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segunda-feira, 31 de março de 2014

Mariano Tamagnini: breve biografia

Nascido no Palácio da Praia Grande, a 27 de Maio de 1919, três meses depois seguiria com os pais para a metrópole. Os irmãos chamavam-lhe “o chinês”, pois era o único natural do território, tendo ele próprio muito orgulho em ser macaense. Com a segunda nomeação do pai como Governador de Macau, regressou em Dezembro de 1926, aqui frequentando a escola primária e o primeiro ano do Liceu, tendo como um dos seus amigos de então José dos Santos Ferreira, o “Adé”, grande cultor e poeta do patoá, a quem queria como um irmão e com quem se correspondia regularmente.
Em Fevereiro de 1931, Mariano Tamagnini voltou para Portugal, onde fez os estudos liceais na Escola Nacional, ao Largo da Anunciada, em Lisboa, pertencente a seu pai e ao general José Vicente de Freitas, que fora primeiro-ministro já na República. Nutrindo uma profunda admiração pelo seu progenitor e encontrando-se este novamente em Macau, no seu terceiro mandato como Governador do território, correspondendo à vontade deste, aceitou preparar-se para vir a ser seu secretário, matriculando-se no Curso Superior Colonial, que concluiu com 15 valores, por ironia do destino, no mesmo ano em que seu pai faleceu.
Como aspirante e depois alferes, foi ajudante-de-campo do seu tio, o brigadeiro João Tamagnini Barbosa, comandante militar da ilha Terceira, nos Açores, onde conheceu o então major António Spínola. Durante a guerra, em Outubro de 1943, aí assistiria ao desembarque autorizado das forças aliadas britânicas.
Regressado ao continente, contraiu matrimónio com Astri Lunde Wang, filha do ministro da Finlândia, de cuja união nasceria em Dezembro de 1952 o seu filho Miguel Ângelo, divorciando-se um ano mais tarde. Entretanto, acompanhou a missão militar portuguesa a Paris, à conferência dos Estados-Maiores Aliados, na NATO, matriculando-se na Faculdade de Direito de Coimbra, como aluno voluntário.
Em meados de 1953, já na patente de capitão, Mariano Tamagnini é colocado na repartição do gabinete do ministro da Defesa, coronel Santos Costa, onde chefia o Centro de Criptografia Nacional e NATO, transitando posteriormente para a Força Aérea, com idênticas funções no gabinete do chefe de estado-maior daquela arma.
Falando italiano, espanhol e alemão e dominando na perfeição inglês e francês, são-lhe confiadas diversas missões de acompanhamento junto de altas entidades estrangeiras de visita a Portugal, como no Verão de 1966, aquando da estada da princesa Margarida, de Inglaterra, ou, em 1960, do general Thomas D. White, chefe de estado-maior da Força Aérea norte-americana, o homem que no auge da “guerra fria” criou o célebre “telefone vermelho”. Nesse mesmo ano é nomeado para, juntamente com 26 oficiais superiores de diversos países, frequentar na base aérea de Sheppard, no Texas, o “Staff Intelligence Course”, digamos que um curso de espionagem, obtendo a terceira classificação.
Talvez que alguns dos conhecimentos adquiridos
se revelassem mais tarde úteis, quando incumbido de desempenhar uma missão muito confidencial, que tinha Macau como objectivo.

