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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Pinturas históricas do século 19

Praia Grande - Artista chinês anónimo - Óleo sobre tela - Cerca de 1880 Praia Grande - Artista chinês anónimo - Óleo sobre tela - Cerca de 1880
Praia Grande -Artista chinês anónimo Aguarela e guache sobre papel - Cerca de 1840
Porto Interior - Artista chinês anónimo - Aguarela e guache sobre papel - Cerca de 1840

Origens  
A província de Cantão (Guandong) tem uma longa história de contactos comerciais com países banhados pelo Mar Mediterrâneo. A influência da cultura ocidental na China, proveniente de intercâmbios comerciais marítimos, data da dinastia Tang (618-906). Desde esse período, tanto em paragens para oeste da China como nesta nação, obras de arte produzidas no Ocidente não só permaneceram em confronto com obras de arte originárias do ‘Grande Império’, como também permearam nas culturas e produções artísticas dessas civilizações. A fundação de Macau no século dezasseis e a consequente chegada a este território de missionários Jesuítas, como Matteo Ricci (1552-1610) e Giovanni Cola (1560-1626), motivaram uma rápida e crescente divulgação de obras literárias e filosofias ocidentais na China, originando uma aproximação sem precedentes entre as mentalidades da Europa e do ‘Grande Império’.  
Macau desenvolveu-se à sombra de padrões artísticos importados do Ocidente que, gradualmente, se infiltraram na China, em muito contribuindo para tal, a presença dos missionários Jesuítas em Pequim (Beijing), e as obras de arte produzidas por estes para a corte e os imperadores da dinastia Qing. As obras dos missionários católicos residentes na capital do império provocaram efectivamente novas sendas estilísticas nos arreigados moldes da tradicional produção artística chinesa.  
O édito de 1757 do governo Qing que proibiu todas e quaisquer actividades comerciais marítimas ao longo da extensa costa do império da China, com excepção de Cantão (Guangzhou), ocasionou a exclusiva concentração de mercadores estrangeiros nesta cidade portuária e na província de Guandong.   
As obras pictóricas produzidas a partir de meados do século dezoito por visitantes e artistas ocidentais que visitavam, e por vezes permaneciam, nessas paragens do sul da China, tinham, como temas principalmente panorâmicas ribeirinhas e do litoral costeiro da região, assim como cenas típicas dos seus habitantes nativos. Tais desenhos, aguarelas, guachos, pinturas e ilustrações, eram ciosamente procurados pelos viajantes e mercadores estrangeiros de então, que as levavam para as suas terras pátrias como recordações de estadias em paragens longínquas.
Desenvolvimento  
A pintura de exportação começou ser apreciadas e coleccionadas durante os meados do século dezassete, e atingiu seu ponto culminante de interesse e procura nos meados do século XIX. Estas ilustrações eram executadas numa variedade de media sendo os mais correntes e populares, o óleo, a aguarela, o guacho, e um método bastante sui generis de pintura a óleo sobre o reverso de placas de vidro — que rapidamente se extinguiu com o advento da fotografia.   Durante estes dois séculos, o artista que mais se evidenciou pela qualidade e quantidade das suas obras pictóricas, que tiveram como principal tema o território e as gentes de Macau, foi o britânico George Chinnery (1774-1852). Chinnery, que residiu durante vinte e sete anos neste enclave português no sul da China, foi o artista ocidental que mais influenciou a produção de óleos e aguarelas ‘de exportação’ feitas por artistas chineses regionais.   
Lamqua, Tinqua e Youqua — só para mencionar os de maior vulto — foram dos artistas chineses, contemporâneos de Chinnery, os que maior sucesso obtiveram, produzindo múltiplas composições num modo deliberadamente semelhante ao do mestre britânico.   
As obras pictóricas que tiveram como temática Macau, Hong Kong, Guangzhou e a província de Guangdong, produzidas pelo francês Auguste Borget (1808-1877) — durante a sua breve estadia no sul da China —, pelo médico escocês Thomas Watson (1814-1860) — nos seus longos anos de residência em Macau —, e pelo macaense Marciano Baptista (1826-1896) — radicado em Hong Kong —, proporcionaram os pintores regionais chineses com novas fontes de inspiração, não só no tratamento dos temas como nas técnicas e nos media empregues.
Características  
A crescente procura de panorâmicas e vistas destas paragens e gentes da China executadas por artistas nativos da região motivou a abertura de estúdios na área dos entrepostos mercantis ditos ‘Ocidentais’ (ou ‘Hongs’) em Guangzhou. Nestes estúdios, composições de temas estereotipados eram rapidamente ‘montados’ por assistentes e discípulos dos mais conceituados pintores chineses ditos ‘de exportação’, especificamente encarregues, segundo as suas aptitudes particulares, de pintar determinadas zonas das totalidades das superfícies pictóricas.   
Após a Primeira Guerra do Ópio (1840-1843), Xangai foi declarada como um porto ‘aberto’ ao livre comércio internacional e, de 1845 a 1849, os Estados Unidos da América, a França e o Reino Unido fundaram ‘concessões’ nesta cidade. À imagem dos seus antecessores de Guangzhou, novos artistas chineses ditos ‘de exportação’ proliferaram em Xangai produzindo inúmeras obras de arte de características memorialistas para atender à abundante procura por parte de um crescente número de residentes e visitantes estrangeiros.  
Obras de tónica expressiva notoriamente ocidental executadas por pintores estrangeiros que se estabeleceram em Guangzhou, Hong Kong e Macau durante esse período tornaram-se imediatamente alvos do interesse dos jovens pintores ‘progressistas’ chineses que, emulando tais fórmulas pictóricas, imbuiram as suas obras de um ‘naturalismo’ nunca antes visto na pintura tradicional da civilização do ‘Grande Império’, modulando os espaços e volumes dos seus temas num tratamento de luz-e-sombra.   
Mais singelos, a maior parte dos pintores chineses ditos ‘de exportação’ valorizavam o conteúdo das suas obras de arte no perfeccionismo técnico dos temas populares com maior procura, repetitivamente seleccionados a partir das mais conceituadas obras dos seus mestres-patrões chineses, na maior parte dos casos meramente autenticando o produto final com a sigla do estúdio a que pertenciam. Não sendo os ávidos compradores de composições pictóricas executadas pelos estúdios e por artistas chineses ditos ‘de exportação’ coleccionadores de elevado nível intelectual ou distintos apreciadores de arte, os seus critérios de qualidade não contribuiram para uma evolução estilística dos que, ainda que talentosos, criavam sistematicamente este tipo de composições.
Valor  
É no entanto interessante observar a dicotomia histórica entre o ‘realismo’ — indistintamente professado pelos pintores chineses ditos ‘de exportação’ — e o ‘naturalismo’ — objecto de pesquisa dos progressistas anti-tradicionalistas — de artistas contemporâneos e conterrâneos.   Note-se finalmente que, tal como o cariz das obras pictóricas ocidentais influenciou a pintura e as artes ilustrativas chinesas, também as pinturas ditas ‘de exportação’ executadas na China e por chineses, ao serem difundidas e apreciadas no Ocidente, em muito contribuiram para um maior conhecimento desta nação e foram elementos catalizadores na Europa de novas modas, géneros, estilos e padrões culturais.
Texto do Museu de Arte de Macau

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