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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Testemunho de um turista em 1876

Numa edição de 1877 do "Tijdschrift van het Aardrijkskundig Genootschap" - jornal da Sociedade de Geografia da Holanda - foi publicado um testemunho de um turista feito no ano anterior.
"O viajante ou turista não precisa ficar muito tempo em Macau, porque dois ou três dias são suficientes para examinar tudo com precisão. Chegado de Cantão, embarquei no vapor (...) e cheguei àquele local ao fim de quatro horas. Devido a esta curta viagem, os residentes de Hong Kong passam frequentemente os domingos em Macau, para os quais os bilhetes de ida e volta são a um preço reduzido. Para a viagem só de ida pagam 3 dólares podendo visitar a mais importante e certamente a mais bonita cidade de toda a Ásia Oriental. Macau (...) parece ter entrado no sono da morte em comparação com o passado. Vindo-se de Hong Kong chega-se a uma cidade provinciana, ancoradouros rasos, fortes antigos e delapidados, fachadas de igrejas pitorescas, casas pintadas, uma população que se move lentamente, tudo isso são imagens dignas de uma cidade medieval que contrasta fortemente com a jovem, enérgica e bem construída Hong Kong, a cidade do trabalho, sendo Macau a cidade para descansar desse trabalho."
Vista panorâmica da Praia Grande. Fotografia ca. 1870/80
Imagem não incluída na obra referida

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Pintura "Bay of Macau"

Neste post uma pintura - óleo sobre tela 47 x 61 cm - com a representação da baía da Praia Grande em meados do século 19. Em primeiro plano do lado direito a zona do que viria a ser o Jardim de S. Francisco. Ao fundo à esquerda a colina e ermida da Penha.

É mais um exemplar da denominada "escola chinesa". Uma das características é não estar assinado. Existem outras pinturas muito semelhantes.

Detalhes da pintura

terça-feira, 29 de outubro de 2024

A viagem de comércio Macau-Manila nos séculos XVI a XIX

No post de hoje apresento uma sugestão de leitura com o livro "A viagem de comércio Macau-Manila nos séculos XVI a XIX", da autoria de Benjamim Videira Pires. 2ª edição pelo Centro de Estudos Marítimos, Macau, 1987.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

"Oficinas Navais de Macau: cem anos de construção e reparação naval"

A presença da Marinha portuguesa em Macau e o seu permanente envolvimento económico e administrativo na vida do Território sempre exigiu estruturas de terra capazes de apoiar a atividade no domínio marítimo. Assim, daquela necessidade, nasceram no final do século XIX as Oficinas navais de Macau, estruturas de apoio à pequena frota de embarcações da Capitania dos Portos e os navios da Marinha de Guerra em Comissão no Extremo Oriente.
"A partir da recolha de documentação dos arquivos da Capitania dos Portos e das Oficinas Navais de Macau, o autor traça a história de «Cem anos de construção e reparação naval», que se cruza com a história da Marinha e da presença portuguesa no Território, através de uma perspectiva metodológica que as ilumina mutuamente".
Oficinas Navais de Macau: cem anos de construção e reparação naval
Fernando David e Silva. Museu Marítimo de Macau, 1993

Fernando Alberto Carvalho David e Silva (n.1947) ingressou na Marinha em 1965 como Cadete da Escola Naval. Prestou serviço embarcado (1969-1976), no Corpo de Fuzileiros, Direcção do Serviço de Manutenção, Arsenal do Alfeite, Escola Naval, Oficinas Navais de Macau e de novo na Escola Naval. Promovido a contra-almirante em 2000, foi nomeado Director de Navios, cargo que exerceu até 2004. Entre 2004 e 2011, quando passou à situação de reforma, serviu na Superintendência do Serviço do Material, no Conselho Superior de Disciplina da Armada e como juiz-militar no Tribunal da Relação do Porto. É licenciado em História, mestre em História Marítima e doutor em História Contemporânea, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 
Curiosidade: a denominação original é oficina de máquinas da Doca D. Carlos I


