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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

"Retratista Lamqua"

Na edição de 2 de Março de 1837 do jornal O Macaista Imparcial surge esta pequena notícia: "Acha-se em Macao o china retratista Lamqua. Qualquer Senhor ou Senhora que quizer aproveitar-se do seu préstimo dirija-se à Loja do mesmo a Santo Agostinho, em cuja porta se acha inscripto o seu nome".
Lamqua (1801-1860), também conhecido por Lin Gua ou Guan Qiao Chang terá sido um dos pupilos de George Chinnery (1774-1852) - embora este o negue* - durante vários anos em Macau até se ter afastado do mestre e montado negócios por conta própria em Cantão onde instalou um atelier na 13ª rua da feitoria.
Entre 1836 a 1855 Lam Qua fez uma série de retratos de pacientes chineses a receber tratamento do médico missionário dos EUA, Peter Parker (1804-1888). Foram essas pinturas que o tornaram o primeiro chinês a ter obras expostas no ocidente.
* vários autores o referem e até notícias de jornais de Cantão, por exemplo, em 1835...
Peter Parker retratado num quadro de Lam Qua 

Peter Parker chegou a Cantão em 1834 para levar a cabo a sua missão missionária na China e onde fundou um hospital de oftalmologia. Também em Macau o médico Parker estabeleceu um hospital entre Julho e Outubro de 1838 tratando muitos pacientes chineses com cataratas e tumores. Com o início da primeira guerra do ópio e a expulsão dos estrangeiros de Cantão o hospital de Cantão foi encerrado e Parker regressou aos Estados Unidos. Tratou cerca de 9 mil pacientes segundo relatos da época.
Antes de Parker, um outro médico do ocidente, Thomas R. Colledge (1797-1879) fizera trabalho semelhante. Em 1827 fundou em Macau um hospital oftalmológico que funcionou até por volta de 1832. Colledge saiu de Macau em Maio de 1838 rumo a Inglaterra. Desta sua experiência em Macau existem vários quadros pintados por... George chinnery.

Conhecem-se dois auto-retratos de Lam Qua; o primeiro data de meados da década de 1840  (acima); o segundo (abaixo) tem no verso uma inscrição em inglês onde se lê "Lamqua, aos 52 anos, por ele próprio, Cantão, 1853". E ainda uma inscrição em chinês com a data de 1854.

No livro Illustrations of China and its people publicado em Inglaterra em 1873/4, o fotógrafo John Thomson, que andou pela pela China, Macau e Hong Kong entre 1862 e 1872, inclui uma fotografia de Lamqua, na altura com atelier em Hong Kong.

Lamqua no atelier em Hong Kong fotografado por Thomson em 1871

Nesse livro Thomson afirma que "Lamqua foi um aluno chinês de Chinnery, notável artista estrangeiro falecido em Macau em 1852. Lamqua produziu um bom número de excelentes trabalhos a óleo, ainda hoje copiados pelos pintores de Hong-Kong e Cantão. Tivesse ele acaso vivido em outro país, e seria o criador de uma escola de pintura. Na China, seus seguidores não lograram captar o espírito de sua arte. Limitam-se a fabricar imitações servis, copiando obras de Lamqua ou de Chinnery, ou de outro qualquer, ou seja o que for, só porque tais imitações têm de ser concluídas e pagas num prazo determinado, a tanto por pé quadrado.
Há em Hong-Kong um número de pintores estabelecidos, mas fazem todos o mesmo tipo de trabalho com a mesma tabela de preços que variam de acordo com as dimensões da tela. 
Ocupam-se essencialmente da cópia para tela de fotografias. Cada atelier tem um autor de esboços que começa por cativar clientes como os marinheiros estrangeiros. Tais marinheiros encomendam o retrato de Mary ou de Susan, tão grande e tão barato quanto possível, e que deve estar pronto, emoldurado e embalado para seguir viagem em 24 horas. Os vários pintores do atelier dividem as tarefas do seguinte modo: um aprendiz dedica-se a pintar corpos e mãos, enquanto o mestre executa a fisionomia. Assim o trabalho é feito com inacreditável rapidez."

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