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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Macau no filme "China Clipper"

"China Clipper” (Martin M-130) foi “protagonista” do filme homónimo, de 1936, realizado por Frank McDonald para a Warner Brothers e protagonizado por Humphrey Bogart, Pat O´Brien e Beverly Roberts.
Conta a história Juan Trippe, fundador da Pan American Airways, em 1927, e, claro, das viagens do "China Clipper" entre os EUA e Macau (From S. Francisco to Macao).
Dois anúncios ao filme "China Clipper" do final de 1936 em jornais da Nova Zelândia

O voo inaugural ocorreu a 22 de Novembro de 1935 com partida de S. Francisco. Depois das escalas no Hawaii, ilha Midway, ilha Wake Island e Guam, o China Clipper chegou a Manila, o destino final , a 29 de Novembro. O voo histórico demorou 59 horas e 48 minutes num total de 8,210 milhas. O mundo ficava 'mais pequeno'. O China Clipper fizera em 6 dias e meio o que o navio mais rápido na época fazia em 21 dias.  A 23 de Outubro de 1936 ocorre o voo experimental que estendia a rota até Macau. Na Primavera de 1937 a rota estender-se-ia de forma definitiva até Macau. Mais 5 horas de voo que viriam a permitir a inauguração do correio aéreo. O ataque japonês a Pearl Harbour em 1941 ditou o fim da rota.
Para que este voo fosse realidade o trabalho da Pan Am começou muito antes. Em Janeiro de 1934, o patrão da empresa, Juan Trippe, enviou à China o que chamou que Representante especial da Pan Am para o Extremo-Oriente, Harold Bixby. E nada foi deixado ao acaso nas intensas negociações que foi preciso fazer com vários governos para que o voo fosse autorizado, incluindo com as autoridades das Filipinas, China e de Macau (incluindo Lisboa). Como forma de provar o empenho da Pan Am nesta rota, Bixby mudou-se com a família (mulher e 4 filhas) para Xangai e tinha ainda uma moradia em Macau.
No post de amanhã vou abordar a constituição da Sociedade Aeroportos Pan Americana de Macau Limitada.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

A China e os Chins: Recordações de Viagem, 1888

"A China e os chins: recordações de viagem". 
Da autoria de Henrique C. R. Lisboa. 
Obra illustrada com um mappa e 44 gravuras. 
Montevideo, Typographia a Vapor de A. Gomes
Edição: 1888
Ca. 400 páginas
O diplomata Henrique Carlos Ribeiro Lisboa (1849-1920), secretário da missão especial que o Império do Brasil enviou à China em 1880, fez um registo detalhado das suas impressões de viagem. Para o autor "A China e os Chins" são apresentados como uma nação e um povo respeitáveis, com quem se poderia aprender e estabelecer proveitosas parcerias comerciais e políticas.
Foi no contexto de abertura da China às nações ocidentais que o governo imperial do Brasil enviou sua primeira missão diplomática à China com o objectivo de obter um Tratado de Amizade, Comércio e Navegação. Embora assinado, o tratado não foi ratificado pelo Congresso brasileiro, senão algum tempo mais tarde, com modificações no texto original.

Macau surge no capítulo V - pp. 95 a 114:
Hostilidades chinesas – Os fieis aliados de Portugal – Macau salva pelos mandarins – Jugo chinês – Um governador mártir – Expulsão do rabicho – Uma tranca em porta arrombada – Disputa de soberania – Argumentos chineses e portugueses – Opinião do visconde de Santarém – A praia – Modas passadas – Cupido em Macau – Ingleses descamisados – Calçadas e calçadinhas – Comércio decadente – Negligência governamental – Judeu ou trovador – O jogo em Macau – Plebeus e patrícios – Mônaco na China – O fan-tan e a roleta – Pesca de dólares – Relíquias na arquitetura – Os barracões – Gruta de Camões – Reflexões interrompidas – Cheiros e cheiros – Sagacidade canina – Pés pequenos – Ciúmes de um príncipe – Solicitude paternal – Os lírios dourados e o espartilho – Um pouco de estética – Processo de mutilação – Explicação gráfica.


Excerto:
A Cidade do Nome de Deus não há outra mais Leal ocupa a parte sul da pequena península que termina a ilha de Hiang-Chang. Nove morros a dominam do lado do mar, erguendo-se em quatro deles outras tantas fortalezas armadas de antiga artilharia. O bairro onde se albergam os 4.000 europeus que vivem em Macau acha-se situado na parte leste da cidade e apresenta um alegre aspecto, com suas construções pintadas de vivas e variadas cores, seus seculares conventos e igrejas e seu belo passeio a beira-mar, que recordou-me a Promenade des Anglais de Nice ou a praia de Botafogo. A “Praia” é o nome desse passeio onde, à tarde, saem a respirar a suave brisa do mar morenas europeias ou amarelas mestiças, trajando vistosas saias que procuram imitar as modas um pouco atrasadas de Paris. 