Já como tenente-coronel é colocado no comando da 1.a Região Aérea, em Monsanto, e posteriormente como adjunto do comando da Zona Aérea dos Açores. Entretanto, realizara um vasto programa de dinamização desportiva dentro da Força Aérea, tendo ele próprio vencido diversos troféus de ténis e feito parte de equipas de futebol e voleibol vencedoras de campeonatos militares.
Em representação da FAP fez uma visita às diversas bases aéreas brasileiras, tendo efectuado por diversas vezes curtas missões em Cabo Verde e na Guiné.
Devido a sequelas de um antigo acidente aéreo, Mariano Tamagnini tem de ser internado na neurocirurgia do hospital militar de Val-de-Grâce, em Paris, onde permanece cinco anos em tratamento. Regressado a Portugal, é autorizado a exercer funções de administrador da Companhia Europeia de Seguros e na direcção administrativa da Imprensa Nacional - Casa da Moeda. No dia 4 de Março de 1974 parte para Macau, no maior dos secretismos, transportando duas malas pesando mais de 50 quilos, contendo notas de 500 patacas, totalizando então um valor facial de cerca de 900 mil contos. Após várias peripécias, a missão é cumprida e o dinheiro depositado nos cofres do BNU.
A seguir ao 25 de Abril vê-se obrigado a recusar um convite de António de Spínola para criar um gabinete de Macau, por não lhe parecerem reunidas as mínimas condições. Pouco tempo depois declina igualmente um convite para ser o primeiro embaixador de Portugal na Argélia. Como não se sentia identificado com os desmandos do chamado “processo revolucionário em curso”, aceita o convite do seu amigo Tahar Mekouar, embaixador de Marrocos, para fixar residência em Casablanca e dirigir a sociedade Moror, Ltd., virada para a colaboração luso-marroquina, tendo contribuído para a implantação naquele país de grandes empresas portuguesas, como a Companhia Portuguesa de Pescas, a Hidroeléctrica Portuguesa (de Cabora-Bassa), ou a Sorefame (...).
Em Casablanca, criaria posteriormente com um arquitecto marroquino uma empresa especializada na construção de piscinas e impermeabilizações, a Aquatec, ocupando a sua presidência, mantendo-se esta sociedade em plena actividade. Por razões familiares regressa a Portugal em 1989.
Registada em 1962, a Casa de Macau teve no coronel Tamagnini um dos seus fundadores e um dos seus presidentes, tendo igualmente participado em 1973 na primeira “romagem” ao território, levada a efeito pela CM. Pertence também à Associação da Força Aérea Portuguesa, de cuja direcção fez parte até há pouco tempo, tendo em Outubro de 1991 organizado uma outra “romagem” a Macau, ao todo 85 participantes, entre oficiais, sargentos e familiares, o que lhe deu particular satisfação, pois foi a primeira vez que tantos membros da Força Aérea estiveram no território, dado que ao longo da sua história apenas o Exército e a Marinha aí prestaram comissões de serviço. Muito recentemente esteve de novo na sua terra natal, aqui participando no II Encontro das Comunidades Macaenses.
Cultor de poesia, ao que não será estranha sua mãe, a poetisa Maria Anna Acciaioli Tamagnini, Mariano Tamagnini é um homem de uma grande jovialidade e um excelente porte físico, daquelas pessoas para quem a idade não conta, tendo sido convidado, e tendo já aceite, vir a ser um dos curadores da Fundação da Casa de Macau.
Excerto do artigo "Uma missão quase impossível" da autoria de Eduardo Tomé publicado na Revista Macau de Dezembro de 1996.
NA: há uns anos conheci o coronel Mariano Tamagnini num evento que decorreu na Casa de Macau em Lisboa. Conversámos e pedi-lhe uma entrevista ao que ele acedeu muito simpaticamente. Trocámos de número de telefone e falámos posteriormente mas vicissitudes várias nunca permitiram que a dita entrevista acontecesse. Recordo-me de ter tomado notas dessas conversas. Quando as encontrar publico.

domingo, 30 de março de 2014

Mariano Alberto Acciaiolli Tamagnini Barbosa (1919-2014)

O coronel Mariano Alberto Acciaiolli Tamagnini Barbosa, um dos Fundadores da Casa de Macau em Portugal, presidente honorário da Fundação Casa de Macau e oficial da Força Aérea Portuguesa morreu no passado dia 28.
Seu pai, Artur Tamagnini, tinha 35 anos quando, em segundas núpcias, casou com uma aluna, Maria Anna Acciaioli, então com 16 anos. (foto ao lado). Em Março de 1918 foi nomeado Governador de Macau, desembarcando no território a 12 de Outubro, contava a sua mulher 19 anos. Por ter mudado o ministro das Colónias, em 21 de Julho do ano imediato, foi chamado a Lisboa e substituído. Mas voltaria a Macau.
Mariano foi o fruto deste casamento tendo nascido em Macau a 27 de Maio de 1919. Casou em 1948. Era licenciado em Política Ultramarina pelo Instituto Superior Ultramarino.

