Em mais um aniversário da Restauração da Independência (1640) - data relevante tb para Macau * onde existem duas ruas da Restauração (em Macau e na Taipa) - ocorreu-me o nome de Eduardo Brazão (1907-1987), proeminente diplomata e historiador português com forte ligação ao Oriente e a Macau, tendo sido Cônsul de Portugal em Hong Kong entre 1946 (chegou em em Abril de 1947) e 1951.
Sabia que actualmente existe a "Escola Camões" em Hong Kong? Na sua origem está Eduardo Brazão. Diplomata, académico e historiador considerado um visionário. Neste aspecto, uma das ideias que preconizou foi a criação de uma Universidade em Macau na década de 1940. O projecto acabou por não vingar. O mesmo não aconteceu com a criação da Escola Camões em Macau e do Instituto Português, também na então colónia britânica.
Imagens fornecidas por antigos alunos da Escola Camões em Hong Kong
Fundada em 1947, começou por funcionar no nº 7 da Cox's Road (Tsim Sha Tsui) e abrangia os primeiros anos de escolaridade, da creche ao ensino primário. Embora se destinasse a alunos portugueses/macaenses, depressa passou a aceitar alunos de outras nacionalidades, incluindo chineses. De início teve apoio do Governo de Macau e posteriormente do Governo de Hong Kong e da comunidade portuguesa local. Em 1957 há registo de mais de 200 alunos inscritos.
A primeira director da escola foi a macaense - nasceu em Shameen, Cantão - Maria Lourdes de Oliveira Sales (1926-2022).
No início da década de 1950 o jornalista Armando de Aguiar (Correio da Manhã, do Brasil) visitou Macau e Hong Kong, tendo-se encontrado com Eduardo Brazão. Aqui fica o seu testemunho:
"Num dos navios do magnate macaense Sr. Fu Tak Iam fiz-me transportar a Hong-Kong. O braço amigo do Dr. Eduardo Brasão levou-me a visitar a cidade e os arredores, incluindo Kowloon, que em chinês quer dizer ‘nove dragões’, de Kow (nove) e Lung ou Loon (dragões). E levou-me também a transpor as páginas da história pátria no que diz respeito à presença de Portugal no ‘Porto Perfumado’. Numa das barulhentas e policromas ruas da cidade chamou-me a atenção uma casa revestida de azulejos de aspecto português. Dei- me à curiosidade de investigar a sua origem e apurei serem, realmente, de origem nacional, fabricados em Aveiro. O Clube de Recreio, em Kowloon, é uma afirmação do espírito social da comunidade portuguesa, assim como o Clube Lusitano, fundado em 1866, marca um lugar do mais alto relevo entre as instituições culturais que exaltam e prestigiam o nome de Portugal em países estrangeiros. Pois foi dentro das veneráveis paredes daquela patriótica instituição que o actual secretário nacional da Informação fundou, em Novembro de 1947, o douto Instituto Português de Hong-Kong, destinado à divulgação da nossa cultura naquela colónia britânica, onde, graças ao fecundo impulso que desde o início lhe foi dado por aquele brilhante diplomata, têm sido versados os principais problemas relacionados com a obra da inteligência em Portugal, no passado e no presente. O Instituto Português de Hong-Kong deve ser considerado o remate da obra de defesa da língua de Camões naquela colónia inglesa, onde vivem cerca de mil portugueses. O Instituto e a Escola de Camões, também patriótica iniciativa do Dr. Eduardo Brasão, constituem dois instrumentos onde vibra a alma de Portugal."
Em 1996 os destinos da escola para Po Leung Kuk, adoptando o nome "Camões Tan siu Lin Primary School" e mudando de instalações. Acualmente proporciona esporádicamente cursos de português.
- "Macau, Cidade do Nome de Deus na China, Não Há Outra Mais Leal",1957
- "Em Demanda do Cataio", 1954
* Macau manteve-se fiel à coroa portuguesa durante o período de união ibérica (1580-1640) e, como recompensa pela "lealdade", o rei D. João IV concedeu-lhe o título de "Não há outra mais leal" em 1654. A aclamação de D. João IV como rei ocorreu em Macau dois anos após a restauração em Portugal, em 1642.
Sugestão de leitura:
A Aclamação del Rei D. João IV em Macau (Subsídios Históricos e Biográficos) da autoria de José Frazão de Vasconcellos publicado em Separata do N.º 53 do Boletim da Agência Geral das Colónias em 1929.






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