quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Canícula

O Verão, ou melhor o mês alto das férias grandes foi sempre e será o que aí vem, o mês de Agosto, o tal de “Peak Season” como é designado pelas agências de viagem pelo mundo fora e Macau não é excepção.
Digo que foi, pois pelo menos nos meus tempos de jovem nesta terra, o mês de Agosto era o preferido para a frequência das colónias de férias da Polícia em Hac-Sá, ou das meninas em Cheoc-Van, para os acampamentos da Mocidade Portuguesa no morro da Artilharia e mais recentemente do Grupo de Escuteiros de Lusófonos de Macau (GELMAC).
Sobre o movimento Escuteiro português, já agora permitam-me aqui um abrir e fechar de parêntesis, sem querer aqui contar a história toda, sabiam os leitores, que este nasceu em Macau!? Em 1912! É verdade e só depois levado para Portugal onde depois então foram criados os Escuteiros de Portugal, um movimento de jovens que sem dúvida ajudou a educar e promoveu a solidariedade humana e foi levado de Macau, é caso para parafrasear o nosso amigo de família e saudoso, Fernando Pessa, que tive o prazer e a honra de conhecer pessoalmente pela primeira vez em Macau, no verão de 1970. E esta ehn!
Na época da canícula, dos tufões e dos excessos, de calor (um verdadeiro “bafo”) e humidade, nada melhor do que um bom refresco. Isto vem mesmo a propósito de recordar as “obras de arte”que se podiam ver por diversos locais do território e Ilhas – “Umas Garrafas Gigantes- anúncios publicitários de refrigerantes!”, digamos que não seriam geniais mas que nos levavam a beber com mais frequência, geladinhas, tiradas do fundo das geleiras, que não passavam de enormes baús de alumínio ou latão, repletos com blocos de gelo, que descongelavam, vindos directamente da fábrica de gelo do Porto Interior!
Uma destas garrafas gigantes, estava “plantada” na curva que apelidávamos de curva com o nome da bebida- Coca-Cola, ou seja também a curva “R”(de reservatório) – á entrada de uma esplanada que me esqueci de referir na crónica dedicada a estes locais de veraneio. Esplanada esta que nos finais de tarde dos anos sessenta (1965/66) os seus frequentadores eram presenteados com música ao vivo, interpretada por uma das muitas bandas de jovens macaenses que tocavam nessa época, um pouco por todo o lado, segundo me confidenciou um destes jovens músicos de outrora e ao qual agradeço muito o seu comentário.
Outras destas “garrafonas gigantones” estavam espalhadas pela vila da Taipa, uns verdadeiros monumentos, muito “naives” que desapareceram todos com advento da época moderna – casineira!
A propósito destes “mamarrachos simpáticos”, vou tentar, através do blog “Macau Antigo” da net, do nosso amigo João Botas, tentar arranjar um exemplar destas garrafas, em foto, para os mais novos poderem ver para crer do que estou para aqui a falar.
Resta-me pois desejar a todos os meus leitores um mês de Agosto, muito refrescado, em contacto com a natureza, com o mar, a praia e as delícias gastronómicas do local onde fizerem o vosso “bunker” ou castelos na areia. Boas leituras, boa música, muito repouso. Que recarreguem as “baterias”para poderem enfrentar a “reentré” ou seja mais um ano lectivo para os estudantes e professores e de trabalho para todos os funcionários em geral sejam públicos ou privados. Boas férias!
NA: crónica da autoria de Luis Machado publicado no JTM de 27-7-2011 que me enviou um e-mail com o seguinte teor: "Esta crónica é dedicada a ti e para o teu Blog Macau Antigo! Obrigado pelas belíssimas fotos! "Keep it up"! Um abração, Luís Machado."
Como forma de agradecimento aqui ficam as fotos a que ele se refere no texto e que tirei no meu regresso a Macau em 2009 na Taipa e em Coloane (Hac Sa).

