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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Etiqueta de bagagem: 1964

Agências de Turismo de Macau
Macau Tours Agency Booking Center
Etiqueta de bagagem com o símbolo do Leal Senado
O título "Cidade do Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal", foi concedido pelo rei D. João IV, em 1654, depois de Portugal ter conseguido a restauração da sua independência (1 Dezembro de 1640), após 60 anos de domínio espanhol (1580-1640). Durante este período Macau manteve-se leal ao rei português, que na altura estava exilado no Brasil.
Na insígnia oficial estão as armas reais portuguesas coroadas, os emblemas das descobertas (esfera armilar e Cruz de Cristo) e dois anjos.

Estadia na (pensão) Vila Tai Yip, 1964


Propriedade do comendador Kou Ho Neng, a Tai Yip ficava situada na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues. Tinha tinha 13 quartos duplos todos com ar condicionado, piscina e restaurante de comida portuguesa. Num anúncio desse ano de 1964 pode ler-se que “os preços são os mesmos para uma ou duas pessoas" e oscilavam entre as 50 e as 90 patacas.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Macau por Jean D'Albrey (1898)

"‎Du Tonkin au Havre - Chine - Japon - Iles Hawaii - Amérique‎" é um livro da autoria de Jean D'Albre, publicado em Paris em 1898.
Deste primeiro volume fazem parte as impressões de viagem por paragens tão diferentes como "Hong Kong, Canton, Macao, Japon, Iles Hawaii, Californie, San José, Los Angelès, Lousiane, Nouvelle-Orléans, Washington. New York, Niagara".
Da página 81 à 96 está Macau. À chegada ao território, oriundo de Cantão, Jean refere que a "primeira impressão" com que fica é "encantadora" de uma cidade que se apresenta como que um anfiteatro. Destaca o branco das casas "com persianas (janelas) verdes e telhados vermelhos ao longo da Praia Grande e ainda os fortes e as igrejas nos pontos mais altos. A perspectiva de quem, como ele, chega de barco... é que Macau exala "um ar de alegria revigorante".
Vejamos então o texto original...


"C'est donc aprés avoir cinglé droit au Sud pendant six à sept heures qu'on commence à percevoir à droite du bateau la côte orientale de la petite presqu'ile ou s'élève la colonie portugaise de Macao. La premiére impression est charmante. toute la ville est lá devant nous qui s'élève en amphithéatre. Entre les tons bleus de la mer e du ciel, le soleil fait joyeusemment flambayers dans une admirable netteté de détail, les blanches façades des maisons aus contrevents verts et aus tuiles rouges comme les aimait Rousseau. Au sommet de la croupe, des forts et des églises découpent leurs silhouettes dans l'espace. Au bord de l'eau, courent sur une longueur de deux kilométres les coquettes habitations d'un quait tout neuf. Toute la scéne respire un air de vivifiante gatté. (...)"


Jean D'Albrey fica hospedado no hotel "HingKee", "l'unique hotel de Macao (...) ansi nommé du nom de son proprietaire, un digne Chinois, est vaste et confortable, organisé sur le même pied que les hôtels de Hongkong. Journaus, salon, billards, piano, électricité, chambres bien tenues, lits irréprochables, bonne cuisine et prix modérés. Tout cela sans y être contraint par la concurrence. Cést vraiment méritoire." 

Este turista do final do século XIX fica impressionado com a festa da Imaculada Conceição - "tout Macao à cette heure est à la cathédrale oú dés lors je me rends en hâte" - e dedica vários parágrafos a descrever não só a procissão como também os cultos da religião católica profundamente enraízados na sociedade macaense.
Visita ainda as ruínas de S. Paulo: "Il ne reste en bon état de consérvation (...); derriére ce portique, ce ne sont plus que décombres et fragments de murs noircis entremêlés de ronces. Le couvent qui était auprés de l'église a aussi disparu. Il faut contempler ces ruines le soir, au clair de lune, quand elles se profilent en noir sur le ciel sombre, en haute de leur monticule, et que l'obscurité les amplifie". 

A visita a Macau não ficaria completa sem a passagem - obrigatória na época - pelo "Jardin de Camoens", recordando o autor a história do poeta maior das letras lusas e acrescentando a história da oferta de compra feita pela "mission française de Canton" mas que o governo de Macau recusou "et avec de raison", conclui.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Contrato de "fretamento de um vapor": 1870

Contrato feito perante o conselho de administração de marinha com a empresa lusitana para o fretamento de um vapor que deveria levar a Macau 300 praças. A viagem durava entre 60 a 70 dias.
Aos 2 dias do mez de junho de 1870 n este conselho de administração de marinha e em cumprimento das ordens de s ex o sr ministro transmittidas ao conselho pela direcção geral do ultramar era ofticio de 1 do mesmo mez se lavrou este contrato pelo qual a empreza lusitana de navegação por vapor para a Africa Açores e Algarve representada pelo respectivo gerente E George se obriga a fazer transportar para Macau 300 praças de pret e os outros passageiros e a carga que o estado tiver de mandar em um vapor e sob as seguintes condições:
1 O vapor terá pelo menos 1 500 toneladas de arqueação será devidamente apparelhado e em perfeito estado de conduzir a Macau com segurança e commo didade 300 praças de pret e os outros passageiros de prôa os officiaes militares e empregados civis que o governo tiver que enviar para aquella cidade devendo cal cular se para cada passageiro de prôa o espaço equivalente a 2,5 toneladas de alojamento.
2 O vapor será posto á disposição do governo no porto de Lisboa até ao dia 20 do corrente mez de junho salvo o caso de força maior devidamente comprovado 
3 O vapor será examinado em Lisboa pelos peritos nomeados pelo governo para se conhecer se reúne todas as condições necessárias para o bom desempenho do serviço a que é destinado 
4 O embarque effeetuar se ha no porto de Lisboa no praso de cinco dias a contar do dia da entrada exclusivè. O desembarque effectuar-se ha no porto de Macau quarenta e oito horas depois da chegada 
5 A viagem será concluída no termo de sessenta a setenta dias o máximo incluindo n este praso os dias de demora nos portos da escala 
6 Se a viagem exceder os setenta dias o concessionário pagará a multa de 250 libras esterlinas por cada dia que exceder salvo porém os casos de força maior devidamente comprovados A multa que n 5o poderá exceder a 2 500 libras esterlinas será deduzida na importância do frete 
7 Os officiaes militares e empregados civis serão alojados tratados e sustentados como passageiros de 1 classe e as praças de pret e quaesquer outros passageiros de prôa terão uma ração de géneros de boa qualidade igual k que é abonada ás praças da armada segundo a tabeliã junta A alimentação dos passageiros de 1 classa será abundante e de bua qualidade 
8 O preço para cada passageiro de 1 classe será de 50 libras esterlinas e para cada passageiro de prôa de 35 libras No preço inclue se o sustento desde o dia do embarque em Lisboa até ao dia de desembarque em Macau inclusivè O preço do transporte dos passageiros de prôa será pago em relação ao numero de 300 mas se na occasião do embarque elles não chegarem a este numero descontar se ha na importância total do mesmo transporte a quantia de 4J libras por cada passageiro que faltar para completar esse numero 
9 Serão concedidos 50 metros cúbicos para bagagens e cargas livres de fretes Por cada metro cubico que exceder pagará o governo o frete de 0 libras esterlinas e 10 por cento de primagem 
10 As malas do correio ea correspondência official eo dinheiro em prata ou oiro serão transportados gratuitamente 
11 Se na volta o vapor tocar em Lisboa e convier ao concessionário transportar para esse porto os passageiros do estado que houver em Macau o governo pagará por estas passagens o mesmo preço estipulado para as passagens de Lisboa para Macau. Na viagem de Macau para Lisboa também serão transportados gratuitamente o dinheiro em prata ou oiro hs mulas do correio ea correspondência official 
12 O frete será pago em Macau no dia immediato ao do desembarque em dinheiro pelo cambio corrente sobre Londres 
13 Na hvpothese prevista na condição 11 o frete tumbein será pugo em Macau ein dinheiro pelo mesmo cambio 
14 Para u contagem dos prasos estabelecidos n estus condições entender se ha sempre por um dia o praso de vinte e quatro horas 
15 A tripulação de vapor será composta no seu maior numero de portugueses 
16 0 vapor levará a seu bordo um facultativo habilitado e uma botica completa tudo á custo do concessionário 
17 A quantia de 500 libras esterlinas depositada pelo concessionário no banco lusitano á ordem do governo de Sua Magestade para garantia do fiel cumprimento de todas hs condições do presente contrato só poderá ser levantada depois de ter sido apresentado no ministério da marinha e ultramar documento outhentico em que o governador de Macau certifique que foram fielmente cumpridas as ditas condições Na falta de cumprimento das mesmas condições o concessionário perderá a quantia depositada.
 Tabela a que se refere a condição 7 