Década 1960
Década 1950

domingo, 27 de outubro de 2024

Meio milénio do nascimento de Camões na revista Macau e na Revista Cultura

Com o blogue Macau Antigo a celebrar mais um aniversário já no próximo mês e num ano repleto de efemérides, incluindo o meio milénio do nascimento de Camões, aqui ficam as referências aos dois artigos que publiquei recentemente na revista Macau (edição em português) e na edição internacional da Revista Cultura, ambas editadas em Macau.
Artigo
"A Gruta de Camões: história e memória"
in revista Macau, Julho 2024
Artigo 
"Descrições e iconografia do Jardim e da Gruta de Camões no século XVIII", 
in n.º 75 da edição Internacional da Revista de Cultura (Macau, 2024)

sábado, 26 de outubro de 2024

Edital que oferece "alviçaras": 1889

"D'ordem do Leal Senado se faz publico, que se offerecem alviçaras* a quem puder descobrir carne de gado bovino e suino abatido fóra do matadouro municipal, e bem assim áquelles que apprehenderem os que trazem egual carne para vender no mercado" (...)
Excerto de um edital publicado num edição de Setembro de 1889 do Boletim da Província de Macau e Timor.
*Alvíssaras: recompensa dada por boas novas, pela restituição de objeto perdido ou por prestação de qualquer serviço ou favor. Do árabe al-bixrā que significa "boa nova".

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Marble's Round the World Travel-Guide

"Marble's Round the World Travel-guide" é um guia turístico com 429 páginas da autoria de Fred Erbel Marble. A primeira edição é de 1925. Em 1927 surge uma edição revista e aumentada. Ambas são profusamente ilustradas e incluem mapas.
Macau surge a partir da página 142 e inclui um anúncio dos vapores que faziam a ligação entre Hong Kong e o território.
"(...) The city itself is a medieval Portuguese town (...) Among the places of interest are the Praia Grande, a mile-and-a-half crescent esplanade along the waterfront; the Bishop's Palace with his splendid view of the city and surrounding country; Casa Garden, where Camoens, the great Portuguese poet (...)"

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

"Uma tarde triunfal de sol" no Outono de 1908

No romance "Os Dores", Henrique de Senna Fernandes descreve um dos passatempos preferidos da população local nos primeiros anos do século XX.
"Era uma tarde triunfal de sol, naquele dia de Outono de 1908. O Verão de S. Martinho continuava luminoso, o céu sempre límpido, sem um cisco de nuvem. O canal, entre as ilhas da Taipa e Coloane, fulgia de miríades de cintilações, a paisagem circundante muito nítida, como se desenhada a lápis. (...) Dos cinco passageiros que tinham alugado a embarcação de recreio para a pesca à linha ou à cana, ao largo de Macau, quatro saltaram para terra, mergulhando as pernas na onda ligeira. Desentorpeceram os membros da pouca mobilidade da embarcação, depois de horas de boa safra que enchera os cabazes de peixe".

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Detalhes da "Planta Geral da Cidade e Novo Porto" de 1927

Já antes dediquei um post a esta "Planta Geral da Cidade e Novo Porto de Macau", publicada pela Direcção das Obras do porto de Macau. 
Foi editada pela Tipografia Mercantil de M. T. Fernandes e Filhos em 1927 e litografada pela "Hongkong Printing Press", de Hong kong.
Trata-se de uma planta de grande formato na escala de 1:40000, dobrada em 4 vezes com dimensões totais de 130 x 99 cm.
Na planta já estão assinalados os aterros feitos nessa década no Porto Interior e no Porto Exterior, onde está assinalado, por exemplo, o "terreno reservado para a futura gare do caminho de ferro" no sopé da colina da guia na antiga praia de Cacilhas, projecto que nunca foi executado, tendo ali sido construído o reservatório. Refere-se ainda na zona marítima o local do "Novo Porto Exterior" já rodeado de molhes e reservado a "navios de alto bordo" com profundidade a rondar os seis metros.
Na zona Norte antigo hipódromo está referenciado como "Campo de Jogos Desportivos" e refere-se também a área do "Campo de Exposição e Feira (Industrial)" com um pequeno lago realizada esse ano numa vasta área que ia do templo de Kun Iam Tong (Av. do Coronel Mesquita) até à Avenida Horta e Costa.
Na parte inferior estão duas plantas de Macau: uma de 1840 por W. Bramston e outra "Macau e Territórios Visinhos". - Escala 1:80000
Inclui ainda uma ilustração de uma vista panorâmica da península/cidade.
É muito provavelmente a primeira planta onde surge representada pela primeira vez a Avenida de Almeida Ribeiro após a respectiva conclusão.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Estação para Jerinxás

 

A fotografia é da década de 1960. Trata-se provavelmente da rua Central (com calçada à portuguesa). Podem ver-se vários riquexós, ou jerinxás, como também eram designados. A placa assim o indica: Estação para Jerinxás". Dados de 1965 indicam que existiam um total de 123 na cidade de Macau.