sábado, 29 de março de 2014

sexta-feira, 28 de março de 2014

A "botica" do Colégio de S. Paulo

Até praticamente ao século XIX a falta de médicos e o elevado preço dos medicamentos (ou drogas como se dizia na altura) oriundos de Portugal e de outras partes do mundo, bem como a sua deterioração ao longo do transporte até ao território fizeram com que localmente se tivesse que recorrer ao que a natureza (fauna e flora) oferecia para curar doenças como a malária, sarampo, beribéri, febre-amarela, desinteria, varíola, entre outras, e ferimentos provocados no dia-a-dia ou em lutas.
A Companhia de Jesus, formada em 1540, por iniciativa de Inácio de Loyola vai ter um papel decisivo neste assunto em Macau. A par da missão evangelizadora e educacional os jesuítas assumem também o papel de médicos e curandeiros beneficiando da experiência e conhecimentos adquiridos em paragens tão diversas como a Europa, África e Brasil, estabelecendo um intercâmbio entre si. Curam a alma e o corpo… e no contacto com a população chinesa local – que também tinha os seus remédios – absorvem ensinamentos.
Estudiosos minuciosos da fauna e flora e dos seus poderes curativos os jesuítas elaboraram fórmulas e receitas. Assim, logo em 1766 ‘publicam’ a “Coleção de várias receitas e segredos particulares das principais boticas da nossa companhia de Portugal, da Índia, de Macau e do Brasil, compostas e experimentadas pelos melhores médicos e boticários mais célebres que têm havido nessas partes. Aumentada com alguns índices e notícias muito curiosas e necessárias para a boa direção e acerto contra as enfermidades.” São mais de 200 receitas (inclui indicações de dosagem, modo de preparação e de administração ao paciente) organizadas por ordem alfabética e provenientes dos diversos colégios da Companhia, incluindo o de S. Paulo, de Macau. É também neste colégio que surge a primeira enfermaria. Num relato sobre o ataque dos holandeses em 1622 pode ler-se: “Os hollandezes perderam entre mortos e prisioneiros 500 homens, 8 bandeiras, uma peça, 5 tambores e muitas armas e bagagens. (…) do nosso lado perdemos 4 portuguezes, 2 hespanhoes e alguns escravos, tendo 20 feridos. Os feridos baixaram à enfermaria do Colégio de S. Paulo e o que mais agradecemos a estes religiosos no tempo deste aperto foi que os feridos que houve da nossa parte os recolheram, os agasalharam com muita caridade (…) e a todos curaram com as suas mezinhas”.
Para além de enfermaria, o colégio tinha uma botica e boticários. Um deles, em 1625, relata as condições da assistência médica em Macau. “Vai em seis anos que curo nesta cidade e neste curso de tempo tenho curado 92 homens e 39 mulheres, tudo por ordem dos superiores gastando com estes enfermos todas as mezinhas que lhes foram necessárias (…) Eu propriamente sou boticário, ocupação que em nossas Casas tem qualquer irmão de bom talento.”
Com a expulsão dos jesuítas em meados do século XVIII seria a Santa Casa e o Senado a criarem as suas próprias boticas.
Em meados do século XIX existiam em Macau três farmácias, ou boticas, como também se chamavam, do estilo ocidental. A Pharmacia Lisbonense, propriedade do “pharmaceutico" Joaquim das Neves e Sousa, a Pharmacia Macaense de Thomaz José de Freitas, e a Pharmacia Nacional, de José Severo da Silva Telles “pharmaceutico habilitado em Goa”. Num relato da época fica-se a saber que “a primeira destas boticas continua a fornecer os medicamentos aos dois hospitaes da cidade, e todas são aceiadas e sufficientemente providas”.
Coluna "Macau Antigo" às quintas-feiras no Jornal Tribuna de Macau - JTM de 27.3.2014
PS: Este ano celebra-se o bicentenário da restauração (1814) da Companhia de Jesus tem a abordar em futuros posts.

quinta-feira, 27 de março de 2014

A derradeira viagem de Tamagnini Barbosa

Em Fevereiro e Março de 1937 sucedem-se em Lisboa os jantares de despedida (um deles na imagem acima) ao futuro governador de Macau, um natural do território que ali regressa pela 3ª vez como governador. Chega a 11 de Abril e morre em Julho de 1940 no Palácio de Santa Sancha (na imagem num postal da década 1960-70) local que com ele passou a ser a residência oficial dos governadores.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Long Wa: desde 1962 澳門龍華茶樓

