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sábado, 31 de maio de 2025

O sino da igreja de Santa Clara

Recorro a um texto de Monsenhor Manuel Teixeira (A Voz das Pedras) para referir o sino do campanário da igreja de Santa Clara que, segundo monsenhor, era o mais antigo de Macau, com origens no século 17. Manuel Teixeira conta que no seu tempo o sino estava ao abandono no jardim (do antigo convento de Santa Clara) "junto a um cruzeiro centenário"...
"Pobre sino! Ele ali está há dezenas de anos, ao canto de um jardim, junto a um cruzeiro tricentenário, ao sol, à chuva e ao vento, sem que ninguém lhe deite a mão e o recolha num albergue, ou seja, num museu. Eu saúdo-o todos os dias , às 6h30, pis ali o encontro sempre no jardim de S. Clara, antes da minha missa na Igreja do Convento. Merecia melhor sorte, pois é o mais antigo sino de Macau, como se vê das inscrições que o rodeiam.
Aro pro nobis Beata Mater Clara
O chinês que alterou a primeira palavra, escrevendo aro por ora. Quer dizer:
Roga por nós Mãe S. Clara
No meio lê-se: "Ano D. 1674."
No fundo, a toda a volta: "Francisco Tavares o fes por mandado do muito R.e Pe. Consº Fr. Manoel da Madalena"
Frei Manuel da Madalena de Lampreia era natural de Macau, e descendia dos duques de Aveiro; foi várias vezes guardião ou superior do Convento de S. Francisco e em 1674 era comissário das clarissas. Quanto a Francisco Tavares, deve ser irmão de Jerónimo Tavares Bocarro, mestre de fundição de artilharia da Índia e capitão de artilharia de Goa, do Hábito de Cristo. Francisco e Jerónimo devem ser filhos do fundidor Manuel Tavares Bocarro e netos de outro fundidor, Pedro Dias Bocarro. Manuel Bocarro era natural de Goa e trabalhou em Macau como fundidor de canhões, sinos e âncoras de 1625 a 1656; de 1657 a 1664 foi capitão-geral, ou seja, governador de Macau."

A igreja de Santa Clara foi construída em 1634 (logo após a construção do mosteiro) e reconstruída em 1827 e 1936. Localizada ao lado do Colégio de Santa Rosa de Lima e no interior deste espaço afastado da rua e sem acesso público é uma igreja que pouca gente conhece. Imagens de diferentes épocas podem ser vistas aqui.
Curiosidade: É muito semelhante à Igreja de Nossa Senhora da Assunção localizada em Taiwan.

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Comércio do Chá em Maio de 1878

Canton: Messrs Deacon and Co's Market Report says: - Congous: During the past fortnight some further transactions in New Teas have taken place, and market settlements and private contracts are estimated at 2,700 boxes. Prices have ranged from Tls 23 to 30 and at these rates there seems to be a fair demand for Teas Shipments from this port and Macao amount to about 6,500 boxes. Later arrivals bear out the opinion expressed in our last report regarding the quality of the crop; the Teas are decidedly preferable in appearance and out turn than those of the previous season but in liquor they are generally deficient in strength and flavour; at the present range of prices the Teas may be considered fully one tael dearer than settlements at the commencement of last season. Shipments to date are: March 21, ss Amazone 7,770 lbs; March 23, ss Ajax 4,494 lbs; March 28, ss Khiva 12,542 lbs"
in The London and China Telegraph 20.5.1878
Nota: Para além de Cantão e Macau, também havia exportação a partir dos portos de Foochow, Amoy, Xangai e Hankow. Os destinos eram sobretudo Inglaterra, EUA, Nova Zelândia e Austrália.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

"Barbearia Filipina": anúncio de 1922

O anúncio é de 1922. Nesta época o gerente da conhecida "Barbearia Filipina" era Cornélio Banhares. Localizada no nº 71 da Rua Central - a artéria predominantemente comercial da cidade que passava então a ter a 'concorrência' da Av. de Almeida Ribeiro - a barbearia, como era hábito na época, não se dedicava apenas ao corte de barba e cabelo como também vendia cigarros e charutos.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