Carros antiquados, cadeirinhas e pedestres cruzam-se constantemente em uma e outra direção, parando de vez em quando para permitir alguns cumprimentos ou confidências de amor, arte a que se dedicam assiduamente os mancebos de Macau, por não encontrarem, talvez, outra ocupação. Não se pode, porém, negar que empreguem grande engenho para ostentar uma toilette sempre cuidada. Nada mais interessante do que esses moços de fisionomia chinesa e cabelo naturalmente lustroso, trajando elegantes fraques, com os pequenos e bem formados pés apertados em brilhantes botinas e o pescoço encerrado em altos e duros colarinhos rodeados de coloridas gravatas. 
É Macau a única cidade da China em que se mantém a pretensão dos trajes europeus, ainda que adulterados pelo gosto e a distância e pela especulação do comércio, que encontra aí cômodo mercado para os artigos passados de moda. Em outras partes, os residentes estrangeiros adaptam o seu traje à comodidade de movimentos ou às condições do clima; Macau, porém, conserva aquela originalidade, que não deixou de produzir-me grata impressão, ainda que certa estranheza, depois que os meus olhos se tinham habituado, na minha longa viagem desde o istmo de Suez, a só ver como exceção a comprida sobrecasaca e o chapéu de copa. (...)
Proibidas as casas de jogo pela legislação do império, obtém Portugal uma importante renda desses estabelecimentos, que transformam a sua colônia em um verdadeiro Mônaco chinês. Aí acodem de Cantão e das cidades da costa, até Xangai, os devotos da sorte: chins, pela maior parte, e europeus alguns. Existem em Macau estabelecimentos para todas as bolsas e condições sociais; desde a espelunca onde, à noite, numa atmosfera impregnada da fumaça do ópio e tabaco ou das emanações da aguardente de arroz, do whiskey e outras importações civilizadoras, a ralé da população arrisca ruidosamente aos dados as sujas sapecas ganhas a custo do trabalho diário, até o elegante edifício onde mandarins e negociantes endinheirados pagam, gostosos, as emoções do jogo pelo sacrifício de avultadas quantias. 
Nota-se, entretanto, uma sensível diferença ao comparar-se estes estabelecimentos aristocráticos da China com as mais afamadas bancas europeias. O público que frequenta uns e outras ressente-se do diverso temperamento das raças e dos hábitos de educação que as distinguem. Nunca perdem os jogadores chineses dessa classe a sua gravidade habitual e a calma e decência a que são obrigados pelos ritos os que na China formam ou pretendem formar parte da sua aristocracia de posição ou dinheiro. 
Ao ter ocasião de presenciar essa atitude, recordei-me com sentimento das tristes cenas a que tinha assistido em Mônaco, nas horas febris em que, à roda das mesas de trinta e quarenta ou de roleta, esquecem os jogadores de todas as conveniências sociais, transformando-se em feras, ávidas, não de sangue, mas sim de ouro, que lhes faz desprezar até os mais sagrados sentimentos que caracterizam as sociedades cultas. Aí desaparecem as considerações que impõem as diferenças de posição, idade ou sexo; tudo se confunde numa única preocupação: o ganho. As damas de mais alto coturno não atendem à desordem do vestuário, nem se lembram os galantes dos salões aristocráticos daquelas atenções e cortesias que costumam fazer o encanto das suas relações como o sexo frágil. Só domina aí um pensamento: o de transferir o dinheiro do próximo para a própria algibeira e, à exceção de alguns turistas curiosos, raros são os que frequentam Mônaco com outro propósito senão o de auferir lucros, destinados à satisfação das paixões desordenadas da vida elegante nas capitais europeias. 
Nos infernos da China predomina outro sentimento menos repugnante, senão mais louvável, que é o da simples satisfação de um vício que cada um está disposto a pagar na medida de sua fortuna. 
De presença sempre correta e com plácido sorriso nos lábios, contrastam os frequentadores do fan-tan de Macau com os habitués da roleta ocidental, pela serenidade e amabilidade com que jogam e ganham ou perdem somas importantes, agradecendo ou lastimando a sorte, não pelos benefícios ou prejuízos pecuniários que lhes resultam, senão pelo contentamento ou pela decepção que obtêm. É certamente esse o vício na sua expressão mais genuína; mas, ninguém duvidará que as suas consequências são menos deploráveis do que as que registram as estatísticas de numerosos suicídios e outros crimes incubados nas casas de jogo europeias. (...)

