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quinta-feira, 23 de maio de 2024

Excertos do diário do missionário Edwin Stevens (1833)

Na edição de Maio de 1834 a "The Sailor's Magazine and Naval Journal" publica excertos do diário de um missionário de apelido Stevens, um dos primeiros missionários dos EUA a entrar na China.
Trata-se do norte-americano Edwin Stevens (1802-1837) que chegou ao Sul da China em  1832 como membro da American Seamen’s Friend Society. 
Nestes excertos o reverendo dá detalhes sobre como se processavam as viagens entre Cantão e Macau, os dias passados em Macau e a acção missionária do reverendo Robert Morisson.
Edwin Stevens morreu em Singapura em Janeiro de 1837 quando viajava para o Bornéu para nova acção evangelizadora. Deixou inúmeros artigos publicados em jornais dos EUA e China, nomeadamente no Chinese Repository.
Ancoradouro de Whampoa (perto de Cantão) - pintura início séc. 19

July 16, 1833
Capt. M. took me ashore with him at Macao thus avoiding the trouble of collision with the Chinese harpies there who are ready to take or make all opportunities for getting duties. But if landing in a European boat there is no fee asked nor search instituted, Capt. M. wished to obtain a sailor to fill up his complement of men and soon succeeded in picking up one poor fellow who seemed hardly to have recovered from sickness. Doubtless he was glad enough to find an opportunity of leaving that expensive and friendless place to destitute sea men.
The distance to Macao from Canton is between 70 and 80 miles but the lowest rate of passage is I believe 15 dollars and in the regular European boats it is 20 dollars for a single passenger. But a passage in a licensed Chinese boat or rather the hire of such a boat is from 30 to 100-150 or perhaps even 200 dollars such expensive boats and convenient accommodations however are not employed by every penniless stranger but by some wealthy men or by the English company in their annual migration between this city and Macao.
It is not for every one thus to go to Macao. The situation of Macao with its inhabitants and scenery present nothing new in addition to many minute descriptions already existing. In the 1st Vol of the Chinese Repository for Feb the present condition of Macao is stated fully and with accuracy.
There are between four and five thousand foreigners, that is persons not Chinese and of Chinese themselves a much greater number. For some days I almost made my home at Dr. Morrison's as I was truly invited to do wholly. Here he landed 26 years ago with a mate from his ship who came ashore for a pilot and who as soon as he was ashore proclaimed aloud that Mr. M. was a priest and missionary. Hence Mr. M. was instantly ordered away by the Portuguese and went up with the ship to Whampoa and thence to Canton. The ship I think was the American ship Trident. At Canton he was befriended by one or two men he was aided and countenanced by some American gentlemen. Thus he commenced and went on for a year in the Chinese studies with his poor old teacher living in Chinese style and all day long plodding at the language. Seeing his diligence and giving him credit for more knowledge than he really had at the time said Dr. M. the company employed him as translator to the factory in China. Now I see him how much changed. A convenient home and delightful family around him and himself enjoying their society. (...)
The fresh air of Macao is most reviving after almost a year's confinement to Canton. A morning bath in the bay and an evening's stroll over the hills though too solitary for high enjoyment especially while recollecting the companions in America with whom I last used to ramble yet it is very delightful. It is something also to see others enjoying the company of their friends and families though I cannot join them in their hilarity. It was the most like taking an evening walk in the cool of the summer evening in New England of anything which I have seen since I left it. But it is almost impossible not to remember those forgotten times and remembering them not to regret that I should enjoy them no more. (...)
After twenty days stay I returned to Canton the first ships of the season having begun to arrive. During my last week at Macao the weather was very oppressively warm the thermometer standing at 93 and at Canton at 96 *during the day with very little depression at night.
Several days the peculiarly enervating north or north west wind blew down so hot and dry that if one would not be heated he must avoid letting it blow upon him. At the end of these hot days the dark clouds began to come over the sky, the barometer to fall, the ships and all the small craft came round into the inner harbor and all looked wild for a typhon. But it passed away with a heavy rain and a smart breeze. (...)
Baía da Praia Grande (Macau) - pintura início século 19

