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segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Grémio/Clube Militar: 150 anos de história

O Grémio/Clube Militar foi fundado em 1870 
conforme consta da acta e da inscrição na fachada do edifício

“Aos vinte dias do mês de Abril de 1870, na sala dos oficiais do Quartel do Batalhão de Infantaria, reunidos os oficiais ao serviços do referido Batalhão, propôs o alferes Dores organizar-se um Grémio não só para ponto de reunião, como,mui principalmente, para nele se estabelecer uma biblioteca de livros militares, cientificos e de qualquer outro assunto, havendo tambem jornais, jôgo de armas e de todos os permitidos por lei. Aceite a proposta pela corporação , nomeou o chefe da mesa preparatoria, da qual tomou a presidencia, a fim de imediatamente se proceder por escrutinio á eleição dos oficiais que deviam elaborar o projecto de estatutos para o referido Gremio. 
Recolhidos os votos, foram eleitos: presidente, o capitão Manual de Azevedo Countinho, vogais, o tenente Henrique Augusto Dias de Carvalho e o alferes Rafael das Dores, sendo este o secretario. Nomeada a comissão, ficou logo convencionado que podiam ser sócios do Gremio todos os oficials de exercito, marinha, reformados e aspirantes. Em seguida o presidente deu a mesa por dissolvida e encarregou a comissão de fazer convidar para socios todos os oficiais nas circunstancias acima, sendo estes os fundadores, os quais avisariam para as sessões em que forem presentes os estatutos, e assim terminou esta reunião do dia 20 Abril de 1870.”
O edifício foi inscrito na Conservatória do Registo Predial de Macau a 8 de Junho de 1872

“Predio urbano de um andar que contem 13 janelas, 6 portas que deitam para as varandas e 2 de serventia, medindo a area de toda a propriedade dois mil duzentos e onze covados quadros portugueses; é situado na Rua da Praia Grande entre o jardim e a Fortaleza de S. Francisco, freguesia da Sé, e tem o numero de policia; confina pelo Norte com a parada do Quartel do Batalhão de Linha; pelo Sul com a rua publica; pelo Nascente com a Fortaleza de S. Francisco e pelo Poente com o jardim publico. Não teve este prédio dono anterior por ter sido mandado edificar pelos actuais donos. Calculei o valor venal deste predio em presença do referido documento apresentado e da declaração do apresentante em doze mil patacas e o seu rendimento liquido anual setecentas patacas.”
Foi o capitão Azevedo Coutinho, na qualidade de presidente, que procedeu ao registo predial da sede do Grémio Militar. 30 anos depois, o edifício ameaçava ruína, tendo o Governo decidido arcar com os custos de reparação, estimados em 1.670$720 patacas. Novas obras de vulto foram realizadas depois da Guerra do Pacífico, devido ao estado depauperado em que as instalações tinham ficado, por terem andado de mão em mão. Primeiro, nos tempos difíceis de 1941-45, serviram de abrigo a refugiados de Hong Kong. Depois, em 1945, o governador, que tinha ficado com o controlo do edifício, decidiu ali instalar a Repartição da Fazenda.
Em 1951, depois de a Fazenda passar para o antigo Palácio das Repartições, o Governo nomeia uma comissão para levar a cabo a recuperação do edifício. À sociedade do Grémio, o Governo paga 31.920,00 patacas, a título de reembolso, pelos anos em que ocupou gratuitamente a sua sede, conferindo-lhe ainda donativos da ordem das 16.500,00 patacas. É deste dinheiro, cerca de 48 mil patacas ao todo, que a direcção se serve para repor a dignidade perdida do velho clube. Foi igualmente necessário proceder à renovação do mobiliário, que praticamente desaparecera ou estava arruinado. Salvou-se o piano. Monsenhor Teixeira conta a história:
“Um dia, o tenente Manuel Vieira entra no Grémio e depara-se-lha esta cena à americana: um refugiado a tocar ao piano música de cabaret e dois melros a cantar e a dançar em cima do mesmo piano!... Perante este espectáculo tão edificante, ele pediu ao Cap. Salgado que permitisse recolher o piano no Quartel de S. Francisco para salvar esse pobre refugiado das carícias febris dos refugiados...” 
Quis o destino que o capitão Salgado, amante do desporto náutico, naufragasse no seu veleiro, em águas chinesas. Preso e levado para Cantão, seria mais tarde visto a vaguear pelas ruas daquela cidade, onde esteve cerca de três anos. E o piano do Grémio, que tinha sido confiado à sua guarda, ficou também em paradeiro incerto. Até que... “Um belo dia, os militares deram um sarau no Ginásio do Liceu, no Tap-Seac, junto da casa do Tenente Vieira; este viu com surpresa o piano do Grémio a ser transportado para o Ginásio!” Facilmente, o tenente Vieira provou a “paternidade” do piano, e este lá voltou à casa..."
Texto do site do Clube Militar de Macau
1973. Foto de Karsten Petersen
Nos dias de hoje. Foto de Manuel Cardoso


25 de Maio de 1912: foto no acesso lateral do Grémio. A 'nata' da sociedade de Macau: governador Álvaro de Melo Machado, Sun Iat Sen (ao centro), Camilo Pessanha (à esq), Lou Lim Ioc (à dta), etc...
 Nas paredes do Clube Militar podem ver-se fotos como estas 
que recordam tempos passados (década 1940-50)
Medalha comemorativa em bronze

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