Em cada semana a distribuição será a seguinte para a ceia três dias de vacca dois de porco salgado um dia de arroz e um dia de bacalhau ou peixe salgado. Todos os outros géneros sete dias.
E de como o dito E George se obriga pela empresa lusitana de navegação por vapor para Africa Açores e Algarve de que é gerente ao fiel cumprimento de todas as condições acima estipuladas assi gno este teimo que eu Joaquim Maria de Carvalho Ferraz secretario do conselho de administração de marinha lavrei em testemunho de verdade e assignam também os demais membros do conselho na data retrò.
Assignados Joaquim Maria de Carvalho Ferraz secretario José Severo Tarares presidente João Ferreira Prego da Silva vogal Antonio Augusto Barradas Guerreiro procurador 
O gerente da empreza lusitana E George 
Está conforme Conselho de administração de marinha 2 de junho de 1870 
Joaquim Maria de Carvalho Ferraz secretario

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Workshop e Recital de instrumentos musicais chineses

Estão abertas as inscrições para o Workshop/Recital de Música Chinesa (yangqin e erhu) a decorrer nos dias 10, 11, e 12 de Dezembro, no Museu do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, às 18h30. O acesso é gratuito mediante inscrição prévia.
Kimho Ip e Li Cheong serão os responsáveis pela iniciativa. Li Cheong é natural de Macau, e de momento vive em Lisboa onde está a aprender a língua portuguesa. O professor Kimho Ip, é proveniente de Hong Kong. A iniciativa tem o apoio da Fundação Jorge Álvares.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Cartazes de cinema pintados

A propósito de uma prática que já há muito desapareceu em Macau, os gigantes cartazes dos cinemas, publico um excerto de um artigo da BBC que refere a também extinção da actividade em Taiwan...
Yan Jhen-Fa has never met a film star, but he’s painted so many he can’t remember them all. Nearly every day for the last 48 years, the 66-year-old artist shuffles onto the pavement across from the Chin Men Theater in Taiwan’s oldest city, Tainan, holding a small image and five buckets of paint.
For the next eight hours, he squats on a plastic stool and kneels on the ground in his makeshift outdoor studio, using deft brush strokes to depict film legends in surreal, film noir-like friezes of suspense, passion or pride. When he finishes, he clambers up the scaffolding and uses rope to hoist the 20-sq-m canvases three storeys into the air to hang them on the theatre’s facade.
Today, the Chin Men is the only remaining theatre in Taiwan to continue the age-old tradition of displaying hand-painted film posters. And in an era of digital printing and computerised billboards, Yan is one of the last artists in the world carrying on a craft that’s on the verge of extinction. (...)
As long as there have been movies, there have been movie posters. When silent films became popular in the 1910s, theatres around the world hired artists to convey the excitement of new releases and capture an audience’s attention before they even stepped into the theatre. By the 1940s, Hollywood studios began printing and shipping their painted posters around the globe. But in many places where skilled labour remained cheaper than billboard-sized prints, handmade paintings continued to adorn cinemas for decades to come.

Artigo BBC, Novembro 2018

domingo, 25 de novembro de 2018

Macao, une province portugaise en terre chinoise (1956)

«Au milieu du règne des Ming, rapporte le Ming-che (Histoire des Ming), les Portugais s'approprièrent Hao-king-gao (Macao) qui est situé au milieu de violentes vagues dans lesquelles sautent et plongent d'immenses poissons. Les nuages couronnent la ville et le paysage est splendide. Les Portugais ont passé les mers par milliers et sont venus se ranger sous l'influence vivifiante du glorieux soleil de l'Empire Céleste.»

