Páginas

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Recordações fotográficas da década 1950

Edifício CTT

Templo de A-Ma

Vista da cidade

Templo de A-Ma

Jardim Camões

Ponte-cais nº1 (Largo do Pagode da Barra)

Estátua Ferreira do Amaral

Autocarro nº 5 no Largo do Pagode da Barra

Jardim S. Francisco (Biblioteca pública chinesa) e Santa Rosa de Lima

terça-feira, 29 de abril de 2025

Documento manuscrito de 1849


Este documento manuscrito em Macau com a data de 6 de Setembro de 1849 parece ser uma tradução de um documento enviado para John W. Davies (cônsul dos EUA em Cantão) pelo governador/mandarim da província de Cantão a propósito do assassinato do governador de Macau, João Ferreira do Amaral (1803-1849) que ocorreu pouco tempo antes, a 22 de Agosto de 1849.

Excerto:
" (...) I Sen Kwang Tsin, Hereditary Lord of the first grade, Governor General of the two Kwang Provinces, a President of the Board of War, Minister & Commissioner of the Ta Tsing Empire…acknowledge the receipt of the Honorable Envoy's dispatch…your Honorable Nation (United States) should, for the time being, bring its Naval force to the harbor of Macao, for the protection of its citizens, and their property, is in accordance with Celestial principles and the common sense of mankind, and I, have not the slightest suspicion…your Honorable Government to maintain its neutrality, and to have no treaties of Alliance…to pursue peace…As to the murder of the Portuguese Colonel…I, the Minister…offer a reward for the vigorous arrest of the murderers…make a secret search and to arrest them, & that absolutely they must take the Colonel's head and arm, and to produce them without delay. (...)"

Tradução/Adaptação:
" (...) Eu, Sen Kwang Tsin, Lorde Hereditário de primeiro grau, Governador Geral das duas Províncias de Kwang, Presidente do Conselho de Guerra, Ministro e Comissário do Império Ta Tsing... confirmo o recebimento do despacho da Vossa Honorável Nação (Estados Unidos) deve, por enquanto, trazer sua força naval para o porto de Macau, pois a protecção dos seus cidadãos e de suas propriedades está de acordo com os princípios celestiais e o senso comum da humanidade, e eu não tenho a menor suspeita... de que o Vosso Honorável Governo mantenha a sua neutralidade e não tenha tratados de Aliança... de que busque a paz... Quanto ao assassinato do Coronel português... eu, o Ministro... ofereço uma recompensa pela prisão vigorosa dos assassinos... que façam uma busca secreta e os prendam, e que eles devem fazer a entrega da cabeça e o braço do Coronel e apresentá-los sem demora. (...)"

Nota: A 16 de Janeiro de 1850, depois de entregues pelas autoridades de Cantão, foram recebidas em Macau a cabeça e a mão do Governador João Maria Ferreira do Amaral.

Contexto:
Em 22 de agosto de 1849 passeava Ferreira do Amaral desarmado junto do posto do Cerco quando um bando de assassinos o atacou e o trucidou cruelmente cortando-lhe a cabeça. Uma guarda de soldados chinas que estava ali perto em vez de defender o governador mostrou que estava ali para auxiliar o assassinato; ao mesmo tempo uma força militar portugueza que foi occupar o posto do Cerco recebia o fogo do forte de Passaleão que os portuguezes atacaram e tomaram de assalto. Envergonhados de tomarem a responsabilidade de acto tão covarde os mandarins reconheceram o direito que assistia aos portuguezes de se queixarem e de se reputarem offendidos. Desde esta época a independencia de Macau tornou-se inviolavel. O mandarim que residia em Macau e que por vezes tinha exercido funcções que offendiam os direitos soberanos portuguezes abandonou o seu posto e nunca mais foi substituido. As Alfandegas chinas nunca mais estabeleceram delegações no territorio portuguez. A soberania portugueza foi confirmada pelo sangue do heroico governador Ferreira do Amaral."
Excerto de "Estudos sobre as provincias ultramarinas", João de Andrade Corvo, 1887.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

"Fotógrafo japonês"

