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sábado, 11 de janeiro de 2020

"Kan-Hi, emperador da China" e Tomás Pereira

"Por cartas de Macao se recebeo a notícia de haver falecido Kan Hi, Emperador da China*, e da Tartaria Septentrional, e Oriental, em Peckim, a 20 de Dezembro de 1722 em idade de 69 annos, 7 mezes, e 25 dias, havendo reinado perto de 62 annos, causando grande sentimento a sua perda a todos os Christãos, por haver sido em quasi todo o seu reinado Protector dos Missionarios, que tem dilatado por todos os seus Dominios a cultura das cearas Evangelicas, com grande fruto, e gloria da Religião Christã. Succedeolhe no throno, e Dominio dos seus grandes Estados seu filho quarto Yon-Te-Him, que se acha em idade de 40 annos."

Notícia publicada na edição de 17 de Agosto de 1724 da Gazeta de Lisboa Occidental. A publicação, primeiro jornal oficial português com o título Notícias do Estado do Mundo, surgiu em 1715, durante o reinado de D. João V, sob o nome de Gazeta de Lisboa. O nome do principal periódico de informação política portuguesa, publicado entre 1715 e 1820, foi alterado ao longo dos anos.


* O Imperador Kangxi (1654-1722) foi o terceiro imperador da dinastia Qing, a última dinastia imperial chinesa de origem manchu, e o segundo que reinou sobre a China toda, consolidando a conquista do território que estivera sob a soberania da anterior dinastia Ming.
O jesuíta português Tomás Pereira foi o que mais próximo esteve deste imperador com quem privou mais de 30 anos. Foi a música que fez Tomás Pereira ser chamado a Pequim quando estava ainda em Macau (antes passara por Goa, onde foi ordenado) pelo padre Ferdinand Verbiest, então Administrador do Calendário, um cargo importante na corte que Pereira viria a desempenhar. Para além da música também ensinou álgebra e aritmética ao imperador.
O jesuíta, que recebeu o nome chinês de Xu Risheng (徐日昇), chegou a Macau em 1672, com a missão de evangelizar os chineses, função a que se dedicou até morrer em 1708. Na imagem ao lado o documento enviado ao Conselho do Santo Ofício sobre as condições e privilégios com que o imperador da China cedeu a cidade aos portugueses, e da instalação de dois tribunais: Justiça e Fazenda."
A carta-resposta foca-se em dois pontos principais: o primeiro trata da cessão das terras aos portugueses, e o segundo é sobre as actuações dos Tribunais, ocorrida na China a 23 de Setembro de 1690. Inclui certificado de autenticidade do traslado feito por João de Sousa e consertado pelo comissário José da Silva em Macau, a 15 de Novembro de 1690.(pormenor das assinaturas na imagem acima) 

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