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sábado, 5 de abril de 2025

Mapa desenhado pelos padres da Companhia de Jesus

Mapa intitulado: "Royavme d'Annan Comprenant Les Royavmes de Tvmkin et De La Cocinchine Designé par les Peres de la Compagnie de Iesus a Paris"
"Reino de Aname, incluindo os reinos de Tonquim e Cochinchina desenhado pelos Padres da Companhia de Jesus em Paris"
O documento foi impresso em Paris por Pierre Mariette ca. 1650. O autor da gravura é Jean Pruthenus Somer.
Annam/Anam/Anã são os vários nomes de um antigo reino que existiu na parte central do actual Vietname, também designado por reino anamita. Tonquim, é parte mais setentrional - a Norte - do Vietname. Cochinchina corresponde ao Sul do país, e o nome foi dado pelos portugueses no século 16: Cochim" (Kuchi) era o nome usado em língua malaia para designar toda a região.
O mapa foi impresso cerca de 1650 e publicado pela primeira vez em 1653 na obra "Divers voyages et missions en la Chine et autres royaumes de l'Orient, avec son retour en Europe par la Perse et l'Arménie", de Alexandre de Rhodes (1591-1660), missionário jesuíta frrancês. 
O mapa faria ainda parte, já no século 18, do vol. 14 do "Atlas Geographique Contenant Les Cartes générales et particulières d'Asie, d'Affrique et d'Amérique. 
O mapa é baseado no reconhecimento em primeira mão do missionário jesuíta Alexandre de Rhodes, que estabeleceu a primeira missão católica em Tonquim entre 1627 e 1645. Antes de Rhodes, o Golfo e o Reino de Tonquim eram amplamente desconhecidos dos europeus. Exploradores portugueses e jesuítas estabeleceram relações com o Reino de Champa (perto da moderna Da Nang), mas não se aventuraram mais a Norte devido às tensões políticas entre o Vietname do Norte e do Sul.
Não sendo o objectivo principal do mapa, Macau já era sobejamente conhecido na época  e surge representado no canto superior direito.
O mapa inclui inúmeras anotações em texto. Numa delas pode ler-se: "Tour fort haulte que l'on voit de loing en la Mer." / “Torre muito alta que pode ser vista de longe no mar.” Nour surge a frase "Isle de Sanchoan Tombeau de s. Francois Xavier" / "Ilha de Sanchoão Túmulo de S. Francisco Xavier". A península de "Macao" inclui uma representação gráfica que remete para a existência de uma cidade fortificada/com muralhas.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Nascimento de "hum formozo e vigorozo príncipe"

Na edição de 5 de Fevereiro de 1838 o jornal "O Macaista Imparcial" informa sobre o nascimento de "hum formozo e vigorozo príncipe". Trata-se de um anúncio do então governador de Macau, Adrião Acácio da Silveira Pinto, tendo por base uma notícia publicada no "jornal inglez" Atlas, a de 1 Outubro de 1837.
O Príncipe Pedro de Alcântara, que mais tarde (1853) se tornou Rei de Portugal e Algarves (Pedro V), nascera a 16 de Setembro de 1837 no Palácio das Necessidades em Lisboa. Era o filho mais velho de Maria II e Fernando II. Tornado rei depois da morte da mãe, em 1853, ficaria para a história com os cognomes de "Esperançoso" e "Muito Amado". Morreu em 1861. Em Macau deu nome ao primeiro teatro do tipo ocidental na Ásia, inaugurado em 1860.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Núcleo museológico do "Posto do Guarda-Nocturno"

Fora da chamada 'cidade cristã', e em direcção à Porta do Limite, ou do Cerco, ficava uma vasta zona de várzeas e hortas e alguns povoados chineses sendo os mais importantes, as aldeias de Mong-Ha (nordeste), e a de Patane (noroeste), muito próximo da então denominada Porta de Santo António (já desactivada em 1868) - e da igreja com o mesmo nome, situada na muralha que circundava a cidade. Junto ao Porto Interior, existiam ainda San Kiu e Sa Cong. Desses tempos antigos pouco resta. Para além de um conjunto de edifícios com arcadas térreas na rua da Ribeira do Patane, pode ainda ver-se, por exemplo, o pequeno edifício que era o posto do guarda nocturno (na rua da Palmeira, junto ao Templo de Tou Tei) e que em 2015 foi transformado num pequeno museu. Em 1867 existiam 96 guardas-nocturnos que para além da manutenção da ordem pública e da ajuda no combate a incêndios, ainda informavam as horas, transportando gongos ou chocalhos de bambu que faziam soar em cada um dos cinco períodos nocturnos.
Posto do Guarda-nocturno (museu): Rua da Palmeira