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Emissão dos selos 'tipo' "Coroa"

A primeira remessa de selos do tipo “Coroa” de Macau foram enviadas da Casa da Moeda em Lisboa para o Ministério da Marinha e Ultramar a 3 de Novembro de 1876 mas só vários anos depois começaram a circular em Macau onde o "serviço postal" ainda não fora oficialmente criado.
No relatório postal do ano de 1884 - o primeiro da actividade da Repartição do Correio - da autoria do Director do Correio, Ricardo de Sousa, pode ler-se: “As estampilhas postaes actualmente em uso n’esta repartição são de 10 valores a saber; 5, 10, 20, 25, 40, 50, 80, 100, 200 e 300 réis.”
Macau passou a fazer parte da União Postal Universal em 1878 mas mesmo depois dessa data o serviço postal continuou a ser assegurado por Hong Kong tal como os selos, as então denominadas "estampilhas postaes". Só com a Portaria do Governo de 27 de Fevereiro de 1884 são criadas as "instruccções provisórias para o serviço de correio".
Nos primeiros tempos a "repartição" era composta por um director (Ricardo e Sousa que vinha desempenhando cargo idêntico - Correio Marítimo - deste 1869), um fiel e três carteiros.
Tabela com preço dos portes pagos com "sellos postaes"
Curiosidade: existe em Macau uma pequena rua - acesso ao Mercado Municipal de Tamagnini Barbosa - denominada Rua Dr. Ricardo de Sousa. Refere-se ao primeiro director dos correios... que não era doutor.

domingo, 27 de setembro de 2020

"Loteria Chi-Fá"

Na imagem acima está um Edital da Procuratura dos Negócios Sínicos datado de 1891 que proíbe a "loteria Chi-fá em Macau, Taipa e Coloane". O termo Chi-Fá, em cantonense, significa literalmente "lotaria chinesa" embora existissem várias e no caso em apreço esta remetia para "um jogo de Hong Kong". A proibição devia-se ao facto de já existir o exclusivo de uma outra lotaria, a Pac Hap Pio.

Bilhete da Lotaria Chi Fá

À semelhança do que acontece com outras lotarias chinesas o método é simples. O banqueiro decide um chi-fá para cada edição. Depois os jogadores  escolhem um entre os 36 chi-fá disponíveis e aguardam a publicação do resultado nos jornais. Quem comprou o chi-fá vencedor, recebe um prémio. O jogo terá surgido na dinastia Qing, sendo muito popular nas províncias de Fujian, Cantão, Zhejiang, e Xang Gai. Existiam com algumas variantes de acordo com a região. Tanto podiam fazer-se sobre 36 nomes, 36 profissões ou 36 animais.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Strangers on the Praia

"Strangers on the Praia: A Tale of Refugees and Resistance in Wartime Macao" / “Estranhos na Praia: Uma história de refugiados e resistência em tempo de guerra em Macau”, da autoria de Paul French foi editado este Verão.
O livro conta a história de refugiados judeus em Xangai, na China, que conseguiram chegar a Macau, então colónia portuguesa e território neutro durante a Segunda Guerra Mundial.
Inspirado em casos reais que Paul French descobriu em arquivos de duas centenas de judeus em Xangai (onde o autor viveu cerca de duas décadas). 
A maioria destes judeus instalou-se em Macau na Pensão Aurora Portuguesa (era tb restaurante, botequim e mercearia), localizada no nº 47 da Rua do Campo
Segundo o autor britânico, o livro vai dar origem a um filme.
Link de uma peça da jornalista da TDM, Lina Ferreira, que contém uma pequena entrevista com o autor.

