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terça-feira, 30 de setembro de 2025

Azeite para o "Pharol da Guia"

Anúncio de leilão para o "fornecimento de azeite para o pharol da Guia" em 1879. O Farol foi inaugurado em 1865.
Boletim da Província de Macau e Timor
Maio de 1879


segunda-feira, 29 de setembro de 2025

"The ideal Hotel for a perfect Weekend in Macau"

 

"The ideal Hotel for a perfect Weekend in Macau - Hotel Bela Vista"
"The most beautiful sea view in Macau. Modern convenience & Excellent Service (...) Manager: Paul M. J. Cheung"
Preços dos quartos (26 no total) entre as 10 (single sem wc) e as 30 patacas (suite com wc).
Panfleto de 1958/59
Anúncio em português da mesma época aqui

sábado, 27 de setembro de 2025

"Um Templo Chinez"

Postal ilustrado da década 1920 com a legenda "Um Templo Chinez". Trata-se do Templo de A-Ma construído em 1605 no 33º ano do reinado do Imperador Wan Li. 
É um dos três principais templos Budistas de Macau, originalmente designado “Templo de Tin Hou”, depois “Templo de Ma Zu”, e vulgarmente referido como “Templo de A-Ma”, deusa protectora no mar, a mais popular manifestação religiosa de Macau.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Um automóvel "para venda": 1935

A Voz de Macau 7.9.1935
Anúncio da época ao Ford Tudor Sedan

PS: Um Studebacker de "cinco asssentos", também usado, custava na época 500 patacas, de acordo com outro anúncio publicado na mesma edição.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Torres residenciais da Barra

Projecto do arquitecto Manuel Vicente (viveu em Macau 1962/1966 e 1976/2009) em parceria com Manuel Graça Dias, as Torres Residenciais da Barra são três edifícios num total de 144 apartamentos. 
Destaque para as grelhas geométricas, principalmente baseadas no quadrado

projecto de linhas pós-modernistas é de 1976 e ficou conhecido pelo seu design urbano moderno, variedade de tipologias de habitação e cores (azul, rosa e salmão). 
Declarações de Manuel Vicente sobre as cores: "Um dia o imperador resolveu mostrar o palácio ao seu poeta, e no meio desta viagem começa por descrever que começou a ver, ao longe, um conjunto de torres, e que à medida que se iam aproximando reparavam que nenhuma tinha a mesma cor mas que havia graduações da mesma cor. E eu tinha muita vontade de criar essa situação nas torres aqui da Barra, em que as cores iam sempre variando com os tons, umas depois das outras."
Os apartamentos destinavam-se a alojar funcionários públicos tendo sido uma encomenda do governo. As torres ainda existem e recentemente os moradores decidiram manter as cores originais aquando de obras de conservação. Podem ser vistas aqui na década de 1980.

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Sinal de tufão 10 e Mapa de trajectória: 1981

Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau, 1981

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Um troço da Rua das Lorchas: antes e agora

O postal ilustrado é do final do século 19 e mostra do lado esquerdo um troço que corresponde à actual Rua das Lorchas. O edifício fica no início da actual Travessa 5 de Outubro. Nesta época toda a zona tinha a designação Largo da Caldeira. 

O nome caldeira significa neste contexto uma doca para pequenas embarcações que podem ver-se à esquerda na imagem abaixo.

Do lado direito é a actual Rua de 5 de Outubro, topónimo já posterior a 1910, naturalmente. Antes denominava-se Rua Nova Del Rey.