História do túmulo de um português em Pequim

Emil Bretschneider (1833-1901), sinólogo de origem báltico-germânica, assina a autoria de um artigo na edição The China Review vol. 6 (1877-1878) intitulado "Portuguese from Macao in Peking in the First Quarter of the 17th Century". Na altura Emil era médico-cirurgião da legação russa em Pequim (1866-1883).
O artigo é sobre o túmulo do português João Correa (Correia), que, morreu por acidente em 1624, devido à explosão de uma peça de um dos quatro canhões que Macau enviou ao Império Ming - em guerra com os tártaros - respondendo ao pedido de auxílio feito pelo próprio imperador. Emil recorre ao livro "Relação da Grande Monarquia da China", escrito pelo padre Álvaro Semedo (1585-1658) e publicado em 1642 para explicar a história do túmulo. Em 1645 já tinha sido traduzido para francês (foi esta versão que Emil consultou) e em 1655  para inglês. 
No artigo Emil transcreve o que estava inscrito no túmulo (em português arcaico):
“Qqui descança Joao Correa que com ontros seis Portuges no An 1624 vierao de Macao xeste Pekin llamados del Rei Tien-ki pera naren aos Chinas quzoda arfelharia com que morreo coolne huy rega que aerebe love poz orde del rei foe eneste lugar seruta.”
Numa tradução/adaptação para português actual:
"Aqui descansa João Correa (Correia), que com outros seis portugueses no ano de 1624 vieram de Macau a Pequim chamados pelo Imperador Tien-Ki (天啓 1621-28) para ensinar aos chinas o uso da artilharia com que morreu Correa de uma peça que rebentou e por ordem do Imperador foi neste local sepultado."
A pedra sepulcral (túmulo) seria destruída na guerra dos boxers em 1900 e os ossos foram removidos para uma nova sepultura. Este novo local seria descoberto a 11 de Julho de 1940 por dois religiosos lazaristas, Chala Maia e José Van Den Brandt, no cemitério de Ching Lung Chiao de Pequim.
Publicidade ao The China Review  - onde se refere o artigo de Emil -
publicada na edição de 17.5.1878 do jornal de Hong Kong, The China Mail.


No artigo - escrito em jeito de carta ao editor - Emil escreve:
"Permit me to send you a copy taken from an ancient inscription of the year A.D. 1624, found on the gravestone of some Portuguese, who died in the Chinese capital and have been buried near the western wall of Peking in a small Christian cemetery, whioh, though long since abandoned as a place of interment, still belongs to the Catholio mission. This cemetery, not to be confounded with the so-called Portuguese cemetery, situated about two miles further northward, is easily found, for it lies nearly opposite the British cemetery, on the other side of the stone road leading from the Sipien gate to the P'ing-tze gate. It is known under the name of (caracteres chineses) Ts'ing-lung k'iao, which is properly the name of a bridge on the stone road near the places mentioned.
The monument erected on the tomb of the aforesaid Portuguese is a simple square stone about two feet high. The inscription on it is in Portuguese and in part difficult to be deciphered. One of the Lazarist mis sionaries in Peking has had the kindness to copy it for me. Although among the European residents at Peking there is no one who is acquainted with the Portuguese language, we can however understand in a general way that the inscription refers to a certain Correa and six other Portuguese, who had come from Macao to Peking by order of the Chinese Emperor, and that they died there in the year 1624. But unhappily the words explaining for what purpose they had been called to Peking and how they died, are not well preserved on the monument. I leave it therefore for readers acquainted with the Portuguese language to till up the inscription, but may venture here to suggest, that probably these Portuguese had been invited to cast cannon, as the Chinese government (Ming dynasty) at the time here spoken of was at war with the Manchoos. It is not without interest to notice, that among the Chinese Catholics at Peking there is a tradition, that the foreigners here buried had been poisoned and perished on the same day.
The inscription reads as follows: “Qqui descança Joao Correa que com ontros seis Portuges no ko 1624 vierao de Macao xeste Pekin llamados del Rei Tien-ki Sera naren aos Chinas quzoda arfelhariaf com que morreo ocolne huy rega que aerebe love poz orde del rei foe eneste lugar seruta.”
I have not been able to find any direct corroboration for the facts here recorded either in the records of the ancient Jesuit missionaries or in Chinese books, but on turning over the pages of Semedo’s History of China I met with some interesting accounts referring to the relations between the Portuguese at Macao and the Chinese Court in the first quarter of the 17th century. As Semedo’s History of China is quite a rare book now, may be allowed to copy from it the pages referring to the Portuguese intercourse with China.
Pater Alvarez de Semedo was bom in Portugal 1585, he arrived in China 1613 and died at Macao 1658. It appears from his book that about 1621 he resided at Peking. He wrote his memoirs about 1635. His book seems to have been originally written in Italian, as appears from the French translation I quote and of which I shall give here the whole title, as it does not agree with the accounts given of Semedo’s works in Mess. P. and 0. von Moellendorffs Manual of Chinese Bibliography."
Emil recorre à tradução francesa - “Histoire universelle du grand Royaume de la Chine oomposee en Italien par le P. Alvarez Semedo, Portugais, dela Compagnie de Jesus et traduite en notre langue par Louis Coulon P. Divisee en deux parties. A Paris MDCXLV. Sebastien Cramoisy.” - e inclui no artigo vários excertos da obra para contextualizar a ida dos canhões para Pequim.
Conclui afirmando que confirmou em fontes chinesas a versão do padre Semedo: "Semedo’s records are corroborated in the Chinese annals, for we read in the Ming his tory (see my translation China Review, IV., p. 393) that during the reigns of T'ien ki (1621-28) and Ch'ung cheng (1628-44) men from Macao came to the capital, and as they proved to be very clever in military arts, they were employed in the war in the northeast (against the Manchoos)."