Based on true stories and new research, Paul French weaves together the stories of those Jewish refugees who moved on from wartime Shanghai to seek a possible route to freedom via the Portuguese colony of Macao – “the Casablanca of the Orient”. The delicately balanced neutral enclave became their wartime home, amid Nazi and Japanese spies, escaped Allied prisoners from Hong Kong, and displaced Chinese. Strangers on the Praia relates the story of one young woman’s struggle for freedom that would ultimately prove an act of brave resistance.
Excertos:
Macao sat there in the South China Sea, fanning itself in the heat, accentuating the exotic, a combination of sleepy backwater and nest of criminality. It was also, for a few crucial years, a refuge. (...)
America, Britain beckoned as potential places of freedom and a new beginning, but this was 1941. The only way there was via Lisbon; the way to Lisbon was via Macao. With no family left in Shanghai and nothing back in Berlin to return to, she took a chance on Macao. (...)
The Macanese rickshaw man had assumed she would want that address anyway. The girls who look like her, dress like her, arrive like her, all go there. It is a simple pensão in the old town, a converted house with a popular billiards shall on the ground floor, slow-turning fans, and a small yard at the rear where the young Jewish girls and boys staying at the Aurora Portuguesa gather to smoke and kibbitz when the crowded rooms become too hot and airless. (...)
The territory of Kwangchowan, with a port and small town called Fort Bayard. A forgotten backwater of France’s Far Eastern possessions. On the border of China and French Indo-China. A ferry ride of a day or so around Hainan Island. There’s a lot of trade between Fort Bayard and Macao. Smuggling, the black market. Everything from cigarettes to vegetables, but the Portuguese don’t much mind as it helps the situation here, which would be much worse without the mercado negro. The French turn a blind eye too. Others have used the route—neutrals, anti-Nazi Germans, Filipinos moving one. It has worked.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Assalto ao Soi Cheong: 1955

"O Assalto em Macau a um cambista chinês"
In Diário de Lisboa, 4.12.1955

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Sociedade Philarmonica Macaense

"A Sociedade Philarmonica Macaense creada no principio do anno de 1845, no meio de difficuldades, que pareciam insuperaveis, chegou a contar perto de cem associados, dos mais escolhidos moradores da cidade: os quaes da melhor vontade se prestaram sempre ás necessarias despezas para o engrandecimento desta associação, que dava regularmente, de quinze em quinze dias, um baile, um concerto, ou uma representação theatral. Tem apresentado reuniões assás luzidas, bem ordenadas e numerosas; e até agora tem egualmente existido num estado prospero. Não sabemos o que será para o futuro, mas podemos assegurar que se esta sociedade decair a cauza virá de alguma influencia estranha à indole dos macaenses. A sociedade pois póde considerar-se verdadeiramente util ao estabelecimento de Macao. É o unico recreio publico: é o centro de reunião dos moradores e suas familias; é o meio mais efficaz de fraternisar uma povoação reputada dissidente; é finalmente, uma associação por todos estes motivos digna da attenção do governo de SM, a quem recomendamos a sua conservação pelo interesse moral, civil, político e commercial, que della pode provir tanto ao governo como aos governados." 
in Memoria sobre a Franquia do Porto de Macao, de José António Maia, 1849

A este propósito refiro um excerto da obra "Ephemerides commemorativas da historia de Macau e das relações da China com os Povos Christãos" de António Marques Pereira e editado em 1868.
"7 de Março de 1857
Até esta data algumas tentativas dramaticas que varios curiosos tinham feito em Macau haviam tornado de cada vez mais desejado o estabelecimento de uma casa do theatro apropriada e exclusivamente des tinada ao intento. Na encosta de Mato mofino que deita sobre a chamada rua da Prainha, na porção de terreno da praia do Manduco depois occupada pelo jardim do barão de S José de Portalegre, na assembléa philarmonica que existiu no largo de Santo Antonio, no edificio do hospital da Misericordia e até na residencia do juiz de direito Sequeira Pinto e no retiro campestre chamado de Santa Sancha etc... tinham se armado em diversas epochas vistosos theatrinhos que a sociedade macaense festejăra com alegria mas que desappareciam logo com o destroçar dos grupos de amadores da arte que os animavam e deste modo se renovava continuamente a principal difficuldade para a realisação de tão uteis e agradaveis divertimentos.
Foi essa falta que no dito anno de 1857 alguns cavalheiros aqui residentes trataram de fazer cessar propondo a organisação de uma sociedade de subscriptores para a edificação de um theatro destinado não só ás recitas de curiosos como tambem a ser concedido mediante rasoaveis condições aos artistas de profissão que viessem a Macau e bem assim para servir de centro de reunião ou de club para os socios que ahi quizessem entreter se com leitura jógos ou conversação. Com tal fim se convocou pois n este dia uma assembléa de varios habitantes e ahi foi nomeada uma commissão composta dos srs João Damasceno Coelho dos Santos, coronel João Ferreira Mendes, José Bernardo Goularte, José Maria da Fonseca, Francisco Justiniano de Sousa Alvim Pedro Marques e José Joaquim Rodrigues Ferreira.
Não foi desde logo indicado o lugar en que teve effeito a construcção do theatro pois que o primeiro pensamento foi colloca lo no edificio do hospital de S Rafael ideia que em breve se abandonou. Nos fins de março a commissão pediu ao governo terreno no campo de S Francisco perto da rampa que ahi conduz a entrada do quartel mas foi lhe indeferida a pretensão offerecendo se lhe a cerca do extinto convento de S Domingos. A commissão não julgando este local apropriado requereu em sessão de 2 de abril o terreno preciso no largo de S Agostinho que por fim obteve.
Correndo immediatamente a subscripção em Macau e Hongkong em março de 1858 o edificio podia já dizer se concluido no principal graças especialmente á diligencia do cirurgião mór da provincia, Antonio Luiz Pereira Crespo, de Pedro Marques e de Francisco Justiniano de Sousa Alvim. Do cidadão macaense Pedro Marques é quasi todo o risco e a direcção da obra. (...)" 
O que é acima referido é o Teatro D. Pedro V...