 

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Círculo Cultural de Macau: fundação e estatutos

O Círculo Cultural de Macau foi fundado a 5 de Agosto de 1950 - Portaria  nº 4808 Boletim Oficial da Colónia de Macau - por um grupo de 20 cidadãs e cidadãos a residir no território: Pedro Lobo, Luís Gonzaga Gomes, Fernando Maciel, José Silveira Machado, Maria Roque Casimiro, Cândido Vaz, António B. Gonçalves, Manuel Bastos, José Neves Catela, Hernâni Anjos, Jacqueline Bonet Marques, António Marques, Afonso Correia, José Cândido Soveral, Carlos Silva, Alberto Garcia da Silva, Manuel de Seixas, David Rodrigues Barrote, Sebastião Pinto e Álvaro Borges Leitão.
Objectivos segundo os estatutos publicados no boletim acima referido:

Artigo 2: "A finalidade do Círculo Cultural de Macau é promover a divulgação da cultura artístico-literária, especialmente a portuguesa, no meio onde é criado, e tornar Macau, sob todos os seus múltiplos aspectos, melhor e mais perfeitamente conhecida na Metrópole, nas restantes colónias portuguesas e em todos os pontos do mundo onde se fale a língua-pátria. Por intermédio do seu órgão de expansão trilingue, de que se ocupa o nº 1 do artigo 3º (publicação regular de uma revista trilingue - português, inglês e chinês), pretende ainda o CCM contribuir, o mais intensamente possível, para granjear para Macau uma posição internacional cada vez mais dignificante em todos os países estrangeiros onde lhe seja dado tornar-se conhecido".
O CCM comprometia-se ainda a organizar "conferências e palestras em vários idiomas; emissões radiofónicas; recitais e saraus artísticos e sessões culturais; exposições de arte; representações cénicas; concursos de carácter literário e artístico".
Primeiros corpos gerentes - tomaram posse a 1 de Setembro de 1950 no Gabinete do Palácio do Governo: 
Presidente honorário, governador Albano Rodrigues de Oliveira; Assembleia Geral (presidente), Fernando Maciel; presidente substituto, Alberto Garcia da Silva; secretário, José Silveira Machado; Direcção (presidente), Pedro José Lobo; vice-presidente, Manuel Pimentel Bastos; secretário-geral, Hernâni Anjos; tesoureiro, José Neves Catela; vogal, Sebastião Pinto.
A revista "Mosaico" - trilingue - é a face mais visível de uma importante associação cultural de Macau na década de 1950. O primeiro número foi publicado em Setembro de 1950 e o último (o nº 88) em Dezembro de 1957. Neste "órgão" oficial do CCM colaboraram nomes como Jack Braga, Charles Boxer, Afonso Correia, Luís Gonzaga Gomes, Pedro José Lobo, José Silveira Machado, Graciete Batalha, Fernando Maciel, Hernâni Anjos, Henrique de Senna Fernandes, José Tertuliano Cabral, Manuel Seixas, Joaquim Angélico Guerra, Jaime do Inso, Carlos Estorninho, entre outros.
Na primeira edição da "Mosaico" Hernâni Anjos explica no artigo "O que é o Círculo Cultural de Macau" que  "(...) instituído em Macau, por Macau e para Macau, principalmente, o C.C.M. é um organismo que se destina, como é natural, aos macaenses, e, a par deles, a todos os portugueses, oriundos de qualquer parte do Império que, em Macau, com carácter definitivo ou temporário, fixem a sua residência. Há nesse organismo, também, idêntico lugar para indivíduos estrangeiros, ingleses e chineses, de preferência, o que não implica a não-admissão de cidadãos de qualquer nacionalidade, tudo única e exclusivamente no sentido de servir os fins para que o C. C. M. foi criado (...)".
PS: Depois de alguns alguns inactivo o CCM 'renasceria' num novo formato, o "Instituto Luís de Camões" fundado em Macau a 22 de Junho de 1963.

domingo, 21 de setembro de 2025

"Motocicleta inglesa"

A Verdade - 25.8.1928

Em mais um exemplo de como era o quotidiano de Macau há 100 anos, aqui fica uma pequena notícia do jornal A Verdade (25.8.1928) - que mais parece um anúncio - sobre a venda de "uma motocicleta inglesa da marca Matchless, de um cilindro em bom estado".

