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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Lição da Gastronomia Macaense em verso!

A versalhada com que hoje vos contemplo, fazem-nos abrir o apetite e sorrir e mais, são isso sim, uma verdadeira lição da Gastronomia Macaense! Já agora, o autor que me perdoe por não o enunciar, mas a verdade é que os encontrei no meio da minha papelada dedicada á “Comizaina Maquista” e como não queria deixar de os partilhar convosco, nesta “altura do campeonato,” mesmo assim, eles aí vão sem o nome do seu legítimo autor.
Já agora aproveitamos para lançar o repto e até damos “alvíssaras”a quem nos faça o favor e queira esclarecer a sua proveniência!

Pratos macaenses:

É um prazer assistir
Aos seus jantares e festas,
Em pó, com folhas de louro
Levezinhas e indigestas.

E até o mais exigente,
Lambareiro ou comilão,
Gosta de um chau-chau pele
Com molho de balichão.

Minxi, brêdo raba-raba,
Diabo, tamarinhada,
Só com banha e “balichão”,
Apa bico, goiabada.

Capela, vaca cabad, Bagi, porco bafá-assá,
Galinha frito amarelo,
Dodol, chau-chau lacassá.
Ladu, peixe depinado,

Caldo de carne com lula,
Barbá, bibinca de rébano
Bicho-bicho, fula-fula

Chá gordo, bolo menino,
Saran surabe, aluar;
Doces, manás, acepipes,
Que são de nos consolar!

Chau-chau pele; pel ’de porco,
Pé, costeletas com molho,
Chouriço, pato salgado,
Galinha e couve repolho.

Balichão é um molho, feito
De camarão miudinho
Em pó, com folhas de louro
E pimenta em grão e vinho.

Minxi é carne tenra e magra
De porco ou vaca trilhada,
com sutate doce e branco
Banha e cebola picada.

Brêdo raba-raba: várias
Hortaliças misturadas,
Só com banha e “balichão”,
Num tacho ao lume fritadas.

Diabo: ovos, porco assado
Caril de vaca estufada,
Mostarda, azeite, tomate,
Presunto e galinha assada.

Leva ainda esta comida,
Batatas e outras misturas:
Um prato de arrebentar
Mesmo ao diabo as costuras!

Galinha Chau-chau, parida:
(Outro prato de “arrebenta”!)
Galinha, açafrão, gengibre,
Vinho chinês, sal, pimenta.

Capela é carne de porco
Moída e no forno assada,
Com ovos, queijo, pimenta,
Sal e amêndoa pisada.

Peixe depinado; quando
Já cozido e desfiado,
Num tachozinho a fritar
Desta forma preparado:

Capela é carne de porco
Moída e no forno assada,
Com ovos, queijo, pimenta,
Sal e amêndoa pisada.
Peixe depinado; quando
Já cozido e desfiado,
Num tachozinho a fritar

Desta forma preparado:
Põe-se-lhe manteiga e alho
Sal, pimenta,“balichão”,
Umas gotas de vinagre,
Malagueta até mais não

Vaca cabad: um pratinho
Todo de origem indiana,
Próprio para parturientes,
Como fina “comezana”.

Caldo di carne com lula:
De tão forte, causa arrotos
E é feito de lulas secas,
Com porco e raiz de lótus.

Porco bafá-assá: de porco
Carne comprada no talho
Com muito açafrão, pimenta,
Sal, cebola verde e alho.

Galinha frito amarelo:
Galinha ou galo capão,
Com pimenta, sal e alho
Cebola seca e açafrão.

Apa bico: bolos feitos
Com farinha de arroz, banha,
Porco, hortaliça salgada…
(Mimo de quem os apanha!)

Goiabada: um doce feito
De goiaba (o que mais há),
Havendo ainda perada,
Outro doce de “alto lá”!

Ladu é também um doce.
Que entra em muita refeição,
Feito só de jagra e côco,
Farinha e pó de feijão.

Bagi: s’pécie de arroz doce
Que se come com deleite,
Feito (dizem) simplesmente,
De arroz pulú, coco e leite.

Dodol: doce de perada,
Farinha de arroz pulú,
Amendôas, coco, manteiga,
Jagra, (ficando um beijú!)

Chau-chau lacassá: de arroz,
Massa, (a mais fina que há)
Com porco,ovos,gengibre;
Servido à ceia ou ao chá.

Barbá: espécie de doce
A que apreço se consagra,
Feito apenas com manteiga,
Farinha de arroz e jagra.

Quando à bibinca de rábano,
Depois de estar preparada,
Fica uma massa compacta
E é-nos servida à talhada…

Faz-se com rábano ou nabo,
Farinha de arroz, presunto,
Cebola, carne de porco
E um pedacinho de unto.

Bicho-bicho são também
Pequenos bolinhos fritos;
Levam sal, farinha e ovos
E açúcar aos quadraditos.

Fula-fula é um bolinho
De arroz seco e amendoim.
Bolo-menino: uma espécie
De bolacha ou coisa assim.

Chá gordo é refeição lauta
Que alguns costumam a dar,
(Passada a hora do chá)
Horas antes do jantar.

Saran surabe: outro bolo,
Mas este, tipicamente
Macaense, e é tão gostoso
Que até nos “regala o dente”…

Só de farinha de trigo
E pó de feijão torrado,
“Corn-Starch”, ovos e coco,
Este bolo é preparado

Aluar: bolo festivo
E muito tradicional…
De farinha, côco, amêndoa,
Que se faz pelo Natal.

Além destas iguarias,
A outras se hão-de dar vivas,
Quando expostas, sobre a mesa,
À gula dalguns convivas.

Se não houver convidados,
(O que é raro acontecer)
Ou sozinho ou em família,
Come-se com igual prazer.

Sim, porque o maior consolo
Que o bom macaense tem,
Seja de noite ou de dia,
É comer e comer bem!

Aqueles que são mais pobres,
Que menos podem gastar,
Pequeninas guloseimas
Andam sempre a mastigar.

Comer bem, fazer desporto,
Torna uma pessoa harta,
E portanto dizem eles:
-“Morra Marta, morra farta”!

E aqui temos mais ou menos,
Sem mentiras nem urdumes,
O que são os Macaenses
Nos seus usos e costumes.

A verdade não ofende,
Mas se alguém lesei contudo,
Só tenho a pedir desculpa
Porque a realidade é tudo.

Peço-te meu caro amigo
Que mal de mim
nunca penses;
E crê na boa amizade
que dedico aos Macaenses.

NA: publicado no JTM por Luís Machado

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