A propósito da recente passagem do autor pela Feira do Livro de Lisboa (vive nos Açores desde 1999), seleccionei para este post o romance A Mãe", a sexta obra da autoria de Rodrigo Leal de Carvalho (RLC), magistrado que começou por residir em Macau a partir de 1959. Aqui, tal como noutras romances do autor, a história baseia-se em factos verídicos contados por "Gabi Andrade Borges" e diz respeito ao período post guerra do Pacífico.
Em "A Mãe" RLC conta a história de Natasha Korbachenko, nascida na Sibéria mas que por causa da revolução bolchevique (1917) refugia-se em Xangai (imagem acima no final da década de 1930). Com o eclodir da 2ª guerra sino-japonesa e a invasão nipónica da "Paris do Oriente", Natasha e a família voltam a ter de fugir. Desta vez rumo a Macau, território que entre 1937 e 1945 acolheu milhares de refugiados da china e de Hong Kong.
"O Hisaku Maru ficou ancorado na Rada, ao largo do Porto Exterior, porque o assoreamento do porto Interior não permitia a entrada de navios daquele calado. Os refugiados debruçavam-se na amurada, as parcas bagagens à sua volta, e fitavam entre curiosos e atemorizados, o distante perfil do porto de paz e da esperança, as verdes colinas da guia com o seu farol - o que primeiro brilhou nas costas da China - recortado a branco no azul de um céu límpido e frio, a do Monte encimada pela mole escura da fortaleza seiscentista, e, na extremidade da península, a da Penha/Barra coroada por uma deliciosa igrejinha banca mais peninsular que oriental, ligadas por uma grande enseada, baixa, fimbriada de banyan trees, velhas e frondosas, por onde espreitavam as casas apalaçadas da gente bem da Colónia."
A foto é real e da década de 1940 em Macau mas não retrata Natasha |