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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Emissões do BNU 1981 e 1984: Notas de Substituição e Notas com erro (1ª parte)

O novo regime político instaurado em Portugal em 1974, reconheceu o direito à independência das suas Colónias africanas e passou a olhar para o Território de Macau de modo diferente, criando as condições para implementar o seu auto governo.
Tal passo foi concretizado pela promulgação em 1976 da legislação que ficou conhecida como o “Estatuto Orgânico de Macau”.
A autonomia financeira e administrativa aí comtemplada levou à criação de uma instituição do tipo de Banco Central que foi designada de IEM-Instituto Emissor de Macau, tendo funcionado entre 1980 e 1989.
Para o IEM foi então transferido o privilégio de emissão de notas. Porém, por contracto de 15-10-1981 o BNU foi designado o seu Agente exclusivo e seu Banqueiro, continuando a emitir notas, já não em seu nome, mas por conta e ordem desse Instituto.
A primeira emissão de notas criada nesse regime foi datada de 8 de Agosto de 1981, com denominações de 5,10,50,100 e 500 patacas e foi adjudicada a um consórcio entre a INCM –
Imprensa Nacional Casa da Moeda e a Bradbury Wilkinson, em 07-04-1981.
Como sempre acontece, pedia-se urgência na estrega das notas. Para encurtar o prazo, foi dispensada a utilização de papel com marca de água nas denominações mais baixas, 5 e 10 patacas, e utilizou-se a mesma marca de água “Luís de Camões” da anterior nota de 50 patacas de 1976 nas restantes.
Emissão de 1976

Como novidade, todas as notas eram também assinadas pelo Director Geral do Departamento de Macau, neste caso Abílio Dengucho. Também, o nome do banco em língua chinesa foi substancialmente abreviado.
Foram acordadas duas entregas, uma em finais de 1981 e a segunda em meados de 1982.
A primeira entrega chegou por via aérea a Hong Kong em 15-12-1981, tendo as notas entrado em circulação em 11-01-1982.
Porém, logo um mês depois, em 19-02-1982 o BNU informava o seu fornecedor ter identificado anomalias no fornecimento das notas das mais altas denominações.
Tratava-se de deficiências na visualização de elementos de segurança, apenas visíveis sob luz ultra violeta. Já antes dessa data a imprensa local fazia eco dessa situação. O alarme era reforçado pela existência à data de falsificações muito perfeitas de notas de Hong Kong que levava a que todo o comércio utilizasse a luz ultra violeta nas notas que recebia transferindo o mesmo procedimento para estas novas notas de Macau.
As notas de 50, 100 e 500 patacas deveriam apresentar no canto superior esquerdo, no centro e no canto inferior direito a numeração correspondente à sua denominação, quando exposta a esse tipo de luz. Acontece que na realidade, nessas condições, esses números ou simplesmente não eram total ou parcialmente visíveis, ou quando apareciam só com muita dificuldade eram detectados.
Curiosamente, nos espécimes que conheço, esses elementos são também dificilmente visíveis, mas numa fase anterior, numa prova da nota de 500 patacas com data provisória de 26-02-1981 e com indicação manuscrita de “Approved telex 31.7.81” esses elementos são muito bem visíveis, exactamente como viria a acontecer a partir de 1984.
Os fabricantes assumiram de imediato as suas responsabilidades e logo em Março foram iniciadas negociações para resolver o problema, tendo sido acordado:
- Nada fazer relativamente às notas já em circulação
- Promover a antecipação do envio de parte da segunda entrega (900.000 notas) e assumindo o fabricante o custo do envio por via aérea.
- Destruir as notas de 50,100 e 500 patacas ainda não postas em circulação (558.000 notas)
- Imprimir notas de substituição com as mesmas numerações e assinaturas, a fornecer na data da impressão de um próximo reforço da emissão.
- Assumir as penalizações contratuais.
Nos cofres do BNU em Macau estavam nessa altura:
- 168.000 notas de 50 patacas
- 250.000 notas de 100 patacas
- 140.000 notas de 500 patacas
Notas de Substituição e notas com erro

No decorrer dessa negociação, a Bradbury Wilkinson informou que os seus serviços de controlo interno não autorizavam a atribuição a notas de substituição das mesmas numerações das notas que vão substituir a não ser que estas lhe fossem devolvidas.
Como, em resposta, o BNU fez notar que os custos desse reenvio seriam suportados pelo fabricante, foi acordado fazer a incineração das notas em Macau e lavrar o respectivo auto, o
que foi feito, com a presença de representante do IEM em 15-10-1982 e dele enviada cópia aos fabricantes.

Telex de 17.2.82
Telex de 18.6.82

Acontece que, quando finalmente se deu início ao fabrico dessas notas, no que se refere às notas de 50 patacas, ocorreu um lapso nas instruções transmitidas como se pode constatar pelo documento abaixo.

Foi indicado que as 71.000 notas de substituição do intervalo KC 01001 - KC 72000 fossem ser assinadas pelo Presidente, quando na realidade deveriam ser assinadas pelo Vice-Presidente. Estas notas são portanto notas com erro o que as torna das mais apetecíveis destas séries. No entanto, muito mais raras são as notas originais desta série KC assinadas pelo Vice-Presidente, visto que foram apenas emitidas 4.000 notas, as que constam dos intervalos KC 00001 - KC 01000 e KC 72001 – KC 75000.
Acredito que muito poucas destas 4.000 notas tenham sobrevivido, pois não me lembro de ter visto no mercado mais que 2 exemplares. Estranhamente, mesmo nas notas de substituição o efeito da fluorescência não é muito evidente.
Continua...
A Série KC assinada por “Presidente” (1ª imagem) é um erro.

Nota de substituição: nota impressa para substituir outra com algum defeito, com o objetivo de manter em circulação um certo montante autorizado. Normalmente a sua numeração é diferente e identificada por um asterisco (star notes) ou diferentes letras, normalmente Z ou ZZ. Por serem mais raras são normalmente mais valiosas para os colecionadores
Emissões de notas do BNU: décadas 1980 e 1990

Nota: versão em língua portuguesa do artigo da autoria de Parcídio Matos publicado no Nº 57.4 da revista da INBS – International Bank Note Society intitulado “MACAU The 1981/1984 BNU issues. Replacement and Error notes”

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