiro residiu em Macau durante muitos anos e, para seu grande mérito, prestou a sua ajuda através de sugestões e instruções adequadas a alguns dos artistas de Cantão; Lamqua, por exemplo, conhecido entre os estrangeiros pelos seus retratos, e o seu irmão mais novo, Tingqua, pelos seus esboços e miniaturas. O efeito disto sobre os artistas nativos de Cantão pode ser facilmente imaginado.
Não obstante, no sul, mas especialmente nos portos mais a norte, encontram-se espécimes genuínos de artistas não instruídos. Os traços rudimentares dos seus desenhos a lápis são semelhantes aos que se podem ver na louça mais comum, na porcelana mais fina, em gravuras em madeira ou em pergaminhos de parede.
Embora a falta de perspectiva seja um erro gritante em todas as suas representações, contudo, a partir das gravuras em madeira nas suas topografias, ou dos esboços de paisagens nas suas obras sobre agricultura, com que qualquer estrangeiro se depara actualmente, é claro que a experiência ensinou a alguns deles que, ao descreverem os objectos mais distantes, estes devem diminuir de dimensão à medida que se afastam do ponto de vista. Mas não detectaram que, quanto mais remotos os objetos se tornam para lhes dar efeito, mais as suas linhas de contorno devem diminuir em distinção. (...)
* Chinnery viveu em Macau entre 1827 e 1852, quando morreu
Breves Descrições de Hong Kong, Cantão e Macau
Qualquer navio com destino ao porto de Cantão tem, no delta do Rio das Pérolas, uma área largamente ocupada por ilhas e bancos de areia. Este extenso estuário forma um triângulo imperfeito com cerca de 100 milhas de comprimento em cada lado. Poucos rios podem ser mais protegidos do que este, pois durante a recente visita do Almirante Seymour, as fortalezas ao longo das suas margens ascendiam a trinta. É alimentado por grandes e numerosos afluentes, alguns dos quais se estendem por duzentas e trezentas milhas para o interior do país.
Quando o seu navio tiver passado pela boca desta ampla foz, pode, se assim o desejar, virar para a direita em direção à ilha inglesa de Hong Kong, que fica a Sudeste por Este, a uma distância de quase noventa e cinco milhas de Cantão, ou para a esquerda em direção ao estabelecimento português de Macau. (...)
Macau
Macau (pronuncia-se Macáu) fica quarenta milhas a oeste de Hong Kong, um estabelecimento português à mesma distância exacta de Cantão que Hong Kong.
A localização de Macau é agradável para o residente inglês, pois o seu pequeno território possui uma variedade aprazível de colinas e vales, estando quase totalmente rodeado por água e aberto às brisas marítimas em todas as direcções. No entanto, para além de não possuir nenhum bom porto, tem a grande desvantagem de uma sociedade portuguesa mestiça e uma classe de chineses teimosos e de baixa casta. Além disso, para alguns da actual geração de residentes ingleses na China, as associações a Macau não podem ser de natureza confortável, lembrando-se, como devem, da política hostil que os portugueses no local seguiram há cerca de dezasseis ou dezassete anos, e da postura amargamente hostil que os chineses do estabelecimento foram encorajados a assumir para com 'o inglês de cabelo vermelho'.
Macau é uma península com não mais de oito milhas de perímetro. Está ligada ao ponto sudeste de uma grande ilha chamada, na língua chinesa, Hiangshan, ou, como se para iludir novamente a fantasia, 'a colina perfumada'.
A faixa de ligação é um istmo estreito que, na topografia nativa, é designado 'o caule de um lírio-de-água'!** Em 1840, um muro estendia-se por este istmo, cujas pedras de fundação tinham sido colocadas há cerca de trezentos anos, com o objetivo não dissimulado de limitar os movimentos de estrangeiros, a pé ou a cavalo. Esta era a 'notória barreira' que, durante a guerra chinesa de 1840 e 1841, foi motivo de grande incómodo para os colonos portugueses de Macau e a causa de repetidos acessos de ciúmes entre chineses e ingleses.
Uma vez que um grande número de camponeses tinha de passar pelos 'portões da barreira' com provisões para a população mista de Macau, era uma manobra frequente das autoridades chinesas, por vingança contra os ingleses, parar os abastecimentos do mercado fechando este portão*** e colocando de guarda uma milícia faminta e voraz.
Cantão
Mas para deixar Macau e seguir para Cantão, o seu navio arranca e desliza pelas notórias Fortalezas da Boca do Tigre, abre caminho através de uma complexa rede de ilhéus e bancos de lama, e finalmente larga âncora a doze milhas de Cantão, ao largo da pequena ilha de Whampoa.
Em Whampoa, a nossa aproximação à cidade de Cantão é indicada pelos numerosos e pitorescos tancares, sampanas, barcos de provisões e outras pequenas embarcações daquela classe que estão constantemente a fazer a travessia entre os dois locais, para não mencionar os mastros dos juncos atracados ao lado de Cantão e os mastros de bandeira chineses, britânicos e de outras insígnias, que num dia claro são visíveis a alguma distância. (...)
** metáfora poética: caule de lírio-de-água; em chinês 蓮花/蓮葉 - Flor de Lótus.
*** Porta do Cerco (ver pintura acima)
Filho do missionário William Milne, William Charles Milne (1815-1863) chegou à China com apenas dois anos. A mãe morreu em 1819 e o pai em 1822. Nesse ano regressa a Inglaterra onde completa os estudos e integra como missionário a London Missionary Society que o envia para a China em 1839, tendo passado por Macau a 18 de Dezembro desse ano. Ali vai viver até 1854. Durante esse tempo viveu largos períodos em Macau, nomeadamente entre 1840 e 1841. Apenas de ausente entre 1844 e 1846 quando está em Inglaterra e se casa.
Voltou à China com a mulher em 1846 fixando-se em Xangai. Com a morte de um delegado de Ningpo que fazia parte da comissão encarregue da tradução da Bíblia foi eleito para preencher a vaga. Finalizada a tradução do Novo Testamento, foi eleito para continuar como delegado para a tradução do Antigo Testamento, tarefa concluída em 1852. Regressou a Inglaterra por motivos de saúde mas em 1856 estava de novo na China como intérprete do consulado em Fuzhou. Com o estabelecimento da Legação Britânica em Pequim, Milne actuou como tutor de intérpretes no serviço público britânico. Viria a morrer a 15 de Maio de 1863 e foi sepultado numa área não consagrada do cemitério russo nos arredores de Pequim.
O livro foi primeiro publicado em Londres em 1857. No ano seguinte teve uma edição em francês - "La vie réelle en Chine".