terça-feira, 27 de maio de 2025

Sugestões para visitar museus

O bom tempo convida a uma ida à praia mas para quem não aprecia aqui fica uma sugestão diferente.  Aproveitar o tempo livre para visitar museus em Portugal que incluem no espólio colecções relacionadas com a Ásia, nomeadamente sobre Macau. 

Em Lisboa a oferta inclui espaços como o Museu do Oriente, Museu da Farmácia (imagem acima), Museu de Marinha, Palácio Nacional da Ajuda, Museu Nacional de Etnologia, Museu do CCCM, Jardim Botânico Tropical (imagem abaixo), Museu Medeiros de Almeida, etc...
Fora de Lisboa, sugiro uma visita ao Horto de Camões (Constância) - imagem abaixo, Portugal dos Pequeninos (Coimbra), Museu dos Fósforos (Tomar), Museu do Ar (Alverca e Pêro Pinheiro), Museu/Fundação Eça de Queirós (Tormes), etc...
Para quem está em Macau não falta oferta museológica: Museu de Macau, Museu de Arte de Macau, Museu do Grande Prémio, Casa Cultural do Chá, Museu Marítimo, Casa do Mandarim, Museu da História da Taipa e Coloane, Núcleo museológico da SCM, Museu dos Bombeiros, Museu das Comunicações, Museu de Arte Sacra e Cripta, Museu das Forças de Segurança, Casa de Penhores Tak Seng On, Casa de Lou Kao, Casa Memorial Dr. Sun Iat Sen, etc...

