Páginas

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Uma raridade: pintura oval de meados do século 19

 

Na imagem acima estamos perante uma pintura a óleo sobre tela de autor anónimo. É de meados do século 19 e representa a baía da Praia Grande. O quadro é raríssimo a vários níveis. Primeiro pela dimensão (44 x 32 cm) e formato oval na vertical depois porque tem dois 'planos de leitura', uma característica que pouco se vê nas pinturas desta época. Nestas duas dimensões que o quadro apresenta temos ao fundo a silhueta da baía e em destaque duas mulheres num tancar à pesca.
Em primeiro plano duas mulheres pescam num tancar (ou tancá); ao fundo, para além do casario ao longo da baía, destaca-se o edifício da Igreja da Sé.
Para além de outras embarcações na baía pode ver-se ao fundo a bandeira de Portugal na época da monarquia frente ao Palácio do Governo. 
O tancar/tancá/sampana é uma pequena embarcação a remos e de fundo plano típica do sudeste asiático. Habitualmente manejadas por mulheres (as tancareiras) estas embarcações serviam não só para a pesca mas também para transporte de pessoas e pequenas cargas entre os ancoradouros e as embarcações de maior porte.



quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Regulamento das Meretrizes: 1933

Publicação de 22 páginas com o "Regulamento das Meretrizes" aprovado pelo Portaria Provincial nº. 1.093, de 7 de Abril de 1933. Macau: Imprensa Nacional, 1933.


terça-feira, 29 de dezembro de 2020

"Apontamentos de uma Viagem de Portugal à China, atravez do Egypto em 1850 e descripção da Gruta de Camões em Macao"

"Apontamentos de uma Viagem de Portugal à China, atravez do Egypto em 1850 e descripção da Gruta de Camões em Macao", de Carlos José Caldeira (CJC) foi publicado em "Macao: China" em 1851 sendo impresso na "Typographia Albion de Jno: Smith" que ficava no nº 62 da "Praya Grande".
Esta tipografia - antes instalada em Cantão de onde os estrangeiros foram expulsos por volta de 1839 - era a que imprimia o Boletim do Governo na altura, uma publicação que entre 1850 e 1851 foi da responsabilidade de Carlos José Caldeira e onde também ali já publicara parte dos "apontamentos".
Estamos perante um pequeno livro de 76 páginas que, como o título indica, aborda a a viagem do autor até Macau e parte das memórias do ano em que ali viveu. 
No regresso a Portugal, CJC iria publicar em 1852 uma versão bem mais longa, não só com a viagem de ida, mas com a de regresso, em dois volumes e quase 800 páginas.
Desta última edição aqui fica um excerto :
"Ainda que é muito pouco commum entre nós Portuguezes o gosto de viajar, eu desde a minha mocidade nutri o desejo de ver o mundo, de sahir da minha pátria, e do estreito circulo da cidade e do paiz em que nasci. Tarde porém poude realisar o pensamento constante da minha vida. Contando 40 annos parti de Lisboa em Julho de 1850, na carreira para a China dos vapores inglezes da Companhia Oriental e Peninsular, e dentro em 80 dias cheguei a Macao, tendo visitado Cadiz e Gibraltar, atravessado o Mediterrâneo, visto Malta e Alexandria; subido o Nilo, atravessado o deserto do Egypto; embarcado em Suez, e descido pelo Mar-Vermelho; tocado em Adem na Arábia, e em Ceylão; navegado pelo estreito de Malaca; visto Pinão o Singapura e finalmente aportado a Hong-kong, e retrocedido para Macao. Nesta cidade me demorei 16 mezes, durante os quaes visitei seus arredores, a cidade chineza de Cantão e vários portos da costa da China até Shangai, na distância d' umas 300 legoas para o norte de Macao. D'aqui regressei para o Reino na corveta D. João I, no fim do anno de 1851. (...)"