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

A Narrative of an Exploratory Visit to Each of the Consular Cities of China

"A Narrative of an Exploratory Visit to Each of the Consular Cities of China, and to the Islands of Hong Kong and Chusan, in Behalf of the Church Missionary Society in the Years 1844, 1845, 1846", Rev. George Smith, London, 1847.
Ilustração da Baía da Praia Grande incluída no livro
"As belas e largas estradas ao longo da praia semicircular apresentam uma aparência heterogénea das várias raças de descendentes de chineses e europeus que formam a sua população".
Nos primeiros anos da década de 1840 o reverendo norte-americano George Smith visita Macau, partindo de Cantão, numa viagem de 30 horas. Está no território cerca de duas semanas no mês de Novembro, para, por indicação médica, "mudar de ares".
Excertos:
"The combined effects of climate and close application to the study of Chinese on my health at length rendered it necessary in the opinion of my medical adviser that I should leave for Macao for change of air. Accordingly, on Nov 14th I left Canton soon after sunset in a native fast boat accompanied by two American gentlemen. After a voyage of about thirty hours, during which I suffered considerably from pain in the head and fever, we came to anchor in Macao harbour soon after midnight on the 15th. (...)
On landing I proceeded to a Portuguese hotel where I was confined to my room for three days and then removed to the house of an American Missionary the Rev. W. Lowrie. (...)
The view of Macao is very striking as seen from the harbour and the place itself forms the most delightful residence open to foreigners in China. Having been for two centuries in the possession of the Portuguese it presents to the eye the aspect of a European city with its assemblage of churches, towers and forts.
It stands on an inconsiderable promontory of the island of Heang shan, from which it is separated at the isthmus by a narrow fortification jealously guarded in former times by the Chinese to prevent communication with the interior. 
It possesses two fine harbours, the inner and the outer one, on each side of the headland. Its fine broad roads on the semi circular beach present a motley appearance of the various races of Chinese and European descent which form its population.
The European houses are spacious and of handsome exterior. Until the conclusion of the late war it was the only residence for the families of foreign merchants who were prohibited from taking their wives to Canton . (...)
On the morning of December 2nd, I left Macao for Hong Kong in a native passage boat crowded with Chinese passengers who pretty well divided their whole time between eating smoking and gambling."

domingo, 20 de outubro de 2024

Postal ilustrado: Largo do Senado no final da década 1960

Postal ilustrado (foto de K. H. Tam) impresso em Macau na tipografia Wing Tak.
Legenda: 
"Macau's unique Municipal Square where the flags of Portugal and mainland China flutter peacefully together as a symbol of the remarkable tolerance in the overseas province"

“A singular Praça Municipal de Macau (Largo do Senado) onde as bandeiras de Portugal e da China continental tremulam pacificamente como símbolo da notável tolerância na província ultramarina”

Nota: Nesta época viviam-se tempos mais calmos face aos recentes tumultos de 1966/67 fruto dos quais, entre outros aspectos, foi derrubada a estátua do coronel Vicente Nicolau Mesquita que se encontrava no largo

sábado, 19 de outubro de 2024

Criação do Centro de Aviação Marítima

O Centro de Aviação Marítima foi criado para a Marinha Privativa de Macau através do Diploma Legislativo nº 22 (14.6.1928) publicado no Boletim Oficial a 14 Junho de 1928. Era governador Artur Tamagnini Barbosa. Este CAM seria extinto a 11 de Abril de 1933.