Modelo de 1925 da Matchless: Model L4 - 347cc

sábado, 20 de setembro de 2025

Antes e Depois: troço da Rua Central

 
A escadaria ao fundo dá acesso à Rua da Sé

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

História resumida da Estátua de Ferreira do Amaral

A leitora Rita Mega, formada na Escola de Belas Artes de Lisboa, é autora de um podcast sobre Escultura intitulado Pedra e Bronze onde, segundo ela, "já falei sobre Macau nalguns episódios". Na sequência do e-mail que recebi da Rita, deixo aqui de forma resumida a história da estátua equestre de Ferreira do Amaral.

Década 1950
Década 1960
Década 1980

Breve história do monumento

- Legislação portuguesa de 1923 (Decreto 3:367 - Diário do Governo nº 158) autoriza o Governo de Macau a "despender até à importância de 30 000 escudos" para a "erecção dum monumento aos gloriosos cidadãos João Maria Ferreira do Amaral e Vicente Nicolau de Mesquita"; no mesmo diploma fica garantida a oferta do bronze (Arsenal da Marinha) para o efeito, sendo lançado um concurso público para encontrar quem seria o escultor, sendo que só podiam participar artistas portugueses e a escolha do vencedor seria feita pelo Governo de Macau.

- Em 1926 o Boletim da Agência Geral das Colónias - site memória de África refere-se à escolha do local para a implantação da estátua (pág. 173).

- Encomendado pelo Leal Senado ao escultor português Maximiano Alves (tb fez a estátua do Coronel Mesquita) a maqueta foi concebida cerca de 1927, existindo vários registos fotográficos e pelo menos uma referência na imprensa da época em Portugal: "Notícias de Ilustrado" de 1928 com a legenda: "Maquette do monumento destinado a Macau em memória do governador Ferreira do Amaral, obra do arquitecto Carlos de Andrade e escultor Maximiano Alves".

- A estátua em bronze tem 5 metros de altura mostra o governador Ferreira do Amaral a cavalo no momento em que foi assassinado.

- O conjunto foi concebido para ser assente no sistema de pilares em pedra com 10 metros de altura que junto à base tinha em relevo os brasões de Portugal.

- Inauguração do conjunto escultórico a 24 de Junho de 1940 em Macau (e tb da Estátua de Vicente Nicolau Mesquita).

- A pedido das autoridades chinesas o monumento foi desmantelado em Outubro de 1992 e posteriormente enviado para Lisboa. Existem imagens da remoção da estátua mas desconheço o que foi feito em relação aos pilares onde a mesma assentava.

- Ficando guardada num contentor em Lisboa em 1994 a autarquia sugere um total de 14 locais para a reinstalação da estátua, sem nenhuma referência ao pedestal.

- Em Outubro de 1998 o governador Rocha Vieira faz a entrega formal da estátua à Câmara Municipal de Lisboa.

- Em 1999 a estátua é colocada na Alameda da Encarnação sem o pedestal original.

- Em 2013 o Grupo de Amigos do Museu da Marinha sugere a mudança do local para o referido museu, mas sem qualquer efeito permanecendo na zona norte da cidade de Lisboa, muito perto do aeroporto.

Curiosidades:
- Um baixo-relevo da estátua esteve exposto em 1937 na Sala Militar durante a Exposição Histórica de Ocupação e I Congresso de História de Ocupação Portuguesa no Mundo.
- Existe uma réplica da estátua de F. Amaral feita pelo escultor Augusto Gil em 2011
- Em Macau o The Bright Dawn Studio tem previsto para este ano de 2025 produzir uma miniatura da estátua: ca. 5 cm comprimento, 5 cm largura e 13,5 cm de altura.
Nota: Existem inúmeros posts sobre o tema pelo que sugiro recurso ao campo de pesquisa.