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Porcelana "Fabricado em Macau" / "Made in Macau"

As marcas/carimbos da porcelana chinesa são um tema complexo e não é essa vertente que pretendo abordar neste post. Apenas e só referir a razão pela qual em muitos dos produtos surgem impressas expressões como "Made in Macau(o)" ou "Fabricado em Macau", quando na verdade não existiram fábricas de porcelana em Macau.
O fabrico da porcelana na China - em especial no sudeste do país - é muito antigo e os produtos começam a chegar à Europa depois do estabelecimento de Macau em 1557.

Vejamos então as origens do "Made in Macau" em algumas peças de porcelana.
As dita peças chegavam a Macau já feitas (sobretudo de Jingdezhen, na província de Jiangxi) e no território eram decoradas/esmaltadas - pintadas à mão - dando origem a uma indústria de da porcelana policromada que chegou a ocupar o quinto lugar entre as exportações industriais de Macau. 

A primeira produção de porcelana policromada em Macau começou em 1950 e cresceu bastante depressa, passando dos 5 milhões de patacas por ano na década de 1960 aos 26 milhões de patacas em 1979. Em Hong Kong também existiam destas indústrias mas o aumento do preço do imobiliário levou a uma transferência para Macau. Em 1981 Macau tinha mais de 40 fábricas de porcelana policromada, empregando um total de cerca de 2.000 pessoas. 
De 1980 a 1986 a exportação de porcelana "fabricada em Macau" teve crescimentos na ordem dos 20%. A partir da década de 1990 muitas das indústrias encerraram - as exportações de Macau cairam mais de 40% - sendo este tipo de manufactura transferido para a China continental.
Esta marca tem a particularidade de ter os caracteres chineses
da palavra Macau à esquerda e à direita.

Aqui também os caracteres chineses da palavra "Macau"










Handpainted in Macau

"Under Strict Supervision by H.F.P. Macau. Made In China"









domingo, 27 de dezembro de 2020

Folheto turístico "Macau" Soi Sang Printing Press: década 1930

Folheto turístico da década 1930. 
Em português, inglês e chinês. Com mapa. 
Tipografia Soi Sang




Travel Guide from 1930's. 
In chinese, portuguese and english. 
Printed by Soi Sang Printing Press.

 

sábado, 26 de dezembro de 2020

Carta para Faro: 1877

Carta enviada de Macau a 2 de Janeiro de 1877 por correio marítimo "Via de Gibraltar" com carimbo "Pago em Macao" no valor de "50". 
O destinatário morava em Faro na "província do Algarve".

 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

"Autógrafo: serviço telegráfico"

No Natal de 1934 os CTT de Portugal criaram um serviço telegráfico especial de "Boas Festas" (serviço BF) com impressos de diversos desenhos coloridos e textos fixos. O serviço voltou a efectuar-se na Páscoa de 1936 (serviço PAX). 
A partir desse ano alguns dos impressos passaram a seguir directamente, por via postal, desde o remetente ao destinatário, pelo que foram designados pela palavra "Directo", primeiro numa tira colada e depois impressa. Esta designação seria substituída pela palavra "Autógrafo" anos mais tarde.
Nas imagens deste post está um "Autógrafo" (criado em 1941) enviado de Portugal para Macau por via aérea para M. Lopes da Costa, alferes de cavalaria, no quartel de S. Francisco em Dezembro de 1951 agradecendo os "amáveis votos de boas festas". A correspondência seria recebida em Macau a 6 de Janeiro de 1952.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Igreja Mater Dei: Dezembro de 1603 a Janeiro de 1835

Inaugurada na noite de Natal de 1603 a igreja Mater Dei - "Mãe de Deus" - viria a ficar totalmente destruída - restou a fachada do que se conhece hoje por ruínas de S. Paulo - na noite de 26 de Janeiro de 1835.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Boas Festas /Season's Greetings

Feliz Natal e Bom Ano 2021 ! 
祝您聖誕快樂及新年快樂!
Merry Christmas and Happy New Year 2021 ! 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Praia Grande por Youqua: 1840/1870

