A propósito de um post recente, aqui fica o registo de um topónimo que deixou de existir... o Beco de S. Paulo, com o desaparecimento destes edifícios. Recordo ainda um artigo da autoria de João Guedes - A Lenda das Escadas de S. Paulo - publicado em 1993 na Revista Macau.
Macau foi, desde os primórdios, uma colónia fundada por comerciantes navegadores e administrada pelos Jesuítas. Não é por acaso que o primeiro bispo local pertenceu à Companhia de Jesus nem que S. Francisco Xavier (um dos fundadores da Companhia) morreu a poucas milhas do Território.
A Companhia de Jesus investiu, nesses séculos da prata e da seda, tudo quanto tinha em Macau na convicção de que poderia converter a China. Nessa esperança ergueu a Igreja e a Universidade de S. Paulo e, também a Fortaleza do Monte. Cobrou 1 por cento sobre a carga bruta das naus que aportavam à cidade e constituiu um tesouro considerável, não só em ouro ou prata mas também em saber e inteligência, erguendo a primeira universidade da Ásia e a sua primeira biblioteca.
Subitamente, os tempos mudaram em Portugal. O Marquês de Pombal subiu ao poder e decidiu acabar com a influência dos Jesuítas, cuidando pouco da sua importância numa longínqua colónia como era Macau, banindo-os de território nacional. A lei de expulsão chegou, no entanto, ao Território bastante tempo depois das notícias que a davam como certa. Isso permitiu que a Companhia se preparasse para o embate, pondo a salvo os seus bens. Quando o governador recebeu o decreto ministerial ordenando a prisão dos padres, estes deixaram-se prender, mas as salas da velha Universidade de S.Paulo encontravam-se vazias sem nada para confiscar. Isso constituiu espanto para os militares que cumpriram a ordem real, habituados a ouvir falar das riquezas de que os jesuítas dispunham, dos cálices em ouro e prata que usavam nas cerimónias litúrgicas de S. Paulo e nas procissões e da famosa biblioteca — de que não viam rasto. Na casa forte, edifício fronteiro às escadarias da Igreja da Madre de Deus, onde tinham a certeza de encontrar grandes riquezas, nada havia que valesse a pena. Os padres foram remetidos a ferros para Goa, mas quanto às lendas e boatos nada ficou a confirmá-los.
A Companhia de Jesus investiu, nesses séculos da prata e da seda, tudo quanto tinha em Macau na convicção de que poderia converter a China. Nessa esperança ergueu a Igreja e a Universidade de S. Paulo e, também a Fortaleza do Monte. Cobrou 1 por cento sobre a carga bruta das naus que aportavam à cidade e constituiu um tesouro considerável, não só em ouro ou prata mas também em saber e inteligência, erguendo a primeira universidade da Ásia e a sua primeira biblioteca.
Subitamente, os tempos mudaram em Portugal. O Marquês de Pombal subiu ao poder e decidiu acabar com a influência dos Jesuítas, cuidando pouco da sua importância numa longínqua colónia como era Macau, banindo-os de território nacional. A lei de expulsão chegou, no entanto, ao Território bastante tempo depois das notícias que a davam como certa. Isso permitiu que a Companhia se preparasse para o embate, pondo a salvo os seus bens. Quando o governador recebeu o decreto ministerial ordenando a prisão dos padres, estes deixaram-se prender, mas as salas da velha Universidade de S.Paulo encontravam-se vazias sem nada para confiscar. Isso constituiu espanto para os militares que cumpriram a ordem real, habituados a ouvir falar das riquezas de que os jesuítas dispunham, dos cálices em ouro e prata que usavam nas cerimónias litúrgicas de S. Paulo e nas procissões e da famosa biblioteca — de que não viam rasto. Na casa forte, edifício fronteiro às escadarias da Igreja da Madre de Deus, onde tinham a certeza de encontrar grandes riquezas, nada havia que valesse a pena. Os padres foram remetidos a ferros para Goa, mas quanto às lendas e boatos nada ficou a confirmá-los.
Tudo isto deu origem à lenda sobre o esconderijo secreto do tesouro dos Jesuítas, uma biblioteca imensa, desaparecida em dois segundos, não podia ser…
Assim é que, cerca de um século e meio depois da expulsão da Companhia, um inglês que ouviu falar na lenda pediu ao Governo de Macau autorização para levantar as escadas da Igreja de S. Paulo a fim de descobrir as salas secretas que estariam sob elas, onde se encontraria a rara biblioteca e os tesouros dos Jesuítas. Sensatamente, o Governo local recusou a oferta do inglês, mantendo a escadaria em pedra tal como estava quando foi construída.
Mas, afinal, o que foi feito do espólio dos Jesuítas? Permanecerá ainda em salas subterrâneas secretas sob as escadarias de S.Paulo? Não se sabe ao certo. O que se conhece é que três volumosos caixotes contendo documentos e livros da Companhia foram descobertos na Torre do Tombo de Madrid por um investigador na década de 60. Os caixotes tinham sido enviados de Macau, na sequência da expulsão dos Jesuítas ao tempo do Marquês de Pombal, para Manila e, dali, para a capital espanhola. Por outro lado as recentes escavações efectuadas na Igreja de S. Paulo que encontraram algumas salas desconhecidas sob as ruínas, não descobriram qualquer corredor que levasse aos tais compartimentos secretos alegadamente existentes sob as escadarias, os quais (ainda segundo a lenda) comunicariam através de galerias com o antigo cais do Porto Interior. Quanto à galeria que a elas daria acesso a partir do pátio da Mina (junto à Rua de Nossa Senhora do Amparo) há muito que se encontra entaipada, tornando-se difícil e dispendioso desbravá-la. Por isso, a lenda sobre a grande biblioteca da Ásia permanece.