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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Lembrar Manuel Teixeira

Se fosse vivo, faria 100 anos a 15 de Abril. Por Portugal, a Fundação Oriente e o Centro Científico e Cultural de Macau dizem estar a preparar as comemorações do centenário do padre Manuel Teixeira. Por cá, haverá, pelo menos, um livro sobre a vida e obra do excêntrico missionário. A iniciativa cabe ao Instituto Internacional de Macau.
Pelo menos a Fundação Oriente (FO) e o Centro Científico e Cultural de Macau (FO) vão evocar, este ano, o centenário do nascimento de Monsenhor Manuel Teixeira com algumas actividades. Se fosse vivo, faria 100 anos no dia 15 de Abril. João Calvão, da FO, revelou que a instituição tem previsto realizar em Maio uma conferência por Beatriz Basto da Silva e a apresentação deuma pequena exposição bibliográfica.
Já o CCCM informou o Ponto Final que pretende assinalar esses 100 anos com conferências e uma mostra bibliográfica, em data a anunciar. Recorde-se que Manuel Teixeira doou todo o seu espólio documental (ou parte significativa dele) a este centro, via extinta Missão de Macau: uma biblioteca com cerca de três mil títulos, perto de dois mil manuscritos, além de uma colecção de fotografias que é considerada das mais ricas sobre o Macau português.
Outras entidades poderão realizar iniciativas, mas não são do conhecimento deste jornal. Uma delas, que contactámos, a Fundação Jorge Álvares, não deu resposta ao pedido de informação. Fica também por saber se haverá alguma edição ou reedição de obras de Monsenhor Manuel Teixeira, ele que deixou alguns originais, além de ter editado 123 obras diferentes (várias delas completamente esgotadas). Em 2001 regressou definitivamente a Portugal, tendo vivido os últimos anos em Chaves, onde está sepultado.
Freixo de Espada à Cinta?
Ainda menos provável é que Freixo de Espada à Cinta se lembre deste seu ilustre filho. Manuel Teixeira é um completo desconhecido localmente, não havendo qualquer rua com o seu nome ou registo de qualquer iniciativa promovida pela autarquia para o evocar. Também a casa onde nasceu é uma incógnita. A única irmã de Manuel Teixeira, agora com 86 anos, também ela religiosa (e que ainda não tinha nascido quando o jovem Manuel partiu para o Oriente), disse ao Ponto Final que não se recorda do local e que já não há qualquer familiar vivo que tenha essa informação. A Câmara de Freixo de Espada à Cinta também não respondeu ao pedido de informações deste jornal.
Artigo de João Paulo Meneses publicado no PF de 6-2-2012
Contra o pó, o fumo e a cinza
Após um mês de viagem, atracava em Macau vindo de Trás-os-Montes o seminarista Manuel Teixeira. Tinha 12 anos, a instrução primária concluída e a porta aberta para entrar no Seminário de São José. Estávamos em 1924. Dez anos depois, celebra a primeira missa, na igreja de São Domingos, e aceita dirigir o Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau, onde publica trabalhos dos historiadores José M. Braga e Charles R. Boxer, e dá início a 70 anos de edição. Fundador da revista mensal “O Clarim” e autor de mais de uma centena de livros, o padre da batina branca escreveu e fez história: “Quando estudamos o património cultural e a história de Macau, lembramo-nos de imediato da figura de barba grande e branca com um par de óculos grossos do Monsenhor Manuel Teixeira. O homem e a obra ficarão para sempre guardados na memória das pessoas”, declarou Heidi Ho, quando era ainda presidente do Instituto Cultural.
Na vasta obra do missionário, que dominava as línguas chinesa e inglesa, há um “valioso contributo para o estudo da documentação histórica, religiosa e cultural” – o espólio está conservado na Sala de Macau da Biblioteca Central de Macau (BCM) e inclui 130 títulos.
O padre Manuel Teixeira foi também professor (no colégio de S. José, na Escola Comercial Pedro Nolasco, no Liceu Nacional Infante D. Henrique), membro da Associação Internacional de Historiadores da Ásia (e, mais tarde, da Academia Portuguesa de História) e era um nome conhecido por todos: em 1982 foi eleito Figura do Ano em Macau.