C'est en 1513, en effet — trois ans après la chute de Goa — que le premier navire portugais jette l'ancre à Ta-mou, l'actuel îlot de Lin-tin, en face de Macao, alors centre des échanges commerciaux de la Chine avec l'extérieur. N'oublions pas qu'au même moment une flotte chinoise atteignait Ormuz et devait toucher l'Afrique. Ce serait en 1557 seulement, après avoir défait les pirates d'origine japonaise qui dévastaient les côtes du Foukien et du Kouang-tong, que les Portugais auraient obtenu de l'Empereur le droit de s'installer à Macao. En fait, l'origine la plus ancienne des colonies étrangères en Extrême-Orient est imprécise ; la raison en est, pense-t-on, que ce port n'était primitivement pas plus fréquenté que Lampacao et Shanchuan, et que les Portugais n'auraient eu aucune idée de sa future importance.
La première date dont on soit sûr, c'est 1575: Macao est érigé en siège episcopal, avec juridiction sur la Chine, la Corée et le Japon (celui-ci devait avoir son propre évêque en 1588) ; c'est de là, désormais, et non plus de Goa, que vont partir les missionnaires.
Très rapidement, la ville prend de l'importance : épices et richesses de toutes sortes y affluent du Siam, des Indes, de Malacca, pour être réexportées vers les quatre coins du monde d'alors. Un nouvel élan lui est donné quand, en 1569, le Daimyô de Omura cède au Portugal le port de Nagasaki par où vont s'écouler, entre autres, de fantastiques quantités d'or et d'argent. Le commerce sino- japonais fournit de nouvelles ressources.
A peine cent ans plus tard, Macao doit subir les assauts hollandais ; pas plus que Goa, il ne cède. Il ne cède pas davantage quand la métropole passe sous le joug espagnol ni quand, au début du XIXe siècle, sous prétexte de le « protéger » contre les ambitions françaises, les Anglais l'occupent. Ceux-ci, lors de la guerre de l'opium, font une seconde tentative — aussi vaine et hypocrite que la première — en envoyant dans la ville un corps de cinq cents hommes. « Nao hà outra mais leal » — il n'en est pas de plus fidèle — proclame la devise de la cité.
Lorsqu'en 1841 Hong-Kong est cédé à l'Angleterre, Macao en profite pour demander à la Chine l'égalité de traitement avec ce nouveau voisin qui, déjà, l'inquiète : plus de tribut à payer, plus de contrôle chinois sur les mouvements du port, et plus de « tso-t'ang » (mandarin délégué pourvu d'attributions judiciaires), mais une justice exclusivement portugaise. Décision à laquelle les pressions britanniques ne sont pas étrangères : le Céleste Empire refuse. Essayant de lutter encore, Macao s'érige en port franc, mais il est trop tard, et sa décadence s'accélère.
En 1846, surgit un gouverneur énergique, Amara ; encouragé par l'émancipation administrative qui vient d'être accordée à sa province — la détachant de Goa et lui soumettant Timor et Solor — il expulse le « ho-pou », poste de douane chinois dépendant de Yue-hai kouan-pou — direction des douanes de Canton — puis débarrasse la ville de tous les signes extérieurs de sujétion à la Chine. Il ose même, en 1849, braver l'Angleterre en emprisonnant un de ses ressortissants qui, protestant, avait refusé de se découvrir au passage du Saint-Sacrement. Tant d'actes courageux méritent une récompense : trois mois plus tard, il est assassiné par des « bandits »...
Après bien d'autres vicissitudes et de difficiles négociations où patience portugaise et lenteur chinoise se mesurent, un traité est enfin signé à T'ien-tsin, en 1862, consacrant l'indépendance de Macao. Piraterie, trafic de coolies, contrebande, incidents avec Hong-Kong fournissent pourtant par la suite de nouveaux motifs de discussion et ne laissent guère de répit aux gouverneurs qui s'usent à une cadence rapide tandis que la ville dépérit. En 1888, un traité de commerce confirme la reconnaissance par la Chine de la souveraineté portugaise sur Macao.
On sait le reste : c'est à la fin du siècle dernier que cet enfant terrible a trouvé sa vocation : « l'enfer du jeu » — et le repaire de tous les vices, selon ses ennemis... « Quelle absurdité, écrivait en 1900 un journal de Hong-Kong, que de voir les missionnaires catholiques quitter Macao où l'on aurait tant besoin d'eux, pour la Chine où ils ne peuvent rien faire !... »
Ces attraits discutables, joints heureusement à la réputation d'hospitalité due aux vertus conjuguées des Chinois et des Portugais, et complétés par le caractère pittoresque du site, ont, jusqu'à ces dernières années, attiré les touristes en nombre, et le budget local en a éprouvé les effets.
Pendant la dernière guerre, « Macao a montré un bon exemple de diplomatie avisée et de fermeté. Les Japonais n'occupèrent jamais la plus petite de nos provinces, bien que leur influence y ait été visible. De nombreux incidents éclataient presque journellement entre Chinois pro-japonais et les autres. A quatre ou cinq reprises, des guerillas chinoises, armées par les Japonais sur la frontière de notre territoire, préparèrent l'invasion de la ville, mais chaque fois, au dernier moment, un événement imprévu et miraculeux les empêcha de passer à l'action. Les Japonais qui passaient par Macao, bien que toujours arrogants et insolents, n'ont pas cessé d'obéir à nos lois. Il n'y eut jamais d'incident entre eux et nous ; dans les échanges de coups entre Chinois pro et anti-japonais, nous faisions les arbitres ». (Rodrigues da Silva, article inédit).
... Et Macao est toujours portugais. Tchang Kai-chek l'avait revendiqué — sans avoir eu le loisir d'insister. Depuis, les relations de voisinage sont, sinon bonnes, du moins sans histoires. Quelques incidents de frontières ont eu lieu, le plus sérieux en 1952, mais ils ont été chaque fois aisément réglés. Nous verrons plus loin les probables raisons de cette « coexistence » pacifique dont l'avenir seul dira si elle ne devait être qu'un répit.
Indications géographiques et ressources
Sur le globe, Macao n'est qu'un point — 16 kilomètres carrés en vraie grandeur — dont les coordonnées peuvent se définir ainsi: 30 kilomètres au sud du Tropique du Cancer, 40 kilomètres à l'ouest de Hong-Kong et 80 au sud-ouest de Canton. Cette ville possède une partie continentale — la presqu'île de Macao proprement dite (5,4 km2) et deux îlots : Taipa (3,4 km2) et Coloane (6,6 km2).
L'embouchure de la Rivière des Perles procure un bon port naturel, mais dont toutes les possibilités sont loin d'être exploitées. Les eaux environnantes sont d'ailleurs assez dangereuses, parsemées de hauts-fonds et de récifs.
Les conditions climatiques sont celles de toute cette région de la Chine du Sud : très abondantes pluies d'été dues à la mousson, amplitude thermique faible (15°,5 en janvier, 25 en juillet), humidité constante et typhons au début de l'automne.
Ainsi à l'étroit dans ses limites et peu gâté par la nature, Macao est pourtant une cité riche dont la prospérité n'est pas seulement due aux « vices » qu'un peu abusivement on lui prête. Les deux industries qui lui rapportent le plus sont la fabrication des allumettes et celle des engins pyrotechniques. 3 700 tonnes des premières et 3 750 des seconds ont été produits en 1951. La pêche et ses activités annexes viennent ensuite, occupant au total 20000 personnes. 3290 tonnes de poisson ont été pêchées en 1951 et 2700 en 1952. Quatre grandes conserveries sortent 1 200 000 boîtes de poisson par an.
Cimenteries et fabriques de papier (une trentaine) sont en plein développement. La production d'huile d'arachide a été de 250 tonnes en 1951 ; celle du vin chinois de 785 000 litres et celle de tabac de 100 tonnes. Certaines industries de caractère artisanal ont un rendement appréciable : chemiseries, tissages, fabriques de dentelles. Le total de la production industrielle a été de 21 millions de pataquès en 1952.
Le commerce, lui, doit en majeure partie sa prospérité à l'Association des Marchands Chinois qui vit, paraît-il, en excellents termes avec les autorités — mais rend pratiquement impossible l'installation du moindre commerce portugais.
Ajoutons que, l'année dernière, une Société luso-chinoise, l'Eurasia Filmes, a ouvert des studios de cinematographic et a produit un film — Novos Rumos — en deux versions — portugaise et chinoise. Macao voudrait devenir la capitale cinématographique de l'Extrême-Orient.
Ces diverses ressources procurent annuellement à Macao un revenu d'environ 20 millions de pataquès, mais courses, jeux et loteries rapportent à eux seuls plus de deux millions au trésor local. Celui-ci prétend n'employer ces biens mal acquis que pour alimenter le budget de l'Assistance publique et des œuvres de bienfaisance... Deux des plus importantes maisons de jeu, le Fantan et le Kou- sek, sont « nationalisées » et les trois autres, San-pio, Pa-ka-pio et Chim-piu- po, sont concédées à des entreprises privées.
Le port, mis en valeur il y a à peine cinquante ans, pourrait être développé, et nous verrons plus loin qu'il doit l'être. Son trafic, en 1951 , a été de 13 832 bâtiments (3 700 000 tonneaux), y compris les jonques à moteur. Sur ce nombre, 9 137 bateaux venaient de Hong-Kong. Les embarcations à voile, de leur côté, ont représenté 6 029 entrées en 1952.
Deux navires — cargos mixtes — Ylndia et le Timor, relient régulièrement la terre luso-chinoise à la métropole, mais les Portugais de Macao se plaignent du nombre trop peu élevé de leurs voyages — huit à dix par an.
C'est par son commerce extérieur que Macao traduit une vitalité constante. En apparence, celui-ci est pourtant en forte baisse: 526 millions de pataquès en 1951, 293 en 1952. La balance elle-même est pessimiste ; 262 millions de pataquès de déficit en 1951, 94 en 1952 (193 725 millions de pataquès d'importations contre 99613 d'exportations). Mais que les chiffres ne trompent pas : cette diminution du volume des activités provient seulement d'un changement radical de l'économie : depuis sa création, Macao a été, avant tout, un entrepôt de transit dans le commerce avec la Chine ; il a continué, malgré les circonstances, à jouer ce rôle, mais, très touché en 1950-1951 par les mesures d'embargo décrétées à l'égard de son voisin, c'est par troc qu'il fait maintenant les échanges avec lui. On en revient à Yeconomia natural déjà pratiquée aux premiers temps de la colonie.
Un facteur clandestin — plus ou moins... — de la richesse actuelle, est le trafic de l'or : deux fois par semaine, un avion venu de Bangkok en apporte de lourdes barres qui prennent, aussitôt après avoir été frappées d'une taxe, le chemin de Pékin. En 1951, 24742 kilogrammes du précieux métal auraient ainsi transité, et en 1952, 23145 — pour une valeur de 182 millions de pataquès.
Dans les échanges commerciaux, ce sont les produits alimentaires qui tiennent la plus grosse place ; les engins pyrotechniques et les pétards sont, d'autre part, une importante source de revenus, se vendant dans tout l'Extrême-Orient et jusqu'en Afrique du Sud.
L'excédent d'importations est, en majeure partie, réexporté vers les « territoires voisins » sans qu'aucune statistique puisse être établie: riz, farine, sucre et légumes secs en particulier passent la frontière en grosses quantités.
Les exportations, outre celles qui sont indiquées dans le tableau ci-dessus, sont constituées par des articles de lingerie — pyjamas et chemises — par de la soie, des valises, des parasols et des cotonnades. Une bonne part de ces produits est expédiée vers Lourenço-Marques.
Un coup sérieux a été porté aux importations, en novembre 1953, par la création d'une taxe ad valorem de 5 p. 100 sur tous les articles et par l'exigibilité d'un dépôt préalable de 20 p. 100 sur le montant des commandes pour lesquelles une licence d'importation a été obtenue. Des restrictions très sérieuses ont, d'autre part, été mises à la réexportation du sucre vers la Chine continentale.
Les échanges avec la métropole sont ridiculement faibles: en 1953, Macao a envoyé vers le Portugal du papier, de la porcelaine, des feux d'artifice, de la cannelle et quelques bois exotiques pour une valeur totale de 206 835 escudos. Il a reçu de lui 5 023 511 escudos de marchandises, dont 2 de matières premières et 2,6 de produits alimentaires (vins, huile, viande fumée) ainsi que des textiles et des médicaments.
C'est de Timor que Macao reçoit la totalité de sa consommation de café (celle- ci est d'ailleurs assez faible, le thé étant la boisson de base) ainsi qu'un peu de cuivre et de la laine.
Le budget de la province témoigne de l'équilibre que, malgré les conditions actuelles — ou grâce à elles... — le gouverneur a su maintenir: pour 1955, 20 949 822 pataquès sont prévues au chapitre des recettes et 20 792 695 à celui des dépenses.
La vie financière est, on s'en cloute, fort active: si la circulation fiduciaire n'est que de 25 millions de pataquès, le mouvement commercial atteint 500 à 600 millions — ce qui prouve la rapidité de circulation de la monnaie. Si les opérations faites par les changeurs chinois se sont élevées à près de 300 millions en 1951 — et à plus de 100 l'année suivante — celles de la Banque nationale d'Outre-Mer se sont chiffrées à un milliard.
Ainsi qu'à Goa et à Timor, les « plans » sont à la mode: il en existe deux. Le premier dont la réalisation doit s'étendre jusqu'en 1958 — ayant été inauguré en 1953 — porte principalement sur l'urbanisme: 40 millions d'escudos doivent être consacrés à l'amélioration — si ce n'est à la création — du réseau d'adduction d'eau et de celui des égouts. La construction de routes bénéficiera de 30 millions, et 50 seront utilisés pour l'amélioration — très nécessaire — du port et de ses installations. La construction d'un aérodrome est prévue sur les alluvions du port extérieur.
Le second plan porte sur vingt-cinq ans ; il a pour seul objectif la mise en valeur de Taipa et Coloane. On commencera par relier les deux îlots, séparés par un kilomètre à peine d'une mer peu profonde, puis on y créera des zones spécialisées :
— touristique : en y transférant les boîtes de jeux de Macao, en y construisant hôtels, piscines, casino, théâtres, parcs, etc. ;
— de pêche et des industries annexes ;
— maraîchère ;
— industrielles : les fabriques de « panchoes » y sont déjà installées ;
— d'habitation enfin, s'il reste de la place (la superficie totale n'excède pas 10 kilomètres carrés).
Une première tranche de 50 millions de pataquès est affectée à la mise en œuvre de ce projet.
Devant tant d'enthousiasme constructif, on ne peut que souhaiter que l'avenir soit propice...
La ville et sa population
A en croire ceux qui la connaissent, Macao serait la ville coloniale la plus pittoresque — ou, du moins, la plus curieuse — de l'Asie. A côté d'édifices gigantesques, tels que l'Hôtel Central avec ses quatorze étages, de quartiers résidentiels noyés dans la verdure, grouille une foule chinoise toujours affairée, dans des rues coupées d'arcs de triomphe en bambou tendus de papiers de couleurs vives. Hong-Kong, si semblable, est pourtant, paraît-il, tout différent. Pas de monuments, hormis la façade baroque d'une église dont la nef a disparu et la fameuse « grotte de Camoëns » qui, selon certains, n'aurait jamais vu le poète. Ce qui ferait le charme de la ville serait cette atmosphère unique de tranquille bonne humeur et de cordialité résultant des caractères portugais et chinois heureusement conjugués.