Este anúncio publicado no jornal "A Pátria" em 1927 informa sobre a passagem por Macau durante cinco dias de um "exímio fotógrafo japonês" e que "estará à disposição de quem desejar os seus serviços". A Livraria Po Man Lau, localizada no Largo do Senado, era não só livraria como também tipografia e um espaço comercial com todo o tipo de produtos relacionados com a actividade fotográfica, desde a venda de rolos à revelação de fotografias. Também vendia e produzia postais ilustrados.
 

domingo, 27 de abril de 2025

Leitura de uma litografia

A legenda desta litografia de C. Graham publicada em Londres cerca de 1840 é: "Public walk & Chinese tombs, Macao". Ou seja, "Passeio público e sepulturas chinesas em Macau". A litografia é uma entre várias de uma colecção intitulada "Sketches in China", atribuída a James Wyld, geógrafo da rainha, feita em Charing Cross (Londres) a 3 de Agosto de 1840.
Em primeiro plano do lado direito estão sepulturas chinesas numa colina e um palanquim/liteira. Ao fundo a colina de Mong Ha. Alguns edifícios representam as pequenas aldeias chinesas existentes nesta zona de Macau, nomeadamente Patane e Mong Ha, já muito perto do istmo que conduzia à Porta do Limite/Cerco. 
Ao centro, são representadas vários pessoas a andar a pé e a cavalo. Era a zona mais ampla da península para se poder andar a cavalo e abundantemente referida em testemunhos da época, nomeadamente dos ingleses, que na altura estava em guerra com a China por causa do ópio. A vasta extensão corresponderá ao que na altura se denominava a Estrada do Campo (daí mais tarde o nome Rua do Campo...) e corresponde sensivelmente à actual Av. de Sidónio Pais, mas que antes de receber este nome, denominava-se Alameda Vasco da Gama (ca. 1898) tal era a largura e comprimento da mesma.
Archibald R. Ridgway, médico britânico, visitou Macau e Hong Kong em 1843 deixando testemunho dessa passagem em artigos na imprensa - num total de 12 - intitulados "Letters from Kong Kong and Macao" publicados em 1844. O excerto que se segue parece ter sido escrito para esta litografia....
"The Campo is of considerable extent and surrounded by irregularly shaped hills whose rocky sides are completely covered with Chinese graves, all of which are of the lower classes and marked by mere headstones or grassy mounds presenting but little of the very characteristic appearance of those of the higher ranks. After joining the horse road, we pass a Chinese village and also for a few yards between two very fine bamboo hedges on leaving which the road winding round an isolated hill terminates on a fine piece of sandy beach that runs along the narrow neck of land co necting the Peninsula with the mainland and on which the Barrier is built. The races are held on this beach and it affords an opportunity for a capital gallop especially now when no one hesitates to pass through the broken down barrier wall for no guard has been near it since it was attacked by the British on the 19th of August 1840 when the Chinese received a rather severe and unexpected lesson. Before that time a close approach to it even was looked upon with distrust and indignation by the celestials who were stationed there in order to guard the central land from profanation by barbarian footsteps. (...)"

Tradução/Adaptação:
"O campo tem uma extensão considerável e está rodeado de colinas de forma irregular, cujas encostas rochosas estão completamente cobertas por sepulturas chinesas, todas elas das classes mais baixas e marcadas por meras lápides ou montes relvados, apresentando pouco do aspecto característico das de classes mais altas. Depois de entrar na estrada para cavalos, passamos por uma aldeia chinesa e também por alguns metros entre duas sebes de bambu muito finas, ao sair dela a estrada que serpenteia em torno de uma colina isolada termina num belo pedaço de praia arenosa que corre ao longo do istmo, pedaço de terra que liga a península ao continente e no qual a barreira (Porta do Limite/Cerco) está construída. As corridas são realizadas nesta praia, que oferece uma oportunidade para um galope espetacular, especialmente agora que ninguém hesita em passar a barreira quebrada, pois nenhum guarda esteve perto dela desde que foi atacada pelos britânicos a 19 de Agosto de 1840, quando os chineses receberam uma lição bastante severa e inesperada. Antes disso, até uma mera aproximação era vista com desconfiança e indignação pelos celestiais que ali estavam posicionados para proteger a terra continental  da profanação provocada pelos passos dos bárbaros."


