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domingo, 13 de dezembro de 2020

Macau num cruzeiro à volta do mundo em 1927/28

À procura de uma vida melhor foram milhares os europeus que viajaram para os EUA em navios de empresas como a belga Red Line Star. Os mais abastados utilizaram os navios para fazer viagens de cruzeiro à volta do mundo. É uma dessas viagens que vou abordar neste post.
Um dos navios mais conhecidos da empresa foi o Belgenland II (no século 19 existiu outro com o mesmo nome). O do século 20 foi construído em 1914 para a empresa White Star e com início da primeira guerra mundial seria acabado à pressa recebendo o nome de SS Belgic. Depois da guerra foi reconfigurado para paquete e passou para a Red Line Star que o rebaptizou como Belgenland. Com 27 mil toneladas era um dos maiores do mundo tendo capacidade para transportar 2500 pessoas.
A 4 de Dezembro de 1924 partiu para um cruzeiro de 133 dias à volta do mundo, uma das mais longas viagens na época com a publicidade da empresa a destacar: "The Largest Ship to Circle the Globe".
Itinerário

A a quarta edição deste cruzeiro à volta do mundo começou em Nova Iorque a 14 de Dezembro de 1927. Seguindo a rota do Japão rumou até Cuba, passou o Canal do Panamá e Hawai (ver itinerário acima). Atracou em Xangai a 2 Fevereiro de 1928 ao fim de quase 2 meses de viagem. Estava na Formosa no dia 7 a caminho de Hong Kong onde chegou às 5h15 da madrugada do dia 9 de Fevereiro. No dia seguinte o jornal The Hong Kong Telegraph noticiava que estavam atracados no porto da cidade "dois grandes navios" com cerca de 700 turistas a bordo incluindo "alguns notáveis". Um deles era o Belgenland (345 passageiros).
Nos 4 dias de escala o tempo esteve excelente com as temperaturas a rondar os 21 graus. Os passageiros puderam então reservar algumas das excursões a cidades vizinhas como Kowloon, Cantão e Macau.
Detalhe do programa da excursão a Macau 

O vapor para Macau partiu às 8h30 da manhã da sexta-feira, dia 10 de Fevereiro sendo servida uma refeição a bordo. Às 11h30 atracaram no Porto Interior. Com os passageiros divididos em dois grupos, acompanhados de guias, uns viajaram de riquexó e outros de automóvel visitando "todos os locais de interesse" durante uma hora. Na segunda hora trocaram de meio de transporte. Às duas da tarde apanharam o vapor de regresso a Hong Kong.
Às 5 da tarde do dia 13 de Fevereiro o paquete de luxo Belgenland saía de Hong Kong tarde rumo a Manila e ao destino final, Nova Iorque. Conforme se pode verificar numa parte da lista de passageiros (imagem abaixo) um dos poucos europeus a bordo - a maioria era dos EUA - era o espanhol Juan Marin Balmas (1890-1945).

O nome de Juan Marin Balmas na lista dos passageiros

Detalhe da rota do Belgenland: Janeiro e Fevereiro de 1928


O empresário espanhol passaria as memórias desta viagem para o livro "De Paris a Barcelona passant per Honolulu" publicado em catalão no ano de 1929.
Na parte que dedicou a Macau, Juan Marin Balmas, fala do jardim e gruta de Camões, do antigo tráfico de cules, das casas de jogo fantan, da pirataria no estuário do rio das Pérolas que obriga a apertadas medidas de segura no vapor que o transportou desde Hong Kong
"La terra on el gran camoens va escriure el seu poema immortal, si un temps visqué del tráfic dels coolies i del contraban d'opi, avui deu encara el seu bon passar a les seves famoses cases de joc fan tan, on els xinesos rics vénen a arriscar llur fortuna".
"Macao - Pôr do Sol" é a legenda da foto tirada no Templo da Barra incluída no livro alusivo a uma viagem de 30 mil milhas náuticas que durou 133 dias de viagem e permitiu visitar 60 cidades.
Curiosidades: 
- Albert Einstein viajou neste paquete em 1933.
O Belgenland II não resistiu aos efeitos da Grande Depressão e seria desmantelado em 1936.
- Na Bélgica (Antuérpia) existe um museu dedicado a esta empresa onde se podem ficar a conhecer mais detalhes sobre como era viajar neste navio.

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