segunda-feira, 26 de maio de 2025

The Portuguese Overseas Province Of Macau

The Portuguese Overseas Province Of Macau - conjunto de 4 postais ilustrados com texto em inglês e japonês. Edição da década 1960.
"Macau is just 40 miles from Hongkong island - but he distance can also be measured in centuries. This is the oldes European settlement in the Orient, founded shortly by the firts Portuguese explorers reached China in 1513. Today it wears the monuments of its glorious, and somestimes tempestuous past like precious jewels. Rococo churches, fortresses bristling with cannon, winding coble-stone streets lined with stucco houses in greens, blues, pinks and lined lavenders; these are the essence of Macau, the gentle quiet way of life that speaks more of the siesta thant the lunch-hour rush of other Asian cities".
Uma fotografia das Ruínas de S. Paulo é a capa deste conjunto de postais ilustrados acompanhados de um pequeno texto em inglês e japonês, a pensar nos turistas que visitavam Macau na época. Entre aos postais estão fotografias da Ermida da Penha, Hotel Estoril, Gruta de Camões e Fortaleza do Monte.
Tradução/Adaptação:
"Macau fica a apenas 64 quilómetros da ilha de Hong Kong — mas a distância também pode ser medida em séculos. Este é o mais antigo povoado europeu do Oriente, fundado pouco depois de os primeiros exploradores portugueses terem chegado à China em 1513. Hoje Macau ostenta os monumentos do seu passado glorioso, e por vezes tempestuoso, como jóias preciosas. Igrejas rococó, fortalezas repletas de canhões, ruas sinuosas com pedras de calçadas ladeadas por casas de estuque em tons de verde, azul, rosa e lilás: tudo isto é a essência de Macau, o estilo de vida tranquilo e pacífico que lembra mais a sesta do que a correria da hora do almoço de outras cidades asiáticas."

domingo, 25 de maio de 2025

Facturas de electricidade: 1943 e 1947


Factura de 1943 emitida pela Comissão Administrativa dos Serviços Municipais de Electicidade

Emitida pela Melco em 1947

sábado, 24 de maio de 2025

Rua de S. Paulo

Com início na Rua da Palha/Rua das Estalagens, a Rua de S. Paulo vai até à Rua das Estalagens e a Travessa dos Algibebes a sul, dá ainda acesso à Travessa da Paixão, Calçada do Amparo, Calçada S. Francisco Xavier, e ao Pátio Fu Van a norte , bem como ao início da escadaria de acesso às Ruínas de S. Paulo (Largo da Companhia de Jesus e Rua da Ressurreição), terminando na Rua de Santo António. Artéria das mais antigas da cidade, ligava as igrejas de S. Domingos e Mater Dei, também conhecida por igreja de S. Paulo.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

"Asas gloriosas - De Lisboa a Macau pelo ar"

Capa da edição de 12 de Maio de 1924 do Diário de Notícias
Asas gloriosas - De Lisboa a Macau pelo ar
A imprensa - não só o DN mas também o jornal A Capital, o Século, etc - teve um papel decisivo na divulgação da aventura e na angariação de fundos para que um dos maiores feitos da história da aviação portuguesa tivesse sucesso. Nesta data os aviadores ainda não tinham chegado a Macau. O primeiro raide aéreo Portugal-Macau começara a 7 de Abril de 1924 em Vila Nova de Mil Fontes e terminaria a 20 de Junho desse ano.
PS: No blogue existem várias publicações sobre o tema; basta usar o motor de pesquisa (no topo do lado esquerdo).

quinta-feira, 22 de maio de 2025

"Clepsydra - Poema do Dr. Camilo Pessanha"

 

Na edição de 30 de Abril de 1922 do jornal O Liberal é publicado um anúncio ao "Clepsydra Poema do Dr. Camilo Pessanha". A "Firma Tantino" ficava no nº 17 do Largo do Senado. Na altura Pessanha (1867-1926) ainda vivia no território. Viria a morrer em 1926.

Nessa edição O Liberal republica ainda uma notícia do jornal Diário de Lisboa que inclui uma entrevista a Ana de Castro Osório onde ela explica como esteve na origem da publicação de "Clepsydra" em 1920 pelas Edições Lusitania.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

"Palace Bar" na Areia Preta

Anúncio de imprensa de 1923

"Palace Bar - nº 3 Areia Preta. Café, chá, bolos, refrescos, etc..."

terça-feira, 20 de maio de 2025

Estátua de D. Belchior/Melchior Carneiro Leitão

仁慈堂 約一九二零年

Em cima uma fotografia do final da década 1920. Em primeiro plano uma vista parcial da fachada do edifício da Santa Casa da Misericórdia, construído no século XVIII e reconstruído em 1905, altura em que passou a ter esta fachada. Ao fundo à direita, a fase final da construção do edifício dos CTT.
Na fotografia pode ver-se ainda no topo triangular da fachada o busto de D. Belchior/Melchior Carneiro (1516-1583), primeiro bispo de Macau e fundador da instituição. 
1569 é o ano da fundação da SCM de Macau