Bien que YAnuario Estatistico indique pour 1951 une population « régulière » de 187772 personnes, on ignore le nombre précis de ses habitants, les recensements n'y étant pas plus aisés qu'en Chine même, et les circonstances actuelles rendant plus fluides encore qu'auparavant les mouvements de population. Si l'on compte en temps normal 300 000 à 350 000 Chinois, ce chiffre s'élèverait en ce moment à 500 000 au moins; cela suffit pour faire de Macao la deuxième ville de l'Empire portugais — la densité atteindrait alors plus de 50 000 habitants par kilomètre carré. Les Européens sont, par contre, de moins en moins nombreux et seraient à peine 300 auxquels s'ajoutent 600 réfugiés portugais de Changhaï ; on compterait 4 000 métis. Ceux-ci, seuls vrais «Macaenses », sont les descendants des premiers colons portugais ayant épousé des Hindoues ou des Malaises (les croisements avec des Chinoises sont récents et restent très rares). Ils sont appelés « Chon-Mao », c'est-à-dire baptisés, « entrés dans la religion ».
Les problèmes très graves posés par cet afflux de population seraient d'autant plus intéressants à étudier que des comparaisons pourraient être établies entre les solutions qui leur ont été données par les Portugais et celles que les Anglais à Hong-Kong leur ont trouvées. Le manque total de documentation sur ce sujet rend malheureusement ce travail impossible.
Les chiffres donnés ci-dessus — provenant de sources officielles — sont contredits par une personnalité portugaise, M. Rodrigues da Silva, rentrant de Macao : « Les réfugiés chinois, affirme-t-il, qui étaient plus nombreux il y a deux ans, sont aujourd'hui à peine 3 000. Ils vivent dans des camps organisés par le gouvernement portugais dont le ravitaillement est assuré par celui de Formose. La majorité de ceux qui sont repartis ont gagné Taï-Peh, quelques-uns Hong- Kong et d'autres la Chine communiste. »
Le Chinois étant sans doute le plus rétif des hommes à toute forme d' « assimilation », la politique lusitanienne n'a pu jouer dans ce sens. On vante, certes, les mérites de certains métis, mais on est bien obligé de reconnaître que, sans les Chinois « 100 p. 100 », le Macao portugais n'existerait pas. La langue portugaise est d'une diffusion restreinte, l'anglais, même dans l'enseignement, la supplantant de façon très nette. C'est le cantonais qui, naturellement, domine.
Il existe un curieux dialecte, propre à la ville, dérivé du portugais, influencé par le chinois et traversé de termes concanis et malais ! Parlé avec un accent chantant qui le ferait prendre pour du cantonais, sa syntaxe est simple, les constructions de phrase copiant celles du chinois : les verbes ne possèdent que l'infinitif et le participe passé et les pluriels sont formés par répétitions : homi homi — des hommes (cf. chinois : jenjen). Le âo portugais devient ang : pâo-pang ; um devient unga ; sâo (verbe être) devient sang et remplace le si (oui). Les pronoms sont invariables. Certains mots n'ont pas d'origine facilement discernable : senhor, se dit Nhum ; falar (parler) : papias ; mexer (toucher) : buli-buti ; apalpar (tâter) : xipi ; espetar (piquer) : xûxû, etc.
D'après certains missionnaires, les Chinois de Macao seraient encore plus difficiles à christianiser que ceux de l'intérieur. Cela vient, nous a déclaré un père jésuite ayant longtemps résidé dans la ville, de ce que le Chinois de Chine savait rester Chinois s'il se convertissait ; le Chinois de Macao, lui, craint, dans ce cas, de devenir Portugais... — le nombre des baptisés ne dépasse pas une dizaine de mille — résultat bien mince pour près de quatre cents ans d'apostolat.
Les camps de réfugiés, à Taipa principalement, sont l'objet d'attentions évan- gélisatrices particulières, mais ce qui surprend — et montre bien comme cette « province » est tenue éloignée de l'âme et de la terre métropolitaine — c'est qu'aucune propagande ni aucun appel n'ont été faits au peuple portugais, pourtant si charitable, si prêt et prompt à l'aumône, pour qu'il aide à soulager ces misères.
Le gouverneur tenterait d'attirer de plus en plus les riches touristes de Hong- Kong afin d'accroître les revenus destinés à la bienfaisance. Des ferry-boats où l'on peut boire et danser relient fréquemment les deux cités, et c'est à ces plaies dont il souffre que Macao doit de continuer à vivre et à aider.
Rappelons que Sun Yat-sen a, un temps, vécu dans la cité lusitanienne, y exerçant la médecine. Ne possédant pas les diplômes reconnus, il en fut rapidement expulsé, mais sa première femme, Lou Mou-cheng, y était restée, entretenant pieusement son souvenir ; elle y est morte en septembre 1952.
L'administration de Macao suit les dispositions générales régissant l'outre-mer portugais. Une place — une seule — est accordée à un représentant de la communauté chinoise dans le conseil assistant le gouvernement. Dans les services provinciaux, une section est chargée des affaires chinoises et comprend des « experts » portugais et chinois.
Vie intellectuelle
De nombreuses études ont été faites, surtout par les jésuites, sur Macao, porte d'entrée de l'influence européenne en Chine. Ce rôle n'est certes pas à sous- estimer, mais l'actualité seule nous intéressant, nous ne l'examinerons pas ici.
Un important travail sur les mots sino-portugais avait été entrepris avant la dernière guerre par un professeur chinois. Sous presse en 1941, il a été totalement détruit par les Japonais, et son auteur est mort peu après. Pour tous les orientalistes, cette double perte est très regrettable. Il est certain que la ville, profondément marquée par son passé, lui doit une vie culturelle toujours intense. Il ne s'y édite pas moins d'une vingtaine de périodiques — dont un quotidien: Noticias de Macau (tirant à 700 exemplaires...) et deux hebdomadaires portugais, ainsi que cinq quotidiens chinois principaux.
De nombreux cercles littéraires, scientifiques et musicaux réunissent les beaux esprits des deux peuples. Radio Vila Verde émet dans les deux langues, et fait une plus grande place aux concerts et aux conférences qu'à la politique — la musique a, jusqu'à maintenant, réussi à adoucir les mœurs... Les cinémas sont nombreux et très fréquentés. Il faut noter que, si, durant le premier trimestre de 1951 , ils ont présenté 182 films américains et 105 chinois, ils en ont présenté, pendant le quatrième trimestre, 127 américains et 176 chinois... et, pendant toute cette année, 4 français.

