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sexta-feira, 5 de abril de 2019

A paisagem como 'protagonista' nas obras de Henrique de Senna Fernandes: 1ª parte

Exímio contador de histórias e criador de personagens-tipo da sociedade macaense, Henrique de Senna Fernandes (1923-2010) reproduz de forma fiel nas suas obras a paisagem de Macau desde o final do século 19 até ao século 20. As descrições são de tal forma minuciosas que é como que elas próprias se tornassem protagonistas dos contos ou romances.
São muitos os exemplos. Neste post fico-me pelo romance "Os Dores", publicado postumamente em 2012, e pela antiga Baía da Praia Grande. A história do romance passa-se nos primeiros anos de 1900.
Macao bay (Praia Grande) por George Chinnery
“A Baía da Praia Grande recobriase de oiro e sol que declinava atrás da Ilha da Lapa. A água da enchente reverbava em cintilações resplandecentes, murmurava em soliloquies junto da muralha de granito, mas ao longe batia forte nas pedras extremas do fortim 1 de Dezembro. Juncos preguiçosos nos ancoradouros recolhiam as velas. Lorchas e sampanas balanceavam ao sabor da maré. Tancares diminutos, em labor incessante de vaivém, riscavam em tiras de espuma o manto esverdeado da água dos princípios de Setembro. Nos cais de pedra, em plano inclinado, desembarcava-se o pescado do dia, em cestas de vime. (...) 

A orla do casario da Praia Grande, em curva graciosa, duma ponta à outra, desde o Grémio Militar à arruinada Fortaleza do Bom Parto resplandecia, ornada de árvores frondosas (…) Identificou alguns edifícios, a ermida da Penha, o Hotel Bela Vista, o Palacete de Santa Sancha, o Palácio do Governo, o Tribunal, os contornos superiores da Igreja de S. Lourenço, do Seminário de S. José e da Sé Catedral.”

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