O busto que inclui a inscrição '1569' foi removido do topo do edifício e encontra-se actualmente à entrada do Museu da Santa Casa da Misericórdia, no mesmo edifício.
Excerto de "Macau e a sua Diocese I", da autoria do padre Manuel Teixeira, publicado em 1940:
"D. Melchior Carneiro, chegado a Macau, em 1568, fundou logo no ano seguinte a Santa Casa da Misericórdia, de que foi o primeiro provedor, e os hospitais de S. Rafael e de S. Lázaro. Não se conhece a data certa da erecção da Ermida de Nossa Senhora da Esperança que devido à leprosaria anexa, ficou vulgarmente conhecida pelo nome de Igreja de S. Lázaro. Também não sabemos qual existiu primeiro: se a Ermida ou o hospital de leprosos. Parece no entanto, pelo que dissemos atrás que, juntamente com Santo António e S. Lourenço, a Ermida de N. Senhora da Esperança deve ter sido coeva do estabelecimento dos portugueses em Macau."
A mesma perspectiva numa imagem do início do século 21

Existe outro busto. Data do ano 2000 e pode ser visto na Travessa da Misericórdia. A primitiva igreja da SCM pode ser vista aqui.

segunda-feira, 19 de maio de 2025

Booming Macao Belongs to Portugal, but Chinese Residents—and Peking—Call Tune

Artigo de cerca de meia página (a nº 9) da edição de 19 de Setembro de 1973 do The New York Times (EUA).

