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domingo, 12 de fevereiro de 2023

O ensino da "língua sínica" no início do séc. XX

Escola Comercial Pedro Nolasco fundada em 1878
O mesmo edifício no século 21
Em 1906, uma comissão composta por Manuel da Silva Mendes, Pedro Nolasco da Silva, Carlos Augusto d’Assumpção, José Vicente Jorge e o Pe. António José Roliz foi nomeada pelo governador Martinho Montenegro, por portaria provincial n° 57 de 24 de Outubro, "para estudar e fazer um projecto de organização do ensino da língua sínica nesta cidade".
Depois de ponderadas e discutidas todas as questões relacionadas com o ensino/aprendizagem do chinês, a comissão apresentou em Novembro do mesmo ano um relatório final acompanhado de uma proposta de programa de ensino, documentos aprovados pela Portaria n°30 de 22 de Março de 1907.
Esse programa previa um Curso de Língua Chinesa dividido em três períodos, ao longo de sete anos, desde a Escola Primária ao público adulto do Expediente Sínico. O primeiro período, para os alunos da Escola Central, tinha 2 anos; o segundo período, para os alunos do 1°ciclo da instrução secundária, abrangia 3 anos e um terceiro período, para os alunos do Curso Comercial, tinha a duração de 2 anos.
O programa tinha como objectivos: "ministrar um conhecimento elementar da lingua sinica, escripta e fallada, quanto sufficiente para uso commum da vida, inclusivé o do commercio" e "servir de base para ulteriores estudos da literatura classica chineza áquelles que pretenderem levar longe o conhecimento d’essa lingua". 

Sendo a maioria da população de Macau de origem chinesa, a administração do território obrigava a especiais preocupações, nomeadamente o nível da língua e da justiça. É neste contexto que logo no século 17 foi criada a Procuratura dos Negócios Sínicos. Nela trabalharam portugueses, macaenses e chineses que ao longo dos séculos permitiram o entendimento entre portugueses e chineses. 
Eis, a título de curiosidade, alguns exemplos de personalidades que se destacaram neste domínio:
- A bordo da primeira nau portuguesa que chegou a Tanegashima (Japão) ia um intérprete chinês: "Quando a primeira nau portuguesa chegou a Tanegashima, diz-se que um chinês chamado Goshô servia de intérprete".
Fonte: Portugal e o Japão, Tokyo, Kokusai Bunka Shinkokai, 1940.
- Matteo Ricci, S. J.(1552-1610), jesuíta italiano, foi co-autor do primeiro dicionário português-chinês. Chegou a Macau em 7 de Agosto de 1582, permanecendo na China a trabalhar, entre os mandarins e os letrados, até à morte em 1610. Ficou também conhecido pela iniciação, na Europa, dos estudos chineses que vieram a ser conhecidos por Sinologia. Começou por traduzir de Chinês para Latim.
- Michele Ruggieri (1543-1607) jesuíta italiano, foi o primeiro a chegar a Macau, em 20 de Julho de 1579, para aprender Mandarim.
- O missionário Robert Morrison foi o primeiro tradutor da Bíblia para chinês. Viveu em Macau na década de vinte do séc. XIX.
- António Feliciano Marques Pereira foi Superintendente da Emigração Chinesa e Procurador dos Negócios Sínicos em Macau e Secretário da Legação Portuguesa junto à Corte de Pequim. Foi ainda autor da "Relação acerca das attribuições da Procuratura dos Negocios Sinicos da Cidade de Macau" (1867), e das "Ephemerides Commemorativas da História de Macau e das Relações da China com os Povos Christãos" (1868).
- Camilo Pessanha, poeta do Simbolismo português, foi para Macau em 1894 como professor do Liceu, tendo iniciado, de imediato, o estudo da língua e cultura chinesas. Traduziu para português três cartas, dois ensaios em prosa e oito elegias, (apesar de só conhecer 3500 caracteres) com a ajuda do seu amigo José Vicente Jorge, com quem traduziu ainda "Kuok Man Kan Fo Shú Leituras Chinesas". Numa carta dirigida a Carlos Amaro, datada de 1912, Pessanha refere que "Desde que deixei a Vara de Juíz, é decorar letras chinas. Bem desejaria publicar um dia meia dúzia de pequenas traduções, mas a empresa, a ser a coisa como eu a tenho esboçado, é cheia de dificuldades."
- Manuel da Silva Mendes (1867-1931), contemporâneo de Pessanha e também professor do liceu, destacou-se como advogado e ainda como estudioso da cultura chinesa, nomeadamente da filosofia, religião e arte. A ele devem-se os primeiros estudos sobre o taoismo em português.
 José Vicente Jorge
José Vicente Jorge (sentado na imagem de grupo acima). Nasceu em 1872. Foi Chefe da Repartição do Expediente Sínico, vice-cônsul e intérprete-tradutor no Consulado de Xangai, secretário intérprete-tradutor da legação portuguesa em Pequim, no tempo do império e escolhido para secretariar o diplomata que representou Portugal nos funerais do Imperador Guang Xu em 1909. Foi tradutor e anotador do San-Tok-Pun, método adoptado para o ensino de chinês em escolas de Macau e autor de Novo Methodo de Leitura (1907). Foi ainda Professor de Língua Sínica no Instituto Comercial e fez parte da Comissão encarregada de estudar e de elaborar os programas para o ensino da "lingua sinica ministrado na Escola Central do sexo masculino e Instituto Commercial annexo ao Lyceu Nacional", era, então, sub-chefe da Repartição do Expediente Sinico. Pessanha chamava-o de "o meu mestre".

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