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Jardim Municipal da Taipa / Jardim do Carmo

Construído em 1924, o actual Jardim Municipal da Taipa era no início conhecido por Jardim do Carmo, já que se situa em frente à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Avenida de Carlos da Maia. 
A marca identitária deste jardim é um fontanário em forma de cruz fazendo lembras as pétalas de uma flor.  A imagem abaixo mostra isso mesmo e contém a inscrição "1924".
Actualmente uma pérgula situada sobre o fontanário tem várias trepadeiras como a madressilva-do-japão (Lonicera japonica). 
No ponto mais alto do jardim está desde 1999 uma estátua de Luís de Camões.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

terça-feira, 16 de setembro de 2025

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Recinto de Dança ao ar livre no Hotel Bela Vista

Este anúncio foi publicado no Notícias de Macau a 15 de Setembro de 1955. Há 70 anos anunciava-se que o "recinto de dança ao ar livre do Hotel Bela Vista funcionará diariamente das 21h às 0h30" com "bebidas a preços acessíveis" e as "últimas novidades musicais pela Orquestra de Tony Costa" (provavelmente das Filipinas).
Em baixo, uma foto de Jack Birns, tirada em 1949, mostra o terraço e a vista que proporcionava sobre a baía da Praia Grande e as ilhas em redor. Entre as várias publicações aqui no blogue sobre este hotel sugiro esta em inglês e esta em português.


domingo, 14 de setembro de 2025

Festa do "anniversario natalício de Sua Magestade El Rei o Sr. D. Luiz I" em 1868

Palácio do Governo e das Repartições ca. 1872

Publicado na "Parte Não Official" do Boletim da Província de Macau e Timor, 2.11.1868:
Sabbado passado, anniversario natalicio de Sua Magestade El Rei o Sr D Luiz I, houve n'esta cidade uma completa demonstração de regozijo nacional. A ceremonia do cortejo á real effigie que teve lugar ao meio dia no salão próprio do palácio do governo foi este anno mui explendida e vistosa. Além de todos os funcionarios públicos e cônsules estrangeiros, compareceu também um grande numero de cidadãos residentes, alguns negociantes chinas e o mandarim director dos postos fiscaes nas visinhanças de Macau.
Sua exa. o sr Ball, juiz da colónia de Hongkong, foi igualmente presente a este acto de cortesia. Durante a ceremonia uma guarda de honra esteve á porta do palácio tocando a banda do Batalhão de linha. Ao meio dia a salva das fortalezas foi acompanhada pela da canhoneira Chin Chin, a qual tendo embandeirado um arco com a bandeira portugueza no tope grande, veio antes do meio dia fundear na bahia de Praia Grande, em frente do palácio voltando ao seu ancoradouro depois da salva.
De tarde eh gafam de Hongkong a bordo da canhoneira ingleza Bouneer, o Hon. Sir H Keppel KCB, almirante da esquadra ingleza nos mares da China e do Japão e S Exa. o commodore Oliver John Jones. De noute, além de illuminarem os quartéis e os edifícios públicos, grande numero de casas de nacionaes e estrangeiros em toda a cidade se apresentaram também com bonitas e caprichosas illuminações. A linha de casas da Praia Grande fazia um effeito deslumbrante.
No Bazar os chinas illuminaram com as costumadas lanternas de cores a frente de suas casas. A concurrencia pelas ruas da cidade, principalmente na Praia, foi extraordinária não havendo a mais pequena desordem.
As canhoneiras Camões e Bouneer ao toque de recolher illuminavam com fogos de bengala o que produsio agradável effeito. O remate da festa do dia 31 de outubro foi o grande baile no palácio do governo.
Os salões abriram-se ás 9 horas apresentando-se mui bem illuminados e decorados com gosto e luxo. A concurrencia foi extraordinária e a festa esteve muito animada até ao fim sendo S. Exa. o Almirante, incansável na recepção que fez ás damas e cavalheiros que compareceram. Não esqueceu a S Ex a cousa alguma por mais pequena que fosse para tornar agradável aquella festa nacional e sabemos que todos ficaram encantados com a affabilidade que encontraram no digno governador d'esta cidade, o sr Almirante Sergio.
Quarenta e quatro damas, incluindo cinco estrangeiras das quaes duas de Hongkong, Mrs. Ball e Miss May, estiveram no baile usando toilettes graciosas e de bonito gosto. Servio-se o cha depois das 10 horas e a ceia depois das 2 horas da noute. 
Todo o serviço foi excelente, delicado e profuso. O baile principiou depois do cha pelas 11 horas dançando-se no sábio do docel a quadrilha ofticial. N'esta quadrilha S. Exa. o Almirante dançou com a sra Viscondessa do Cercal sendo vis a vis o Hon Sir H Keppel que dançava com a sra Baroneza do Cercal. As danças succederam-se com enthusiasmo até depois das 4 horas da madrugada em que acabou o baile.
Ha muitos annos que não tínhamos em Macau baile tão completo e animado como este que ligeiramente descrevemos. Felecitâmos do coração a S. Exa. o Governador pelo bem que soube dispor dos elementos que a colónia pos para conseguir no anniversario d'El Rei uma festa tão distincta e brilhante como foi a de sabbado passado."

