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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

A Rota (Marítima) da Seda

Quando se fala em "rota da seda" vem-nos de imediato à memória a figura do veneziano Marco Polo. Na verdade não era uma rota definida, mas sim um conjunto de vias terrestres de comunicação, que iam mudando com os anos, num percurso de 4000 quilómetros de desertos e cordilheiras percorridos por por caravanas de mercadores e peregrinos. Esse circuito serviria para intercâmbio de produtos, sedas e especiarias, mas também tecnologia, como a bússola, e cultura... e religião.

A expressão "Rota da Seda" só surgiu no final do século 19, pelo académico alemão Ferdinand von Richthofen (1833-1905), um perito em geografia e consultor em projectos que visavam explorar recursos minerais na China com a ajuda de caminho-de-ferro e de portos industriais. Seria na obra de cinco volumes publicada em 1877 que surgiria então o termo “Seidenstraße”... Rota da Seda... que se iria vulgarizar no século XX.
E qual foi o papel de Macau nesta rota? Crucial!
Tudo começa com a chegada dos portugueses à Índia em 1498 altura em que se dá o primeiro contacto com os chineses. Em 1508, quando o rei português envia uma armada a descobrir Malaca e ordena que se procure pelos “chins”. 
A conquista de Malaca por Afonso de Albuquerque, em 1511, teve mesmo o apoio dos mercadores chineses ali estabelecidos. Em 1513 chega o primeiro oficial da Coroa portuguesa a Cantão e inicia-se o comércio. Uma situação altamente lucrativa que durou até 1521 quando o poder naval dos portugueses assustou as autoridades chinesas. 
Em 1543 os mercadores portugueses chegam às praias de Tanegashima, no Japão. De relações cortadas, os chineses desejavam no entanto a prata nipónica, e os japoneses procuravam a seda da China. É aqui que entram os portugueses como elo de ligação e demonstram ainda ter poder militar para derrotar a pirataria que infestava o litoral chinês, nomeadamente em redor de Macau. 
Estavam criadas as condições para o surgimento do território - como escala da chamada Nau do Trato, uma escala de meses a aguardar pela monção e uma espera aproveitada para compras em Cantão - e o seu assentamento ocorre por volta de 1555.
Na obra "Macau Histórico", o historiador português C. A. Montalto de Jesus descreve assim: "O comércio entre a Europa e o Japão era monopolizado pelo nosso país. Todos os anos mandávamos para Lisboa frotas compostas de grandes veleiros e barcos carregados de produtos de lã, roupas, objectos de vidro, relógios da Inglaterra e da Flandres e vinho de Portugal, a fim de os trocar nos diversos portos. Os barcos partiam de Goa, carregavam especiarias e pedras preciosas em Cochim, especiarias em Malaca e sândalo na ilha de Samatra, que depois trocavam por produtos de seda em Macau, sendo esta novamente trocada por oiro e prata no Japão... Finalmente, faziam mais uma escala em Macau, de vários meses, para carregar produtos de seda, almíscar, pérolas, objectos de marfim e madeira finamente trabalhados, e objectos de laca, cerâmica e porcelana, para então voltarem para a Europa".
Faria e Sousa refere na "Ásia Portuguesa" que os portugueses recebiam anualmente de Macau 53 mil caixas de produtos de seda da China. Entre 1580 a 1590, por exemplo, a seda crua que anualmente era recebida em Goa oriunda de Macau, rondava os três mil picos, num valor de 240 mil taéis. Em 1635, o número sobe para 6 000 picos.
Em suma, na época dos Descobrimentos, após as viagens de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral (1497-1501), o monarca D. Manuel I vai aplicar uma política imperialista nos mares de África e da Ásia dando início a uma nova rota das especiarias. É na chamada Carreira da Índia que serão transportados produtos como a seda, os lacados, os perfumes, as madeiras exóticas ou as porcelanas, que há séculos circulavam pela Rota da Seda.
Macau surge assim no início do século 16 como um porto de dimensão intercontinental. E os navios do império português passam a ser os novos protagonistas da milenar Rota da Seda.
A partir daqui o mundo passa a estar ligado por rotas transoceânicas permitindo o intercâmbio não só de produtos, mas também de animais, plantas, objectos, conhecimento, religião, cultura, etc... como nunca antes acontecera.
"Tabula Geodoborica Itinerum a Varijs in Cataium susceptorum rationem exhibens" da autoria de Athanasius Kircher publicado em Amesterdão em 1667 e onde pode ver-se a indicação da rota marítima.
PS: Peças deste tempo em que Macau se assumiu como o mais importante entreposto comercial internacional no Extremo Oriente podem-se ser vistas, por exemplo, no Museu do Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, e no Museu de Arte de Macau, em Macau: presentes tributários de emissários da corte imperial e dos estados com os quais possuía relações tributárias, presentes de missionários estrangeiros, tributos pagos por súbditos do império, itens adquiridos ou encomendados pela corte e produtos de oficinas imperiais ou locais, inspirados ou imitando produtos estrangeiros, etc...

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