A 10 de Novembro de 1927 era inaugurado Centro de Aviação Naval.
Nas imagens o diploma legislativo da criação do CAM e a localização do hangar na Baía de Nossa Senhora da Esperança - primeira imagem - na ilha da Taipa, em 1935 num levantamento feito pelas Obras Públicas e numa carta do Comando Militar datada de 1955.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

José Matias Cortes: 1944-2024

No mês em que nos deixou o capitão-de-mar-e-guerra José Matias Cortes (Escola Naval - Marinha de Guerra - classe de engenheiros maquinistas navais) aqui fica uma homenagem.
A primeira fotografia é das Oficinas Navais (das quais foi director) na entrada do Porto Interior. A segunda fotografia é da lorcha Macau a quem dedicou grande parte do seu tempo enquanto esteve ao serviço da Marinha portuguesa em Macau entre Agosto de 1984 e Agosto de 1989. 
Macau foi uma época de "bons ventos" 
para o 'marinheiro/engenheiro' 
 José Matias Cortes
As fotografias abaixo foram gentilmente cedidas por Pedro Cortes, filho de José Matias Cortes
Com o governador Carlos Melancia

Com Stanley Ho nas Oficinas Navais:
A STDM (de Stanley Ho) e a Fund. Oriente pagaram a construção da lorcha
No lançamento à água da barcaça Pontão em 1985 (então Capitão-Tenente)
 
No lançamento da lancha Capitania
No lançamento da Lorcha Macau 
ao fundo pode ver-se, entre outros, Monsenhor Manuel Teixeira

Excertos de uma entrevista dada em 2010 ao blogue do Curso Miguel Corte Real, da Marinha de guerra Portuguesa, que José Matias Cortes frequentou. O tema da conversa foi a construção da lorcha Macau.
" (...) em Janeiro de 1987 começou-se a falar em Macau no âmbito dos Serviços de Marinha e da Direcção dos Serviços de Turismo em construir um navio que à semelhança duma réplica de uma caravela que por iniciativa dos emigrantes portugueses radicados na África do Sul de destinaria a comemorar o V Centenário da Passagem do Cabo da Boa Esperança que se comemoraria em 1988 a partir de Fevereiro na África do Sul, assinalasse a presença de Portugal em Macau e traduzisse de algum modo o panorama naval chinês que havia em Macau. (...)
A ideia era então construir uma embarcação que navegando a partir de Macau se juntasse à caravela (Bartolomeu Dias) na África do Sul. Essa ideia não foi considerada politicamente correcta mas pretendia-se construir uma embarcação que pudesse representar Macau no exterior e levasse uma imagem de marca de Portugal - uma embaixadora de Macau sobretudo na Ásia. O junco que com abundância navegava e navega nas águas do Sul da China não tinha nada de Portugal e por isso não foi considerado. Por outro lado as lorchas embora já em desuso nas águas do Sul da China tinham tido uma presença assinalável nos séculos anteriores e eram navios que tinham cascos baseados nas caravelas portuguesas e um aparelho vélico chinês. Havia assim uma mistura que juntava Portugal e a China. (...)
Foi-me então pedido que desenvolvesse os estudos necessários para construir nas Oficinas Navais de Macau uma lorcha que reunisse os requisitos que se pretendiam. É aqui que começa a minha intervenção. As dificuldades surgidas foram grandes porque quer em Macau, Hong-Kong ou no Sul da China (Cantão) não encontrei elementos desenhados construtivos, dado que os chineses que construíam estas embarcações (lorchas e juncos) não ficavam com grande parte dos desenhos de construção necessários e transmitiam os seus conhecimentos de pais para filhos cada um à sua maneira. Foi à custa de várias visitas a estaleiros tradicionais chineses que se foram colhendo os elementos construtivos necessários. (...)
Nas Oficinas tinha um desenhador projectista que com a ajuda dos mestres das minhas oficinas, sobretudo de carpintaria e caldeiraria naval desenhou os planos necessários à construção. A responsabilidade da coordenação de todos os elementos e a sua execução quer de modelos quer de peças montadas foi por mim assumida. Em Macau não havia engenheiros construtores navais. (...)
(A construção) Iniciou-se em 15 de Abril de 1987 a construção da lorcha. O casco foi construído num estaleiro de Coloane e o aprestamento e a fase final de construção foi feito nas Oficinas Navais de Macau. O navio foi lançado à água em 7 de Novembro de 1987 e concluído em 28 de Junho de 1988 (fez agora 22 anos).
(...) A réplica da lorcha seguiu na medida do possível os requisitos tradicionais mas teve que se adaptar às exigências de segurança e de conforto da época. Daí que dispusesse de equipamentos de navegação e comunicações modernos para a época e que por via das missões que lhe propunham atribuir foi motorizada com 2 motores de 300 HP cada. Não tinha assim a motor propulsão auxiliar, mas sim principal."

