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sábado, 19 de maio de 2012

Viagem de Lisboa a Macau nos séculos XVI e XVII

Relação da jornada que fez ao Imperio da China e summaria noticia da embaixada que deo na Corte de Pekin... o Senhor Francisco Xavier Assiz Pacheco e Sampayo... / escrita a hum padre da Companhia de Jesus... pelo... Padre Newielhe... Lisboa : na Officina dos Herd. de Antonio Pedrozo Galram, 1754
As primeiras viagens são feitas no âmbitos das expedições missionárias para o Oriente onde pontificam em posições de destaque Goa e Macau... partindo daqui para a China e para o Japão. Assim, em 1541 partem os primeiros jesuitas: três padres e um irmão, entre os quais S. Francisco Xavier. Seguir-se-ão milhares ao longo do séculos.
Ca. 1598-1605. Amacao. Gavura de Theodore de Bry
Os estrangeiros que pretendiam seguir nestas missões do padroado português tinham de prestar juramento à coroa portuguesa, abdicar da nacionalidade e para tudo isso tinham de passar primeiro por Lisboa onde faziam tudo isto - tinham até de mudar de nome para um nome mais parecido com o português - e só depois embarcavam com vista à evangelização dos infiéis. Já não tínhamos as caravelas de quinhentos. As embarcações eram agora de mais sólida construção mas as travessias não eram menos duras e ricas em perigos e fadigas de toda a sorte.

Sugestão de leitura:
Diário da Navegação de Macau 1759-61
O Pe. A. Brou, da Companhia de Jesus. Haurindo deixou muitos detalhes sobre estas viagens. A primeria etapa da viagem era até Goa. Não havia nem conforto, nem limpeza nem higiene a bordo onde se misturavam "pobres diabos que iam procurar fortuna nas colónias, sem contar os soldados, marinheiros, mercadores, cujas maneiras careciam, as mais das vezes, de delicadeza: população rude, entre a qual se repartiam os missionários para o serviço religioso ou sanitário. Amontoados uns nos outros e expostos ao contágio de epidemias frequentes que lavravam nos seus organismos debilitados, os passageiros eram levados, em primeiro lugar, em direcção à ilha da Madeira; depois, entravam na zona dos ventos variados e do mar tempestuoso. Muitos caíam doentes, esgotados pelo enjoo e pelo escorbuto, pela falta de víveres, muitas vezes, e pela falta de água potável. Em seguida, contornava-se a costa da África, procurando escapar aos piratas corsários, cujos malefícios se vinham juntar aos perigos das tempestades e dos escolhos. Uma vez dobrado o cabo da Boa Esperança, fazia-se escala em Moçambique ou em Cochim, segundo os casos. Enfim, depois de perto de seis meses, ou quase um ano, era a chegada a Goa, onde o desembarque se fazia com tanta solenidade como o embarque em Lisboa. Citando o Pe. Trigault, o Pe. Brou evoca cenas afectuosas quando os missionários eram recebidos no porto pelos seus confrades da Índia, que se dirigiam ao seu encontro e, derramando lágrimas, se informavam com avidez das coisas da Europa. Certamente, a demora em Goa parecia cheia de doçura. Mas, para um bom número de missionários, não era este o lugar final; era apenas uma etapa indispensável. 
Depois dum repouso de quase meio ano, havia um novo embarque; era a dispersão pela China, Japão, ilhas Molucas. Macau representava o termo último das viagens por mar para os missionários da China: era o centro da actividade religiosa e comercial lusitana no país. Esta segunda parte da viagem demorava ainda um longo mês. Em resumo, era mister ao menos dois anos para ir de Lisboa ao campo do apostolado, muitas vezes regado com o sangue dos mártires. Se reflectirmos que os missionários não portugueses eram obrigados, com muitas dificuldades, a ir antes às margens do Tejo, vindo muitas vezes da extremidade da Europa, da Polónia, por exemplo, compreender-se-á que era necessário ter a alma bem temperada para inaugurar, por tantos trabalhos, uma existência perigosa".

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