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domingo, 5 de maio de 2019

Peregrinaçam

Em 1537 Fernão Mendes Pinto parte para a Ásia numa armada de cinco naus comandada por D. Pedro da Silva... A vida de mercador aventureiro deve ter começado por volta dos anos 1539-1540. É então enviado a Malaca ao Rei de Aru em Samatra e a Patane, na costa oriental na Península Malaia e Sião.
Em 1541 e 1543 vive em Martabão, no reino de Pegu, servindo no exército do Rei da Birmânia. Chega à China o mais tardar em 1543 e integra-se na redes de comércio entre Sião, Pegu, China e Japão. Os portugueses começam a fazer comércio em Macau por volta de 1535 e aí a residir na década de cinquenta. 
A carta de Fernão Mendes Pinto, escrita em Macau a 20 de Novembro de 1555, é o primeiro documento português feito em Macau. Escreveu, entre os anos de 1568 e 1578, a “Peregrinação”, considerada uma obra de literatura de viagens, publicada pela primeira vez em 1614. Fruto das vivências asiáticas do autor e das suas leituras, a Peregrinação descreve a cultura asiática foi considerada na época um dos maiores sucessos da cultura portuguesa.
"E digo isto porque assim o posso afirmar com verdade, pois ambos estes sucessos vi com meus olhos, e em ambos me achei presente com assaz de perigo meu..."
Este excerto parece deitar por terra a versão dos seus críticos, que lhe chamaram "Fernão Mendes... Minto", a propósito das descrições porventura demasiado fantasiosas alegando que não testemunhou tudo o que escreveu. Seja como for, no que à história dos primeiros tempos de Macau diz respeito a sua versão bate certo com a da documentação chinesa existente, com as fontes chinesas (ver último texto deste post).
Em Janeiro de 1583 o Rei Filipe I concede-lhe uma tença anual de 2 moios de trigo. Morre a 8 de Julho desse ano na sua quinta do Pragal (Almada). Alguns excertos da "Peregrinação" sobre Macau:
Partindo desta ilha de Champeiló fomos demandar as ilhas de Cantão e aos cinco dias da nossa viagem prouve a Nosso Senhor que chegássemos a Sanchão que era a ilha onde fora enterrado o padre mestre Francisco* como disse atrás. Ao outro dia pela manhã toda a gente da frota desembarcou em terra e fomos todos em procissão ao lugar do jazigo do santo padre o qual achámos já todo coberto de ervas e de mato sem se verem dele senão as pontas das cruzes de que estava cercado porém logo por todos foi limpo e preparado com muita devoção e após isto fechado com umas grades de pau fortes e por fora fez se mais outra estacada e todo o chão ao redor foi muito bem limpo e alisado e toda esta obra foi cercada a toda a roda de muito bons valos à entrada dos quais se colocou uma cruz muito alta e muito formosa. (...)
Ao outro dia pela manhã partimos desta ilha de Sanchão e ao posto chegámos a outra ilha que está mais adiante seis léguas para o chamada Lampacau onde naquele tempo os Portugueses faziam o seu com os Chins e aí se fez sempre até ao ano de 1557 quando os mandarins Cantão a requerimento dos mercadores da terra nos deram este porto de Macau onde agora se faz no qual sendo antes ilha deserta fizeram os nossos uma povoação de casas de três e quatro mil cruzados e com igreja matriz (...); officiais de justiça; tão confiados & seguros estão nella com cuydarem he nossa como se ella estivera situada na mais segura parte de Portugal quererá nosso Senhor pela sua infinita bondade & misericordia que esta segurãça seja mais certa & de mais dura do que foy a de Liampoo que foy povoação de Portugueses de que atraz já fiz larga menção avante desta legoas para o Norte a qual pelo desmancho de hum Portuguez em muyto espaço de tempo foy de todo destruyda & posta por terra na qual me eu achey presente & nella ouve hua inestimavel perda assi de gente de fazenda porque tinha esta pouoação tres mil vezinhos de que os mil duzentos erão Portugueses & os mais gente Christam de diversas naçoes segundo se affirmou por dito de muytos que bem o sabião passava o trato Portugueses de tres contos douro de que a mayor parte era em prata de que avia dous annos que se descubrira & que se dobrava o dinheyro tres quatro vezes em qualquer fazenda que para là se levaaa. Nesta povoaçaõ capitao que residia na terra a fora os particulares das naos da carreyra. (...)
* referência a S. Francisco Xavier

A primeira crónica provincial elaborada após a sucessão da dinastia Ming pela Qing - Kangxi Guangdong Tongzhi (Crónica Geral da Província de Guangdong) - regista no Livro XXVIII sobre “Relações Externas” o seguinte: 
“No 34.º ano (1555), o Grande Coordenador (de Guangdong) convocou, mediante um ofício, Wang Hong, entre outros comerciantes do Distrito de Fuliang (hoje, Jingdezhen) à sua repartição e incumbiu o Gangji (Agente-chefe, nomeado pelo governo para tomar conta dos comerciantes estrangeiros) He Chude, de os levar aos barcos dos bárbaros para comprar o âmbar cinzento. Conseguiram sucessivamente um total de 11 taeis do âmbar cinzento.”

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