Bento da França escreve descreve assim a zona em "Macau e os seus Habitantes (1897):
"As tres restantes povoações são a do Patane, a de Mong há e a de S Lazaro. A do Patane é de todas cinco a mais importante, já pela industria fabril, já pelo seu commercio, principalmente em madeiras de construcção. Fica no littoral do porto interior na especie de cotovello que a peninsula faz ao formar a enseada da ilha Verde terminando onde começa a Mong há. A povoação de Patane tem hoje tomado tão grande desenvolvimento; são tantos n'ella os estaleiros e estancias de madeira que se póde considerar dividida em tres povoações: a saber, Patane, propriamente dita, bairro hoje a bem dizer urbano, San kiu e Sa cong, povoações ruraes e piscatorias. É entre o Patane e Mong ha que predominam as hortas e as varzeas. A antiga povoação de S Lazaro, hoje encorporada na cidade, está na continuação da parte christă e é o recinto habitado pelos chins que têem abraçado a nossa religião. De todas estas povoações a mais insignificante é a do Tanque do Mainato onde pouca industria e nenhum commercio ha. Entre o Patane e Mong ha, povoações que se dilatam até ao isthmo, existem diversas hortas nas quaes se encontram algumas centenas de cabanas humildes e choças habitadas por agricultores e mendigos. Grande parte d'essas hortas pertencem a Patane e Mong ha."
Em 1869 foram baptizadas uma série de ruas tendo a lista – que se admite ser o primeiro cadastro toponímico oficial – sido publicada no Boletim Oficial de Julho e Agosto desse ano. Ao todo inventariaram-se 529 “vias públicas”, divididas pela “cidade cristã” (175), Bazar (89), Patane (83), S. Lázaro (55), Long Tin Chun (24), Barra (22), Penha e Tanque Mainato (14), Tap Seac (5), etc.

O núcleo museológico do Posto do Guarda-Nocturno/沙梨頭更館 foi criado em 2015. Segundo o ICM a "exposição abrange dois temas, nomeadamente os vários postos dos guardas-nocturnos existentes em Macau e a profissão de guarda-nocturno em si. Através de fotografias históricas, da mostra de objectos, da própria arquitectura do posto do guarda-nocturno após o restauro, assim como de ilustrações feitas por um artista, a exposição dá a conhecer o estatuto desta energética ocupação e a sua transformação e evolução."

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Roman Catholic churchs

Uma edição do Chinese Repository de 1831 refere que Macau tem 12 igrejas católicas, quatro ou cinco capelas e cerca de 35 padres europeus: 
"Macao possessed twelve Romish Churches four or five Chapels and about 35 European priests."
Penha

Sé Catedral

S. Domingos

S. Domingos

S. Domingos

Seminário s. José

"The Roman Catholic churches in this city are numerous and some are magnificent specimens of architecture; the finest edifice among them was the Jesuits church or cathedral which was destroyed by fire some few years ago. (...) Besides numerous churches there are three monasteries, a convent, a college for the instruction of the Portuguese or proselytes from the Chinese nation who profess to have embraced the Roman Catholic religion. (...)"
in "China and the Chinese", Henry Charles Sirr, 1849

"As igrejas católicas romanas nesta cidade são numerosas e algumas são magníficos exemplares de arquitectura; o melhor edifício foi a igreja ou catedral dos jesuítas, destruída por um incêndio há alguns anos. (...) Além de inúmeras igrejas, há três mosteiros, um convento, um colégio para a instrução dos portugueses ou prosélitos da nação chinesa que professam ter abraçado a religião católica romana. (...)"
S. Lourenço

As imagens são postais publicados na década 1980 pelo ICM.

terça-feira, 1 de abril de 2025

RC nº76 – Edição Internacional/International Edition

A edição nº 76 da Revista de Cultura – Edição Internacional está disponível desde Janeiro último e é dedicada ao 250.º Aniversário do Nascimento de George Chinnery. A efeméride assinalou-se o ano passado. Este ano, assinalam-se os 200 anos da chegada do pintor inglês a Macau.
Entre os vários artigos sobre o tema destaco o de Patrick Conner que aborda as obras de Chinnery expostas no Victoria & Albert Museum, em Londres, instituição com uma das maiores colecções do pintor inglês; e o de minha autoria, intitulado "Testemunhos dos seus conhecidos" - o único em português nesta edição - onde, com recurso a testemunhos de quem o conheceu, se apresenta uma retrato físico e psicológico do artista britânico, autor de algumas das mais notáveis pinturas de paisagens e retratos de habitantes da região, durante a primeira metade do século XIX.
Fundada em 1987 a Revista de Cultura é actualmente uma publicação do Instituto Cultural, editada pelo Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau. Destaca-se não só pela qualidade dos conteúdos como também do excelente design gráfico, marcas que mantém desde a fundação.