A Casa de Chá Long Wa abriu ao público em 1962 (embora surja muitas vezes referenciado 24.6.1963). O edifício fica junto ao Mercado Vermelho (Rua Norte do Mercado) e tem três andares. Foi inicialmente estabelecida pelo negociante de Hong Kong Ho Fung. Nos primórdios da Casa de Chá Long Wa também eram realizados banquetes e confecionados bolos de casamento.
Destaca-se pelo estilo art-déco com uma varanda em redor e as janelas  de estrutura em ferro de cor verde garrafa. Apesar do forte desenvolvimento do território a actividade comercial não esmoreceu e a segunda geração da família deu continuidade ao negócio. Actualmente quem gere o espaço é o simpático Ho Ming Tak (ou Tak Ko – irmão Tak) que insiste em dar continuidade à tradição familiar proporcionando os verdadeiros amantes de chá (em especial da região de Guangdong) uma experiência única.
Para o actual proprietário o segredo da longevidade e sucesso do negócio está na aposta constante na frescura das folhas de chá. Abre bem cedo (por volta das sete da manhã) e encerra às duas da tarde. O menu é apenas em chinês mas não será difícil pedir… Basta olha para a mesa do lado e apontar. Quero aquele.. aquele… e aquele.
Os ingredientes não podiam ser mais frescos já que o mercado fica do outro lado da rua.
Nas paredes destaque para os inúmeros quadros com caracteres chineses e as fotografias que os visitantes mais famosos fazem questão de tirar com o dono do estabelecimento.
O espaço já faz parte dos roteiros turísticos do território e atrai gente de todos os cantos do mundo a Macau, em especial os amantes de chá: Malásia, China, Japão, Singapura e Hong Kong.
Não menos interessante é apreciar (um hábito menos frequente hoje em dia comprado com outros tempos) os clientes que ali vão com os pássaros nas gaiolas de madeira e outros com os seus grilos. Tempos houve em que à entrada uma senhora vendia gafanhotos vivos que serviam de pequeno-almoço para os pássaros.
Não deixe de apreciar os bonsais no balcão e as diferentes variedades de chá muitas das vezes amontoados às resmas em sacos de grandes dimensões. A decoração do espaço praticamente não mudou desde 1962.
PS: artigo publicado na coluna "Macau Antigo" do JTM de 20.3.2014 
 A decoração do espaço praticamente não mudou desde 1963
Um dos raros 'sobreviventes' aos tempos modernos
O local ideal para um pequeno almoço na boa tradição chinesa:
 Iam/Yum Cha à moda antiga e pratos dim sum.
Casa de Cha Long Wa/ Long Wa Tearoom is na old fashioned Chinese Tearoom founded in Macau in 1962. There is not much in the way of fancy décor, although there are quite a few nice Chinese ornaments, but the place is nice, with large windows all around, through which you can watch the street scene.
The owner of Long Wa keeps the tea aromatic and fragrant. For him this is the secret to attract customers. This means never neglecting the freshness of the tea leaves. He also pays careful attention to the naturalness of the atmosphere.The Long Wa Restaurant (Tea House) sits on a corner and has windows opening on three sides, and is warm in the winter and cool in summer even without air conditioning.
Big Brother Deh is a man of graceful manners, and he counts among his friends many filmmakers and artists. Over the years, the teahouse has held exhibitions of calligraphy, paintings, photographs, and other works of art. The teahouse is filled with treasured teas and antique furnishings, giving it a distinctive feel not to be found elsewhere. Its elegant atmosphere attracts customers in droves from around the region including mainland China, Japan, Malaysia, Singapore, and Hong Kong.