O quadro acima - da autoria do pintor chinês Youqua - foi vendido há pouco tempo num leilão por cerca de 30 mil euros. Faz parte do período conhecido como "China Trade" sendo a pintura apenas um dos vários produtos integrados nesta 'corrente'.
As dificuldades em identificar a autoria destas pinturas são de tal ordem que os dois quadros  apresentados acima são iguais, mas algumas fontes não o atribuem a Youqua.
Em cima estamos perante uma aguarela também atribuída a Youqua.
Todos os quadros aqui apresentados têm uma característica comum: a baía da Praia Grande é vista de Sul para Norte uma perspectiva muito menos usada pelos pintores da época que recorriam mais à vista de Norte para Sul. Pintando no local ou tendo por base uma ilustração pode datar-se o quadro como sendo anterior a 1865 (ano da inauguração do Farol da Guia que não surge representado). Outro dos aspectos curiosos que notei foi o facto de não surgir na pintura o Fortim de S. Pedro, uma construção de meados do século 17.
Youqua (tal como Tingqua, Lamqua, Sungqua, etc...) está no pequeno lote de pintores chineses do período China Trade que deixou alguns dos trabalhos que fez assinados.
No activo entre 1830 e 1870, sabe-se muito pouco sobre quem foi Youqua. Começou por ter um estúdio/atelier no nº 34 da Old Street/Old China Street em Cantão. 
Numa edição de 1835 do jornal "The Chinese Repository" refere-se a existência de 30 ateliers de pintores em Cantão.
O francês Jules Itier (1802-1877) que andou pela China e por Macau em 1844 quando publicou o diário dessa viagem (em 1848) refere-se ao atelier de Youqua: 
"Il y a, dans Old-China Street, un magasin des plus renommés pour ses peintures à la gouache sur papier dit de riz, comme pour les dessins aut trait et les tableaux à l’huile qu’on y fabrique. Je me sers de ce mot, parce que ‘est réelement une fabrique que l’atelier du célèbre Yom-qua."
In 1856, Samuel Wells Williams no Chinese Commercial Guide refere existirem em Cantão "milhares de mãos" empenhadas na produção de pinturas para exportação.
"Pictures; oil paintings, rice paper pictures. There are many shops in Canton, Whampoa, and Hong Kong, where maps and charts are copied, and scenes in oil are made in large quantities, priced from $3 to $100 a piece; pictures and engravings are accurately copied, and some of the views and Chinese landscapes are well drawn. The paintings on pith paper are well known. (...) The copying of miniatures or engravings on ivory also forms a branch of industry of some importance; and the finer specimens of work of these artists are very beautiful. Outline designs in India ink, of the crafts and professions among the Chinese, are sold in books at a cheap price, and some of them are admirably designed. Of all these the number annually carried away is very great, and their manufacture furnishes employment to hundreds of workmen."
Alguns anos mais tarde, em 1862, encontramos nova referência a Youqua. Desta feita por  Félix-Sébastien Feuillet de Conches (1798-1887), diplomata, jornalista, escritos e coleccionadro de arte, no livro "Causeries d’un curieux: 
"L’atelier de Joé-Koa, à Canton, est tout à fait dans le meme style. Plusieurs centaines d’ouvriers, plus qu’à-demis nus, à cause de la chaleur, y travaillent sous la direction de contremaîtres."
Por volta de 1845, o sucesso dos trabalhos do atelier de Youqua era de tal ordem que abre outro, no recém-criado território de Hong Kong, mais precisamente no nº 107 da Queens Road. Tal como os demais colegas de profissão, as cidades portuárias como Cantão, Hong Kong, Xangai, Amoy e Whampoa foram os cenários que Youqua mais pintou.

A assinatura de Youqua no verso de pinturas

Peritos em pintura como Car Crossman em "The Decorative Arts of The China Trade" descrevem Youqua como "inquestionavelmente o melhor pintor deste período em grande escala" acrescentando que existiam igualmente outros muito competentes no último quartel do século 19. Certo é que durante várias décadas os estúdios/ateliers de Youqua, em Cantão e Hong Kong foram dos mais reputados e procurados.