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quarta-feira, 17 de julho de 2019

A inauguração do "Capitol"

Notícia publicada a 24 de Fevereiro de 1931 no "Jornal de Macau" da autoria de T. B. (Artur Tancredo Borges):
"Nesta terra, em que as iniciativas já de si tão raras, nem sempre encontram apoio das entidades de quem depende muitas vezes a sua realização, é para louvar o empreendimento que classificamos de arrojado dum grupo de capitalistas, entre eles, o nosso amigo Sr. Alfredo Maria da Luz, de construir aqui um teatro para exibição de filmes sonoros. O edifício, cuja construção está em vias de terminar, contém, além da plateia que é assaz vasta, um andar superior, bastante amplo, com frisas e camarotes, dando assento a cerca de 800 pessoas.
O sistema reprodutor de som parece ser da casa Western Electric Company que foi a primeira a produzir esses aparelhos, os quais estão hoje montados em mais de 7 500 teatros do mundo, sendo 5 000 teatros na América, 1 000 na Grã-Bretanha, 300 no Canadá, 300 na Austrália, 200 na Europa e 100 na Nova Zelândia.
Na China mesmo, há 11 cinemas sonoros em Shanghai, 2 em Cantão, 1 em Amoy, 1 em Tientsin e 1 em Peking. Os 3 teatros existentes em Hong Kong, todos possuem aparelhos Western, tendo o novo teatro King's contratado também com essa casa, a montagem do seu sistema sonoro.
É, pois, motivo de regozijo para o público de Macau saber que vamos ter em breve um teatro, onde se poderão ver e ouvir os melhores artistas que as Companhias cinematográficas têm conseguido contratar com os estudios, permitindo ao mundo inteiro apreciar os dotes admiráveis da sua voz, ao mesmo tempo que vê desenrolar ante os seus olhos as cenas mais luxuosas que a imaginação pode conceber.
O cinema é uma bela escola, mas convém escolher os filmes, porque em Hollywood há uma nova noção de moral, que será conveniente que não ultrapasse as suas raias...
Os nossos parabéns, pois, à empresa que conseguiu trazer para este cantinho esta nota de progresso, proporcionando aos seus habitantes esses momentos de prazer que uma boa fita sempre pode dar.
Augurando o melhor êxito ao Teatro Capitol, fazemos votos para que a sua inauguração se realize o mais rapidamente possível."
O Capitol - na rua de S. Domingos - seria inaugurado a 13 de Abril de 1931 - com o filme The Love Parade - com a presença do Governador, Comandante Joaquim Anselmo da Matta e Oliveira, e da Banda Municipal, sob a regência de Constâncio José da Silva que tocou o Hino da Maria da Fonte. O acontecimento foi noticiado no "Jornal de Macau" a 21 de Abril:
"S. Exa., acompanhado pelos dignos Directores da empresa, subiu ao palco e abriu o pano de bôca, e, em seguida, dirigiu-se à casa de máquinas e à sala da Direcção, onde por esta lhe foi oferecida uma taça de champanhe".
O jornal publica ainda parte dos discursos. Atente-se no de Alfredo Maria da Luz, um dos sócios do novo cinema:  "Já há muito, Sr. Governador, que em Macau se fazia sentir a falta dum cinema moderno. Não havia, e isto seja dito sem ofensa para ninguém, um edifício digno deste nome. Não data de há pouco a ideia de dotar Macau com este melhoramento. Há nada menos que três anos que a ideia foi lançada e se não foi posta em prática há muito mais tempo foi porque dificuldades de ordem vária a isso se opuseram. Hoje vemos finalmente reali-zado o nosso desejo e não é sem um legítimo orgulho que constatamos o facto. Não queremos pretender que este teatro não tenha as suas deficiências, mas numa terra onde tantas tentativas falham, ele representa um grande esforço da Direcção. Nesta ordem de ideias, ela espera que o público, compreendendo o alcance desta obra, a acompanhe com a sua cooperação, e ousa também esperar de V. Exa., Sr. Governador, a sua valiosa protecção."

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