terça-feira, 25 de março de 2014

O incidente do "Tatsumaru": 1908

The seizing of the Japanese steamship Tatsumaru by a Chinese patrol boat off the coast of Macau triggered a strong protest from the Japanese government, despite the fact that the ship had attempted to smuggle firearms and ammunition. Succumbing to pressure from Japan, the Chinese government formally apologized and released the Tatsumaru.
The Tatsumaru Incident sparked an anti-Japanese boycott in China and in overseas Chinese communities throughout Southeast Asia. The incident originated in the arrest by Qing China of the Japanese vessel Daini Tatsumaru off Macao, which sparked a diplomatic row between the two countries.)
A 5 de Fevereiro de 1908 a captura por parte das autoridades chinesas do vapor japonês Daini Tatsumaru que se encontrava ao largo de Macau provocou consequências sérias na já tensa relação entre os dois países. Os chineses alegaram que a embarcação transportava armas e munições para a China, mas no final acabaram por pedir desculpas e libertar o Tatsumaru. O incidente voltou a levantar a questão da delimitação do território, nomeadamente das 'fronteiras' marítimas. O caso foi notícia um pouco por todo o mundo. Em cima, uma notícia na primeira página do jornal The Sun (Nova Iorque) a 5 de Março de 1908.
Antes da Guerra do Ópio, o tráfico de armas em Macau era geralmente feito por estrangeiros, que contrabandeavam eles próprios as armas e munições para o interior da província de Guangdong, sem grande envolvimento dos comerciantes chineses. Quando, no fim da dinastia Qing, a situação política se tornou extremamente volátil, os vários grupos/seitas em confronto necessitaram desesperadamente de grande quantidade de munições e os comerciantes chineses de Macau começaram a participar mais activamente neste tipo de tráfico que foi aumentando com o tempo. Em Janeiro de 1908, um cargueiro japonês, o Tatsu Maru, carregado de munições, foi apreendido pela Alfândega chinesa ao largo de Macau e, Tam Pek Lei, proprietário da Loja Kong Vo, e os seus apaniguados foram presos, acusados de tráfico ilegal de armas. O chamado “Incidente Tatsu Maru” gerou uma forte controvérsia entre a China e Portugal sobre a questão jurisdicional das águas de Macau, bem como atritos diplomáticos entre a China e o Japão, para além de ter exposto o envolvimento dos comerciantes chineses de Macau no tráfico de armas.
Artigo do New York Herald de 24 de Maio de 1908
The Tatsu Maru incident
Feb.5 A Chinese warship off Amoy intercepts a Revolutionary Alliance arms shipment from Japan and seizes the ship - Chinese-Japanese friction.
Feb.14 Japan protests the seizure of the Tatsu Maru.
Mar.13/15 Japan imposes five demands on China, including the release of the ship, an apology, and an indemnity.
Mar.17 Merchants in Canton launch a boycott of Japanese goods.
Mar.19 Mass meetings are held across Kwangtung in response to the Tatsu Maru crisis - the anti-Japanese boycott is spreading throughout China.
Mar.21/22 Under pressure from Japan, the Imperial government orders the anti-Japanese boycott to end.
Apr.05 Women of Canton hold a shame memorial meeting for the Tatsu Maru incidente. 
 
Notícia de 10 de Março de 1908 do Colonist
 
Notícia de 10 Março de 1908 Wanganui Chronicle

segunda-feira, 24 de março de 2014

Recordando Adé...

Para ti, Macau querida, pequenina,
Nesga de terra por Deus abençoada,
Macau cristã, que a mão do destino
Colocou no caminho iluminado;
Para ti, pensei vir com devoção,
Compor um poema de amor,
Contigo enfeitado no coração,
E assim merecera bênção do Senhor
Estátua da autoria de Carlos Marreiros. Outubro 1999. Jardim das Artes
Recordando Adé nos 21 anos da sua morte.
Popularizado como Adé, o nome completo é José dos Santos Ferreira, nascido em Macau a 28 de Julho de 1919. Dedicou grande parte da vida à divulgação do dialeto macaense, sendo autor de vasta bibliografia e de récitas, peças de teatro, operetas, etc., que também ensaiava e dirigia. Desportista, organizou e dirigiu campeonatos e torneios de diferentes modalidades, foi fundador e dirigente do Hóquei Clube de Macau, Associação de Futebol de Macau e Conselho de Desportos, mais tarde Conselho Provincial de Educação Física, a que presidiu. Em 1979 foi agraciado pelo Presidente da República Portuguesa com o grau de Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique. O Governador de Macau atribuiu-lhe, em 1984, a Medalha de Mérito Cultural.
José dos Santos Ferreira morreu em Hong Kong, a 24 de Março de 1993. Tinha 73 anos.
José dos Santos Ferreira, better known as Adé, was born in Macau on 28 July 1919 and died in Hong Kong on 24 March 1993. Born to a father from metropolitan Portugal and a Macanese mother, he was the last poet of distinction to write in Macanese (Patuá), the Portuguese-Cantonese creole. Adé lived all his life in Macau and  left behind a great body of work consisting of 18 books of poetry, prose, plays, operettas, and radio shows in Patua. Adé wrote, directed, and acted in his own productions