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Morreu fundador da Caritas Macau

Luis Ruiz Suárez deixou Espanha (onde nasceu) quando tinha apenas 18 anos, banido do país por ser jesuíta. A viagem levou-o à Bélgica e depois a Cuba, onde chegou em 1937. Apesar de professor, foi desde aí que começou a dedicar-se às causas humanitárias. Em Macau e Guangdong ficou conhecido como um símbolo de ajuda aos leprosos.
Faleceu no dia 26 de Julho de 2011 ao fim de 97 anos e de uma vida dedicada à acção social que lhe concedeu o título oficioso de “padre dos pobres de Macau”. O jesuíta espanhol fundou a Caritas de Macau em 1951 e esteve à frente de diversos centros de apoio social, Numa entrevista ao portal catholic.net, há cinco anos, afirmava que “quando se vê a pobreza não se pode manter os braços cruzados”.
Costumava percorrer as ruas de Macau de mota, mas mais recentemente era de carro que chegava às suas 145 leprosarias espalhadas por toda a China. Tratava de mais de 10 mil doentes e formava ainda os filhos dos leprosos – tinha “2000 alunos entre a escola primária e a universidade”, mencionou ao jornalista do catholic.net. "Houve um aluno, formado em Macau, que se tornou um empresário de sucesso em Hong Kong. Enviou 20 mil dólares de donativos”, relembrou o padre.
Depois de Bélgica e Cuba, Luis Ruiz Suárez chega à China em 1941, onde estudou mandarim. Um ano depois foge devido à II Guerra Mundial e em 1945 é ordenado sacerdote. Embarca para Nanking, onde dava aulas de inglês e onde fica até os comunistas ocuparem a sua missão e o expulsarem. F oi daí que seguiu direito ao território. Na Macau da altura, disse ter encontrado “uma cidade repleta de refugiados, esfomeados, sem dinheiro e sem trabalho”.
Reacções na Rádio Macau:
Paul Pun secretário-geral da Caritas:
"É o “padre dos pobres de Macau” (...) “na década de 1950, muitas pessoas sofriam todo o tipo de dificuldades e não tinham lugar de abrigo”. Paul Pun destacou ainda a acção social levada a cabo pelo jesuíta na China, onde a partir da década de 1980 começou a trabalhar com doentes leprosos. Também em Macau, ajudou os internos do antigo centro de Ka Hó, em Coloane. 
Padre Luís Sequeira, antigo superior dos jesuítas em Macau: “Como carismático que foi, estou contente por ver que [o seu trabalho] está a ter continuação entre os jesuítas mais novos, nesta linha do serviço aos mais pobres. É o grande testemunho que nos dá como jesuíta e como Igreja”.
NA: texto elaborado a partir de notícias dos jornais Hoje Macau e Ponto Final.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

"Censos" no século XVII

Decisão acordada no Leal Senado acerca dum pedido dos mandarins de Cantão para contar os chineses a residirem em instalações portuguesas em Macau: “os Officiaes assentarão, q’ era em grande prejuizo de todo este Povo, e quietação desta Cide, o obrigarem-se os nossos moradores a que dessem conta de Chinas.”
Termo, e Acordão feito em Meza de Vereação pelos Officiaes della, sobre huma chapa, q’ veio de Hian-xan, remettida pelos Mandarins de Cantão, sobre o dar-se pr conta os Chinas, q’ vivem nesta Cide em Challes, Boticas, e Gudoens dos Moradores
Aos três dias do mez de Junho de 1690, nesta Cide, do Nome de Deos na China, na Caza da Cama della, estando em Meza de Vereação os Officiaes, q’ no dº Anno servem, foi proposto pelo Procdor desta Cide, em como o Mandarim de Hian-xan de prezte remetteo huma Chapa dos Mandarins de Cantão, em q’ Ordenão, q’ os Cabeças da Rua dessem pr lista todos os Chinas assistentes nesta Cide, em Challes, Boticas, e Gudoens dos Moradores, e q’ de cada dez pessoas nomeassem hum, q’ fosse Cabeça, pª dar conta dos mais todas as vezes, q’ lhe pedissem e q’ se dessem os nomes de todos os nossos moradores, q’ em seus Gudoens recolhem Chinas, pª darem conta delles. O que ouvindo os dos Officiaes assentarão, q’ era em grande prejuizo de todo este Povo, e quietação desta Cide, o obrigarem-se os nossos moradores a que dessem conta de Chinas, e q’ pª este damno se evitar, se mandassem logo notificar a todos os moradores, pª que lançassem fora dos seus Gudoens todos os Chinas, q’ nelles vivem, e q’ mais nelles os não consentissem, sob pena de pagarem todas as perdas, e damnos, q’esta Cide se seguissem, pr fazerem o contrº; como de effeito logo mandarão fazer a dª notificação, e mandarão chamar os Cabeças da Rua, a quem ordenarão, q’ dessem as listas a seus Mandarins de todos os Chinas dos Chales, e Boticas, e q’ não dessem os nomes dos Chinas, q’de prezte estavão nos Gudoens dos Moradores, por q’ logo os mandava lançar fora, pª não haver occazião de andar em Tribunaes Sinicos os nomes dos nossos Moradores com obrigação de dar conta de Chinas. E assentarão mais os dos Officiaes, que outro sim fossem notificados os dos Moradores q’ fechassem, e intaipassem as novas portas, q’ tinhão aberto em seus Gudoens, pª serventia dos dos Chinas. E de como assim o assentarão, e ordenarão, Eu Frco Fragozo Alferes, e Escrm da Camara da dª Cide, fiz este termo, em que os ditos Officiaes se assignarão, e o escrevi. – Jozé Vieira da Silva – Martim Afonço de Souza – Jeronimo de Vasconcellos – Constantino Alvares da Páz.
Está conforme. – Jozé Joaqm Barros, Escrm da Camara.
NA: Agradecimentos ao Arquivo Histórico de Macau