Notas:
Nesta altura o "Palácio do Governo" ainda não era o chamado Palácio do Barão do Cercal (imagem acima). Este edifício só viria a ser arrendado em 1875 e mais tarde, em 1881, comprado em definitivo. A festa/baile decorreu portanto no então denominado Palácio do Governo e das Repartições Públicas construído poucos anos antes. É o local onde está actualmente o antigo tribunal frente à estátua de Jorge Álvares. Em 1868 o edifício ainda não tinha "o vestíbulo com arcos, saliente à entrada principal". Esta obra só foi feita em 1872/73.
Palácio do Governo (antigo Palácio do Barão do Cercal) na década 1980

sábado, 13 de setembro de 2025

Um "Desafio de Pedibola" e outro de "Foot-ball"

A palavra "futebol" é a forma aportuguesada do inglês "football" - foot (pé) e ball (bola). Antes deste anglicismo vingar outras palavras existiram para designar este desporto: ludopédio, pebol, balípodo, pedibola, bodabolismo... Na década de 1920 - há um século - a palavra "pedibola" ainda era usada como se pode verificar pela notícia publicada no jornal A Pátria a 29 de Abril de 1928. 
Outros jornais como A Verdade usavam a palavra original... A notícia abaixo é da edição de 24 de Novembro de 1928 e dá contra de um jogo entre as equipas da Escola Comercial e do Liceu.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

"Ser Arquitecto em Macau"

