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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Memórias de Victor Neto (1962-1965): 2ª parte


(continuação do post anterior)
As visitas que fiz a muitos locais interessantes que cito: Fortalezas, do Monte, Guia, Mong Há e Barra, as ruínas de S.Paulo, a avenida Almeida Ribeiro coração comercial da cidade, Porta do Cerco, Ilhas Verde, da Taipa e Coloane e muitos outros locais onde passei excelentes horas de lazer fizeram que passasse a admirar Macau as suas gentes e a sua história.

A ida regular a cinemas onde vi inúmeros filmes, a Feira Popular no campo de Mong-Há, eram divertimentos que nos proporcionavam prazer, assim como o convívio com a tripulação do navio da Armada "Gonçalves Zarco" e também os pantagruélicos lanches nas traseiras do Teatro D. Pedro V, eram assim formas de atenuar as saudades de casa e da família. Entretanto, maravilhado com um mundo diferente do ocidental, ia observando todos os costumes da população e as suas comemorações e a pouco e pouco comecei a ter novos conhecimentos sociais.

Como os tufões são frequentes na região, todo o pessoal militar era mobilizado e ficava de prevenção para o que pudesse acontecer. Eu que tive a oportunidade de assistir a dois muito violentos, principalmente o tufão "Ruby" que atingiu Macau em Setembro de 1963 e fez muitas destruições, incêndios, 1 morto e vários feridos, num cenário de catástrofe natural impressionante.

Antes de ser destacado para o Quartel-General, estando ainda em serviço na Flora, em determinada noite em que fomos todos mobilizados ficando de prevenção para um tufão que se aproximava do território, tive de ir a casa do Cabo Gaspar que era o intérprete luso-chinês, dizer-lhe que tinha que ir para o quartel. Atravessei a Colina da Guia e ao chegar perto da sua casa fui atacado por um enorme cão que deu uma dentada na bota, furando o cabedal, a meia e a pele. Eu não tenho o costume de maltratar animais, mas naquele momento dei ao cão um pontapé que o fez afastar.

Este foi um dos muitos episódios em que me vi envolvido, assim como um outro em que fui comandar uma posição de morteiro num exercício militar, sendo que a minha especialidade era de transmissões e o suposto fogo do morteiro tinha de atingir as praias e o mar.

Durante as provas do Grande Prémio de Macau fui escalado com outros camaradas para assegurarmos as comunicações em postos fixos, equipados com telefone e rádio em todo o percurso das corridas, em época onde não se sonhava sequer com telemóveis. Imaginem as dificuldades com as interferências electro-magnéticas.

Como o Ano Novo Chinês é uma festividade com um enorme impacto, na vida da cidade, nessa altura era permitido que os funcionários estatais e os militares pudessem jogar nos casinos e assim participar em todo o programa da festa. Eu também joguei com o meu número da sorte (sete) e cheguei a ganhar algumas patacas que eram gastas no comércio local em refeições. Foram uns dias eufóricos em que Macau tinha um desusado movimento de turistas e de habitantes nas ruas, dia e noite. Uma curiosidade barulhenta era o rebentar de panchões, pequenas bombas interligadas de fabrico local e anunciadoras dos eventos.

Resumidamente foi assim que exerci a minha comissão militar em Macau na década de 1960 e fez com que já em Portugal começasse a fazer uma colecção de objectos onde se incluem Selos Postais, Moedas, Postais, Livros, Folhetos etc. que recorda os bons dias que ali passei. Muito mais havia a relatar, mas eventualmente fica para próxima oportunidade.

Nota: com este post fica concluído o testemunho de Victor Neto sobre a sua comissão militar em Macau. O meu agradecimento público por ter aceite colaborar com este depoimento que por certo será muito útil a quem vier a escrever a história do século XX em Macau. 

A título de curiosidade informo que este foi um dos posts com maior número de visitantes nos últimos tempos. Foram quase 700 num só dia assim distribuídos:

Macau 146, EUA 128, Portugal 107, Brasil 101, Bélgica 37, Hong Kong 36, Canadá 13, Rússia 13, China 11, Espanha 8.


















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