Edital de 1830 assinado pelo Mandarim da Casa Branca proibindo as corridas de cavalos em Macau:
"Leu, the haong shan magistrate, promoted ten steps and marked with approbation ten times hereby issues a severe interdict. During the first decade of the third moon being on public business at Macao I saw with my one eyes the fo reigners in the sands at the barrier running horses for sport. But there is at that place a road which is a thoroughfare and it is apprehended that the foot passengers may be injured which would lead to disturb ances between the flowery Chinese and barbarous foreigners. I therefore command the Macao linguist to convey my orders to the barbarian eye requiring him to prohibit strictly these proceedings. However after this it appears the said barbarians run races and made sport a second time. This really is most unlike serious business. Nevertheless excusing what is past I hereby issue a strict interdict and order all the barbarians of Macao to know that hereafter they must obey the laws and regulations of the celestial empire and must not any more run races for sport at the thoroughfare on the sands near the barrier, because it may lead to injuring the foot passengers and causing a disturbance. After issuing this proclamation let every one implicitly obey. If any presume to oppose he will be seized with rigour and severely punished. Don t say that you have not been told before hand. Taou Kwang 9th year 3d moon 25th day 28th April".

sábado, 26 de abril de 2025

Av. Inf. D.Henrique/Praia Grande/San Ma Lou: 1967

 clicar na imagem para ver em tamanho maior

Cruzamento da Av. Almeida Ribeiro/Praia Grande/Av. Infante D. Henrique em 1967 num fotografia de John Hansen. Ao centro destaca-se o Hotel Central e os néons publicitários do Largo do Senado. O anúncio Viceroy está numa das entradas do Hotel Riviera (esquina da Praia Grande com a San Ma Lou). En frente à outra entrada do hotel ficava o restaurante Solmar. Vê-se parte do edifício dos CTT e do lado direito o BNU - com a bandeira de Portugal - e as típicas arcadas. Ainda à direita, as janelas quadriculadas são do cinema Nam Van, inaugurado poucos anos antes. Havia outros cinemas: Império, Oriental, Apollo, Roxy, Alegria, Lai Seng, Capitol, Vitória, etc.. A viatura em primeiro plano parece ser do Governo. A indumentária dos transeuntes sugere que a fotografia foi tirada no Outono/Inverno. A imagem permite ainda ver riquexós, bicicletas, motorizadas e um autocarro (vermelho). Do lado direito o néon da Kodak é a localização da Foto Princesa, a conhecida empresa de revelação de fotografias e venda de rolos fotográficos. O néon publicitário do lado direito 'sinaliza' a Esplanada Waltzing Matilda, fundada por um australiano.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Testemunho sobre o 25 de Abril

Testemunho de Manuel Tomé
"Estava eu em Macau. Era estudante no Liceu Nacional Infante D. Henrique e trabalhava em part-time como locutor na Radiodifusão de Macau. Prestes a sair de serviço, ouvi tocarem as campainhas - sinal de notícias importantes - dos faxes da Reuters e France Press. Em língua inglesa e francesa, noticiavam ambas as agências, que se dera um "coup-de-état" em Portugal. Tanto uma como outra das agências noticiosas, usavam a terminologia francesa.
Surpreso, liguei para casa do Sr. Alecrim - pai da Hortense Alecrim -, dando conhecimento. E pela manhã, estava eu e o Sr. Alecrim no Palácio do Governo e perante o Governador de Macau. Fui apresentado como a pessoa que tinha alertado para o facto. Após cerca de meia-hora de reunião, determinou o General Nobre de Carvalho, que devíamos, ambos, ficar calados sobre a notícia.
Mas foi impossível, manter tal estado de coisas - quanto mais não fosse por que de Hong Kong e através das rádios locais e televisão, não se falava de outro assunto. Todavia e em Macau, só três dias depois, tal facto, passou (oficialmente) a ser de conhecimento público. Não tinha eu, 16 anos de idade e fazia - com muito orgulho - parte da história de Portugal em Macau. E isso, não vou nunca esquecer - até por toda emoção que vivi."
Campo dos  Operários, Hotel Lisboa, Liceu, Estátua gov. Ferreira do Amaral e padrão henriquino frente ao liceu (canto inferior direito). A Ponte Macau-Taipa/Nobre de Carvalho foi inaugurada em Outubro de 1974