domingo, 23 de março de 2014

Matrículas na memória

A propósito deste post publicado há alguns dias - 5ª feira, 20 de Março - um leitor (D.C.) do blog nos Estados Unidos enviou-me um texto e uma imagem (ver abaixo). Aqui fica, tal como recebi, esperando que gostem e agradecendo a partilha.
On your Blog, the "Ford Consul" in white was running on the Avenida do Infante D. Henrique near Teatro Nam Van in Macau. It's plate number was M 28-22. In the year of 1965, me and my younger brother had paid attentions on the car numbers in Macau. I still remember the highest number on the civil car was M 28-28 and it was a tour bus which belonged to the Hotel Estoril. It might be the most deluxe bus in Macau by that times, because M 28-25 was a bus from Mercedes Benz with 76 seats.
As for the city buses in 1960 Macau were came from England via Hong Kong, those were the single deck and second hand "Gerard" buses. Instead of the Dinnis double deks in Kowloon, there was not double decks in Victoria Hong Kong.
We also had a truck of Dinnis in Macau, it was in red, belonged to the " Bombeiros" as you still can see in the Fire Dept. Museum of Macau

 Alguns dos autocarros das agências de turismo/hotéis "Estoril" e "Caravela" nos anos 60.

sábado, 22 de março de 2014

Madre Teresa de Calcutá: visita em 1989 e "milagre" em 2007

"A preocupação pela situação dos pobres está a aumentar em todo o mundo e existe uma vontade cada vez maior de ajudar os necessitados, disse aos jornalistas a Madre Teresa de Calcutá, durante uma curta visita de três horas a Macau. Madre Teresa galardoada com o Prémio Nobel da Paz, veio a Macau pela terceira vez após visitas em 1983 e 1986, solicitar à Administração portuguesa a concessão de uma casa para acolhimento de crianças pobres para a sua Congregação Missionária das Irmãzinhas da Caridade.
O Encarregado do Governo Murteira Nabo, disse à madre Teresa de Calcutá - durante uma audiência no Palácio do Governo a que esteve também o Bispo da Diocese D. Domingos Lam - que a Administração concederá rapidamente uma residência provisória para a Congregação. Murteira Nabo adiantou que após a conclusão, dentro de dois anos, das obras do novo bairro social do Fai Chi Kei as irmãzinhas da Caridade receberão instalações próprias para as suas acções de caridade. Madre Teresa disse também que continua a orar a Deus pela abertura de uma missão da sua congregação na República Popular da China. Actualmente a Congregação das Irmãzinhas de caridade, que reúne 3 mil missionárias, tem 400 missões em 75 países incluindo a União Soviética e a Formosa.
Madre Teresa com João Severino (director do jornal Macau Hoje) e o padre Luís Sequeira
Madre Teresa chegou na passada sexta-feira a Hong Kong para visitar as dez Irmãzinhas da Congregação que residem na colónia britânica e, após esta curta escala em Macau, regressou ao Território vizinho de onde partirá na próxima segunda-feira para Calcutá. Em Macau cinco irmãzinhas da caridade, duas filipinas, duas coreanas e uma indiana, mantêm actualmente um centro de auxílio a crianças pobres em instalações precárias.
Antes de partir de Macau, Madre Teresa de Calcutá deixou uma mensagem à população pedindo o empenhamento e dedicação de todos no auxílio aos pobres e necessitados porque “o futuro da fé é o amor, e o fruto do amor é a dedicação aos outros que nos traz a paz e o mundo nunca precisou tanto de paz como agora”.
in Jornal de Macau 22 Março 1989
NA: Em 2007 o padre Luís Sequeira esteve gravemente doente e, contou ele, que às portas da morte pediu 'ajuda' à Madre Teresa (que já conhecera antes) e que só continuou vivo por "milagre" da Madre.
"Conhecera-a em Macau, fui sua amiga e chegou a participar num retiro meu, em 1992, na casa-mãe de Calcutá. Além de ter percorrido o mundo inteiro a orientar retiros às suas Missionárias da Caridade. Tenho então este instinto muito profundo: "Madre Teresa. Fui teu amigo pessoal, trabalhei intensamente com as tuas irmãs, e não tenho nada de especial? Numa altura em que se está a preparar a tua canonização, olha, toma-me a mim. Podes-me usar como sinal da tua santidade". Disse-lhe claramente: "I want a special gift". Em inglês, que era a língua em que falávamos.
Acontece então uma coisa extraordinária: a hemorragia estabiliza a 2,3 cm, a minha tensão, que não parava de subir, estabiliza finalmente e eu começo a acalmar - não se sabe porquê. Precisava de ser transferido para outro hospital, em Hong Kong, mas sem estabilidade clínica não podia viajar. A partir do momento em que acalmo e estabilizo, decidem levar-me. (...) Chegado a Hong Kong, enfiam-me numa ambulância e, em cinco minutos, estou no Hospital de S. Paulo, pertencente às irmãs de S. Paulo de Chartres, junto ao hipódromo de Happy Valley. Fui directamente para a UCI, nem mudaram de cama nem nada. A primeira coisa que pedi foi para me lavarem - estava cheio de suor.
Aqui, acontece o que eu chamo o milagre: qualquer coisa de extraordinário, dito pelos próprios médicos de Hong Kong e que faz do meu caso notável. Fazem-me um novo TAC, que não apresenta praticamente derrame. É um facto: apenas uma pontinha, nada, mas nada, comparável com a extensão que tinha. Tenho comigo esses dois TAC's: um, que mostra um grade derrame, a justificar tudo quanto tive e as actuais sequelas; e outro, quase limpo. O neurologista comenta: "Oh padre, o que aconteceu é qualquer coisa de notável". Um outro médico diz-me: "Nunca vi nada assim".
Declarações ao Expresso (6.2.2010)