terça-feira, 22 de setembro de 2020

"Estabelecimentos Comerciaes Chineses": 1896

Segundo o Censo de 1896 em Macau existiam 895 "estabelecimentos comerciaes chineses" que davam emprego a 6.042 pessoas.
According to 1896 census there were 895 Chinese shops in Macao for 6.042 employees.
Destes dados destaque para:
Existiam 38 fábricas de ópio (opium factories), 26 casas de penhor, 19 casas de jogo de fantan, 64 lojas de venda de pacapio.
O maior número de empregados estava na transformação do ópio (opium) com cerca de 700; 188 nas Casas de Penhores (Pawnshop); 68 na indústria de panchões (firecracker); 297 no jogo do fantan (fantan gambling); 225 na lotaria pacapio (pacapio lottery); 265 na salga de peixe (salt fish); 247 no fabrico de tecidos de seda e algodão (silk and cotton); 146 na transformação de madeira (timber); 108 no calçado (shoes); 110 nos pivetes  e 197 no fabrico de artigos de bambu (bamboo).
Casas de Jogo no final do século 19 em Macau.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Carta de 1882

Carta enviada de Lisboa a 16 de Abril de 1882 com selo carimbado no valor de 80 réis tendo como destinatário Bernardino Raposo "Digníssimo Official de Fazenda a bordo da canhoneira de serviço n'aquelle porto". 
O carimbo que prova a chegada da carta a Macau a 24 de Maio de 1882 tem escrito "Macao" e o símbolo da coroa/monarquia.

domingo, 20 de setembro de 2020

sábado, 19 de setembro de 2020

Real Colégio de S. José

Real Colégio de S. José é o nome pelo qual era conhecida a instituição - que mais vulgarmente se conhece como Seminário - quando foi fundada em 1747 no âmbito da missionação católica e do Padroado Português, iniciado no século XV.
Nas imagens o "Diccionario Portuguez-China" de Joaquim Afonso Gonçalves, sacerdote da Missão M. H. R. S. A. "No estilo vulgar Mandarim e Clássico geral", impresso no "Real Collegio de S. Jose" em 1831.
A imprensa/tipografia do Real colégio de S. José (Seminário) foi fundada em 1818. A edição acima, de 1831, é tida como sendo o primeiro dicionário do género a ser impresso. Mas já antes tinham sido impressas outras obras do género, nomeadamente gramáticas de língua chinesa.


Joaquim Afonso Gonçalves, nasceu em Cerva a 23 de Março de 1781, foi uma grande figura na importância das relações entre Portugal, Macau e China.
Entrou no Seminário de Rilhafoles, Lisboa a 17 de Maio de 1799 e tomou os votos em 18 de Maio de 1801.
Partiu de Lisboa em 1812 com o objectivo de fundar o Observatório Astronómico de Pequim. Chegou a Macau a 28 de Junho de 1813 mas devido à conjuntura política que se vivia na corte imperial não pôde prosseguir. 
Entrou então no Real Colégio de S. José ensinando português aos alunos chineses. Foi também assim que aprendeu mandarim e contribuiu para que se abrisse o ensino gratuito a toda mocidade. Em S. José ensinou gramática portuguesa, latina, francesa e inglesa, retórica, lógica e teologia para os eclesiásticos; aritmética, álgebra e geometria.
Publicou várias obras com a chancela do Real Colégio tais como “Grammatica Latina Ad Usum Juvenum” em 1828, “Arte China Constante Alphabeto e Grammática em 1829 (custava quatro patacas), “Diccionário Portuguez-China” em 1831 e “China-Portuguez” em 1833, “Vocabularium Latino-Sinicum” em 1837, “Lexicon Manuale Latino-Sinicum” em 1839, “Lexicon Magnum Latino-Sinicum” em 1841, e os volumes “Versão do Novo Testamento em Língua China”.
Joaquim Afonso Gonçalves foi membro da Real Sociedade Asiática de Calcutá, da Academia de Ciências de Lisboa e também Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
O seu corpo foi sepultado no cemitério de S. Paulo e depois transladado para um túmulo na Igreja de S. José, que ostenta um epitáfio latino, cuja tradução é: 
“A Deus Ótimo e Máximo. Aqui Jaz o Reverendo Sr. Joaquim Afonso Gonçalves, Português, Sacerdote da Congregação da Missão, exímio professor Real Colégio de São José, membro estrangeiro da Real Sociedade Asiática. Solicito pelo bem das missões chinesas, compôs e publicou obras muito úteis nas línguas sínica, latina e portuguesa; foi de costumes irrepreensíveis e exímios pela doutrina, sendo de vida ilibada; cheio de dias, descansou no Senhor, em 3 de Outubro de 1841, aos 60 anos de idade. Os seus amigos e discípulos dedicaram esta lápide em memória de tão ilustre Varão”.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

