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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

"Chegaram os primeiros refugiados portugueses de Xangai"

O primeiro período da diáspora macaense ocorreu em meados do século XIX e os principais destinos foram Hong Kong (a nascer na altura) e Xangai. Em 1877 já existiam 300 portugueses em Xangai e em 1883 passam para o dobro. Entre 1880 e 1952 foram perto de 5 mil.
Os movimentos migratórios macaenses seriam marcados pela invasão japonesa a partir de 1937, a II Guerra Mundial e a Guerra Civil na China, que obrigou milhares de macaenses residentes em Xangai a regressarem a Macau. 
Sobre este último conflito, o jornal Notícias de Macau dá conta da chegada do primeiro grupo de "refugiados portugueses de Xangai" a Macau a 19 Maio de 1949.
Primeira página do jornal Notícias de Macau. Edição de 19 de Maio de 1949
Na década de 1940 na cidade chinesa de Xangai estavam registados no consulado português 1214 portugueses/macaenses. Com a guerra civil chinesa regressaram a Macau e em 1950 já eram apenas 61 os registados em Xangai (iriam depois para o Japão).
Entre 1949 e 1951 Macau acolheu perto de 500 refugiados oriundos de Xangai. Muitos deles já eram portugueses/macaenses de segunda geração, ou seja, nascidos nas cidades que os pais escolheram para viver. A partir do território, que mais uma vez mostrava a sua solidariedade, estes macaenses partiriam para uma nova diáspora e espalharam-se por cinco continentes estabelecendo-se em países como Brasil, Austrália, EUA, Canadá e Portugal, entre outros. O padre Lancelote Rodrigues iria destacar-se no apoio aos refugiados em Macau.

Sugestão de leitura: Romance "A Mãe" de Rodrigo Leal de Carvalho.
Este romance inspira-se em factos reais e narra a saga de Natasha Korbachenko. Nascida na Sibéria, exilada para a Manchúria devido à revolução bolchevista, Natasha parte depois para Xangai, onde sobrevive dedicando-se à prostituição. Ali conhece um estudante russo judeu (Vassili Yakovitch) com quem casa e tem cinco filhos. No momento em que Vassili se torna professor numa instituição de ensino superior em Xangai, eclode a guerra do Pacífico, sendo Xangai ocupada pelos japoneses, que iniciam uma perseguição aos judeus. A família Yakovitch foge para Macau onde irá viver enquanto aguarda a chegada de um visto de entrada nos Estados Unidos. No final da guerra, todos os vistos para entrada da família nos EUA são aprovados, menos o do filho Ivan, por ser deficiente mental. São então assolados pelo terrível dilema entre desistir do sonho americano ou abandonar o filho em Macau.
Excertos:
 “Macau estava cheia de refugiados das mais variadas províncias da China, de países do Sueste Asiático e outros, fugidos às fomes e à guerra, europeus de múltiplas nacionalidades, de Hong Kong e de Xangai, todos à procura de abrigo”. (...) 
“Mas para ela e para a família que não tinham passaporte? E quem não tem passaporte, não tem pátria. Sem papéis, não se é ninguém, não se existe. (...) ”

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