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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

No tempo do cinema "mudo"

A propósito do post sobre o Cinematógrafo Victoria, vários leitores contactaram-me solicitando mais informações sobre o cinema em Macau nos primeiros anos do século 20. Recorro a algumas imagens e a um excerto de um texto da autoria de Henrique de Senna Fernandes para satisfazer a curiosidade.
"Em 1919, o «Vitória» achava-se sob a gerência de Filipe Hung, figura popular e simpática de empresário que deu grande dinamismo ao cinematógrafo. Empenhava-se em satisfazer a sua freguesia, auscultava o gosto da cidade, escolhia os melhores filmes e ia a Hong Kong discutir com as companhias distribuidoras para trazer magníficas produções que, por vezes, eram exibidas antes mesmo que na colónia vizinha. Generoso e profundamente católico, dedicava com frequência o produto das sessões cinematográficas dum dia para beneficência ou para ajudar irmandades ou agremiações desportivas.
Deste espírito de empresário, que já não vemos hoje, faz-se eco «O Macaense» de 5 de Outubro de 1919: «Animatógrafo Vitória» «Fomos informados de que o rendimento líquido dos espectáculos cinematográficos, realizados na noite de 1 do corrente, foi de $ 240 (importância algo vultuosa para a época), quantia que, por gentileza da nova empresa exploradora do Animatógrafo Victoria, vai ser entregue à Mesa da Confraria de Nossa Senhora do Rosário para as despesas das obras a realizarem-se na igreja de S. Domingos. «Houve duas sessões cinematográficas e à segunda, a que assistimos, esteve o salão literalmente cheio de espectadores. Tocou a Banda Municipal que, pela execução precisa sob a magistral direcção do sr. Alessio Benis, mereceu dos espectadores calorosos aplausos». Filipe Hung, de quem nos lembramos ainda passeando pela cidade no seu conhecido «side-car», desligou-se do «Vitória», em fins de 1921, abrindo, em 3 de Fevereiro do ano seguinte, o «Animatógrafo Macau», no mesmo edifício em que anos atrás estivera o«New Macao Theatre». E anunciava o facto no jornais, da seguinte maneira: «Após as obras a que se se procedeu, ficou sendo este Animatógrafo a melhor casa de espectáculos da Colónia. «Sempre em exibição as melhores e modernas fitas das afamadas casas Universal, Paramount, etc... «Mudança de programa quatro vezes por se-mana, às 2as., 4as., 6as. e Sábados. «Vinde ao mais popular Animatógrafo de Macau». Com a saída de Filipe Hung, não fechou, porém, o «Vitória». 
Em 3 de Março de 1922, uma nova empresa inaugura a sua exploração com um programa especial de vaudeville, pantomima, danças e canções, terminando com uma exibição cinematográfica."


jornal A Colónia 4 Maio 1918

Fachada da Av. Almeida Ribeiro/ San Ma Lou

Anúncio de 1921


No Anuário de Macau relativo a 1922 Filipe Hung surge como gerente do Animatógrafo Macau localizado na Avenida do Coronel Mesquita. Esta indicação já estava desactualizada na época. O troço de estrada entre a Praia Grande e o Largo do Senado já foram completado, dando por finalizada a ligação entre o Porto Interior e a baía da Praia Grande sendo que a avenida passou a chamar-se Almeida Ribeiro.
Refira-se que o cinema foi muito bem acolhido pela população. Na Feira Industrial de 1926 teve mesmo direito a um pavilhão autónomo - Pavilhão do Cinematógrafo - explorado pela Empresa Cinematográfica Macaense de Mário Borges & Ca.
Esta companhia fez vários filmes/documentários em Macau na década de 1920. Onde estarão?

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