A este propósito recordo um excerto de uma notícia da agência Lusa de 2024:
"Quando há 50 anos Portugal saiu à rua para celebrar o fim da ditadura, foi um músico do regime que revelou a novidade em Macau, onde o alcance do Estado Novo não se sentia da mesma forma.
Rui de Mascarenhas atuava no Mermaid, um clube noturno no Hotel Lisboa, em Macau, quando a Revolução dos Cravos derrubou a ditadura a mais de dez mil quilómetros. E foi através deste “cantor do regime”, nascido em Moçambique, que a notícia chegou ao centro do poder do território, conta à Lusa o investigador da história de Macau João Guedes.
Mascarenhas deu a novidade ao então diretor da Emissora de Radiodifusão de Macau (atual Rádio Macau) Alberto Alecrim, que a transmitiu ao governador José Nobre de Carvalho. Só mais tarde a informação da liberdade chegou a todos, através de um noticiário da rádio britânica BBC, “retransmitido pelas estações de rádio de Hong Kong”.
Esta é a “história corrente” de como abril de 1974 alcançou Macau. Mas e como é que a notícia foi comunicada a Mascarenhas?
“Eu só vejo uma hipótese que é a seguinte: ninguém tinha telefones para ligar para Lisboa, a não ser a tropa. Terá ido aos correios telefonar para alguém?”, sugere.
Nobre de Carvalho abandonou o posto nesse mesmo ano, mas não imediatamente após Abril, “ao contrário dos outros governadores das colónias”, provavelmente pelo caráter “não extremista” e por não ter sido “ostensivamente defensor de Salazar”, analisa o investigador. (...)"
Rua 25 de Abril em Macau - perto da Praça do Lago Sai Van
Foto (recente) de Luís Almeida Pinto

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Na véspera de Abril de 1974

Através de uma leitura breve por várias edições do jornal Notícias de Macau - "visado pela censura" - aqui ficam alguns elementos sobre o território na véspera do 25 de Abril de 1974. O jornal custava na altura 40 avos.
Entre os anunciantes assíduos nas páginas do jornal estavam o Hotel Central, o restaurante Fat Siu Lau, a Farmácia Popular (Largo do Senado como tel. 3739), a Tai Fong - cambistas, ourives e joalheiros (Av. Almeida Ribeiro) e o Banco do Oriente, na altura ainda com sede provisória no 1º andar do Hotel Lisboa.
Uma visita às "inolvidáveis ilhas da Taipa e Coloane" ou uma ida ao cinema - Império, Nam Van ou Apollo" eram algumas das possibilidades para ocupar os tempos livres.
Os ferrys Chung Shan, Nam Shan, Wah Shan e Tai Shan, da empresa Shun Tack, asseguravam as ligação marítimas entre Macau e Hong Kong, atracando no Porto Interior. O Porto Exterior era utilizado pelos hidroplanadores Guia, Penha, Taipa, Patane, Cacilhas, etc... Efectuavam cerca de 20 viagens diárias entre as duas cidades, apenas durante o dia.
No início de Macau anunciava-se a realização entre 16 e 17 de Novembro de 1974 de mais uma edição do Grande Prémio de Macau.
O Hotel Lisboa, na altura com apenas 4 anos de existência, proporcionava várias ofertas de entretenimento. Para além do clube nocturno Mermaid, entre 1 e 7 de Março, a artista Jezabel dava um espectáculo no restaurante "Portas do Sol", um dos vários restaurante do hotel.
A STDM era proprietária do Hotel Lisboa e também do Estoril (o primeiro), os dois com casino. O hotel Sintra estava prestes a ser inaugurado. Tinha ainda o casino flutuante "Macau Palace" no Porto Interior.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Procissão fúnebre junto ao templo de A-Ma

Esta fotografia não tem a melhor qualidade para permitir uma análise 100% correcta. Após algum tempo de análise conclui que no canto inferior esquerdo está timbrada a expressão "Po Man Lau Macao". Provavelmente da década 1930/40 mostra uma procissão fúnebre no largo frente à entrada do Templo de A-Ma, na Barra. 
Entre os vários elementos que permitem esta conclusão estão as "lanternas funerárias" (em 1º plano) usadas nestes cortejos. Incluí uma fotografia do mesmo local como prova praticamente inequívoca que se trata do local mencionado. A Po Man Lau era uma papelaria/livraria que teve morada na rua de S. domingos e no Largo do Senado na primeira metade do século 20. Também se dedicava à fotografia vendendo rolos e fazendo a revelação dos filmes. Tinha também uma tipografia e editada pequenos livros e postais ilustrados.

terça-feira, 22 de abril de 2025

Grémio Militar na década 1920

Há 100 anos... o Grémio Militar continuava localizado junto à água...
... tal como quando foi inaugurado em 1870. A pintura acima é de cerca de 1875.