domingo, 24 de julho de 2011

Livraria Turismo de Macau em Lisboa

Para além da presença assídua na Feira do Livro de Lisboa, o Turismo de Macau tem uma livraria repleta de edições sobre o território. Fica no Centro de Promoção e Informação Turística de Macau em Portugal Av. 5 de Outubro, 115, em Lisboa.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

"Oriente/Ocidente": edição 26

É sempre motivo de satisfação, para quem se dedica à preservação, valorização e divulgação da memória da sua terra e da sua comunidade, ver sair do prelo mais um livro, revista ou simples boletim informativo em que se fazem mais registos dessa memória e de acontecimentos e personalidades que dão sentido a uma comunidade viva, orgulhosa da sua história e parte activa na construção do futuro da terra onde nasceu ou onde vive e que foi o ponto de partida para a diáspora que as suas gentes laboriosamente criaram e consolidaram nos novos mundos que demandaram. Saúda-se, por isso, a publicação de mais um número da “Oriente/Ocidente”, revista do Instituto Internacional de Macau (IIM), ora em distribuição e cujo conteúdo é largamente dominado pelo último Encontro das Comunidades Macaenses, realizado em Novembro e Dezembro de 2010.
Vinte e seis números foram já publicados neste seu presente formato, desde que, de pequena “newsletter”, foi tendo o seu conteúdo, dimensão e arranjo gráfico crescentemente melhorados. Inicialmente coordenada por Luís Sá Cunha, os responsáveis pela publicação são agora Rufino Ramos, como editor, e José Mário Teixeira, como adjunto.
O editorial deste número explica bem os propósitos da revista: “Macau sempre foi uma cidade vanguardista no processo da mundialização. Há já cinco séculos que assumiu o papel de plataforma entre os universos oriental e ocidental e, desde então, tem cumprido esse papel de uma forma única. Se bem que a sua localização geográfica foi, e é, um ponto importante neste processo, é certo que não foi exclusivamente graças a esse ponto, o sucesso alcançado pelo território. As gentes de Macau e as suas criações foram, indubitavelmente, a chave do êxito deste pequeno pedaço de terra. Gentes e criações que deram origem a um património identitário único no mundo, pela sua diversidade e harmonia. É este património, tangível e intangível, do terreno da memória e do futuro, que o Instituto Internacional de Macau se propõe, desde a data da sua criação, proteger e promover, em Macau e no mundo. Lado a lado com Macau, a história do IIM é, também, uma história de sucesso. A participação no Encontro das Comunidades Macaenses 2010 coroou um ano próspero do IIM, numa homenagem conjunta ao patuá, a personalidades, a instituições, a memórias... e a Macau. Nestes momentos de triunfo da comunidade sobre o esquecimento, criam-se espaços novos, num processo eterno de criação e manutenção da identidade macaense. Para cada pessoa que parte, criam-se também espaços de homenagem e de memória. Henrique de Senna Fernandes, Leonel Barros e Lídia Cunha foram peças no processo de criação de Macau e merecem, também, um destes espaços, na memória de cada um e na identidade de todos. Este número da ‘Oriente/Ocidente’ é a prova disso.”
Excerto de artigo da autoria de Jorge Rangel publicado no JTM de 18-7-2011

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Colecção Jorge Forjaz nos EUA

A Biblioteca da Universidade da Califórnia (EUA) disponibilizou para consulta pública a "Colecção Jorge Forjaz", que reúne livros, cartas, fotografias e outra documentação sobre a presença portuguesa em Macau. O acervo (composto por várias centenas de documentos e fotografias e mais de duas centenas de livros sobre a história de Macau) foi oferecido à Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo, mas, segundo Jorge Forjaz, a alegada ausência de espaço impediu a permanência do espólio na ilha Terceira (Açores). Tudo começou em 2007...