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Clínica Lara Reis

A Clínica Lara Reis foi inaugurada a 15 de Abril de 1951, após uma subscrição entre os rotários. Foi o primeiro centro de luta anti-cancerosa no Sul da China e também o único nas províncias ultramarinas na época. O edifício foi adquirido em 1988 passando a ser a sede da Cruz Vermelha.
Fernando de Lara Reis nasceu em Leiria em 1892. Frequentou o que é hoje o colégio Militar mas que na época se denominava Escola de Guerra. Participou como tenente aviador na I Guerra Mundial onde veio a sofrer um desastre que o obrigou a reformar-se com a patente de capitão.
Chegou a Macau em 1919 como professor de Desenho, Ciências Naturais e Ginástica do Liceu. Nessa época o Liceu funcionava no Hotel da Boa Vista tendo depois passado para o Tap Seac (hoje ICM). Em 1937/38 exerceu as funções de Secretário no Liceu em acumulação com as de professor. Era reitor Ferreira de Castro.
 A ele ficaram a dever várias acções de âmbito escolar, tais como a fundação da “Associação Escolar do Liceu” e que esteve na origem da Caixa Escolar (ver edifício ao Tap Seac) no início da década de 1920 bem como do campo desportivo anexo.
Um "assalto de Carnaval" na década de 1930.
Onde assinalei o círculo pode ler-se "Sol Poente"

Dotado de um grande espírito de iniciativa, para diversão dos alunos, adquiriu mesas de “ping-pong”, uma mesa para xadrez e uma para damas, promoveu a construção de um campo de basquebol, um de voleibol e um de badminton, faziam-se exposições de trabalho escolar, festas de convívio, passeios à China (Choi Hang) utilizando transportes de Companhia de Autocarro “Kee-Kuan”, campeonatos desportivos inter-escolares. 
Lara Reis com o seu cão na moradia Sol Poente

Partiu para Portugal em 1940 e daí para o Liceu Afonso de Albuquerque, em Goa onde permaneceu 5 anos. Após a II Guerra Mundial regressou a Macau.
Sócio-fundador do “Rotay Club de Macau”, legou à Santa Casa da Misericórdia de Macau, a sua residência “Sol Poente” na Avenida da República. Mais tarde, por iniciativa dos rotários, foi aí instalada a Clínica «Lara Reis», o primeiro centro de luta anticancerosa do Sul da China .
Foi ainda fundador em Macau da secção local da “Liga dos Combatentes da Grande Guerra” tendo a sede ficado localizada na torre que ainda hoje existe no Jardim de S. Francisco. Deve-se ainda a ele a construção de um ossário–monumento dos Combatentes da Grande Guerra, que pode ser visto no Cemitério de S. Miguel.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

101º aniversário do nascimento de Henrique de Senna Fernandes

No dia de hoje assinala-se o 101º aniversário do nascimento de Henrique de Senna Fernandes (1923-2010), um dos maiores nomes da cultura macaense.

Capa da edição internacional da Revista Cultura nº 73 - 2023
dedicada ao centenário do nascimento de H. S. F.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

"The city of hills"