Anúncio no jornal A Pátria em 1926
Soirée de ano novo

Passou a designar-se Clube Militar na década 1940
Postal da década 1920. O nº 101 de uma colecção da livraria Po Man Lau

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Baixo-Relevo em granito da antiga igreja da SCM

No topo da parede do patamar da escadaria principal do antigo edifício do Leal Senado (actual IACM) está um baixo-relevo feito em granito que fazia parte da fachada principal da antiga igreja da Misericórdia (da Santa Casa, logo ali ao lado no Largo do Senado) demolida parcialmente em 1883.
Tudo indica que o baixo-relevo datado do século 17 tenha sido feito em Macau. Representa a Virgem Mãe da Misericórdia, cujo manto protector e acolhedor dos crentes é assegurado em cada lado por um querubim. À sua direita pode ver-se Jorge da Costa, o cardial de Alpedrinha (1406-1508)* e o Papa Alexandre VI (1431-1503); à sua esquerda, a rainha D. Leonor (1458-1525), D. Martinho da Costa (1434-1521) 9º arcebispo de Lisboa e o frade Miguel Contreiras**. Atrás está o rei D. Manuel (1469-1521).
*Cardeal português, foi ainda arcebispo de Braga e de Lisboa. Em Roma ocupou o lugar cardinalíssimo de São Lourenço em Lucina. Chegou a ser eleito papa no Conclave do Outono de 1503 (após a morte de Alexandre VI) mas não aceitou o lugar.
** Tido como o fundador da Misericórdia de Lisboa, em 1498, a par da rainha D. Leonor, investigações históricas recentes indicam que o frade espanhol - confessor da rainha D. Leonor - poderá não ter existido já que não existem provas documentais.
PS: O baixo relevo não foi a única peça a ser retirada da antiga igreja, assunto a abordar num futuro post.

domingo, 20 de abril de 2025

Uma foto rara do Hospital Militar S. Januário

Década 1920. Ao fundo a ilha da Taipa
Clicar na imagem para ver em tamanho maior
 Inaugurado em 1874 recebeu o nome do Santo Januário em homenagem ao santo padroeiro do então governador Januário Correia de Almeida. Foi demolido em 1952 sendo construído outro no mesmo local e inaugurado em 1954. Este último durante até 1987 quando também foi demolido para dar lugar ao actual.
A fotografia acima foi tirada após o tufão de Setembro de 1874; assinalei a localização do hospital no colina de S. Jerónimo. foi o primeiro hospital construído de raiz. Antes, o hospital militar (que sucedeu à enfermaria militar) esteve alojado em vários edifícios como o convento de Santo Agostinho.



sábado, 19 de abril de 2025

"Areia Preta" em vez de "Praya Grande"

Neste postal publicado nos primeiros anos do século 20 a legenda está errada. A fotografia não mostra a "Praya Grande" mas sim a zona da Areia Preta, 'estância balnear" frequentada pela elite da sociedade macaense. Também há uma versão a cores (pintadas). 


Na edição de 23 de Junho de 1926 o jornal A Pátria refere que "tem estado cada vez mais concorrida a praia de banhos da Areia Preta, achando-se já ali construídas várias barracas de vários clubes e de famílias particulares, vendo-se todas as manhãs e tardes cavalheiros e senhoras praticando o bom exercício de natação. Informam-nos que com isto muito vêm a perder as mesas do predilecto jogo de ma-cheok". (mah-jong)

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Igreja de Nossa Senhora das Dores (Ká-Hó)

A Igreja de Nossa Senhora das Dores foi construída em 1966, durante o bispado de D. Paulo José Tavares, para servir as necessidades religiosas de Ká-Hó, onde, naquela época, viviam as famílias de leprosos curados e alguns doentes novos. Tem um grande crucifixo de bronze sobre o frontispício. Na antiga leprosaria foi feita uma pequena capela em 1934.