Dois anos depois, criou um fundo para o Estudantes Pobres de Macau. No portal da BCM, Monsenhor Teixeira chega-nos na primeira pessoa: “Como estudioso da história de Macau, o mais importante é tomar notas de todos os acontecimentos importantes de Macau e da sua Diocese, pois a história da igreja de Macau está intimamente ligada à história civil do Território (…). O homem é pó, a fama é fumo e o fim é cinza (…), só os meus livros permanecerão (…) e é essa a minha consolação”. O padre Manuel Teixeira despediu-se do mundo a 15 de Setembro de 2003, dois anos depois de ter deixado Macau e regressado a Portugal. Tinha 91 anos.
Artigo de S.N. publicado no jornal Ponto Final de 6-2-2012
Uma vida que dá um livro
O Instituto Internacional de Macau (IIM) prepara-se para lançar este ano um livro sobre a vida e obra do padre Manuel Teixeira, o excêntrico missionário de compridas barbas brancas que chegou a Macau com 12 anos para deixar uma vasta obra escrita sobre a história, os costumes e as gentes da terra. A publicação assinala os 100 anos do nascimento do Monsenhor, que se celebram a 15 de Abril. Haverá mais?
“Para já, temos confirmado o lançamento de um livro sobre a vida e obra do Padre Manuel Teixeira, inserido na nossa colecção ‘Missionários para o Século XXI’”, adianta Jorge Rangel, presidente do IIM, que atribuiu a primeira edição do Prémio Identidade ao Monsenhor em 2003, pouco tempo depois do seu falecimento. Desde então que o galardão distingue personalidades ou instituições que tenham assumido um papel de relevo na preservação e promoção da identidade macaense – os arquivos conservados por Manuel Teixeira são hoje tidos como uma importante fonte para quem investiga a história do território.
Com inclusão na colecção “Missionários para o Século XXI”, que soma cinco volumes, a vida e a obra do Monsenhor passa a ombrear com as biografias já publicadas pelo IIM dos padres Lancelote Rodrigues, Joaquim Angélico Guerra, Mário Acquistapace, Benjamin Videira Pires, Luigi Versiglia e Callisto Caravario. Mas Jorge Rangel diz esperar que haja mais do que um livro a celebrar o centenário do nascimento Manuel Teixeira: “O Monsenhor deixou uma obra extraordinária e é uma figura incontornável da história e da cultura de Macau. Estou convencido que teremos um programa que seja digno da sua dimensão”. O IIM, refere Jorge Rangel, está em contacto com instituições de Macau e de Portugal interessadas em organizar um plano de actividades “durante este ano” para lembrar Manuel Teixeira. “Conferências, exposições,... Há muita coisa que pode ser feita”, diz. O PF entrou em contacto com organizações locais, mas, até ao fecho desta edição, não foi possível confirmar a preparação de qualquer programa. O padre Manuel Teixeira foi agraciado, ainda em vida, com vários títulos: recebeu o prémio de História da Fundação Calouste Gulbenkian, pela assombrosa obra “Toponímia de Macau”, em 1974 foi distinguido Comendador da Ordem do Infante D. Henrique e, já nos anos de 1980, aceitou, também das mãos do Estado português, a Medalha de Valor. Já após a sua morte, aos 91 anos, o Instituto Cultural rendeu-lhe uma “última homenagem”.
O “mais prolífico dos historiadores de Macau”, na descrição feita à época pelo Bispo da RAEM, D. José Lai, tem o seu espólio a cargo da Biblioteca Central de Macau, que organizou um vasto catálogo, disponível online, onde os escritos do Monsenhor estão distribuídos por três partes, das monografias aos artigos de análise. “Manuel Teixeira dedicou toda a sua vida ao tratamento e estudo da documentação histórica de Macau. Cabe hoje à Biblioteca Central de Macau a missão de cuidar a sua obra”, pode ler-se no portal, onde é também possível aceder a dados biográficos. À instituição foi ainda confiado um arquivo de duas centenas de fotografias que testemunham a última década do padre Manuel Teixeira no território. A Macau, dedicou mais de 100 livros e 77 anos de vida.
S.N.

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