sexta-feira, 21 de março de 2014

NRP Comandante João Belo (F480)

Saída de Lisboa: 20/12/68, para comissão de serviço no Ultramar. O NRP Comandante João Belo (F480) chegou a Macau em Março de 1970.
Chegada a Lisboa: 19/12/70. Regressando de Luanda, donde saiu em 08/12/70, tendo escalado S. Vicente.
Foto cedida por António Silva Martins - Nota: clicar no link para saber mais sobre a viagem.

quinta-feira, 20 de março de 2014

V Centenário da morte do Infante D. Henrique (1960)


A avenida que recebeu o nome do Infante: vai do cruzamento da Praia Grande até à rotunda Ferreira do Amaral. 
Este cruzeiro com a Cruz de Cristo e com a inscrição "E se mais mundos houvera lá chegara" (do poema épico "Os Lusíadas" de Luís de Camões) foi colocado frente ao edifício do Liceu na Praia Grande em 1960. Na década de 1990 passou para o Jardim de Jorge Álvares onde ainda se encontra.
Em 1960 comemorou-se em todo o território português o 5º Centenário (1460-1960) da morte do Infante D. Henrique (4 Março 1394 - 13 Novembro 1460). Macau não foi excepção. O governador era Jaime Silvério Marques. A coordenação/organização dos eventos ficou a cargo do "Leal Senado da Câmara de Macau" a cuja comissão administrativa presidia Pedro José lobo.
As celebrações duraram praticamente um ano, alastraram-se à comunidade portuguesa de Hong Kong e ficaram registadas no livro "Comemorações em Macau do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique".
Entre as iniciativas que assinalaram a data (culturais, lúdicas, desportivas...) destaque para a colocação do padrão (com a cruz de cristo no topo) frente ao Liceu (hoje está junto ao hotel Metrópole - frente ao antigo Tribunal) na então denominada Av. Dr. Oliveira Salazar, e onde foi inscrita a frase "e se mais mundo houvera lá chegara", d'"Os Lusíadas". Houve ainda uma emissão filatélica especial (selo e envelope).
Ao longo de mais 400 páginas do livro - com partes também em chinês - referência ainda para o poema "O Infante" de Fernando Pessoa, traduzido para chinês. Entre 4 de Março e 13 de Novembro de 1960, a bandeira da Cruz de Cristo esteve desfraldada nos edifícios públicos, ao lado da bandeira nacional.
Das chamadas festas henriquinas fez ainda parte a denominada Semana do Ultramar, onde se evidenciou a participação dos militares. 
Sendo o Infante patrono do Liceu, muitas das actividades decorreram no Liceu Nacional Infante D. Henrique. O busto é da autoria de Oseo Acconci e foi oferecido pelo próprio ao reitor Ferreira de Castro. Esteve durante décadas na entrada principal do Liceu, mais tarde na biblioteca e depois de 1999, como fim da instituição, transitou para a Escola  Portuguesa de Macau.