"Eu propus oferecer todo o acervo à Biblioteca de Angra, assim como um espólio documental da minha família. A minha doação foi acolhida, mas só a parte a parte familiar, tendo sido informado que para o acervo relativo a Macau não havia espaço. Para a documentação familiar haveria uma porta aberta, mas isso implicaria que ela, numa primeira fase, ficasse noutro local. Para o acervo de Macau, nem porta aberta houve. Nestas situações, normalmente, estende-se um tapete vermelho a quem oferece, porque o faz a troco de nada. A única coisa que se pede é que seja arquivada com o nome do doador. Ora, perante esta situação decidi procurar outra solução."
E a resposta veio da Califórnia, mais precisamente do Old China Hands Archive, da Universidade Sul da Califórnia, em Los Angeles.
"Mandei um e-mail numa noite e, no dia seguinte, tinha a resposta positiva. Mostraram-se muito interessados no espólio, garantiram o pagamento das despesas de transporte e agradeceram imenso a minha doação, adianta o historiador. Este é um grande arquivo norte-americano, que reúne documentação sobre a presença ocidental na Ásia, nomeadamente na China e no Japão, assim como em Macau. Eles não tinham nada sobre a presença portuguesa naquelas paragens. E acolheram com enorme agrado a documentação que doei. Lá será arquivado este espólio, que constituirá o Arquivo Jorge Forjaz, o que para mim é uma honra por ter o nome ligado a um grande arquivo nacional americano. E a universidade fica com um importante acervo da presença portuguesa em Macau, disponível para investigação."
O espólio em causa é composto por mais de duas centenas de livros sobre a história de Macau e várias centenas de documentos (textos e fotografias) sobre as famílias macaenses, sendo algumas delas de origem portuguesa e açoriana e resulta da investigação que o historiador encetou quando viveu em Macau, e que deu origem ao livro Famílias Macaenses, composto por três volumes e publicado pela Fundação Oriente há uma década.
"Essa investigação decorreu ao longo de vários anos. Nesse período, reuni uma vasta biblioteca sobre a história de Macau. Nela estão incluídos os mais importantes livros sobre a história de Macau, assim como obras raras, caso da História da Diocese de Macau, escrita pelo Pe. Manuel Teixeira, composta por 14 volumes, da qual, segundo sei, só existem um ou dois exemplares completos em Portugal. Reuni também muita documentação, nomeadamente sobre a presença açoriana em Macau"
Uma fotografia do espólio. Grupo 'festivo' em Macau: 1925
NA: Declarações do historiador Jorge Forjaz ao Correio dos Açores em 2008

terça-feira, 19 de julho de 2011

Duas estátuas: Nicolau Mesquita e Ferreira do Amaral

No número especial da Revista Militar dedicado à presença Portuguesa no Oriente (Lisboa, Janeiro de 1999), o Pe. Manuel Teixeira, num artigo intitulado “Destacados Militares e o dia mais glorioso da História de Macau”, resumiu a vida destas duas personalidades de Macau de meados do século XIX. As suas estátuas fora construídas em Portugal pela mesma pessoa e colocadas em Macau no mesmo ano (1940). Devido aos eventos de 1966 a do Coronel Mesquita foi retirada e em 1986 enviada para Portugal, sendo que muito em breve estará pronta (estava muito danificada) para ser vista publicamente. A estátua de Ferreira do Amaral veio de Macau em 1992, esteve quase 10 anos encaixotada e em 1999 foi colocada no topo de uma rua no Bairro da Encarnação (Lisboa). Às duas faltam os enormes pedestais.
Governador João Maria Ferreira do Amaral
Foi o Governador mártir. O marinheiro que ocupa o lugar cimeiro na história de Macau. O maior e o mais trágico em vida e após a morte! O único que mereceu ter uma estátua em Macau! Mas como essa estátua ainda fazia tremer os chineses, foi removida antes que eles o executassem segunda vez.