Booming Macao Belongs to Portugal, but Chinese Residents - and Peking - Call Tune
By Joseph Lelyveld - Special to The New York Times
Sept. 29, 1973
Macao, Sept. 22 — Portugal's minuscule outpost on the South China coast is experiencing its first economic boom in nearly three centuries, but the local Portugeese are cast in the role of bemused, even mournful bystanders.Macao is no longer Macao,” lamented an official in the shuttered Governor's office, a spacious colonial structure, whose facade has been washed in a delicate pink pastel inspired by the memory of some distant Iberian port.
The Talk of Macao
There was a time when all the buildings on the Praia Grande, the shaded waterfront avenue on which it stands, shared that same inspiration. Now many of them are being pulled down and replaced with nondescript apartment houses inspired by nothing but the promise of a fast return. The regrets the Portuguese feel for the old buildings and for a vanishing way of life is deepened by the fact that they will share in very little of those returns, for Macao's boom is almost purely a Chinese phenomenon.
Chinese Money Everywhere
Chinese capital is behind the apartment houses, just as it is behind the casinos, the fleet of hydrofoils that come skimming across the muddy Canton River estuary with gamblers and tourists from Hong Kong, the textile factories and impressive plans for further investment.
Part of the money is local; much of it comes from Hong Kong. Investors are confident because they believe that the Chinese Government in Peking has no plans to renounce the perpetual grant of six square miles that the Portuguese finally obtained from the Ching Dynasty in 1887—after they had already been here for 330 years. And they also know that Peking will not allow Portugal to exert what remains of her tattered authority.
In practical terms, this means that business and personal taxes will stay low and that it will remain a simple matter to shift profits out of the territory without ever entering them on the ledgers of a Portuguese bank. Portugal has no diplomatic relations with China, no leverage and no illusions, for China exhibited her control of the local population at the start of the Cultural Revolution in, 1966, when local Red Guards rioted.
Of the population of about 250,000, fewer than 7,500 are classified as Portuguese, and of those fewer than 1,000 are actually Portuguese from Europe. The rest are Macaenese — Portuguese‐speaking Eurasians who are said these days to be forsaking a distinctive patois and cuisine maintained for several hundred years.
After the centuries of Portuguese rule, few Chinese here know Portuguese, which is not even taught in their schools. Most Portuguese find it necessary, however, to know some Cantonese.
The spectacle of a captive colonial power, and a good investment climate based on the Cultural Revolution may seem anomalous, but there is nothing much new in the situation for the Portruguese, who have not really flourished here since 1685, when they lost their monopoly on trade with Canton.
Until the Opium War, the Ching Dynasty kept a mandarin in Macao to supervise the local population and exercise discreet veto power over colonial officials. Now that role is played by Ho Yin, a local capitalist who is chairman of the board of the Tai Fung Bank and a number of other enterprises, and a frequent visitor to Peking.
Mr. Ho and others who have been quietly entrusted with the task of exercising authority make sure that no organization hostile to the Chinese Government gets started here, that the Portuguese refrain from taking in refugees, that most secondary‐school students attend Communist ‐ sponsored schools; and that the local press carries no editorials critical of Chinese policies.
Accepted by Portuguese
“They have all the power,” the Portuguese say in acceptance of a fact too obvious to be belabored. As one official put it: “The Chinese know our number. They have only to lift up the phone and say, ‘We don't want you people there anymore’ Of course the next day we'd be gone. What else could we do?”
Probably the main reason that such a call has not been placed and is not likely to be —despite Peking's strong support of anti‐Portuguese movements in Africa—is that the ouster of the Portuguese would upset the equilibrium of the British colony of Hong Kong, which has a vital importance to China for commercial and banking reasons and also because it provides an avenue for communication with the overseas Chinese.
Having decided to allow Macao to maintain a separate existence, Peking seemingly has no choice but to allow it to prosper in the only way it can — by attracting capital from Hong Kong.
Much of the boom is founded on Hong Kong's laws against gambling. This year there will be more than 1.5 million visits to Macao by Chinese from Hong Kong, which has a population of only four million. The overwhelming majority are lured here solely by the six casinos, which never close.
By any standard, the gambling is ferocious. A few weeks ago a young Chinese man walked away from the baccarat table at the Lisboa Hotel after having won $234,000 in one sittin.g. As a result of such exploits, the Chinese managers of the gambling syndicate recently thought it prudent to reduce the maximum baccarat bet to $12,000.
The Lisboa sits on the Avenida do Dr. Oliveira Salazar and boasts among its dozen restaurants one called the Portas do Sol, where Portuguese fado music is performed nightly. But the suggestions of Portugal are as synthetic as they would be if the hotel had been set down in Las Vegas, its real inspiration.
A garish structure surfaced in golden tiles, the hotel is crowded by a large concrete sculpture that looks as if it was meant to suggest a helicopter landing on a giant artichoke; actually it is meant to suggest a roulette wheel, symbolic of the new Macao.
Virtually from the hotel's front door, a long concrete span stretches towards two thinly populated islands, Taipa and Coloane, which account for about half Macao's area. The bridge is due to be finished in the spring, and Chinese entrepreneurs are already lining up withiplans for an industrial park, a deepwater harbor, a new resort and, of course, another casino.
What is in it for the Portuguese? Financial officials say that Portugal's only direct expenses on Macao are the cost of the bridge, given as a development loan to be repaid with interest, and the $34,000 she contributes annually to the upkeep of the missionary schools.
Traditional Gifts
In return, they say, Macao sends to Portugal a $100,000 contribution for the upkeep of a botanical garden and a hospital for tropical diseases in Lisbon, a traditional extraction, it is said, from the country's “overseas provinces.”
Macao's trade with Portugal and her overseas territories is actually slipping. Not even 2 per cent of her imports comes from the sup posed mother country, which takes only 8 per cent of her exports.
But officials here all insist that the benefits of Macao to Portugal cannot be measured—that it is, as one put it, “cultural and moral“—a necessary piece of evidence that Portugal is grander than she appears to be on the map of Europe. “You have to be inside Portuguese tradition and history to understand,” said a Macaenese who ranks high in the administration.
Asked about Macao's prospects, this official replied with a slight shrug, “There is no logic in politics,” then drew what for him was the logical deduction. “Our future must be very bright,” he said.