1954: memórias de uma visita turística

Fotos gentilmente cedidas por Stuart James. 
Pertenceram aos pais que viviam em Hong Kong na época
Baía da Praia Grande
Vauxhall Velox matrícula M428 na Praça Ferreira do Amaral
Convento das Carmelitas (já não existe)
Ferry atracado no Porto Interior
Fortaleza do Monte
Interior do templo de Kun Iam Tong  
mesa em pedra sobre a qual foi assinado o primeiro tratado sino-americano em 1844
Pousada Macau Inn e Palácio do Governo 
Riquexó (direita) e Austin Devon 40 (esquerda)
Ponte-cais nº12 do Tak Shing: carreira Macau-Hong Kong
Ponte-cais nº 11 da fábrica de Panchões Kuong Hing Tai
Istmo Ferreira do Amaral: Porta do Cerco ao fundo
Zona da Barra: entrada no Porto Interior
Ruínas de S. Paulo
Vista sobre o Porto Interior

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Portugal e China: curiosidades da diplomacia

Até à Segunda Guerra Mundial, Portugal apenas tinha embaixadores em Londres, Madrid e Rio de Janeiro. Os representantes diplomáticos nos restantes Estados eram ministros plenipotenciários, chefiando legações. Seguindo a tendência internacional, entre a Segunda Guerra Mundial e 1966, todas as legações de Portugal foram promovidas ao estatuto de embaixada e os respectivos postos de ministro plenipotenciário ao de embaixador, excepto nos países com os quais Portugal não tinha relações diplomáticas oficiais. Com a China, por exemplo, o cargo de Embaixador só surgiu em 1979 com João de Deus Pereira Ramos.
Mas voltemos ao início...
Alexandre Metelo de Sousa e Meneses, entre Maio e Julho de 1727 esteve como "embaixador" de Portugal na China. Seguiu-se Francisco Xavier Assis Pacheco e Sampaio Melo em 1753 apenas entre Maio e Junho. A partir de 1862 passa a denominar-se Legação na China (Japão e Sião) dirigida por um Ministro Plenipotenciário, não residente, já que eram os governadores de Macau. Alguns exemplos: José Rodrigues Coelho do Amaral, José Maria da Ponte e Horta, António Sérgio de Sousa...
No início do século 20 houve um Ministro Plenipotenciário em Missão Especial e a partir de 1904 é aberta a Legação em Pequim que se iria manter até 1947.
No início do século 20, um total de 19 nações tinham tratados com a China que permitiam o estabelecimento de jurisdição consular extraterritorial sobre seus cidadãos. Portugal era uma dessas nações. Assim foi desde 1862 e até 1947.
Ao todo, mais de 100 cidades chinesas permitiam a residência de estrangeiros e faziam comércio com países estrangeiros. Um privilégio que, até então, só Macau tivera.
Tudo começou com o final da segunda guerra do ópio...
Treaty Port (Porto de Tratado - todas cidades portuárias), Settlement (assentamento/estabelecimento and Concession (concessão) eram os termos usados no mundo da diplomacia internacional sobre a China.
Entre os Porto de Tratado estavam: Amoy (Xiamen)(1842), Canton (Guangzhou)(1842), Changsha (1904), Chefoo (Zhifu [Tantai])(1858), Chinkiang (Zhenjiang)(1858), Chungking (Chongqing)(1890), Foochow (Fuzhou)(1842), Gartok (Garyarsa)(1904), Gyangtse (Gyangze)(1904), Hami (Kumul)(1881), Hangchow (Hangzhou)(1895), etc...
Amoy, Hankow, Peking Legation Quarter, Shameen (Canton), Shangahi, Tientsin foram algumas das cidades onde existiram vastas áreas com jurisdição de países estrangeiros e onde muitos portugueses e macaenses vieram a estabelecer-se. Em baixo pode ver-se a bandeira de Portugal (da monarquia) entre os vários países que tinham concessões em Shangai.
Shanghai International Settlement - Wikipedia