José Celestino da Silva Maneiras nasce em Macau, em 1935, numa família macaense enraizada na sociedade local. Permanece nove anos em Portugal, onde chega em 1953, em pleno pós-guerra, e quando o regime do Estado Novo admite aberturas pontuais ao contexto internacional, como prova a realização, em Lisboa, do III congresso da União Internacional de Arquitectos (UIA). Dois anos depois, ingressa no Curso de Arquitectura da Escola Superior de Belas Artes do Porto, diplomando-se em 1962. Nesse mesmo ano retorna ao território chinês então sob administração portuguesa. A cidade possui uma elite fechada, provinciana e colonial, pouco receptiva a novidades exteriores e também à arquitectura internacional. Não há grande actividade construtiva e a edificação corrente não excede os três pisos, devendo-se essencialmente ao trabalho de engenheiros radicados no território ou a desenhadores chineses que reproduzem mecanicamente projectos de arquitectos e de outros profissionais. No arranque dos anos de 1960, o objectivo de promotores e empreiteiros é já ganhar dinheiro rapidamente.
O regresso de José Maneiras faz parte de um breve movimento migratório que leva um conjunto de jovens arquitectos portugueses a Macau, casos de Manuel Vicente, Natália Gomes, Ramires Fernandes ou Jorge Silva. Integram então os quadros técnicos do governo local, desenvolvendo planos urbanos para a cidade. A equipa, coordenada por Manuel Vicente, opta por propor planos parcelares, contendo directrizes orientadoras para alinhamentos e cérceas. As propostas são mal recebidas pela população, maioritariamente chinesa, criando alguma inércia à sua aplicação com a conivência da administração colonial pressionada pela condição política da República Popular da China, com quem Portugal não mantém relações diplomáticas.
Desse grupo inicial de arquitectos, a partir de 1966 apenas Maneiras permanece em Macau. Uma possível mobilização militar para a guerra colonial, em curso nos então territórios portugueses em África, obriga-o a ficar. Sucede a Manuel Vicente no acompanhamento à obra do Liceu Pedro Nolasco de Raul Chorão Ramalho – um dos edifícios modernos mais significativos da presença portuguesa – batendo-se mais tarde contra a sua demolição. Os acontecimentos de 3 de Dezembro de 1966 no território (o amotinamento popular, que ficou conhecido por “1-2-3”, muito influenciado pelo clima vivido durante a Revolução Cultural chinesa), que coloca em causa o governo colonial, e o afastamento geográfico face à Metrópole, provocam um período de baixo investimento que se reflecte na quase inexistência de encomenda pública e privada.
A partir de 1967, José Maneiras lança-se na actividade privada, mantendo um atelier de produção “artesanal”, com a colaboração de um ou dois desenhadores, e seleccionando as encomendas, o que lhe permite sobreviver aos tempos de menor solicitação de projectos. Da sua obra construída durante esta fase, e localizada essencialmente em Macau, torna-se tarefa difícil encontrar exemplares intactos. Muitos edifícios foram demolidos, intervencionados ou estão em risco de desaparecer. A falta de hábito de registo, por parte dos profissionais da sua geração, também não ajuda ao levantamento sistemático deste património quase desconhecido. Mas nestes anos de 1960, o arquitecto desenha e concretiza um conjunto de edifícios residenciais de inclinação brutalista, no quadro das exigências das regiões tropicais, que constitui, provavelmente, a sua fase criativa mais importante. Deste elenco, destacam-se os conjuntos habitacionais na Rua da Praia Grande (Conjunto São Francisco, 1964), na Estrada do Visconde de São Januário (duas residências, 1965), Belle Court na Penha (casa e bloco de apartamentos, 1968) ou o programa residencial para invisuais, a pedido da Santa Casa da Misericórdia (1970), na Rua Sete do Bairro da Areia Preta.
Entre a construção cerrada de Macau, as variações de escala destes programas residenciais produzem ambientes contrastantes, onde uma urbanidade, colossal e compacta, dá muitas vezes lugar a espaços de maior domesticidade. Na obra de José Maneiras, a torre da Rua Ferreira do Amaral, implantada sobre uma plataforma de serviços, e o bloco de três pisos, para invisuais, funcionam como pólos opostos da mesma realidade urbana. No momento em que é concretizado este último conjunto, o terreno encontra-se ainda vazio de construções. O projecto é executado com custos muito controlados e áreas que rentabilizam a dimensão do lote.
O arquitecto elabora ainda fábricas verticais – também um programa especifico de territórios com elevada densidade construtiva e pouca área disponível (a maioria destes imóveis encontra-se actualmente desactivada, uma vez que a produção industrial migrou entretanto para a China, tendo-se Macau especializado no jogo). A apropriação dos edifícios faz-se à mesma velocidade da sua ocupação, alterando algumas das soluções arquitectónicas originais, designadamente aquelas mais ligadas ao controle climatérico. Conforme testemunha, a qualidade construtiva também não é, ao tempo, elevada, facto que contribui para a rápida deterioração e consequente substituição do edificado. A maioria dos materiais empregues é já originária da China. Esta rápida deterioração é igualmente facilitada pela legislação que na época privilegia a propriedade horizontal, ilibando governo e privados da reabilitação dos edifícios. O 25 de Abril de 1974 vai acelerar o desenvolvimento do território, assistindo-se à chegada de um novo surto de profissionais portugueses durante a década seguinte. Alguns vêm dos antigos territórios coloniais. O arquitecto mantém a mesma postura independente, que caracteriza a sua personalidade profissional antes da Revolução. É o tempo dos grandes equipamentos públicos, desenhados dentro de filiações linguísticas mais corporativas (Interiores e ampliação do Banco Nacional Ultramarino, 1975; Hotel Ramada, não construído, 1980; piscina do Complexo Desportivo, 1984; Centro de Desportos Náuticos na albufeira da barragem de Hac Sa, 1995, p.e.). Em 1987, participa no grupo que funda a Associação de Arquitectos de Macau (AAM). Eleito no ano seguinte para o cargo de presidente, cumpre dois mandatos. Reflexo da dinâmica que imprime à organização, a AAM integra a UIA no XVI congresso realizado em Montreal, em 1990.
O governo democrático traz novas oportunidades e José Maneiras torna-se igualmente vereador (1972-1989) e, mais tarde, Presidente do Leal Senado (1989-1993), fazendo a ponte entre as culturas chinesa e portuguesa, como é tradição entre a comunidade macaeense. A prática da arquitectura fica, então, em segundo plano. Afasta-se da actividade política no período de Vasco Rocha Vieira, que governa o território na última década da presença portuguesa, entre 1991 e 1999.
Monumento de Homenagem à Diáspora Macaense junto à Fortaleza de S. Tiago da Barra