Na ocasião foi ainda reeditado pelo jornal Notícias de Macau o livro de Jack M. Braga intitulado "Hong Kong and Macao: a tribute to the memory of Prince Henry 'the Navigator', on the occasion of the festivities in his honour". Originalmente o livro foi editado em Hong Kong em 1951 como suplemento do jornal China Mail. Nesta reedição o texto foi aumentado e surgiram novas ilustrações. Foi impresso em Hong Kong pela Graphic Press Limited.                                                                  Apesar do cognome "O Navegador", o Infante nunca se aventurou nos mares. No entanto, foi graças ao seu esforço e empenho que aconteceram as primeiras viagens dos "descobrimentos". Gomes Eanes de Zurara escreveu que era uma "príncipe pouco menos que divinal". Ao lado, uma emissão filatélica especial de 25 de Junho de 1960 realizada em todas as colónias portuguesas.
Um postal de 1960 com um carimbo (cruz de cristo) alusivo à efeméride

quarta-feira, 19 de março de 2014

O dia da PSP em 1958

 
O comandante da PSP, capitão José Vaz Dias da Silva foi ao Porto Interior receber o seu homólogo de Hong Kong, A. C. Maxwell. O comissário da então colónia britânica chega ao território a 16 de Março de 1958 "por ocasião do Festival anual desta Polícia".
 Troca de cumprimentos entre oficiais das duas polícias e revista à parada de elementos do CPSP
A polícia em Macau tem uma história que remonta praticamente aos primórdios de Macau. Enquanto instituição foi criada em 1691. O dia da PSP é o 14 de Março data em que o Senado nomeou os primeiros soldados para efectuarem o patrulhamento da cidade.
 

terça-feira, 18 de março de 2014

Um passaporte em 1898

No Arquivo Histórico de Macau encontram-se inúmeros documentos. Entre eles, este processo de candidatura de um cidadão de Macau que pretendia viajar para a China, Japão e Sião para actividades comerciais ou de missionação. 
O processo iniciava-se com um pedido por escrito dirigido ao governador de Macau (Eduardo Galhardo), explicando o destino e motivo da viagem. Antes disso o candidato tinha de obter uma espécie de "Certificado de Registo Criminal" junto da Delegação do Procurador da Corôa e Fazenda.
Após a aprovação, o governador da Província de Macau, também representante da Legação de Portugal na China, Japão e Sião, emitia um passaporte português com o formato que a imagem documenta.
O passaporte foi emitido a um padre para viajar para Doumen onde ia visitar uma obra missionária.
Passaporte emitido pelo governador de Macau 30.06.1898
 Passport issued by the Governor of Macao Province on 30 June 1898

1898年6月30日由澳门省总督签发的护照
A record of Civil Administration on Macao citizens’ passport application (1897/6/7 to 1901/3/14) shows the application procedure and format of a passport in 1898. Application procedure: A Macao citizen who intended to travel to Mainland China, Japan and Siam for business or missionary activities must submit a written application to the Governor of Macao stating his/her destination and reason for travel. In addition, the applicant should first obtain a "Certificate of No Criminal Record" from the Delegate of the Crown Prosecutor and Treasury (Delegação do Procurador da Corôa e Fazenda).
Upon approval, the Governor of Macao Province, also the representative of the Portuguese Legation in China, Japan and Siam, would issue a Portuguese passport in the following format. This passport was issued to a priest for travel to Doumen for missionary work.
在一份有关澳门市民申请护照的民政厅(1897/6/7至1901/3/14)档案内,让我们了解到一百多年前申请护照的手续以及当时的护照式样。
有关申请手续:澳门市民如需要赴中国内地、日本和暹逻进行商务、传教等活动,必须向澳门总督提交书面申请并注明:目的地和原因,申请人事前需取得由皇家检察官(Delegação do Procurador da Corôa e Fazenda)发出的“无犯罪纪录证明” 。
经审批后,澳门省总督同时也是葡萄牙驻中国、日本和暹逻使馆代表,将签发以下式样的葡萄牙护照. 此护照是发给一牧师赴斗门传教之用