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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

A "Bibliographia Macaense" de A. F. Marques Pereira

Na edição de 29.9.1864 do semanário Ta-Ssi-Yang-Kuo, A. Marques Pereira publica o artigo "Bibliographia Macaense". Trata-se de uma "resenha de todos os escriptos portugueses publicados em Macau desde o início do estabelecimento até hoje" e ainda de obras sobre Macau publicadas na China e em Portugal desde que "digam exclusivamente respeito às nossas cousas na China, ou a Macau".
O projecto era ambicioso e nesse artigo António Feliciano Marques Pereira (1839-1881),  vai apresentar apenas a lista por ordem alfabética de autores com textos escritos na imprensa de Macau, Hong Kong e Cantão.
Menos de um mês depois, a 7 de Outubro de 1864, A. Marques Pereira envia uma carta ao editor do Boletim do Governo onde solicita a publicação dos mesmo artigo mas com uma lista actualizada dos "escriptores e editores". A lista foi publicada a 10.1.1864.
Nascido em Portugal em 1839 A. F. M. P. ainda estudou em Coimbra no curso de Direito mas não terminou os estudos e voltou a Lisboa onde nascera e onde seguiu uma carreira como jornalista. Chegou a Macau com 20 anos em 1859 onde o pai, o capitão de fragata Feliciano António Marques Pereira comandava na altura a Corveta D. João I que conduziu o governador Isidoro Guimarães numa viagem ao Japão.
AFMP casou na igreja de S. Lourenço (8.1.1861) com Belarmina Inocência de Miranda, filha de António José Maria de Miranda, que foi secretário do governo entre 1844 e 1851 e morreu em 1863. O casal teve quatro filhos. Um deles, João Feliciano, seguiria as pisadas do pai em prol da divulgação da história de Macau.
AFMP é autor de alguns romances publicados em vários números do Boletim do Governo de Macau*, posteriormente editados na obra "Esboços e Perfis"**, e das obras "Ephemerides commemorativas da história de Macau e das relações da China com os povos christãos" (1868); "Relatorio da emigração chineza em Macau" (1866); "As alfandegas chinesas de Macau: analyse do parecer da junta consultiva do ultramar sobre este objecto" (1870); “O Padroado Português na China” (1873) e deixou por publicar "Portugal e a China. Relatório das Missões Diplomáticas Portuguesas ao Império China em 1862 e 1864".
Foi também um dos fundadores do do semanário "Ta-Ssi-Yang-Kuo" (Daxiyangguo 大西洋國), publicado entre 1863 e 1866.
Entre os vários cargos públicos que ocupou constam: Superintendente da Emigração Chinesa (1860-1865); Procurador dos Negócios Sínicos (1865-1868); capitão da 1.ª Companhia do Batalhão Nacional de Macau; secretário da Missão Diplomática à Corte de Pequim em 1862 e 1864.
Depois de sair de Macau, António Feliciano Marques Pereira ocupou o posto de cônsul de Portugal no Sião/Tailândia (1875) e Singapura (1876). Em 1881 foi para Bombaim, onde ia exercer as funções de cônsul-geral de Portugal na Índia Britânica. Esteve pouco tempo no cargo já que morreria prematuramente a 11 de Setembro desse ano com apenas 42 anos. 

* A partir de 1860 AFMP fica responsável pela parte "não official" do Boletim do Governo. A 28 de Março de 1860 escreve: "É talvez uma triste verdade, mas é uma verdade. Macao, esta bela cidade que se recosta segura e desmedrosa ao sopé do misterioso império, brilhando pela história que lhe reflecte o passado e pela ilustração que lhe ilumina o presente, não tem entretanto buscado na imprensa periódica o poderoso elemento civilizador que, não sofismada, esta sabe oferecer". Era a justificação para a secção noticiosa e literária que iria assegurar n' "O Boletim Oficial do governo de Macao" até criar um jornal...

**Numa crítica literária da época Luciano Cordeiro escreve em "Livro de critica - Arte e litteratura portugueza d'hoje, 1868-1869": "Longe d'esta nesga de terra europeia - em Macau julgamos - vive um homem que mostra poder cultivar com aproveitamento e distincção o romance psychico-social, a julgar por um pequeno livro de romantisações, Esboços e Perfis, em que patenteia uma imaginação vigorosa e cultivada e uma observação fina que se mais profundar e generalisar-se valiosos fructos dará." 

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