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sábado, 15 de novembro de 2014

Quem se lembra do Grande Prémio de 1967?

10º GP de Macau em 1963. Ted Carter com o seu Braham nº 27 numa corrida onde o vencedor foi Arsenio Laurel pela segunda vez com um Lotus (º 22).
Em 1967 realizou-se a 14ª edição do Grande Prémio de Macau. Para os chineses, muito supersticiosos, o 4 é número de mau agoiro. Lê-se "sei" em cantonense. Se juntarmos o dez ao quatro, temos 14 (sáp sei) e uma combinação mortal.  Significa qualquer coisa como “morrer de certeza”.

Após os eventos de Dezembro de 1966 e com os reflexos da revolução cultural chinesa ainda a fazerem-se sentir em Macau esta edição esteve para não se realizar devido a uma ameaça de um grupo maoista denominado “The Red-May Rebelious Combat Squad-Macao” / Esquadrão de Combate da Rebelião Maio-Vermelho-Macau.
Os guardas-vermelhos (diga-se que em Hong Kong passaram das ameaças aos actos com bomas a explodir, o que não aconteceu em Macau) e as mensagens anti-imperialistas acabaram por conseguir parte dos seus intentos e pilotos como Albert Poon hesitaram participar. Segundo relatos da época, a determinação da organização do GP, onde estava, Henrique de Senna Fernandes, em realizar as corridas ajudou a desanuviar o ambiente.
Perante tamanha tensão o governo de Macau disponibilizou cerca de 500 militares e 400 polícia para efectuar segurança às provas e participar como, por exemplo, bandeirinhas. E até o papel de seguradora teve de assumir face à vida dos pilotos. Teddy Yip terá oferecido aos participantes cerca de 100 dólares de Hong Kong em fichas para gastarem no seu casino.
Após intensas negociações a comissão organizadora terá recebido a garantia por parte dos dirigentes comunistas chineses de Macau de que a carta-ameaça não teria efeitos no território. Assim, em vésperas do GP ter início (Novembro) os carros embarcaram de HK rumo a Macau.  
Albert Poon, ex-polícia da vizinha colónia, teve mesmo uma autorização especial para andar armado. Diz-se que até ao volante do seu Brabham não dispensou a protecção de um revólver Browning de 14 disparos num coldre. Terá mesmo afirmado “levo comigo 14 destes meliantes antes que acabem comigo“.
A edição de 1967 acabou por decorrer sem incidentes externos às corridas e contou mesmo com uma grande afluência de público (cerca de 20 mil visitantes), a maioria oriundo de HK. A corrida mais importante foi disputada por 16 carros e quem chegou em primeiro foi Tony Maw com um Lotus 20.
Voltando à superstição. A verdade é que os incidentes, ou melhor, acidente, aconteceram. Nesta mesma prova o já famoso piloto filipino acabaria por morrer. Arsénio “Dodgie” Laurel colidiu contra o muro da recta da Praia Grande a alta velocidade e o carro acabou por se incendiar. Era um fórmula Lotus 41. Já reparam nas vezes que o número 4 aparece nesta história?
No museu do GP em Macau
Charlie Santos, há muitos anos radicado no Brasil recorda assim o piloto.
"O filipino Arsenio "Dodjie" Laurel foi, com certeza, o maior de todos os pilotos da fase amadora (anos 50 e 60) do Grande Prémio de Macau de automobilismo. Foi o primeiro a conseguir duas vitórias consecutivas (1962 e 1963) na corrida anual de Macau, pilotando uma Lotus Ford 22. A sua vitória em 1962 foi simplesmente espectacular... algo, até então, jamais presenciado pelos fãs de automobilismo de Macau.
Tendo chegado ao Circuito da Guia apenas um dia antes do Grande Prémio, largou na última posição e em menos de trinta voltas (metade da corrida), ultrapassou todo mundo. Infelizmente, Arsenio Laurel, foi a primeira vítima fatal da história do Grande Prémio de Macau. A grande tragédia aconteceu nas primeiras voltas da corrida de 1967 quando o inesquecível piloto perdeu o controle do seu carro na curva do antigo Clube Náutico. Chorei muito naquela tarde cinzenta de 19 de Novembro de 1967."

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