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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Chineses Alfacinhas - parte 2

Nascida em Macau em 1923, Dª Olga começou por se chamar Lam Pui Yi e guarda da infância recordações de uma vida relativamente confortável, membro de família chinesa, logo, muito distante dos hábitos que caracterizavam a comunidade portuguesa naquele Território. Mas o pai era agente da Polícia de Segurança Pública, e por isso tinha contacto frequente com portugueses, pelo menos a nível profissional.
Os primeiros anos da década de vinte foram de apreciável agitação social e política em Macau, pontuados por escaramuças entre as forças militares portuguesas e chinesas, como consequência de mal-entendidos com origem nas indefinições fronteiriças do território, ou incidentes de índole variada, entre as forças de segurança e a população chinesa, desde movimentos grevistas por disputas laborais, até à ocorrência isolada de confrontos por desacatos de carácter particular. Regista-se que entre 1921 e 1923, Macau esteve por duas vezes sob estado de sítio. E o pano de fundo era uma China imensa, República ainda titubeante, a viver tempos de grande agitação social e política.
Curiosamente e apesar de tudo, esta fase inicial da vida de Lam Pui Yi coincide também com um período em que Macau viu serem lançados alguns grandes empreendimentos transformadores da vida do Território, como o resgate de terras ao mar, a elaboração de projectos de saneamento básico, de distribuição de água e de electricidade e a promoção de outras iniciativas de significativo alcance económico, cultural e educativo.
Em 1924 o Território ultrapassa largamente a barreira dos cem mil habitantes, devido a tumultos ocorridos em Cantão, de que resultaram a chegada a Macau de dezenas de milhar de refugiados daquela cidade.
A casa da família de Lam Pui Yi situava-se nas proximidades de um dos símbolos da afirmação da sociedade chinesa de Macau, muito dentro de um espírito de contraposição à influência portuguesa, o Hospital Kiang Wu, de que um dos médicos fundadores fora Sun Yat Sen, o pai da República Chinesa. Mais perto ainda ficava o “Teatro Alegria”, popular sala de cinema até hoje. Quem conhece Macau sabe que esse era e continua a ser, em grande medida, o coração da urbe chinesa: comércio, escolas, famílias, tudo ali pertence ao mundo da cultura chinesa mais retinta. Não admira pois que na família de Lam Pui Yi ninguém falasse Português ou tivesse frequentado estabelecimentos de ensino portugueses. Nem o pouco Português funcional do pai passava para dentro de portas.
Apesar de ter frequentado, até à quarta classe, um extinto colégio católico situado algures na Praia Grande, onde também fez a catequese, a língua portuguesa continuaria e ser completamente desconhecida durante longos anos para a jovem Lam, já que toda a instrução primária oficial foi feita em chinês.
Todavia, o destino, inscrito na realidade política e social de Macau, viria a encaminhar Lam Pui Yi para uma experiência de vida bem diferente e muito divergente do que seriam as expectativas familiares. Se a infância e a adolescência foram vividas em total sintonia com os padrões de conduta próprios da sociedade chinesa de Macau, já os tempos de juventude vieram propiciar novos contactos e ambições...
(continua...)

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