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sexta-feira, 7 de março de 2014

Rampa dos Cavaleiros

A estrada da Bela Vista ia da D. Maria à Areia Preta
A Rampa dos Cavaleiros começa no entroncamento das Estrada de Ferreira do Amaral com a Estrada da Bela Vista e termina em frente da Estrada da Areia Preta, na Rua de Francisco Xavier Pereira. Os cavaleiros eram britânicos, cuja comunidade, no século XIX e até à fundação de Hong Kong, em 1841, possuía junto às Portas do Cerco o seu hipódromo. Isto apesar da proibição do mandarim da Casa Branca que mandou afixar um edital a 28 de Abril de 1829.
O mandarim de Heong-Sán  enviou um ofício ao procurador da cidade de Macau, "intimando-lhe que proibisse aos residentes ingleses renovarem à sua custa, como intentavam, a estrada do Campo de Mong-Há; e passearem nela a cavalo, pois com tais consertos e passeios afrontavam as sepulturas dos chinas e as barracas dos pescadores".
Na origem deste edital está o facto do mandarim, de visita a Macau ter visto "os Estrangeiros fazerem carreiras de cavallos na Praia da Porta do Cerco, lugar onde costuma passar gente, q. vai e vem; e receando-se, por isso, que acontecesse algum desastre a algum viandante de que redundassem desordens entre os Europeus, e Chinas; pelo Lingoa tinha advertido ao Procurador para a mandar prohibir. Porém lhe consta que os Estrangeiros tornarão a fazer carreiras, o que na verdade não hé coisa boa. Portanto, pondo em esquecimento o passado, manda elle Mandarim publicar este Edital para que os Estrangeiros saibão e daqui por diante obedeção os Estatutos do Império, e não tornem a fazer carreiras de cavallos na praia da Porta do Cerco (...)"  
Segundo Monsenhor Manuel Teixeira "este edital ficou letra morta e as corridas continuaram"... com grande entusiasmo e muitas apostas. Vários livros sobre a comunidade inglesa do século XIX naquelas paragens referenciam as corridas de cavalos. Num desses livros, o diário de Harriet Low (americana), referente a 1829 - ficamos a saber que o "campo mede cerca de três quartos de milha".
O campo de corridas está no lugar chamado a Barreira, que impede todos os estrangeiros de passarem além. O campo mede cerca de três quartos de milha. Havia lá uma casa provisória de bambú construída para as senhoras, e posso afiançar-te, minha querida irmã, que era muito interessante comtemplar o matizado grupo abaixo de nós. Chineses de todas as descrições, enfarpelados nos seus trajos muito singulares, alguns com os chapéus da forma dum cesto, muitos de cabeça descoberta, mas empunhando uma ventoínha que os protege do sol. Alguns tinham sacos nas costas medindo cerca de meia jarda quadrada, nos quais metem os bebés. Estes pobrezinhos apanhavam chocadelas em toda a roda, no meio da multidão, como se fossem pedaços de madeira. Portugueses e lascares andavam de mistura com chineses e, ao ouvir esta mistura de línguas – das quais nada comprendi, fez-me pensar na confusão de Babel, o que me levou a desejar que esta doida gente visesse na terra tamto tempo quanto lhe fosse permitido. Algumas das corridas foram muito boas e fizeram-se grandes apostas. Regressámos cerca das sete horas e tivemos uma longa discussão sobre os méritos dos ingleses…”Um outro campo, junto à Porta do Cerco, foi inaugurado a 19 de Março de 1927 e a 6 de Setembro de 1931 surgia o Macao Jockey Club.

Ainda de acordo com Monsenhor "Ferreira do Amaral mandou remover as sepulturas desse Campo, colocando ali o escudo das Quinas e a data de 1847. Dois anos depois, a sua cabeça era decepada precisamente por ter mexido nessas sepulturas".
Sugestão de leitura: "A Voz das Pedras" da autoria de Monsenhor Manuel Teixeira.
Programa de corridas no hipódromo da Areia Preta a 27 de Janeiro de 1929, domingo. The International Race and Recreation Club of Macao Limited - 13th extra race meeting - the Areia Preta Race Course - sunday 27th January, 1929
 Também publicado no JTM de 6.3.2014

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