Com a criação da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), em 1999, o território conhece a actual fase de desenvolvimento urbano tornando-se apelativo a profissionais de outras esferas geográficas. É o tempo das grandes corporações de arquitectos de Hong Kong ou dos EUA cuja experiência na produção de uma arquitectura comercial e de inspiração “tecnológica” serve os novos objectivos da cidade. Macau deseja superar Las Vegas, em volume de negócios do jogo, em construção, e em imaginário. Os pequenos ateliers têm maior dificuldade em sobreviver . O conjunto banda e torre da Praia Grande – tropical, complexo e brutalista – surge agora na sombra do “enorme, dourado, reluzente” (e anónimo) novo Casino Lisboa. José Maneiras alia-se a outros arquitectos com obra no território e dá continuidade a uma fase mais direccionada para o acompanhamento de grandes programas urbanos. Projectos como a requalificação da Praça do Tap Seac (2003-2006), com Carlos Marreiros e José Chui Sai Peng, ou a coordenação da equipa projectista do reordenamento viário da Rotunda Dr. Carlos de Assumpção (2006), assinalam este período do seu percurso profissional.
O crescimento recente da cidade, porém, estigmatiza os edifícios “modernos”. O edifício comercial Si Toi – Hong Kong Bank (actual HSBC – Hong Kong and Shangai Bank Corporation, 1982), também da sua autoria, é um caso exemplar deste fenómeno. Localizado no centro é a primeira obra em Macau a recorrer a um sistema curtain wall. O sistema é adoptado, já em construção, por decisão do promotor que assim procura alinhar-se com as tendências praticadas em Hong Kong, contrariando a opinião do arquitecto que duvida da sua eficácia em climas tropicais. Todavia, José Maneiras adapta o projecto e o edifício constrói-se com dignidade. O programa admite na época, um centro de convenções e escritórios. Hoje está ocupado com clubes privados e salões de bilhar. A pala da cobertura foi entretanto fechada. Um dos actuais proprietários chegou mesmo a romper uma laje para ligar dois pisos. O arquitecto confirma que o edifício original “nem se vê”.
Cartaz de uma palestra realizada em Macau em 2023