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Robert Morrison no Cemitério Protestante

SACRED
to
THE MEMORY
of
ROBERT MORRISON, DD
The first Protestant missionary to
CHINA
Where after a service of twenty-seven years
cheerfully spent in extending the kingdom of the blessed Redeemer
during which period he compiled and published
A DICTIONARY OF THE CHINESE LANGUAGE
founded the Anglo Chinese College at Malacca
and for several years laboured alone on a Chinese version of
THE HOLY SCRIPTURES
which he was spared to see complete and widely circulated
among those for whom it was destined
he sweetly slept in Jesus.
He was born at Morpeth in Northumberland
January 5th 1782
Was sent to China by the London Missionary Society in 1807
Was for twenty five years Chinese translator in the employ of
The East India Company
and died in Canton August 1st 1834

Blessed are the dead which die in the Lord from henceforth
Yea saith the Spirit
that they may rest from their labours
and their works do follow
them

Ao lado do túmulo de Robert Morrison no Cemitério Protestante de Macau está uma lápide com inscrições em chinês que data de 1934, o centésimo aniversário na morte de Morrison, mandada fazer pela Chinese Christian Church of Guangdong Association e onde pode ler-se:

"We erect this stone on the one hundredth anniversary of the passing of Mr. Morrison. From all the members of the Chinese Christian Church of Guang-Dong Association, in remembrance of a past giant, to express our highest admiration and sincerest, humble sadness and to express our eternal gratitude.
The great Mr. Morrison had a Christ-centered heart. Through the will of God he spread the Gospel. By the guidance of the Holy Spirit he went through dangers to arrive at his destination. Through him came many blessings to the Chinese people like the rains are to the ground. In suffering and trails he remained firm. He never gave up and was always dedicated. Great is his humbleness beyond any past generations. The memory of him will last in eternity.
1934 August 1st Epitaph respectfully made by all the members of the Chinese Christian Church of Guangdong Association. Your humbleness Pastor Zhang Zhu-Ling wrote with respect."

Curiosidade: junto ao túmulo de Robert está o o do seu filho (imagem acima), John Robert Morrison, nascido em Macau em 1814. Foi intérprete de mercadores e da Companhia das Índias Orientais e ainda funcionário secretário do governo britânico em Hong Kong, mas por pouco tempo. Morreu de febre a 29 de Agosto de 1843.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Relatório do Serviço de Saúde... relativo ao anno de 1886


Excerto de um longo relatório (10 capítulos) da autoria José Gomes da Silva, chefe do Serviço de Saúde de Macau e Timor, relativo a 1886 feito a 2 de janeiro de 1887e publicado em várias edições do Boletim da Província de Macau e Timor nesse mesmo mês e no mês seguinte. Gomes da Silva começa por escrever:
"A provincia de Macau e timor, geograficamente considerada, é incontestavelmente a provincia mais absurda que Portugal possue; e difícil será encontrar-se no mundo político outro absurdo geográfico do alcance d'Este". 
A referência é, claro, à distância entre as duas províncias: mais de 600 léguas em linha recta numa viagem que em barco a vapor, com escala nas filipinas, demorava entre 8 a 12 dias, mas "as viagens ordinnarias pelos paquetes da mala hollandeza e por via de Java, dispendem de 80 a 48 dias".
O relatório inclui informações sobre Topographia, meteorologia, história natural, anthropologia, hygiene publica, hygiene privada, nosologia, necrologia, serviço de saúde, estatística e catalogo de plantas das duas províncias. Entre as informações prestadas refere-se o último censo realizado, em 1878, com um total de 68 mil habitantes. Gomes da Silva é muito crítico na avaliação que faz do estado da saúde em Macau, quer nos edifícios quer nos serviços prestados, apontando o dedo não só ao Leal Senado como também ao governador, Firmino José da Costa.



segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Administradores de Hong Kong residentes em Macau