16 de julho de 1833
Capitão M. levou-me consigo para terra em Macau, evitando assim o problema de ser detectado pelas autoridades chinesas que aproveitam todas as oportunidades para cobrar taxas. A quem embarca num navio europeu não há cobrança de taxa nem nenhuma autoridades nos persegue. O capitão M. desejava contratar um marinheiro para preencher seu quadro de homens e logo conseguiu contratar um pobre sujeito que parecia improvável viesse a recuperar da doença. Ele ficou bastante satisfeito por encontrar uma oportunidade de deixar aquele lugar caro e sem amigos para os marinheiros desamparados.
A distância de Cantão para Macau é entre 70 e 80 milhas, mas a tarifa mais baixa de passagem é, creio, de 15 dólares e nos barcos regulares europeus é de 20 dólares para um único passageiro. Mas uma passagem num barco chinês licenciado, ou melhor, o aluguer de tal barco custa entre 30 e 100-150 ou talvez até 200 dólares. Esses barcos caros têm acomodações convenientes, no entanto, não são utilizados pelos estrangeiros sem um tostão, apenas por alguns homens ricos ou pelos da companhia inglesa na sua migração anual entre esta cidade e Macau.
Nem todos conseguem ir assim até Macau. A situação de Macau com os seus habitantes e paisagens não apresenta nada de novo, para além das muitas descrições minuciosas já existentes. No primeiro volume do Repositório Chinês de Fevereiro último, a situação actual de Macau é exposta de forma completa e precisa.
Existem entre quatro e cinco mil estrangeiros, que são pessoas não chinesas e um número muito maior de chineses. Durante alguns dias, quase me instalei na casa do Dr. Morrison, como fui realmente convidado a fazer. Aqui ele desembarcou há 26 anos com um imediato de seu navio que desembarcou em busca de um piloto e que, assim que desembarcou, proclamou em voz alta que o Sr. M. era um padre e um missionário.
Expulso pelos portugueses o Sr. M. subiu com o navio para Whampoa e depois para Cantão. Julgo que era o navio americano Trident. Em Cantão, ele fez amizade com um ou dois homens e foi auxiliado por alguns cavalheiros americanos. Assim, ele começou e continuou por um ano nos estudos chineses com seu pobre e velho professor, vivendo no estilo chinês e durante todo o dia trabalhando arduamente na língua. Vendo sua diligência e dando-lhe crédito por mais conhecimento do que ele realmente tinha na época, disse o Dr. M. que a empresa o contratou como tradutor para a missão. Agora apercebo-me o quanto mudou. Tem uma casa conveniente e uma família encantadora ao seu redor (...)
O ar puro de Macau é do mais revitalizante depois de quase um ano de confinamento em Cantão. Um banho matinal na baía e um passeio noturno pelas colinas é muito agradável, embora solitário demais para um grande prazer, especialmente enquanto me lembro dos companheiros na América com quem costumava passear. Também é algo interessante ver outras pessoas desfrutando da companhia de seus amigos e familiares, embora eu não possa juntar-me a eles. Foi o mais parecido com um passeio noturno no fresco da noite de verão na Nova Inglaterra de tudo que já vi desde que deixei o país. Mas é quase impossível não lembrar daqueles tempos idos e, ao lembrá-los, não me arrepende de não poder mais aproveitá-los. (...)
Após vinte dias de estadia, voltei a Cantão, tendo os primeiros navios da temporada começado a chegar. Durante a minha última semana em Macau o tempo esteve muito quente, com o termómetro a situar-se entre os 33 graus celsius e em Cantão nos 35 durante o dia, com muito pouca depressão à noite.
Durante vários dias, o vento norte ou noroeste, peculiarmente enervante, soprou tão quente e seco que, se alguém não quisesse aquecer-se, deveria evitar deixá-lo soprar sobre ele. No final destes dias quentes, as nuvens escuras começaram a surgir no céu, o barómetro a cair, os navios e todas as pequenas embarcações aproximaram-se do porto interior e todos pareciam ansiosos por um tufão. Mas apareceu apenas uma forte chuva e uma forte brisa. (...)

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