José Maneiras prossegue entretanto com a sua actividade, privilegiando projectos de pequena escala, como renovações de edifícios de valor patrimonial, e continuando “velhas” práticas, como o acompanhamento da obra ou a elaboração de pormenorizados desenhos. O Monumento à Diáspora Macaense, na Rua São Tiago da Barra, inaugurado em 2001, insere-se nestas preocupações. Torna-se também consultor na companhia Nam Van, para o Plano da Baía da Praia Grande, e presidente da Assembleia Geral do Laboratório de Engenharia Civil de Macau. Em 2006, é nomeado membro honorário da Ordem dos Arquitectos por indicação do então vice-presidente da instituição portuguesa e seu velho companheiro em Macau, Manuel Vicente. O seu trabalho em defesa da dignidade da prática arquitectónica, num contexto de elevada competição profissional, é considerado um exemplo ético para as novas gerações. O reconhecimento público chega assim entre pares.
Texto de de Ana Vaz Milheiro (com Hugo Coelho, em Macau) publicado no nº 243 do Jornal de Arquitectura, 2011.

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

"Purchase Camoens Grotto"

Uma notícia de 1880 do "Trübner's American and Oriental Literary Record" dá conta dos eventos relacionados com o terceiro centenário da morte de Luís de Camões em Junho de 1880. Nesse ano fez-se a trasladação das ossadas de Vasco da Gama e do poeta Luís de Camões para o Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa). Informa-se ainda sobre a ideia de comprar a Gruta de Camões em Macau que ficaria sob gestão do Leal Senado. Esta ideia viria a concretizar-se em 1885 quando o governador Thomaz Rosa comprou por 35.000 patacas a Lourenço Marques a propriedade onde estava a gruta e um imóvel, a chamada Casa Garden. Pouco depois o espaço seria transformado em jardim público.
Em baixo uma poema alusivo à Gruta de Camões incluído no livro "Primeiros versos" de Luiz de Sequeira Oliva, 1862.

Esta gruta cavada aqui no monte 
Gruta foi predilecta de Camões 
Foi aqui que elle erguendo altivo a fronte 
Sósinho medulou nobres canções 

D'aqui voltando ao ninho seu paterno 
A quem votára os sons da sua lyra 
Em vez d'acolhimento doce e terno 
Achou só o abandono que prevíra!

Por fingidos amigos desprezado 
Do sempre adverso fado perseguido 
Morreu n'um hospital desamparado 
Morreu de fome e sede resequido 

Patria ingrata por modo desusądo 
Trataste o teu cantor como inimigo 
Porém de ti zombando a mão do fado 
Em Alcacer Kebir deu-te o castigo 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

"Éditos Citatórios" aos credores do "defunto G. Chinnery"

A 20 de Agosto de 1852 no cartório do escrivão Silveira (Juízo de Direito) são escritos os "Éditos Citatórios aos Credores certos e incerttos do defundo G. Chinnery" sendo posteriormente publicado o "Anuncio Citatório".

Boletim do Governo da Província de Macao, Timor e Solor, 4 Setembro 1852

Actualmente o Victoria and Albert Museum de Londres possui a maior colecção pública de obras da autoria de Chinnery. Seguem-se British Museum, o Hong Kong Museum of History e o Museu de Arte de  Macau.* Os milhares de trabalhos que fez guardou-os na sua casa em Macau em vários baús de madeira de cânfora. Foram encontrados após a sua morte e alguns foram vendidos por ordem do tribunal de Macau para saldar as suas dívidas.

*Outras importantes colecções de chinery estão no Hong Kong & Shanghai Bank e na Sociedade de Geografia em Lisboa.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Hotel Sintra: década 1990

Inaugurado em 1974 o Hotel Sintra foi construído pela STDM - Sociedade de Turismo e Diversões de Macau. Na altura já tinha o Estoril e o Lisboa. Reza a história que o edifício do Sintra foi inicialmente pensado para fins residenciais mas a forte procura turística em face do pouco alojamento existente levaram Stanley Ho a mudar de ideias.