domingo, 18 de maio de 2025

'Leitura' de uma pintura da segunda metade do século 19

Nesta pintura da segunda metade do século 19 que mostra a baía da Praia Grande - pertencente à 'escola chinesa e de autor anónimo - destaquei e identifiquei alguns dos elementos representados com fotografias e gravuras. Da esquerda para a direita temos um vapor a pás que fazia a ligação marítima entre as cidades vizinhas de Macau , nomeadamente Hong Kong e Cantão. Ao centro o Palácio das Repartições. Segue-se o que parece ser a canhoneira Camões e do lado direito o edifício do Grémio Militar, inaugurado em 1870 (Clube Militar a partir da década 1940). 
Nota: Na época Macau tinha duas embarcações de guerra deste tipo. A Camões tinha uma tripulação de 36 homens enquanto na Príncipe D. Carlos eram 57.
Tendo sido presente a Sua Magestade El Rei o officio no 57 de 23 de abril do corrente anno no qual o governador de Macau participa ter estabelecido a lotação das duas canhoneiras de vapor Camões e Príncipe D. Carlos e providenciado para que se as respectivas guarnições ha por bem o mesmo augusto Senhor approvar a portaria de 21 do referido mez de abril pela qual o dito governador fixou o quadro das guarnições duas canhoneiras do serviço de Macau o que se communica pela secretaria d'estado negocios da marinha e ultramar ao mencionado governador para seu conhecimento.
Paço em 3 de Julho de 1866. Visconde da Praia Grande

A Portaria 
O governador de Macau determina o seguinte: Sendo necessario fixar os quadros das guarnições das duas canhoneiras a vapor do serviço d'esta provincia, a primeira das quaes Camões foi já recebida, e a segunda Principe D Carlos está quasi concluida, hei conveniente determinar que esses quadros sejam os seguintes: (...)

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Turistas do "grande paquete" Belgenlande em 1927

Jornal A Pátria Fevereiro 1927

A notícia de Fevereiro de 1927 do jornal macaense "A Pátria" refere "Belengland" mas o paquete de cruzeiros denominava-se "Belgenlande". Pertencia à empresa Red Star Line. A volta ao mundo durava 132 dias visitando 60 cidades em 14 países num total de 28 mil milhas. Este era o terceiro cruzeiro de volta ao mundo. A partida deu-se em Nova Iorque a 14 de Dezembro de 1926 rumo ao Japão. O clima de guerra civil na China impediu a escala em Xangai. Mas na escala em Hong Kong, como era habitual, muitos passageiros aproveitaram para visitar Macau. No regresso chegou a Nova Iorque a 24 de Abril de 1927.
Foi uma época de múltiplos cruzeiros à volta do mundo. Em Março de 1927 era o navio "California" que fazia escala em Hong Kong com 600 passageiros a bordo.
Num artigo publicado na edição de Jan/Mar de 1994 da RC, Henrique de Senna Fernandes explica como era Macau no final da década de 1920:
"Em 1927, reinava em Macau um largo optimismo. O reflexo do mundo em prosperidade chegava até aqui. O Porto Exterior não se revelara ainda o estrondoso falhanço que foi: os relatórios dos responsáveis auguravam um movimento de barcos de grande cabotagem, em manifestações oníricas de grandeza. A indústria de pesca crescia, impressionante. Na Capitania dos Portos estavam registadas mais de mil embarcações. Falava-se muito na modernização de Macau, em tirá-lo do isolamento duma cidade mediterrânica incrustada na China para transformá-lo em burgo activo de arcabouço americano.
Aquele optimismo concretizou-se com a organização e inauguração da primeira e única Feira Industrial, instalada nos terrenos de Mong-Há, mais ou menos no actual bairro dos funcionários junto à Avenida do Coronel Mesquita, onde havia um pequeno lago. Ali mostraram os industriais de Macau as suas potencialidades e, na opinião dos coevos, a Feira honrava a cidade e os organizadores.
Só nos lembramos da parte das diversões. Havia carrocel, montanha russa, "merry-go-round", imensas barracas de tiro e outros jogos em que se ganhavam pequenas lembranças e montes de rebuçados. No lago, havia barcos a remos para os namora-dos e para os românticos.
No enquadramento da época, a Feira foi um triunfo e bafejou Macau da certeza duma completa renovação. A Feira e o porto de grande cabotagem marcavam o começo duma nova era. Neste surto, havia ainda a sensação grata de que Macau iria ser aproveitado pelo turismo com a construção de dois hotéis modernos, o Hotel Riviera, inaugurado em 13 de Fevereiro de 1928, e o President Hotel, o primeiro arranha-céus, que seria inaugurado no Verão daquele ano.(...)
O oportunismo, bafejado pelo sopro de prosperidade, manteve-se em realizações que correspondiam a esse optimismo. Entre outras, aponta-se a inauguração do cabo submarino para a Taipa em 11 de Novembro desse ano. Poucos dias depois, em 19, iniciam-se nos CTT os serviços radiotelegráficos, instalados no 2º andar do novo edifício, com a presença do Governador."

