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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Casas de Penhor

Registadas em tempos idos nos anuários do Governo de Macau como “Casas de empréstimos sobre penhores”, as denominadas Casas de Penhor são uma marca da identidade do território.  
Entre as mais conhecidas estão a Tak Seng On, Xin Bao, Cheong Tai. No nº 396 da Av. Almeida Ribeiro pode ser vista uma dessas casas actualmente transformada em museu (imagem abaixo) tendo anexada uma torre prestamista.
"(...) Os chineses de Macau chamam vulgarmente “t´ong-p´ou” às casas de penhor, mas, rigorosamente, esta denominação é adstrita só aos estabelecimentos de primeira categoria, sendo as de menor importância designadas por “tái-ón, siu-át” ou “lui-kòng-kuâng”.
Não existe, presentemente, nesta cidade, nenhum “tóng-p´ou” propriamente dito. A esta categoria pertenciam a “Mán-Fông-Tóng” na Travessa de Caldeira, a “Iân-Uó-Tóng” na Rua dos Ervanários e a “Sân-Uó-Tóng” na Rua Dr. Soares. As que funcionam, actualmente, pertencem às três últimas classes. O prazo do resgate dos artigos nas casas de maior categoria é, geralmente, de dois anos, a juros de 30% ao mês. Nos de categoria seguintes, o prazo é o mesmo, mas os juros são de 20%, ao mês, até ao 10.º mês lunar, mês este em que passa a vencer só 10%, mesmo que o objecto seja empenhado, no último dia da 9.ª lua. Nas casas de última categoria, isto é, nas “lui-kóng-kuàng” (fulminadas pelo raio) – bem expressiva denominação causada por um mar de ódio que resolve os corações de quantos não conseguem deixar de recorrer à sua excessiva usura, – o prazo de resgate é só de três meses, a juros variáveis, e um mês de demora, sendo a sua clientela geralmente constituída por vadios, batoteiros, fumadores de ópio, ladrões e gatunos.
Nos recibos ou antes cautelas, nunca figuram a verdadeira descrição dos objectos penhorados. Assim, por exemplo, um relógio de oiro, por mais perfeito que seja o seu estado de conservação e por melhor garantia que ofereça o seu contraste ou toque, é sempre inscrito na cautela como ”iât-kó lán tch´ông-tông-piu”, isto é, um avariado relógio de cobre ordinário. Da mesma forma um fato feito com a melhor seda que seja, figura sempre como “iât-kin lán-sám”, isto é, um fato rasgado.
Dizem que a razão desta prática foi motivada pela necessidade que os donos das casas de penhor se viram obrigados a ter, para se defenderem d prepotência, de certos clientes, senhores poderosos, a quem nada se podia recusar, e que exigiam, no acto do resgate, um objecto melhor do que aquele que em verdade empenhara, ou então para sofisticar a cupidez de certas autoridades que não perdiam nunca a oportunidade de sobrecarregar essas casas com taxas adicionais para todos os objectos de luxo.
Para melhor disfarce, além desta fraseologia privativa, os objectos empenhados eram e ainda são descritos na cautela em caracteres estenografados, sendo as quantias figuradas em cifra e por meio de um complicado sistema de ideogramas, de forma a torna-las absolutamente ilegíveis para os não iniciados. (...)
 
Excerto do texto "Casas de Penhor" da autoria de Luis Gonzaga Gomes publicado em "Chinesices". O livro é composto por vários textos que foram publicados pela primeira vez em 1944 na revista Renascimento. Em 1952 surgiram em livro numa edição do Notícias de Macau. Já em 1986 e 1994 o ICM disponibilizou mais duas edições.

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