Le musée municipal conserve de nombreux documents sur les Découvertes et sur les premières relations avec la Chine. L'observatoire météorologique, enfin, l'un des plus anciens de cette région du monde, en est aussi l'un des mieux équipés.
En ce qui concerne l'enseignement, la même anomalie qu'à Goa se retrouve ; tandis que les établissements officiels rassemblent 800 élèves pour le primaire et 120 au lycée Infante D. Henrique, les institutions missionnaires — subventionnées par l'Etat — en comptent 1 700, et l'enseignement privé chinois 1 9 200. Au total, donc, 1 000 enfants à peine suivent des cours en portugais, près de 300 en anglais et tous les autres en chinois.
Les collèges S. Paulo Grande et S. José, depuis longtemps fameux, dispensant un enseignement d'un niveau supérieur, continuent à attirer des étudiants de la Chine entière.
Regards sur l'actualité
De ce que nous avons dit en étudiant le commerce de Macao, on peut déduire que les relations avec les « territoires voisins » — comme les appellent avec tact les publications portugaises — non seulement existent, mais, étant profitables aux uns et aux autres, ont toutes les chances de subsister et même de s'intensifier. A en croire d'ailleurs certains Portugais, ces relations ne sont pas seulement intéressées et procèdent d'une mutuelle amitié. Une preuve en serait, par exemple, qu'en décembre dernier, lorsqu'un immense incendie ravagea un des quartiers les plus pauvres de la ville, c'est de Canton que parvinrent les plus importants des secours, en même temps que les autorités communistes envoyaient de considérables quantités de riz...
On a accusé — les États-Unis particulièrement — Macao de permettre la contrebande entre Hong-Kong et la Chine. Ce reproche n'est sûrement pas sans fondement, encore qu'il faille mettre Américains et Portugais d'accord sur le sens du terme «contrebande », mais, quand on se rappelle que seuls des bâtiments de la taille des jonques peuvent remonter l'embouchure du fleuve, on ne peut pas croire que le trafic de matériel stratégique soit d'une ampleur inquiétante. D'ailleurs, disent les Portugais, aux Anglais de contrôler ce qui sort de Hong- Kong...
Ainsi, pas plus que pour l'avenir de l'Inde portugaise, il n'est possible d'émettre des pronostics. Dans l'une et l'autre de ces provinces, le calme et la confiance affichés par les autorités sont contagieux, et la population continue à vivre et à travailler en toute tranquillité.
Les plans dont nous avons parlé sont l'expression évidente de cet optimisme. A lire la presse macaïste, d'autres projets se découvrent : amélioration du matériel de pêche, développement des cultures maraîchères, de l'aviculture, de l'élevage des porcs — afin de se libérer, en ces matières, des importations. Les journaux de langue chinoise, d'ailleurs, qui publient avec la même objectivité, semble-t-il, les dépêches de Paris et de New-York et celles de Pékin, ne trahissent aucune inquiétude. Assez curieusement, leur lecture donne l'impression, parfois, que les « Trois Grands » sont Hong-Kong, la Chine et Macao!
Ajoutons que la première visite — depuis la fin de la guerre — en septembre 1954, d'un cargo japonais a été marquée par des cérémonies prouvant la satisfaction des Portugais devant la réouverture du commerce fait par leur intermédiaire entre les deux empires d'Asie.
Comme Hong-Kong, c'est à son rôle de porte ouverte que Macao doit d'avoir été ménagé, mais, d'un profit bien moins grand que sa voisine pour l'économie et la stratégie chinoises, c'est peut-être aussi à son innocuité qu'il le doit... «La petitesse et la faiblesse de l'enclave de Macao, incapables de porter ombrage à l'orgueil chinois, sont sa meilleure protection. La force par la faiblesse, telle pourrait être aujourd'hui sa devise », déclarait le Times du 3 août 1952; les Portugais s'en sont vexés. Ils feraient mieux de se rendre compte que c'est à partir du jour où ils apparaîtront à la Chine comme la dernière « forteresse de l'impérialisme occidental » sur son sol, que ce « joyau de l'Extrême-Orient » passera bientôt dans d'autres mains que les leurs.
Artigo da autoria de M. H. in Politique étrangère 1956 pp. 85-94

sábado, 24 de novembro de 2018

Emissão filatélica "Plantas Medicinais Regionais"


Esta emissão filatélica foi feita através da Portaria n.º 109/83/M: emite e põe em circulação neste território selos postais alusivos a "Plantas Medicinais Regionais".14 de Julho de 1983 foi o primeiro dia de circulação.







sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Jules Itier daguerreotypes

In 1838, Louis Jacques Mandé Daguerre (1787- 1851) published a leaflet in Paris to advertise his invention: the daguerreotype. This was a photographic process that produced a single positive picture (image) on a highly polished silvered copper plate surface exposed in a camera obscura (dark chamber).
Daguerre was a painter, lithographer and set designer.He was an assistant to the artist Pierre Prévost, and it was through the latter’s panoramas that Daguerre was initiated into the art of camera obscura between 1807 and 1815.
The invention of the daguerreotype was officially announced by François Arago, physicist and politician, on 7 January 1839 at a session of the Academy of Sciences in Paris. That date is usually deemed to be the official birth of photography, but the revolutionary process behind the invention was only divulged on 19 August 1839, again by Arago, to the leading lights of both the Academy of Sciences and the Academy of Arts.
The very first person to describe this remarkable invention in the American press was Robert Walsh Jr, an American correspondent in Paris who related his visit to Daguerre’s workshop in a letter to the New-York American dated 5 March 1839:
On 19 October 1839, only two months after Arago revealed the revolutionary process, an English language newspaper based at Macau, The Canton Press, reprinted Robert Walsh’s letter to the New-York American of 5 March 1839 in full about the newly invented daguerreotype camera:
"On the 3rd instant, by special favour, I was admitted to M. Daguerre’s laboratory, and passed an hour in contemplating his drawings. It would be impossible for me to express the admiration which they produced. I can convey to you no idea of the exquisite perfection of the copies of objects and scenes, effected in ten minutes by the action of simple solar light upon his papiers sensibles. There is one view of the river Seine, bridges, quays, great edifices, etc., taken under a rainy sky, the graphic truth of which astonished and delighted me beyond measure. No human hand ever did or could trace such a copy. This time required for this work was nearly an hour - that is, proportional to the difference of light.
Daguerre is a gentleman of middle stature, robust frame, and highly expressive countenance. He explained the progression of his experiments, and vindicated his exclusive property in the development and successful application of the idea, with a voluble and clear detail of facts and arguments. To the suggestion, that the exhibition in United States, of the collection of his drawings, might yield a ‘handsome sum’, he answered that the French Government would soon, probably, buy his secret from him, and thus gratify his wish—the unlimited diffusion and employment of his discovery. The sum which the Academy of Sciences asks for him, is 200,000 francs. He had already acquired great fame as the painter of the Diorama."

A few years later, between 1844 and 1845,
Jules Itier was at Southern China; Canton (now Guangzhou), Whampoa (now Huangpu), and Macao, and made the daguerreotypes that are considered to be the earliest photographic images identified in China.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Os 'combates' de grilos

