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quinta-feira, 11 de abril de 2019

The Edinburgh Gazetteer Or Geographical Dictionary, Vol. 4 , Londres, 1822

Para este post escolhi um texto sobre Macau incluído no volume 4 (de um total de 6) da Edinburgh Gazetteer, uma publicação escocesa criada por volta de 1790. A edição foi feita em jeito de enciclopédia (informação geográfica, estatística, comércio, etc) e, neste caso, publicada no primeiro quartel do século 19.
Sobre Macau aborda-se de forma resumida os primórdios da chegada dos portugueses no início do século 16, a luta contra os piratas que existiam na região e que por via disso levaram à obtenção de autorização do imperador chinês para ali se instalarem a fazer comércio. Fazem-se ainda referências geográficas (nota-se algum confusão chamado a Macau ora ilha ora península), à primeira Porta do Cerco (e não a de 1870 que ainda hoje existe), a um ou outro aspecto arquitectónico bem como ao estado do território nos primeiros anos do século 19, muito marcado pelo declínio do comércio, fruto do fim do monopólio nas trocas comerciais na região e sobretudo com a China. A colecção publicada em Edimburgo inclui ainda um Atlas (mapa). Segue-se o texto original e uma tradução feita por mim do mesmo.


Macao an island and town of China situated in the bay of Canton and separated from the continent only by a narrow channel. This island is only remarkable for the town which the Portuguese have been allowed to build upon it, and which forms the only European settlement within limits of the Chinese empire. This favour they obtained in consequence of protection afforded to the empire, from a band of pirates, who not only committed great ravages on the coast, but made themselfes masters of the port of Macao, blocked up that of Canton, and even laid siege to city.
In this extremity the Mandarin applied to the Portuguese, who had vessels the neighbouring island of Sanciam. That nation readily gave their assistance, soon defeated the pirates, and made masters of the port of Macao. The emperro, upon the report of the viceroy, shewed his gratitude by allowing them to form a settlement there for the purposes of trade. They made choice of a peninsula connected with the rest by a neck land not more than 100 yards in breadth, where they built and fortified a town. The territory attached to it is about three miles in length and half a mile in breadth. The isthmus connecting it with the rest of the Island, is crossed by a Wall, projecting on both sides into the sea, and where the Chinese keep a gate and guard-house. Beyong this wall the Portuguese are seldom permitted to pass, and as the Chinese has also the power of withholding provisions, they keep the town in a state of complete dependence.
Macao is a place of some extent; the streets are narrow and irregular; the houses are built of stone, on the European plan but not elegantly. With the exception of churches and convents, the only building of consequence is the senate-house, which forms a termination to the only spacious and elegant street in the town. The governor's house, built near the landing place, has nothing remarkable in its structure or appearance though it  commands a beautiful prospect.
The English factory, a plain commodious building, is contiguous to it, and other nations have  factories built in the same style. Vessels of burden cannot enter the harbour but must anchor six or seven miles to the east. The place is defended by several strong forts mounted with heavy cannon; but the Portuguese garrison seldom exceeds 250. Vessels destined for Canton are commonly detained about twenty four hours in Macao roads till the Chinese government send out a pilot and permission to enter the Tigris.
Macao was at one time a place of greatest importance to the Portuguese, being the centre of their trade, not only with China but with Japan, Siam, Cochin-China and all the countries in this part of Asia. Since the general decline of their indian trade, which has been prosecuted by other nations, with such superior success and activity, Macao has sunk into a place of comparatively little importance. Long 113.32 E. Lat. 22. 10. N.

in The Edinburgh Gazetteer Or Geographical Dictionary, Vol. 4 , Londres, 1822
Pintura da autoria de John Webber (1751-1793)  - não incluída no livro referido.
Macau é uma ilha e cidade da China situada na baía de Cantão e separada do continente apenas por um canal estreito. Esta ilha só é notável pela cidade que os portugueses foram autorizados a construir e que constitui o único assentamento europeu dentro dos limites do império chinês. Este favor que obtiveram em consequência da protecção conferida ao império, de um bando de piratas, que não só cometeu grandes devastações no litoral, como também se tornaram senhores do porto de Macau, bloqueando e sitiando Cantão.
Nesta extremidade o mandarim pediu ajuda aos portugueses, que tinham embarcações na ilha vizinha de Sanciam. Eles prontamente deram assistência e acabaram por derrotar os piratas passando a dominar o porto de Macau. O imperador, após o relatório do vice-rei, mostrou sua gratidão ao permitir que eles se instalassem na região para fins comerciais. O espaço é uma península ligado ao continente por uma nesga de terra com não mais de 100 jardas de largura, e foi ali que construíram e fortificaram uma cidade. O território tem cerca de três quilômetros de comprimento e meia milha de largura. O istmo que o liga com o resto da ilha é atravessado por uma muralha, projetando-se de ambos os lados para o mar, e onde os chineses mantêm um portão e uma guarita. Para lá dessa muralha, os portugueses raramente são autorizados a passar, e como os chineses também têm o poder de reter provisões, os portugueses vivem de certa forma dependentes. 
Em Macau as ruas são estreitas e irregulares; as casas são construídas de pedra, ao jeito europeu, mas não tão elegantes. Com exceção de igrejas e conventos, o único edifício de registo é a casa do Senado, que fica na única rua espaçosa e elegante da cidade. A casa do governador, construída perto do local de desembarque, não tem nada de extraordinário na sua estrutura ou aparência, embora proporcione uma bela vista.
A fábrica inglesa, um prédio simples, é contíguo à casa do governador, e outras nações têm fábricas construídas no mesmo estilo. Navios de carga não podem entrar no porto, sendo obrigados a ancorar seis ou sete milhas a leste. O lugar é defendido por vários fortes onde existem canhões de peso; mas a guarnição portuguesa raramente excede os 250 homens. As embarcações que pretendem seguir para Cantão, normalmente ficam retidas cerca de vinte e quatro horas nas imediações de Macau até o governo chinês enviar um piloto e a respectiva permissão para subir pelo delta do rio na zona que chamam de Boca de Tigre.
Macau foi outrora um local da maior importância para os portugueses, sendo o centro do seu comércio, não só com a China, mas também com o Japão, o Sião, Cochin e todos os países desta parte da Ásia. Desde o declínio geral de seu comércio na Índia, que passou a ser feito por outros países, com mais sucesso e de forma mais intensa, Macau afundou-se e ocupa agora um lugar de relativa pouca importância.
Localização: Long. 113,32 E. Lat. 22. 10. N.

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