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domingo, 4 de outubro de 2020

A atracção de Hollywood por Macau

Antes de James Bond tornar o conhecido o nome de Macau na década de 1970 com "The man with the golden gun"/O Homem da Pistola Dourada (1974) ou de Shangai Surprise, em 1986, e Skyfall, de 2012, realizado por Sam Mendes, já a indústria da sétima arte, nomeadamente Hollywood sentira uma forte atracção por Macau. Mais precisamente nas décadas de 1950 e 1960 quando foram feitos mais de uma dezena de filmes onde "Macau", território, surge como o protagonista e classificada como "a cidade mais perversa" (‘wickedest city’).
As origens desta atracção podem ser encontradas num livro editado em 1933 da autoria de Hendrik de Leeuw intitulado "Cities of Sin". (tema de um próximo post)
Aliás, antes de Hollywood, e ainda sob a perspectiva do 'pecado', da 'imoralidade' e da 'corrupção' foi a Europa a 'descobrir' Macau para o cinema com o filme francês "L’enfer du jeu" (The Gambling Hell) de 1942, realizado por Jean Delannoy.
Vejamos então como tudo começou na década de 1950 com o filme intitulado "Macao", ainda a preto e branco, filmado em 1950, mas só estreado em 1952. Logo na narração está explícita a apresentação do território como 'antro do crime'...
"This is Macao: a fabulous speck on the Earth’s surface, just off the south coast of China, a 35-mile boat trip from Hong Kong. It is an ancient Portuguese colony, quaint and bizarre. The crossroads of the Far East, its population a mixture of all races and nationalities, mostly Chinese. Macao, often called the Monte Carlo of the Orient has two faces: one calm and open, the other veiled and secret. Here millions in gold and diamonds change hands, some across the gambling tables, some mysteriously in the night. Macao is a fugitives’ haven, for at the three mile limit the authority of the International Police comes to an end."
Feito o retrato, no essencial, todos os filmes posteriores seguiram este conceito.


Lista de filmes:
L’enfer du jeu /The Gambling Hell (1942), The Lady from Shanghai (1947), Smuggler’s Island (1951), Macao (1952), Forbidden (1953), Dragon’s Gold (1953), Love is a Many-Splendored Thing (1955), Flight to Hong Kong (1956), and Hong Kong Confidential (1958), Soldier of Fortune (1955), The Scavengers (1959), Ferry to Hong Kong (1959), Out of the Tiger’s Mouth (1962), Cleopatra Jones and the Casino of Gold (1975), while also playing a smaller role in the plots of Windjammer (1937), Kill a Dragon (1967), and That Man Bolt (1973), etc...
Eis algumas das razões pelas quais Hollywood se focou tanto em Macau. No pós-guerra a economia da região era das mais pujantes a nível mundial. Macau não foi excepção, por causa do comércio do outro, caso único a nível mundial, em plena guerra fria, com muita da espionagem a centrar-se no território. Acrescem ainda dois factores: com o início da Guerra da Coreia (1950-53), a América passa a interessar-se pelo continente asiático cuja curiosidade já aumentara depois da subida ao poder pelos comunistas (1949) que voltaram a 'fechar' as portas do país ao estrangeiro e proibiram o jogo no país. Na 'Cortina do Bambú' da Ásia - por oposição à "Cortina de Ferro" na Europa - Macau estava no lugar certo à hora certa...
Tudo isto atraiu os produtores e os argumentistas que encontraram no território os ingredientes - o fruto proibido - necessários para uma boa intriga: jogo, espionagem, contrabando, aventura...
Num artigo publicado a 7 de Janeiro de 1954 no jornal Los Angeles Examiner, Kay Proctor escreve que embora "Macau tenha vindo a ser caracterizada na ficção como a cidade mais perversa no planeta", de facto, "um turista está ali totalmente seguro e pode tentar a sorte jogando fantan no casino do hotel Central".

Variety - 11.8.1954 
"Adventure Still Rules Macao; Gals Serve Your Opium at Hotel Bedside" - "A aventura ainda domina Macau; As meninas servem o ópio no quarto de hotel" é o titulo do artigo da Variety, publicado a 11 de Agosto de 1954, e assinado por Dick Larsh:
"The tiny Portuguese colony of Macao, only a four-hour ferry ride from Hong Kong, is a must on the tourist list for visitors to the Crown Colony. Its deserved reputation for dark hours, intrigue and wickedness comes from its odd position between the two worlds separated by the Bamboo Curtain. Its Chinese population of 300,000 is 95% of the entire citizenry - and which side these Chinese are on, at what time, is strictly a matter of conjecture. Adventure can be found in Ma- cao’s night - and danger for the unwary who 3 overimbibe and wan- der its cobblestone alleys alone. Gambling is the chief relaxation for the localities, with fantan and bird cages operated by smiling Chinese girls to be found everywhere. Dancehall hostesses wear slit skirts and highnecked blouses and earn about $30 a month. For 32c the tourist can smoke a single pipe of opium in any number of dingy dens; for a little more, the pipe of forgetfulness can be delivered to your hotel room - by a comely serving gal to heat the joy gum by your bedside. 
Some hotels even feature rooms with built-in wooden couches, the preferred equipment for the hep lolling puffer who spurns the softness of a mattress for his escape to temporary Nirvana. Prosties work only in the matsons de, joie arid there are no femmes de pave. Neither a recent government ban nor the efforts of the churches have been able to close down the brothels which provide a variety of Eurasians, White Riftsians, Chinese and Japanese attendants, plus scatterings from other countries of Asia. U.S. personnel down from Japan, usually stay overnight. An all-expense stopover at $20 includes hotelroom, three meals, sightseeing trip, including a visit to an opium den under the rein of a professional guide, and return ferry fare to Hong Kong. There are no Western style nightclubs, their closest replica being the dancehalls. Filmhouses show only Chinese product from Hong Kong, Formosa and Red China, with an occasional Soviet film with Chinese subtitles. Locally-made films will soon be available in Macao with the recent opening of a studio here. Silveria Machado will produce "The Long Road," starring popular Chinese actress Chung- Ching and directed by Euricco Ferreira. Story is based on refugees from the mainland in Macao. It will be made in three versions - Chinese, Portuguese and English. Initial production nut is set at $50,000."
A Variety voltaria a Macau num artigo publicado a 19 de Novembro de 1969: "Tourists to Macao, Portugal's Beachless, Orient Resort''
Refira-se que esta projecção do nome de Macau no mundo - através do cinema - não foi bem vista pelo Estado Novo em Portugal. Os serviços de censura da ditadura, por exemplo, só permitiram a exibição do filme "Kill a Dragon" após cortes ao gangster português e à máfia do território (1968). O filme "Smuggler's Island" (1951) nem sequer foi exibido. 

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