"(...) The following morning we chartered a small schooner for Macao, my intended residence while in China as ladies were then prohibited from going to Canton. A passing notice is due the captain and crew of our little schooner. They were Lascars three in number than whom a more grim visaged trio is seldom seen. Nearly of African hue with high cheek bones and piercing eyes to which their huge mustaches and long peaked beards gave only an appearance the more ferocious. Their dress was exceedingly picturesque. That of the captain wide trowsers of red silk over this a tunic of white muslin reaching just below the knee then another of blue silk some inches shorter and again a close fitting jacket of dark brown velvet richly embroi dered and confined at the waist with a scarf of crimson silk around his neck was suspended a large silver chain and a turban of divers gay colors adorned his head. The tout ensemble was quite imposing.
When we stepped on board the schooner there was every reason to hope that we should reach Macao by twelve o clock, a distance of thirty miles. We were doomed however to disappointment while yet in sight of our ship the wind fell suddenly away and for several hours we lay gently rocking on the ocean. In vain did the captain and crew whistle for the breeze now coaxingly then with angry gesticulations it came not at their bidding.
Even the beautiful scenery by which we were surrounded proved inefficacious to restrain our impatience. At last a slight ripple agitated the calm surface a gentle breeze sprang from the land the sails of our little schooner gradually filled and on we bounded. The breeze soon increased to a gale all sail was taken in and like some frightened bird our schooner was scudding rapidly before the wind every sea washing over our deck.
About eight o clock in the evening we drew near our place of destination which presented a very beautiful appearance, rising like an amphitheatre from the sea its numerous fortified hills the lights gleaming from their summits and from the dwellings on the Praya Granda and over all the moon shining so brightly down rendered the first impressions of Macao, those of a pleasing nature.
Owing to the shallowness of the water no vessels of any size can approach within some hundred yards of the shore, but to remedy this evil there are numerous little boats seemingly no bigger than egg shells, guided entirely by women who make it their business to steer directly for the larger craft as they enter the harbor and convey their passengers etcetera to land.
Two of these little sanpans, as they are called, were soon along side of us but most unfortunately for our haste they no sooner descried a barbarian woman about to spring into their boat than with a shrill cry of mandarin mandarin away they paddled to the shore unheed ing the shouts of tanka tanka boat boat from the captain. They answered only by yells and for nearly an hour we were left pitching and tossing on the still raging sea. At the end of that time,  which seemed interminable, they again ap proached us and we were now suffered to leave the schooner and in a few moments the little sanpan had landed us safely on the Praya Granda, amid a throng of Chinese and Portuguese seems these boat women did not dare to land a barbarian of their own sex until they had first informed the mandarin. It Procuring a guide we proceeded to the residence of an esteemed friend with whom I had been kindly invited to make my sojourn at Macao.
The sun arose the following morning in unclouded splendor and the hour spent in the verandah before breakfast was one of novel interest. The house was situated on the Praya Granda, which forms a semi circle fronting the harbor where the long unbroken seas come rolling in and dash upon the beach only a few yards from the dwellings.
It was a lovely scene the sun shining bright and beautiful upon the waters of the bay just tinging the summits of the rocky isles around and throwing its brilliant rays far over the ocean. Several large ships and brigs were at anchor while others might be seen under full sail standing in and out among the different islands. Chinese junks and fast boats were floating idly near the shore a Canton packet was just rounding a point of land toward which many of the little san pans were rapidly sculling. The beating of gongs and firing of crackers from the numerous Chinese craft near the shore mingled with the merry songs of the sailors the ringing of bells from the different churches - the various groups constantly passing and repassing the Praya, parties of Portuguese hurrying to mass priests in flowing robes, mandarins borne in their palan keens, Chinese compradores and coolies beggars, troops of noisy children added to the lugubrious cries of the venders of live fowls fish & c which they chorus by beating small gongs varied occasionally by an air from the band of the corps stationed at St Peter's Fort, directly fronting the residence of his excellency the governor all combined to render the scene for a time at least very amusing.
Baía da Praia Grande em meados do século 19.
Colina e ermida da Penha à esquerda

My friend proposed taking me first to the Penha, as commanding the most extended view.  Macao is situated on a peninsula connected by a narrow neck of land with the island of Hean shan, across the centre of which runs the boundary wall beyond which no barbarian must dare to pass. The Penha is a high hill at the western extremity of the town on the summit of which stands the ancient hermitage Penha de Franca erected in 1622.
Having completed the ascent by a rocky and uneven path the eye is arrested by one extensive range of the most beautiful scenery. Macao might truly be called the city of hills for they rise in every direction presenting a wild and picturesque appearance heightened by the numerous forts and convents capping their summits.
To the east you have the lofty Mont Charil on which stands Fort Guia directly at its base a rocky point extends into the sea on which is erected Fort St Francis, with the church bearing the same name.
At a little distance from a grove of banians peep forth the white walls of the convent Santa Clara. On another elevation nearly in the centre of the town stands the Monte Fort, fronting the residence of the governor.
On the Praya Granda is St Peter's Fort and on other points are the Bar and Bombarto Forts. Scattered among these lofty hills are the dwellings of the Portuguese English and American residents and separated from near communion with barbarians may here and there be seen the closely packed huts of a Chinese village.
The hermitage Penha de Franca is very much dilapidated and will soon be but a ruin. A part has been lately repaired and rendered tenantable for a few old friars. It is surrounded by a high wall and on one part of this is erected a rude stone cross which Portuguese ships passing the Penha are in the habit of saluting.
Excerto do artigo Recollections of China da autoria de C. H. Butler publicado em 1844 na The Columbian Magazine.
Trata-se de Caroline Hyde Butler Laing (1804-1892) que partiu com o marido Edward (comerciante) de Nova Iorque rumo à China em Outubro de 1836 a bordo do navio Roman tendo regressado aos EUA no início de 1837. A imagem não faz parte da obra referida. O testemunho da Caroline foi feito pela própria num diário. O registo feminino raro na época.