"Descobriram os chins que os insectos teem paixões susceptiveis de serem excitadas, e que podem ser irritados por offensas, que naturalmente nunca tracariam: deste facto se aproveitam para por via delle se divertirem (…). Para fazerem pelejar dois grillos machos, os chins mettem em uma especie de tigella de barro de seis ou oito pollegadas de diametro. Cada um dos donos dos dois grillos bole no seu com uma penna, o que os faz dar differentes voltas ao redor da tigella, encontrando-se e empurrando-se ao passarem um pelo outro. Depois de terem tido varios encontros por este modo, exasperam-se, por fim, e brigam até se despedaçarem mutuamente."
in O Panorama, Jornal litterario e Instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Uteis, 29 de Dezembro de 1838
Emissão filatélica de 1990
"Ha na China uma especie de cigarra chamada ´kouai-kouai´que canta pouco mais ou menos como os nossos grillos, com a differença de que o seu canto é mais forte, mais agudo, mais penetrante, e a tal ponto que para nós é insupportavel; pois é isso exactamente que elles gostam. Assim, passa-se por um barbeiro, e elle lá tem n´uma gaiolinha o grillo indispensavel para fazer as delicias dos freguezes; entre-se n´uma escola de rapazes, ou n´essas cavernas de immundicie a que temos de chamar officinas, lá estão pelo menos meia duzia dos preciosos cantadores... E em viagem? Que desgraçado se não consideraria um bom chinez se tivese de fazer uma jornada sósinho! Pelo menos ha de levar comsigo um Kouai-kouai para companheiro. (...) Se alguns amigos se encontram, e na occasião não têem com que jogar, compram laranjas e tangerinas, apostando pelo numero de caroços de cada fructo; mas as apostas mais importantes são as que se fazem nos combates de grillos, espectaculo tão repugnante como o da lucta de gallos, e onde o valor das apostas attinge centenas de dollars."
in "Cousas da China, costumes e crenças", Joaquim Callado Crespo, 1898
A luta de grilos imortalizada numa peça de cerâmica vidrada de Shek Wan
Segue-se uma artigo da autoria de Leonel Barros publicado no nº 2 da Revista Cultura (1987).
"O jogo e as apostas são para os chineses os maiores divertimentos da vida. Nos casinos ou em casa, nos passeios ou nos bancos dos jardins, confortavelmente instalados ou simplesmente acocorados, chineses de todos os níveis sociais apostam em quase tudo. Até em combates de grilos, que anualmente são disputados no início do Outono, ou seja no período do Lap-t'chau (sétima Lua)."
Os grilos são apanhados pelos agricultores durante os meses de Verão ou no início do Outono a fim de serem metidos na "arena". O "grilo chilreando na lareira", das canções folclóricas e dos contos, aparece em todas as habitações rurais e campos do mundo. Este insecto procria continuamente e qualquer colónia pode incluir espécimes de todas as idades. As fêmeas possuem um ovipositor longo, em forma de furador, pelo qual expelem os ovos para dentro de frestas, enquanto as que vivem ao ar livre põem os ovos debaixo da terra. Os ovos eclodem depois de um período entre 15 e 25 dias, a uma temperatura entre 25 e 30 graus, e o desenvolvimento das ninfas leva o mesmo espaço de tempo. Os grilos são geralmente nocturnos e cortejam as fêmeas no fim da tarde, continuando por toda a noite. Enquanto cortejam, emitem um som agudo e estridente produzido pelo friccionar dos tenigmas (asas dianteiras).
Os grilos caseiros são omnívoros, alimentando-se de qualquer matéria orgânica que encontrem, enquanto que os do campo (espécies Teleogryllus e Grillus), se alimentam de vegetais como batata, alface, cenoura e de toda a espécie de ervas. A ninfa do grilo assemelha-se muito à espécie adulta, mas é mais pequena. As asas e o corpo vão crescendo, e muda de pele até se tornar insecto adulto. Os grilos caseiros não se adaptam ao cativeiro nem tão pouco são utilizados para combates por serem pequenos e extremamente delicados. Os do campo, que são conhecidos pelo nome vulgar de grilo campestre, são os mais procurados. Existem muitos tipos distintos, conhecidos por diferentes nomes. Os machos são extremamente agressivos uns com os outros, estabelecendo a hierarquia e a chefia no grupo por meio de lutas. Embora, quando em liberdade, eles se agridam, é muito raro haver algum dano físico, o que não acontece quando lutam na "arena": o derrotado ou se retira ou morre despedaçado.
Os grilos do campo, por serem muito combativos, são procurados pelos agricultores que vão buscá-los às tocas quando eles se encontram hibernando. O camponês serve-se de um pequeno cesto de forma cilíndrica que é colocado à entrada da lura. Seguidamente, ele queima à entrada um pouco de palha ou folha seca cujo fumo penetra no hibernáculo, obrigando-o a sair e a entrar no cestinho. Acontece muitas vezes que o fumo provoca também a saída de serpentes. Os insectos apanhados nestas condições são os que mais dinheiro custam, podendo até atingir a casa dos milhares de patacas. Acreditam os chineses que os grilos assim caçados são bons lutadores porque até a serpente receia devorá-los na sua toca, o que é errado,visto que a serpente em hibernação não se alimenta, limitando-se unicamente a ingerir de vez em quando um pouco de água, caso esteja próxima dela.
Os grilos apanhados nos distritos de Sôi-Leng, T'cheng-Un, T'cheong-Fá e Kou-l são os mais procurados, em virtude de a grilada deles ser bastante estridente, podendo ser ouvida a grande distância. As espécies mais procuradas são as conhecidas entre o povo pelos seguintes nomes: Pac-má--t'au (cavalo de cabeça branca), Vong-má-t'au (cavalo de cabeça amarela), Hak-má-t'au (cavalo de cabeça preta), Hai-kim (pinças de caranguejo) e Hak-ngán (olhos negros). A manutenção destes insectos, além de ser muito dispendiosa, exige do criador enormes cuidados, visto que ao menor descuido eles podem adoecer e morrer.
Antigamente, há mais de 3.000 anos, os Imperadores da China criavam estes insectos em riquíssimos recipientes fabricados com ouro, prata, marfim, jade ou cristal e cada animal ficava aos cuidados de um "médico ervanário".
Em cada um dos recipientes os tratadores colocavam um pequeno pote com água mineral a fim de saciar a sede do insecto e davam-lhe a comida: pequeníssimos insectos e peixinhos recém-nascidos, bem como batata, cenoura, couve e arroz cozido de primeira qualidade, a que era adicionado um pouco de mel, para que o insecto se tornasse mais pesado, forte e combativo. No caso de algum insecto adoecer, o "médico" ministrava-lhe larvas de mosquitos secos ao Sol misturadas com algumas espécies de ervas medicinais. Mas o medicamento mais eficaz eram rebentos pisados da ervilheira selvagem. Além de todos estes cuidados, o mais aturado era o que preparava a vida sexual do insecto. Assim, o "médico" tinha todas as noites de colocar em cada recipiente, junto do macho, uma fêmea que era retirada após uma permanência de algumas horas. No quarto onde se criavam os grilos não era permitido o fumo de cigarro ou do ópio, porque o fumo afecta a saúde do insecto podendo torná-lo inútil para os combates.
Muito antes da hora do início dos combates aparecem os apostadores com um ou mais potes com grilos que são colocados sobre uma longa mesa. Estes potes apresentam-se completamente tapados com um bocado de cartão forrado com papel vermelho. Em cada pote está gravado o nome do dono, para não haver enganos.
Um indivíduo com funções de fiscal pesa os insectos servindo-se de uma balança de precisão. Preferencialmente, os insectos devem ter o mesmo peso, mas em casos muito especiais, e com a concordância dos presentes, pode haver uma pequena diferença em gramas. O mesmo indivíduo serve também de árbitro durante os combates e não há reclamações das suas decisões. 

Depois de pesados os insectos, e observada a sua constituição, dois deles são metidos no pote que servirá de "arena". Seguidamente os donos dos grilos esfregam o dorso dos insectos com uma vareta que tem na extremidade alguns fios de bigode ou pêlos de rato. Isto torna-os furiosos. Os animais lutam então desesperadamente até que um fica totalmente despedaçado, sem ambas as pernas ou sem a cabeça. Pode acontecer durante a luta que algum dos animais se recuse à luta, recuando sempre que o seu adversário estende as patas para o agarrar. Quando isto sucede, a decisão fica por conta do árbitro.
Vinte por cento das receitas das apostas revertem para o proprietário do estabelecimento, e os vencedores são presenteados com um ou mais galhardetes vermelhos, com frases laudatórias ao grilo vencedor. Seguidamente, fazem-se cortejos pelas ruas da cidade com grande acompanhamento de entusiastas para levar o insecto à residência do dono.
Nas apostas nunca há dinheiro à vista, mas sim a oferta de leitões assados ou bolos. O dinheiro é mais tarde entregue aos apostadores num determinado local e o volume global pode atingir as dezenas de milhares de patacas. Antigamente, quando morria um grilo campeão a notícia ia para os jornais anunciando a hora exacta do "funeral", que assim congregava também um grande acompanhamento. O local do enterro tinha de ter também um bom "fông-soi", exactamente como o escolhido para enterrar uma pessoa. No passado, este tipo de divertimento era feito em vários locais, de preferência nos hotéis ou em residências de famílias ricas chinesas.
Hoje, a luta de grilos é exibida numa residência antiga da Travessa dos Anjos, n°24 r/c, todas as tardes das 14.00 às 17.00 horas. Não é permitido tirar fotografias durante as lutas porque a repentina claridade do "flash" estonteia o animal, inibindo-o de continuar a combater.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Vista panorâmica no final do século 19

Vista panorâmica no final do século 19: 1 - Baía da Praia Grande 2 - No primeiro plano e na ponta da B. da Praia Grande, o Hotel Boa Vista; no segundo plano, a Entrada do Porto Interior 3 - Montanhas da Ilha da Lapa que dominam completamente o Porto Interior e a cidade de Macau 4 - Fortaleza de S. Paulo do Monte, cidadela de Macau 5 - Ilha Verde, ligada ao Istmo da Porta do Cêrco pelo Dique ou Avenida do Conselheiro Borja 6 - Montanhas de Chin-San, Passaleão e Pac-Siac, da ilha de Hian-Chan 7 - Forte de Mong-Há, dominando o Istmo da Porta do Cêrco 8 - Montanhas de Ca-Thay 9 - Dique ou Avenida do Conselheiro Borja, ligando a Ilha Verde ao Istmo da Porta do Cêrco.
in Ta-Ssi-Yang-Kuo Arquivos e Anais do Extremo Oriente Português, Vol. IV, pág. 446
Nota: clicar na imagem para ver em tamanho maior

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Correio Marítimo: 1872 e 1864