Foto de António Cambeta. Macau 1965
Tomou parte, como guarda marinha, no assalto a Itaparica, no Brasil, em 24 de Fevereiro de 1824. Ferido, tiveram que lhe cortar o braço, sem anestésicos, a sangue frio. Quando viu cair o braço levantou-se da cadeira, lançou-o ao ar e exclamou: “Viva Portugal!”.
Fez parte da expedição do Mindelo, comandando um dos navios da esquadra.
Sendo conselheiro e capitão-de-mar-e-guerra, foi nomeado governador de Macau, de que tomou posse em 21 de Abril de 1846. Nesse mesmo ano, organizou o Batalhão Provisório de Macau, que ficou aquartelado no extinto Convento de S. Domingos.
Tomou posse da ilha da Taipa, construindo ali uma fortaleza e arvorando sobre ela a bandeira portuguesa, a 9 de Setembro de 1849. Gizou o projecto o tenente da marinha, Pedro José da Silva Loureiro, natural de S. Miguel, Açores.
Hoje Macau é a cidade do jogo. Mas Amaral ordenou, a 1 de Fevereiro de 1849, a aplicação duma multa de dois taéis a todo aquele que fosse encontrado a jogar. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança, todo o mundo é feito de mudança, tomando sempre novas qualidades. Já vai longe o tempo de Amaral… E hoje nem a sua sombra querem ver em Macau!
Foi ele o libertador desta terra que gemia havia 300 anos sob a administração chinesa. No dia seguinte, ordenou à força pública que fizesse desaparecer todos os sinais da mesma.
A 18 de Março, proibiu que os mandarins entrassem aqui ao som de bátegas, como era costume. Em 22 de Agosto de 1849, a sua cabeça rolou perto da Porta do Cerco pelas mãos de sicários chineses.”
Coronel Vicente Nicolau de Mesquita
“Foi o único que ousou enfrentar as forças chinesas. Após o assassinato de Amaral, 2000 soldados chineses, instalados no forte de Pac-sá-lan (Passaleão), começaram a bombardear Macau. As nossas forças, postadas na Porta do Cêrco, conservaram-se inactivas. Foi então que o Tenente Vicente Nicolau de Mesquita avançou com 32 homens contra esse forte, desbaratando a guarnição e implantando a bandeira portuguesa. Com este feito tornou-se o maior herói macaense. Foi este o único encontro significativo entre a China do Sul e Macau nos quase cinco séculos da sua existência. Não se pode chamar guerra, pois não houve guerra nenhuma, mas um simples recontro, em que ninguém morreu. O primeiro a saltar os muros do forte foi um landim. Os chineses, ao ver um preto, gritam: ‘Hak kwai, hak kwai’ (diabo preto, diabo preto) e desataram a fugir com medo do diabo!!! Mesquita regressou triunfante a Macau .
Foi-lhe levantada uma estátua de bronze da autoria do escultor Maximiliano Alves com esta legenda: “Homenagem da Colónia ao Herói Macaense, Coronel Vicente Nicolau de Mesquita, 25 de Agosto de 1849”. Foi ainda baptizada uma via pública com o nome de Avenida do Coronel Mesquita. A estátua de Mesquita, no Largo do Senado, foi arrancada pelos desordeiros chineses nos dias 1,2 e 3 de Dezembro de 1966. Hoje restam apenas o busto do herói à entrada do Cemitério S. Miguel e a Av. Coronel Mesquita. A própria casa, onde ele viveu na Rua do Lilau, foi demolida e substituída por outra. Este herói teve um fim trágico: assassinou a família e morreu lançando-se ao poço da sua casa. Por isso, não teve enterro eclesiástico nem sepultura em terreno sagrado. Foi reabilitado em 1910.
A lápide funerária no Cemitério da S. Miguel diz: Tomou Passaleão em 25-8-1849. Faleceu em 20-3-1880. Foi trasladado em 28-8-1910; teve nesse dia honras militares e eclesiásticas.
A sua campa foi reconstruída pelo Leal Senado em Junho de 1947”. 
Ambas da autoria do escultor Maximiano Alves, as estátuas em bronze, foram inauguradas no dia 24 de Junho de 1940, por ocasião das comemorações do duplo centenário (da fundação e da restauração) de Portugal. Nos tumultos de 3 de Dezembro de 1966, inspirados pela revolução cultural chinesa, a estátua do Coronel Mesquita foi violentamente retirada do pedestal, no Largo do Senado, ficando depois armazenada nas Oficinas Navais até à sua transferência para Portugal por iniciativa da Associação dos Comandos, em 1986.
A base, em pedra, tinha a seguinte inscrição, na íntegra:
Homenagem da Colónia ao herói macaense Vicente Nicolau de Mesquita. 25 de Agosto de 1849. Monumento eregido por subscrição pública e auxílio do Governo da Colónia. Foi inaugurado por ocasião das festas comemorativas do Duplo Dentenário da Fundação e Restauração de Portugal. 24 de junho de 1940. Oferta do Leal Senado
Na estátua equestre do Governador Ferreira do Amaral a inscrição era bastante idêntica, mas aposta em duas lápides, no alto pedestal situado no centro da rotunda onde estão agora o Hotel Lisboa e o edifício do Banco da China:
Homenagem da Colónia ao Governador João Maria Ferreira do Amaral. 22 de Agosto de 1849. Este monumento foi eregido por subscrição pública e auxílio do Governo da Colónia. Foi inaugurado em 24 de Junho de 1940 por ocasião das Festas do Duplo Centenário da Fundação e Restauração de Portugal. Oferta do Leal Senado.
Concluídas as negociações luso-chinesas sobre o futuro de Macau e assinada a Declaração Conjunta em 1987, as autoridades portuguesas aceitaram as “sugestões” reiteradas da parte chinesa e decidiram transferir a estátua de Ferreira do Amaral para Lisboa (Removida em Outubro de 1992), ficando colocada, em 1999, no Bairro da Encarnação (Olivais Norte), em local pouco visitado e sobre uma base demasiado baixa para a dignidade do monumento, fazendo um contraste evidente com a posição que tinha em Macau.
O nome de Ferreira do Amaral permanece em Macau numa rua, numa rotunda (onde se erguia, altiva, a estátua) e no istmo que conduz à Porta do Cerco, cujo arco, que também foi preservado, fora erguido em sua memória, em 1871.
Já a estátua de Nicolau de Mesquita depois de ter andado por Macau de armazém em armazén, aos tombos, no início da década de 1980 estava nos armazéns das Oficinas Navais. Em 1986 terá sido enviada para Portugal com a colaboração da Associação de Comandos passando a ficar localizada no Porto.
Bairro da Encarnação, Lisboa - 2008