Projectada pelo escultor italiano Oseo Acconci, tem uma estrutura de betão armado, nave em forma triangular e uma torre sineira no alçado norte. As duas primeiras imagens são postais ilustrados da década 1970. A fotografia abaixo é do início do século 21.

Numa visita em 2024 - há precisamente um ano - tive direito a visita guiada a este espaço que é de facto magnífico, incluindo o cenário envolvente e o silêncio que impera. A precisar de algumas obras de restauro, nomeadamente nas estátuas no exterior. É nos dias de hoje um local onde impera o silêncio



quinta-feira, 17 de abril de 2025

"Portos do Mar da China"

 Colecção de 6 postais editados pelo Museu Marítimo de Macau na década 1990

Os postais ilustrados reproduzem pinturas da segunda metade do século 19 - propriedade da Marinha Portuguesa - de Macau (2), Hong Kong (1), Cantão (1), Boca Tigre (1) e Xangai (1).
Porto Interior (em cima) e baía da Praia Grande (em baixo)
As pinturas fazem parte do vasto espólio do Museu de Marinha (Portugal)

terça-feira, 15 de abril de 2025

Incêndio no Sui Tai em Agosto de 1928

O "Sui Tai" ancorado em Hong Kong. Desde o final do século 19 e até Agosto de 1928 fez a ligação marítima entre Macau e Hong Kong.
The China Mail (Hong Kong) 24.8.1928
A Verdade (Macau) 25.8.1928

segunda-feira, 14 de abril de 2025

domingo, 13 de abril de 2025

Jean François Régis Gervaix (1873-1940): missionário

Há 100 anos partia de Macau para Pequim, onde foi leccionar francês e literatura francesa na universidade local, o padre Jean François Régis Gervaix (1873-1940) missionário francês da Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris ordenado em 1898. Nesse ano ano partiu para a China sendo colocado em Cantão de onde partiu em 1916 para Macau como membro do Padroado Português. Esteve ao serviço da Diocese de Macau até 1925, sendo professor de francês no Seminário de S. José. 
Muito activo na vida cultural da cidade é da sua autoria o "Resumo da história de Macau" publicado em 1927 sob o pseudónimo Eudore de Colomban em "colaboração com o capitão de artilharia Jacinto José do Nascimento Moura", que também foi o editor da obra.

Trata-se de uma síntese da História de Macau que resulta de um concurso promovido em Abril de 1923, pelo então governador Rodrigo José Rodrigues (1879-1963) empossado nesse ano. O objectivo era a elaboração de um manual de história para ser ministrado nas escolas do território. O concurso teve a duração de quatro meses e apenas um trabalho foi apresentado.
Na portaria nº 67, publicada no Boletim Oficial do Governo da Província de Macau a 21 de Abril de 1923 pode ler-se:
"Tendo reconhecido quanto, entre a mocidade das escolas oficiais da Província é quase completo o desconhecimento da história da colónia, notável precisamente pelos feitos que aqui ocorreram e a enobrecem. Considerando o valor deste conhecimento na educação e formação da consciência cívica da juventude, o Governador da Província de Macau determina o seguinte: Está aberto o concurso, perante o Inspector da Instrução Pública, pelo prazo de 120 dias, a contar da data desta portaria, para uma história de Macau destinada ao ensino nas escolas; obra vazada nos moldes das histórias de Portugal adoptadas nas escolas da metrópole, nomeadamente as de J. Seguier, Fortunato de Almeida e outras. A obra deve ligar e relacionar continuamente a história de Macau com a história pátria, deve ter em atenção os leitores a que se destina, a sua idade, o seu vocabulário e não empregar palavras ou forma de linguagem que estejam fora da sua compreensão. Deve ser sucinta, clara e grandemente ilustrada com fotogravuras e imagens educativas, evitando-se composições fantasiosas".
Anúncio - jornal A Pátria 1928