O Correio Marítimo de Macau começou a funcionar em 1798. Nessa época ainda não existiam selos uma situação que se manteve até 1884, ano em que o governador Tomás de Sousa Rosa determinou, através da Portaria Provincial n.º 11, de 27 de Fevereiro, que começassem a circular os primeiros selos adesivos de Macau, a partir do mês seguinte.
Na primeira imagem um anúncio do "Correio Marítimo" publicado na "Gazeta de Macau e Timor" em Outubro de 1872. Outros exemplos deste tipo de anúncios podem ser visto nos links a seguir indicados: em 1870; 18691862. E uma carta de 1861.
in Gazeta de Macau e Timor, 1872
in Ta-Ssi-Yang-Kuo, 1864



segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Efeitos da guerra nas colónias portuguesas do Oriente




A guerra: questões coloniais em questão
A guerra era uma «conflagração europeia». Era assim que os documentos de várias colónias a classificavam, mesmo que a realidade tenha ultrapassado o espaço físico desse continente e se tenha prolongado para outros lugares. A conceção de guerra europeia, na realidade, apelava à rivalidade entre as potências do Velho Continente e ao seu domínio colonial, imediatamente colocado em causa quando se desencadeou o conflito. No caso português, houve um impacto direto do conflito em Angola e Moçambique, mas ele marcou igualmente outros territórios, sob a ameaça militar ou pelas suas consequências políticas e económicas.
Também nas colónias do Oriente, Índia, Macau e Timor, se projetou o conflito, através de múltiplas incidências. Mas as circunstâncias apresentaram-se igualmente propícias à resolução de questões pendentes, particularmente à definição colonial, como conceberam os governadores de Macau e de Timor, respetivamente José Carlos da Maia e Filomeno da Câmara. Para estes dois intervenientes, exigia-se um apelo à diplomacia internacional, um acordo pelo qual as potências internacionais obrigassem a China a reconhecer as fronteiras macaenses e proporcionassem a Portugal a totalidade da ilha timorense, recebendo a Holanda, por troca, algum território que até aí tivesse pertencido à Alemanha. Os projetos ficaram pelas ideias dos governadores, todavia, o primeiro procurou, pelos meios de Macau, resolver a questão em algumas das regiões em disputa, particularmente na ilha da Lapa, com a ocupação pacífica e gradual por forças portuguesas, esperando conduzir os habitantes à aceitação da soberania portuguesa; no entanto, os chineses também ocuparam a mesma ilha, verificando-se alguns incidentes entre navios das duas nacionalidades. As definições coloniais envolvendo estas colónias não se ficaram por aqui, pois a própria Austrália as considerou, procurando obter Timor através da compensação aos portugueses com algum território perdido pelos alemães.
Antes da declaração de guerra
Para além dos projetos, e enquanto Portugal se manteve como potência neutral na sua dimensão europeia, os efeitos da guerra sentiram-se de formas diversificadas. Na sociedade macaense, as senhoras fizeram agasalhos e recolheram donativos para os soldados, entre outras atividades. Mas um outro efeito foi visível desde o início da guerra: a chegada de refugiados. Começaram por vir de Hong Kong e em setembro de 1914, o governador estimava já 120.000 habitantes na cidade, receando que entre eles se contassem muitos piratas ou revolucionários. Impunha-se então uma maior vigilância, pelo que a resposta local foi a criação do Corpo de Voluntários.
O problema de Macau encontrava-se essencialmente na China, então em profunda turbulência. À guerra civil larvar acrescentavam-se, bem problemáticos para a colónia portuguesa, os movimentos xenófobos, o que também justificou a reorganização policial, de forma a intensificar a vigilância. De Lisboa a ordem era para evitar qualquer conflito. E, de facto, houve grande preocupação em precaver incidentes, expulsando propagandistas da oposição, apreendendo panfletos, etc.
Noutra parte, no Índico, cinco cargueiros alemães (Lichtenfels, Marienfels, Brisbane, Kommodore and Numantia) e um austro-húngaro (Vorwaerts) acostaram em Mormugão logo em agosto de 1914, alegando a necessidade de abastecimento de carvão; todavia, apesar de o porto ser português, a única casa fornecedora era inglesa, tendo ordens para não abastecer os navios estrangeiros. A grande preocupação do governador passou, então, a ser a manutenção da neutralidade, quando na colónia viviam, em proximidade, britânicos e germânicos.
Impunha-se uma preocupação essencial: impedir a transmissão de informações pelos alemães, a quem ficou interdita. A utilização da TSF. Muito expressamente, de Lisboa a indicação era para vigiar, pois não se podia transigir e possibilitar qualquer «abuso» contra o país «nosso aliado»; sendo necessário, o governador português deveria concertar posições com as autoridades da colónia vizinha. Por esta razão, a uma dessas embarcações, o «Numantia», foi tirado o aparelho de comunicações.
Para além desta, as autoridades portuguesas tiveram de enfrentar diversos problemas colocados pelas suas diferentes tripulações. Assim, e como exemplo, alguns franceses do Djibouti quiseram regressar às suas terras, obrigando o governo a negociar com os franceses; um italiano queixou-se de ameaças feitas pelos alemães. Impuseram-se ainda outras questões relativas às cargas, pois muitas firmas reclamavam como suas as mercadorias transportadas, querendo reavê-las ou, pelo menos, impedir a sua venda.
Declarada a guerra
Preparava-se, entretanto, a requisição simultânea dos navios surtos nos portos portugueses, partindo de Lisboa as instruções para serem seguidas pelos diversos governadores. Os cinco navios alemães ancorados em Mormugão foram requisitados pelas autoridades portuguesas a 23 de fevereiro de 1916. No início assistiu-se a alguma tentativa de resistência, que logo cessou, sendo lavrado protestos dos respetivos comandantes
A requisição dos navios trouxe à Índia uma questão com que se debateram os responsáveis por outras colónias: que fazer das tripulações alemãs. Depois de terem passado por uma fase de liberdade, embora sob vigilância, os ingleses pressionaram o Governo local para outra solução, receando que os germânicos fugissem. Estes passaram então à situação de prisioneiros, na fortaleza da Aguada e nos quartéis militares de Bicholim e Pangim. Tendo, entretanto, caído doentes muitos deles, 48 foram transferidos para Angra do Heroísmo, em abril de 1917; alguns seguiram para a metrópole; mantinham-se os outros, com grandes dificuldades, o que fez permitir que a casa Volkart Brothers lhes enviasse mensalidades, de acordo com as convenções internacionais relativas a prisioneiros. Colocava-se igualmente o problema da sua defesa, quando a guarnição europeia era pequena e o governador não queria que os locais tivessem este serviço. Mantiveram-se na Índia até outubro de 1919, não obstante as tentativas do governador local de os fazer seguir mais cedo, o que foi impossibilitado pela falta de transportes; em junho deste ano ainda tentou que saíssem para Moçambique a bordo de um navio português.
Mas a requisição dos navios veio a acarretar outras dificuldades, pela necessidade de proceder à sua descarga, sem que localmente se encontrassem as condições necessárias. Por decisão do governo de Lisboa, e não obstante os protestos do governador, alguns acabaram por partir para Bombaim.