domingo, 13 de outubro de 2024

Procession of the Cross


Este anúncio foi publicado num jornal de Hong Kong em 1909 e refere uma excursão de Hong Kong a Macau para assistir à "Procissão do Senhor da Cruz" (ou dos Passos), um ritual religioso muito antigo no território.
Veja-se este excerto de "China Political, Commercial and Social", de Robert Montgomery Martin, datado de 1847: "(...) Again on the Sunday of the Cross Domingo da Cruz the Redeemer is represented by the image of a full grown man who clad in a purple garment wearing on his head a crown of thorns and on his shoulder a heavy cross bends one of his knees on the bot tom of a bier supported by eight of the most distinguished citizens At this procession the whole Roman Catholic population attend accompanied by children in fancy dresses to represent angels with muslin wings at their shoulders This procession perambulates the town of Macao and then proceeds to the con vent of St Augustine."
No "Almanach Luso-Chinez de Macau" para o ano de 1866 pode ler-se: "Procisões religiosas Fevereiro, 17 Procissão da Cruz: Sae da egreja de S. Agostinho e recolhe á da Sé. Tem guarda de honra."
Na edição de 15 de Fevereiro de 1869 do Boletim da Província de Macau e Timor:
"No Sabbado de noite foi da igreja de Santo Agostinho para a Sé Cathedral a imagem do Senhor Jesus dos Passos. Hontem sahio a imagem em procissão da Sé para Sto Agostinho percorrendo segundo o costume com grande acompanhamento do povo christão de algumas das ruas da cidade."

sábado, 12 de outubro de 2024

Edifício no Tap Seac

Conhecido por albergar o Arquivo Histórico de Macau este edifício foi dos primeiros a ser construído na zona do Tap Seac por volta de 1902.

Detalhe da zona num mapa de 1889

Parte da Praça da Victoria assinalada no mapa corresponde à actual Praça do Tap Seac (que já foi campo de jogos. O arruamento mais à direita é a Av. de Sidónio Pais mas que no final do século 19 se denominava Av. Vasco da Gama.

Mapa da zona no século 21

Num artigo publicado em 1890 pode ler-se:
"Vejamos agora quaes são as cinco povoações ruraes mais antigas a que nos referimos, para depois nos ocuparmos da cidade christã, como lá se lhe chama. O primeiro d´estes bairros suburbanos fica proximo da fortaleza da Barra, e é por isso denominado povoação da Barra.
O outro acha-se na encosta do outeiro da Penha, onde está levantada a fortaleza do Bom Parto; chama-se povoação do Tanque do Mainato.É aqui que se encontram as mais bonitas vivendas de Macau, chamadas chácaras. As três restantes povoações são a do Patane, de Mong Há, e a de S. Lázaro.
A do Patane é de todas cinco a mais importante, já pela industria fabril, já pelo seu commercio, principalmente em madeiras de construcção. Fica no littoral do porto interior, na especie de cotovello, que a peninsula faz ao formar a enseada da ilha Verde, terminando onde começa a de Mong Há. A povoação do Patane tem hoje tomado tão grande desenvolvimento, são tantos n´ella os estaleiros e estancias de madeira, que se pode considerar dividida em tres povoações a saber: Patane propriamente dita (bairro hoje, a bem dizer, urbano), San Kiu e Sá-cong (povoações ruraes e piscatórias.) É entre o Patane e Mong Há que predominam as hortas e as várzeas."