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Macaulogia em Outubro

Lisboa vai ser palco entre os dias 19 e 22 de Outubro da 2ª Conferência Internacional de Macaulogia. Subordinada ao tema “Investigação e estudo das fontes históricas da Macaulogia”, a iniciativa resulta de uma parceria entre a Fundação Macau, Universidade de Macau e  Instituto do Oriente do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa.
Na primeira Conferência Internacional de Macaulogia, que teve lugar em Abril de 2010 em Macau, participaram 80 académicos de diversas origens: China, Taiwan, Hong Kong, Portugal, Estados Unidos, Alemanha, Itália, Brasil e Japão.
Macaulogia, tal como o nome indica, significa estudos sobre Macau. A História assume um papel de relevo entre as várias áreas em que se incluem, entre outras, a vertente cultural, social, política, económica ou religiosa. A Conferência Internacional de Macaulogia pretende afirmar-se como uma plataforma para o intercâmbio de ideias e de debate dos últimos desenvolvimentos no âmbito dos estudos da “ciência” que tem como objecto Macau.

domingo, 17 de julho de 2011

Macau em 1895 por William Henry Jackson

Jackson, William Henry, 1843-1942. World's Transportation Commission photograph collection (Library of Congress). EUA
 Temple Entrance (A-Ma)
View of harbor from tree-lined boulevard, the Praya Grande.
Western church facade at top of rows of stone steps (ruínas S. Paulo)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Arquitectura: década 1950

Rua da Alfândega, 2 A-B
Rua da Vitória
Rua do Padre António
Rua Jorge Álvares, nºs 4 e 6
Rua Madre Terezina, 28 e 30
Rua Nova à Guia, 44
Rua Padre António Roliz
Calçada do Paiol

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Brochura turística: 1961

Brochura de pequenas dimensões editada em 1961 pelo Departamento de Turismo e oferecida aos turistas. Neste caso, os que dominavam a língua inglesa. Na introdução pode ler-se: "Muito se tem escrito sobre Macau (portuguesa), a maior parte das vezes por quem nunca aqui esteve e por isso distorceram os factos. Daí que o propósito deste pequeno livro seja explicar tudo de uma forma breve. Em Macau irá encontrar mais História do que possa imaginar... a atmosfera de um mundo antigo... a beleza natural e uma população simpática e pacífica. Bem-vindo a Macau"
 

Um mapa desdobrável
Uma aguarela de Smirnoff que viveu em Macau alguns anos durante a Guerra do Pacífico