Breves sobre "A Guerra"
jornal A Colónia 11.5.1918

Em Macau e Timor: as ameaças vizinhas
Quando a Alemanha declarou guerra a Portugal, uma possível invasão chinesa a Macau apareceu envolta numa nova perspetiva: a possibilidade de, como chegavam as informações, ser estimulada pelos alemães que se encontravam em Cantão e que intensificavam a propaganda contra os portugueses. Houve, então, que impor medidas de prevenção, proibindo a entrada no porto durante a noite, e impondo lugares e horários especiais para o fundeamento dos navios chineses. À entrada do porto foi montado um serviço de vigilância. (...)
A escassez de forças militares
Os problemas sentidos nas colónias impuseram, como é compreensível, a requisição de forças militares, que possibilitassem às autoridades locais enfrentarem as ameaças. Mas estas eram extremamente limitadas. Foi na Índia que se sentiu a situação menos problemática, menos ameaçadora. Mesmo assim o governo pretendia a chegada de praças.
Em Macau escasseavam as forças militares, dedicadas à defesa e ao policiamento. A cidade enchera-se de pessoas, a agitação sentia-se a todo o instante e os efetivos mostravam-se insuficientes para responder a qualquer ameaça. Mas Lisboa respondia que era da impossível o envio de reforços. Verificou-se então um confronto de números: para o governador faltavam elementos, enquanto os organismos ministeriais consideravam que o número dos que estavam em Macau eram suficientes para o quadro. Penso que se assistiu aqui (dezembro de 1915) como que uma tomada de consciência da Direção Geral das Colónias que considerou que mesmo com a guarnição completa não haveria capacidade para evitar uma invasão chinesa, pelo que as forças teriam de se limitar ao policiamento da cidade e a sufocar qualquer rebelião interna. Em janeiro de 1916, o ministério mandou perguntar qual era a força necessária simplesmente para manter a ordem em caso de sublevação dos chineses.
É notória, no entanto, uma preocupação sentida em Lisboa para conseguir reforços para enviar para esta colónia, o que acabou por não se concretizar. Deste modo, o Governo local transformou o Corpo de Voluntários em tropas de segunda linha e acabou por impedir a saída dos militares que já tinham terminado a sua comissão, não obstante os numerosos pedidos de licença para partirem. Antecipava assim a ordem dada pelas autoridades centrais aos governadores coloniais, no final de novembro, para permitirem o alistamento dos cidadãos portugueses residentes. Depois, no final de 1916, acabou por requisitar forças à Índia, para conseguir completar os efetivos das unidades indígenas; como esta colónia não podia, então, responder afirmativamente, acabou por se voltar para Moçambique, solicitando o envio de landins, que também não estavam disponíveis. Finalmente, no Verão de 1917, chegou um pequeno contingente indiano a Macau.
Quando o Ministério considerou seriamente a possibilidade de enviar tropas, no início de 1918, deparou-se com outra dificuldade: o seu transporte. Levadas até Moçambique pelo «Mossamedes», e estando aí à espera de nova embarcação que os conduzisse à colónia à beira da China, começaram a servir na defesa local; mais tarde, quando houve possibilidades de deslocação, foram as autoridades locais que não permitiram a sua partida até à sua substituição por novo pessoal ido da metrópole. Foram também os transportes que continuaram a ser o óbice ao envio de um contingente para Macau nos meses seguintes.
As requisições de material tiveram um percurso diferente. Neste caso, em agosto de 1915, o responsável por Macau optou por comprar munições directamente ao Japão. Alguns meses mais tarde, em Lisboa, havia também munições para serem enviadas para a colónia, mas tinham de esperar um transporte. A situação piorou e, em fevereiro de 1917, já o ministério avisava o governador que seria difícil dar resposta às solicitações, uma vez que as fábricas dos países beligerantes só trabalhavam para a sua própria defesa.
A falta de meios em Timor também motivou a sua requisição, à metrópole e a Macau, solicitando o envio da canhoneira «Pátria». Mas esta colónia necessitava dela e perante um aumento da ameaça, após um ultimato inglês à Holanda, em 1917, o recurso do governador foi reorganizar as forças para poder responder a qualquer eventual ataque. A situação era ainda mais difícil pelo isolamento em que se encontrava a colónia portuguesa, sem comunicações, impossibilitando uma verdadeira análise da situação.
Chegar ao Oriente: o problema dos transportes 
Atrás já se verificou como a falta de transportes dificultou a deslocação de tropas para o Oriente. Porém, não era apenas para este grupo que se colocavam os problemas. Deste modo, considerando que as viagens no Mediterrâneo eram «contingentes» devido aos ataques de submarinos e que a deslocação em navios de nações beligerantes naturalmente faziam acrescer o perigo, a opção do Estado português foi providenciar o transporte dos seus passageiros pela via do Cabo, aproveitando os paquetes da Companhia Nacional; os que tinham como destino a Índia seguiam até Lourenço Marques, onde obtinham lugar numa das embarcações da British India, até Bombaim, ou encontravam navios de outra empresa. (...) Esta dificuldade de deslocação constituiu um dos principais fatores que afetaram as colónias dos Oriente. O regresso das colónias, particularmente de Timor, onde as opções eram mais limitadas, ofereciam outro tipo de problemas, dado que as companhias holandesas se recusavam ao transporte de militares, mesmo a título isolado, obrigando à solicitação da intervenção do Governo de Haia. Por outro lado, pela falta de navegação, houve necessidade de autorizar a elevação do estatuto do liceu de Macau, para não prejudicar os alunos que, em circunstâncias normais, viriam para a metrópole para prosseguir os seus estudos. Por outro lado, o transporte de mercadorias, de e para a metrópole, viu-se seriamente atingida. À falta de transportes acrescia a falta de comunicações. Timor, especialmente, ficou uma colónia isolada.
Questões económicas
Noutra dimensão, tornou-se extremamente difícil a importação de produtos europeus, que eram particularmente consumidos pelos portugueses; Macau e Timor foram as colónias onde as queixas mais se fizeram sentir. À escassez destes bens aliava-se a restrição dos mercados na região de Macau, em consequência da agitação chinesa. (...)
Em Macau, em 1917, notava-se já um acréscimo de preços de 40 a 50%. Em consequência, os governantes tiveram de aumentar os vencimentos dos funcionários, civis ou militares. Timor era uma colónia deficitária, mas com uma economia baseada na exportação dos seus produtos, particularmente café e copra.
A falta de transportes para a Europa afetou de imediato a exportação do café para a Europa, tanto mais que nas Índias neerlandesas se colocavam obstáculos à sua comercialização. Com efeito, segundo o Governador, a atitude dos holandeses era hostil e o café estava retido em Surabaia e Macáçar (junho de 1916); depois, a venda tornou-se mais fácil, mas o preço era muito baixo; outros locais do Oriente também não se mostravam mercados fáceis, pela abundância do café brasileiro. Mas a situação piorou ainda no início de 1918, quando os neerlandeses recusarem qualquer transporte com destino a portos britânicos ou japoneses.
A censura
Politicamente, a vida local foi também igualmente afetada pelo estabelecimento da censura. As circunstâncias locais implicaram algumas adaptações. (...) Já em Macau, foi o Governador quem a pediu para estabelecer a censura sobre o telégrafo e correio, logo depois da declaração de guerra, para evitar os efeitos da possível propaganda alemã. As determinações gerais sobre este serviço impunham que pelo correio só transitassem documentos escritos em inglês, francês, italiano, espanhol ou português, levando a mesma autoridade a solicitar a possibilidade de se alargar a chinês, para a correspondência entre a colónia e a China. Contudo, a censura aos documentos nesta língua mostrava-se tão demorada de que foi necessário abreviá-la.
Macau e a Pátria-Mãe
Integrados numa perspetiva mais alargada, o Leal Senado e o Conselho de Governo ofereceram 1.000.000 de libras (cerca de 800 contos) à Pátria-Mãe, especialmente destinados a hospitais e famílias de soldados; o governo aceitou 30.000. Mas não foi apenas esta a contribuição, pois em outubro de 1917 foi alargada às colónias da África Ocidental e à Índia, Macau e Timor, a taxa de guerra que já existia em Moçambique, aplicada sobre a correspondência postal e telegráfica
A celebração
Terminada a guerra, o governador Sousa Gentil, em Timor, preparou a celebração através da realização de uma feira, em 1922. Quando a Macau, o respetivo Governo mandou fazer, em 1924 um opúsculo denominado «Para a História do Corpo Expedicionário Português»*, glorificando a Pátria, incluindo a transcrição das memórias do marechal Hindemburgo sobre as tropas portuguesas em La Lys.
Postal da época: 1910/20
Conclusão
Não participando diretamente na guerra em que Portugal esteve envolvido, as três colónias não africanas não deixaram de sentir as suas consequências. Inseridas em contextos geográficos diferenciados, os seus efeitos foram igualmente divergentes. Contudo, alguns pontos tornaram-se comuns. O facto de o país se encontrar envolvido no conflito deve ter sido a razão essencial para que houvesse, numa primeira fase, como que uma desistência de Macau, não se enviando os recursos humanos que pudessem fazer frente ao perigo chinês. Com efeito, em circunstâncias anteriores, a resposta tinha sido o envio de expedições militares (1900 e 1911-12); o mesmo acontecera em Timor, em 1912, com o envio de forças de Macau. Durante a Grande Guerra, no entanto, foi só numa fase tardia que as forças se destinaram a Macau, mas impedidas de prosseguir a partir de Moçambique. Era tradicional a falta de meios de transporte da metrópole para estas colónias; em circunstâncias de guerra, as dificuldades aumentaram, impossibilitando a ligação e contribuindo para a escassez militar. Nesta fase, o recurso teve de ser a reorganização de meios próprios (onde se contavam também soldados de Moçambique que já aí se encontravam anteriormente), para além de a ajuda da guarnição da Índia. Em colónias cuja ligação económica à metrópole era ténue, esta enfraqueceu-se naturalmente.
Excerto de artigo da autoria de Célia Reis - Professora IHC/FCSH-UNL: Instituto de História Contemporânea/Faculdade  de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa - "Sofrer a guerra longe da Europa: efeitos da guerra nas colónias portuguesas do Oriente", in Os Portugueses na Grande Guerra,. História e Memória / XIX Encontro Torres Vedras, coord. de Carlos Guardado da Silva, Lisboa, Colibri. 2017,
* a abordar num próximo post
Sugestão de leitura (da mesma autora):
“Macao et Timor. Le Souveraineté Portugaise et l’Incidence de Guerre de 1914-1918”, in Guerres Mondiales et Conflits Contemporains, nº 256, October 2014, pp. 69–80