Colomban/Gervaix escreve no livro: "Bem merece Macau recolher os frutos que semeou com tanto trabalho, e compete a todos os portugueses, metropolitanos e macaenses, unirem-se e redobrar de esforços e iniciativas, para que o nome português seja hoje, como foi outrora, no País dos Amarelos, sinónimo de diplomacia e iniciativa nos seus governadores, de bravura nos seus soldados, de fé nos seus missionários, de patriotismo, trabalho, honestidade e altruísmo em todos os seus habitantes."
Amigo do padre, seria o capitão Jacinto Moura a empenhar-se na publicação da obra - o governador voltara logo em 1924 para Portugal - quatro  anos depois de ficar pronta: 
"Como português e amigo de Colomban, não podia conformar-me com a perda do seu pequeno trabalho, que, se não era perfeito, representava, além do seu valor intrínseco, um alto exemplo de apreço por assuntos, que a nós, portugueses, mais que a ele, deviam interessar. Solicitei-lhe, portanto, insistentemente a publicação do seu trabalho. Colomban acedeu, por fim, sendo-me, porém impostas as condições de o aperfeiçoar e de lhe dar o meu nome, sem fazer a mais leve referência ao seu. Se a primeira delas era quase insuportável, a segunda era-me absolutamente impossível aceitar. Colomban, vencido pela amizade, consentiu por fim, que o seu nome ocupasse o devido lugar, cabendo-me a mim não só refundir e aumentar o seu trabalho como todos os encargos e direitos... Assim, e apenas com os obséquios e conselhos de alguns amigos, a quem fico muito reconhecido, surgiu o presente livro."
O padre Gervaix foi um dos fundadores do "Instituto de Macau" em Junho 1920. Numa conhecida foto de grupo - imagem acima - numa homenagem a Camões na gruta com o mesmo nome, podem ver-se da esquerda para a direita: Eng. Eugénio Dias de Amorim, Camilo Pessanha, D. José da Costa Nunes, Com. Correia da Silva (Paço d'Arcos), Humberto S. de Avelar,, Alm. Hugo de Lacerda Castelo Branco, Dr. José António F. de Morais Palha, Padre Régis Gervais (é o quinto da direita para a esquerda), José Vicente Jorge, Dr. Manuel da Silva Mendes, Dr. Telo de Azevedo Gomes e Ten. Francisco Peixoto Chedas.

No ano em que chegou a Macau Gervaix publicou no jornal O Progresso (16.7.1916) um poema em francês de homenagem a Camilo Pessanha:
"Je ne sais que ton nom, j’ignore ton visage,
Qu’on dit celui d’un sage,
D’un poete, sacré par le choix merité
De la posterité…
Car ton nom passera lumineaux d’âge en âge,
Comme un feu qui surnage
A l ‘horizon qui fuit sur l’abîme agité
De l’immortalité…"

Em 1936 Gervaix parte de Macau para Hong Kong onde fica até 1938. Regressa então a França onde morre a 4 de Novembro de 1940, com 67 anos. O padre/monsenhor Manuel Teixeira, seu aluno, considerou-o "o grande historiador francês de Macau" 
Na edição da RC nº 19 (português e inglês) Abril/Junho 1994, monsenhor Manuel Teixeira escreve que "O seu mau génio acompanhou-o sempre e quando embirrava com um aluno, este era reprovado no fim do ano. - 'Messieur Sousá apanhará uma raposá; Messieur Pirés apanhará uma raposá", dizia ele. E assim sucedeu: tanto o Sousa como o Pires, meus companheiros, apanharam raposa no fim do ano. Como dedicava todo o seu tempo à história, não dava temas ou exercícios nem os corrigia. Fazia o ditado da sua cabeça sobre qualquer acontecimento local. No fim, um de nós ia ao quadro e escrevia o seu ditado; havendo qualquer erro, ele corrigia-o e os outros corrigiam os seus ditados pelo quadro preto."
Deixou inúmeros artigos sobre a história da presença portuguesa e da Igreja no Oriente.  Uma fonte também importante são as dezenas de cartas que enviou da China e foram publicadas na revista Missions Catholiques (Paris). Foi membro de várias instituições internacionais, v. g. a Associação Internacional dos Historiadores da Ásia. Grande Colar e Sócio da Academia Portuguesa de História.

Curiosidades:
- Em 1925 publicou no Boletim Eclesiástico da Diocese "Histoire populaire de Macao".
- Assinou ainda textos na imprensa macaense sob o pseudónimo Gervásio.
- Em 1928 Colomban viria a editar o seu texto, mas em francês, na cidade de Pequim sob o título "Histoire Abregee de Macau" em dois volumes. 
- Em 1980 a obra (em português) foi reeditada.