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sábado, 19 de julho de 2014

"O Turismo em Macau": 1929 (2ª parte)

Macau, terra de turismo
“Mgr. Fourquet, Bispo de Cantão, escrevendo sobre Macau, ‘cujo nome evoca um passado de glória’, chama-lhe ‘um farol da mais bela cultura do mundo, uma opulenta relíquia do passado, à qual deve respeito, veneração, louvor e reconhecimento’. Sir John Bowring consagrou a Macau o nome de ‘Pérola do Extremo-Oriente’. Eudore de Colomban disse: ‘Macao! Mais c’est lénchantement dans la réalité, le rêve dans sa splendeur, le calme dans le mouvement, le silence dans la Majesté, l’isolement dans le passé!’ ‘Jamais il n’y eut, sous le ciel d’Asie, de cité plus êtrange!’ ‘Jamais on n’eu connut d’aussi historique, d’aussi pieuse et d’aussi attrayante’!
E quantos outros visitantes de Macau não sentiram e pensaram como os que acabamos de citar, sem que tenham escrito as suas impressões! Cremos que, tudo isto que apontamos, basta para dar a Macau justificados foros de terra de turismo. Mas não são só os seus velhos pergaminhos e as suas lindas paisagens e exóticos costumes que dão a esta colónia verdadeiro motivo de reclame para o turismo. Há mais.
A vida do europeu no Oriente é uma vida intensa de trabalho e de esgotamento, que o clima auxilia e agrava. Na generalidade, os grandes centros onde vivem europeus, como Xangai, Hongkong, Cantão, Saigão, etc., são campos de luta activa, de movimento intenso onde as forças se depauperam, pelo que necessitam de repouso periódico.
Macau, se bem que ofereça hoje actividades que há anos não tinha, ainda é um meio de grande quietação comparado com os outros empórios orientais, e tem um clima incomparavelmente melhor. O clima de Macau não pode comparar-se com o magnífico clima de Portugal! Mas comparado com o do norte da China, de Xangai, por exemplo, onde se sentem as temperaturas extremas, desde o intenso frio das ruas cobertas de neve ao calor tórrido que amolece o asfalto, ou com o da tropical Indo-China e até com os das tão vizinhas cidades de Cantão e Hongkong, o clima de Macau oferece uma superioridade tão manifesta e tão grande, que muito é de admirar que, em quase quatro séculos da nossa ocupação desta minúscula mas privilegiada península, não tivessemos ainda atentado devidamente nesta circunstância, com o que muito beneficiaria não só a colónia como todos os que neste clima pudessem e desejassem procurar descanso e encontrar alívio para os seus males. Macau é, pois, com todas as comodidades que os seus magníficos e modernos hotéis proporcionam, uma terra apropriada para uma estação de repouso e de cura dos europeus que no Oriente trabalham.
A propósito vem citar mais uma passagem do artigo do autor já citado, Sydney Greenbie, a respeito de Macau: ‘Esta velha cidade verdejante tinha-se tornado o grande empório para o comércio europeu no Leste da Ásia, e era por meio dela que todos os estrangeiros no Oriente iam comerciar ou em busca de repouso e distracção’. Isto é: desde há séculos que os estrangeiros procuravam Macau também como estação de repouso e de recreio. Sem que seja necessário um estudo comparativo entre os elementos climatológicos de Macau e doutros centros europeus importantes do Extremo Oriente, basta esta simples e insuspeitíssima indicação extraída do terceiro volume do ‘China Sea Pilot’, página 430, para confirmar o que deixamos exposto: ‘Durante a estação quente, Macau, ficando aberta à monção do Sudoeste, é mais agradável e salubre do que Hongkong, que fica apenas a 40 milhas de distância’. (...)”
Em defesa do turismo e do jogo
“Esta nossa colónia tem, pois, condições climatéricas excepcionais para o estabelecimento de uma estação de repouso, com sanatórios, onde uma parte da população europeia, que labuta nestes climas exaustivos, podia, com toda a facilidade, encontrar o alívio que, em geral, com grandes sacrifícios tem de ir procurar ao seu país natal. Este assunto, deve notar-se, já foi considerado, e ainda ultimamente correu em Macau que uma empresa australiana viria explorar uma instalação de sanatórios na ilha da Taipa ou de Coloane, que oferecem, para aquele efeito, ainda melhores condições de salubridade do que Macau.
Mas, entre outros, um óbice se levanta a uma realização desta natureza: o jogo. A instalação duma estação de repouso destinada a gente dispondo de meios de fortuna, necessariamente exige a existência de casinos e outros meios de diversão, e, portanto, o estabelecimento do jogo. Porém, o jogo em Macau constitui de há muito o ‘leitmotiv’ de quantos pretendem denegrir a nossa acção colonizadora no Oriente, a ponto de se ter espalhado pelo mundo a blague insidiosa de que Macau é a ‘Mónaco do Oriente’. (No Guide Madrolle ‘Baie de Há-Long’ de 1925, publicado pela casa Hachette, ainda se vai mais além: chama-se a Macau o ‘Monte Carlo Asiático’!)
Os chineses são, por índole, essencialmente jogadores! Jogam com tudo, a propósito de tudo, tanto dentro de casa como no meio da rua, servindo-se até só dos dedos quando não têm outro instrumento para jogar: mas, de todos os jogos, o ‘Fan-Tan’ é o que mais os apaixona, jogo que nós, ‘bárbaros do ocidente’, não apreciamos tanto como eles. Na China inteira joga-se e em Macau permite-se só o ‘Fan-Tan’, que é frequentado quase exclusivamente por chineses e proibido aos funcionários da colónia. E nisto se resume o Monte Carlo do Oriente! Se o jogo é permitido em certos locais de luxo e de prazer, porque não há-de sê-lo também em Macau, devidamente regulamentado, como está em vários países da Europa, e até em Portugal?

Macau tem muitas possibilidades comerciais e industriais, sendo de esperar que continuem a progredir; mas tem também condições turísticas de primeira ordem que seria um crime não aproveitar nem fomentar.(...) O turismo pode e deve, pois, tornar-se uma das mais importantes indústrias desta colónia, que hoje com a nova estrada para Seac-Ki, é uma porta aberta para a China, por Cheong-San. A criação de sanatórios nas ilhas, que tem todos os requisitos exigidos para estâncias modernas, onde os europeus que vivem no Extremo Oriente pudessem descansar e retemperar as suas forças, com que se poupariam, não só a eles mas aos próprios governos, frequentes e dispendiosas viagens à Europa, impõe-se por uma forma tão clara ao nosso espírito que não vemos razão plausível que obrigue a retardar, por mais tempo, a execução de uma tão importante medida. As corridas de cavalos, feitas num dos campos melhores e mais bem situados do Extremo Oriente, subordinadas a um plano convenientemente organizado e seguido, poderiam contribuir para, em determinadas épocas, chamar a Macau grande quantidade de forasteiros, que viriam dar à colónia a vida que lhe falta, o que seria enormemente facilitado com o estabelecimento de comunicações bastante mais rápidas entre Hongkong e Macau. Mas também é preciso continuar a embelezar e a modernizar Macau, e a facultar-lhe todos os meios para o seu desenvolvimento.
Muito há já feito em Macau para valorizar as suas excepcionais condições de turismo; mas muito falta ainda fazer para concluir o seu inteiro aproveitamento, e para manter esta colónia à altura do que representa: o expoente máximo da beleza do nosso passado de aventuras heróicas e nobres tradições”.

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