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Comemoração do 400º Aniversário da Construção da Igreja de S. Paulo

Comemoração do 400º Aniversário da Construção da Igreja de S. Paulo

聖保祿大教堂奠基400周年紀念 - 郵票首日封一個


quarta-feira, 14 de maio de 2025

"Collegio de Santa Rosa de Lima": Estatutos de 1875

Os estatutos e regulamento para o Collegio de Santa Rosa de Lima como casa de educação para o sexo feminino (meninas orfãs), foram publicados em 1875 pelo governador José Maria Lobo d´Ávila - portaria nº 23 de 18.2.1875 publicada a 20.2.1875 - após a extinção do mosteiro de Santa Clara. Faz agora 150 anos...
O "Recolhimento de Santa Rosa de Lima" estava anexado ao Mosteiro de Santa Clara desde 1856. Fundado em 1633 o convento foi encerrado em 1835. Ficava no mesmo local onde está actualmente o colégio de Santa Rosa de Lima, embora ocupando uma área muito maior. Na década de 1920/30, com os aterros a rua que dá acesso ao local foi denominada rua de Santa Clara.

As "disciplinas e trabalhos" incluíam "leitura, escripta, quatro operações arithméticas em números inteiros e fraccionários, catcismo e doutrina christã, grammatica portugueza e exercicíos de redacção, rudimentos de história de Portugal, noções geraes de geographia e chorographia de Portugal e suas possessões, arithmética elementar e systema legal de pesos e medidas, desenho linear  aplicado à vida comum, educação physica e preceitos hygiénicos, línguas franceza e ingleza, música de canto e piano, lavores próprios do sexo feminino, preceitos de economia doméstica".
O ensino ministrado nesse colégio era o elementar, ou instrução secundária que compreendia: línguas portuguesa, francesa e inglesa; história sagrada; desenho; música de canto e piano; educação física; higiene e economia doméstica.
Tinha uma regente, 4 mestras, 1 capelão, 6 serventes, 1 sacristão, 1 jardineiro, 1 secretário, 1 facultativo e duas perfeitas.
Década 1950 versus década 2010
Desde 1889 o Colégio era gerido pelas Filhas Canossianas da Caridade. A partir de 1903 ficou sob a direcção das Franciscanas Missionárias de Maria.
De uma publicação em chinês de 1963
No ano lectivo de 1955/1956 estavam inscritas 929 alunas: secção portuguesa com 220; secção chinesa com 355 e secção inglesa com 354. Havia ainda uma escola gratuita primária para meninas pobres chinesas num total de 158.
Curiosidade: o ano lectivo 1992-1993 foi o último ano do ensino em português no colégio.

terça-feira, 13 de maio de 2025

Emissão selos para Macau: década 1950

Ministério do Ultramar - Direcção Geral de Fomento - Serviços de Valores Postais
Emissão de selos para Macau na década de 1950 executados na Suíça e na Holanda 
 




 Emissão de 1950: "Encerramento do ano santo - Fátima 1951" em 8 colónias portuguesas.
O selo de Macau (ao meio à esq.) tem o valor facial de 50 avos.
Álbum criado na década de 1950