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terça-feira, 12 de março de 2019

Vista do jornalista José de Freitas à China: 1964

Entre 6 e 22 de Abril de 1964 o jornalista José de Freitas, do “Diário Popular” viajou pela China ao serviço daquele jornal tendo publicado inúmeros artigos. José de Freitas já conhecia Macau e publicara em 1941 “A China Antiga e Moderna” pela Biblioteca Cosmos, dirigida por Bento de Jesus Caraça. Filho de uma das lendas do jornalismo republicano da primeira metade do século, Amadeu de Freitas, José seria porventura o mais sinólogo dos jornalistas portugueses da década de 1960, e não escondia a simpatia pelo regime chinês.
As quinze crónicas - "Viagem num Mundo Diferente" - sobre a viagem à China foram redigidas já em Lisboa e publicadas no Diário Popular, sempre com destaque de primeira página, a partir do dia 7 de Maio e até ao dia 26. Freitas publicaria ainda um livro sobre esta viagem intitulado “A China Vence o Passado”.
Edição de 21 de Maio de 1964

O pedido de visto para José de Freitas ir à China foi feito em 1963 e só seria aceite um ano depois. Portugal e China não tinham relações diplomáticas. De um lado estava Salazar, do outro Mao que, segundo Freitas, "estava em todo o lado". Entre as inúmeros restrições impostas, nomeadamente de fotografar, José de Freitas foi obrigado a ter um “acompanhante jornalista”, Choi Hong Seong, que serviu de intérprete e guia. 
Ainda assim, escreveu numa das crónicas: "Visitei a China como jornalista independente, alheio a quaisquer combinações, sem a subordinação dos convites, exclusivamente com dinheiro do meu jornal." E... "Durante a minha estada na China deram-me sempre muito mais jantares do que notícias".
Um dos episódios desta visita mereceu chamada de capa numa das edições do DP, a 21 de Maio de 1964 (imagem acima) com o título "Uma Explosão Atómica parecia o temeroso espectáculo a que assisti na imensa planície chinesa de Hopei". O episódio ocorreu a 12 de Abril e deu-se quando o jornalista viajava de comboio em direcção a Pao Ting.
"Quase na linha do horizonte, não posso precisar a quantos quilómetros de distância, formara-se uma nuvem mais cinzenta do que o próprio céu cinzento, a destacar-se, com contornos nitidamente limitados, claramente definidos. Tinha a vaga forma de um cogumelo. (...) Dentro da própria nuvem havia laivos negros. (...) Depois do cogumelo grosseiro, era uma cunha, como se fora um triângulo suspenso no céu, para mudar de tamanho e tomar o aspecto de uma bola achatada. Parecia que dentro da nuvem – no seio da própria nuvem – havia uma força inteligente que a domava e afastava ou aproximava de nós, a movia no espaço para um lado, para outro, dando-lhe sempre formas variadas e singulares. (...) O estranho fenómeno, o cogumelo, o trágico cogumelo, estava agora cada vez mais negro, raiado de preto. Depois agitou-se num vaivém e desfez-se. O espectáculo singular demorara pouco mais de cinco minutos."

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