A 20 de Janeiro de 1841 Hong Kong era cedido à Grã-Bretanha pela China de acordo com a Convenção de Chuenppi (não ratificada pela China). Seis dias depois os britânicos tomaram posse de Hong Kong mas a cedência formal pela China só viria a ocorrer pelo Tratado de Nanking a 29 de Agosto de 1842 e ratificado a 26 de Junho do ano seguinte, quando surgiu o cargo de Governador.
Nestes primeiros anos de Macau a autoridade máxima dos britânicos chamava-se "Administradores" com a curiosidade dos primeiros três (e únicos) residirem de facto em Macau: foram eles Charles Elliot (imagem acima), Alexander Robert Johnston e Sir Henry Eldred Curwen Pottinger. Em simultâneo, nestes anos, os "Comandantes e, Chefe" residiam em Hong Kong.
Residência de Charles Elliot em Macau junto ao Jardim de S. Francisco num desenho de George Chinnery 


domingo, 13 de setembro de 2020

Carta de 1861

Carta enviada de Lisboa a 21 de Setembro de 1861 - marca postal com o nº 150 carimbado - "pelo Correio d'Alexandria" dirigida a Gonçalo Ayres da Costa Campos, oficial da Marinha "embarcado na Corveta D.João I em Macao".
Outro exemplar pode ser visto aqui

sábado, 12 de setembro de 2020

Macarira, Mackkarira, Mackkareera, Toi Ko Ke Tou, D. João

No delta do rio das pérolas existem inúmeras ilhas com nomes tão variados como "Monte de Trigo", "Ilha dos Veados", "Ilha dos Merus", "ilha dos Ladrões", etc... e claro, a Taipa, Coloane, Lapa, Montanha, Montanha, D. João... Quanto a esta última, situada entre a Taipa e a Lapa, é também conhecida por Macarira, Mackkarira, Mackkareera, Toi Ko Ke Tou, D. João de Macarira, St. John
Numa breve pesquisa fico com a ideia que o nome original foi mesmo Macarira (e não D. João). James Horsburgh, hidrógrafo da Companhia das Índia Orientais escreve "Mackkareera" numa obra publicada em 1817 intitulada "India Directory, Or, Directions for Sailing to and from the East Indies, China, New Holland, Cape of Good Hope, Brazil and the interjacent ports".
Aqui fica um excerto:
Macao Harbour formed between the peninsula and the large island Twee lien shan to the westward is narrow at the entrance but has 21 and 20 feet at low water to Fort St Jago which is situated on the East point and from hence along the shore to the town the depths continue nearly the same.
A ship proceeding to the harbour must pass through the Typa there being 13 feet at water in the fair track between the Typa and the entrance of the harbour but only 12 11 feet in the large space betwixt Kai kong and Macao.
The channel lies in a direct from the anchorage in the Typa to the harbour's entrance and to avoid Pedro meo a rock about 4 mile to the eastward of the NE point of Mackkareera the NE point Montanha must be kept open to the eastward of Mackkareera or in passing it keep more than mid channel toward Kai kong.
From hence steer direct for the entrance of harbour there being no other danger except Pan lung shee a rock on the East side of channel from which the outer point of Great Mal low chow bears W 16 S and the of Fort St Jago N 41 W distant about 4 a mile.
Great Mal low chow is the of 2 high islets situated to the SW of the harbour's entrance.
The NE point of on with the East point of Mackkareera leads clear to the westward of Pan lung shee and a ship will not be too near it if she do not get to the eastward of a line drawn from West point of Kai kong to Fort St Jago point.
This point should be rounded pretty close in entering the harbour and the eastern shore kept nearly a board to the anchorage abreast of the town By obtaining permission from the governor a disabled ship may be hove down and repaired in this harbour and in such case a pilot will be granted to bring her from the road or from the Typa to the harbour but any navigator by adhering to the preceding directions or being in possession of Captain P Heywood's excellent plan of this place pub lished by Laurie and Whittle in 1809 may run safely into the Typa without a pilot.
Excerto de um mapa de 1834 com o nome "Mackkarira"
Quanto à origem do nome "Macarira" continuo à procura de uma explicação...

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Pinturas "China Trade": espólios em Portugal

Museu de Marinha (onde existe a Sala do Oriente), Museu do Oriente, Museu do Centro Científico e Cultural de Macau, Museu Etnográfico da Sociedade de Geografia de Lisboa e Arquivo Histórico Ultramarino são as instituições em Portugal que possuem nos espólios exemplares de pinturas do período denominado "China Trade", entre os séculos 18 e 19.
Macau surge em muitas dessas pinturas, mas não só. Existem reproduções de várias cidades chinesas e das múltiplas embarcações da Marinha que serviram em Macau. 
Para este post seleccionei alguns dos quadros que representam Macau. Neste caso, óleos sobre tela.
"Praya Pequena", leia-se Porto Interior ca. 1830
"Praya Grande" ca. 1870
Porto Interior
Praia Grande
Praia Grande