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sábado, 15 de julho de 2023

Diccionário Universal de Educação e Ensino (1886) - 1ª parte

Localização

Nas costas da China e no golfo onde se lança o rio Tigre surge do seio do mar uma ilha montanhosa chamada pelos chins Negao Men. Tem dez leguas de comprimento. Na extremidade oriental d'esta ilha está edificada a cidade de Macau. A historia d'esta nossa possessão é tão honrosa para Portugal que a adquiriu como para o imperio da China que lhe cedeu esse territorio. Da parte dos portuguezes significa um serviço importante de leaes amigos prestado á China em occasião de apuro. Da parte dos chins representa um acto de gratidão nacional por esse serviço.
Na primeira metade do seculo XVI estando recentes as nossas primeiras relações com o celeste imperio foram as costas d'este paiz infestadas por piratas que commettendo roubos e horriveis carnificinas espalhavam o terror por todos os mares e portos do imperio. O numero e a audacia dos piratas zombaram do poder do imperador Khang Hi tornando-lhe inuteis todos os seus esforços. O mal cresceu a ponto que ameaçou acabar inteiramente com o commercio maritimo da China. Foi n'estas criticas circumstancias que os portuguezes se resolveram a perseguir os piratas e com tal denodo o fizeram que em pouco tempo os aniquilaram completamente. Em recompensa d'este immenso serviço concedeu-lhes o imperador KhangHi uma porção de territorio na ilha Negao Men para ahi estabelecerem uma feitoria. Era isto o que os portuguezes muito desejavam e em vão tinham solicitado não tendo obtido até então mais que a permissão de negociarem e residirem nos portos chinezes de Liampo, Chincheo e Lampacao. 

Assentamento

N'esta concessão porém não se esqueceram os chins da sua proverbial astucia e desconfiança regulando as cousas de modo que os portuguezes não pudessem para o futuro estender o seu dominio além dos terrenos concedidos. Designando-lhes para a sua feitoria uma estreita orla de terra na ilha de Negao Men deram-lhes um ponto de importancia para um estabelecimento commercial pela situação geographica da ilha collocado na desembocadura de um dos maiores e mais importantes rios do imperio e no qual está a cidade de Cantão que era e foi por muito tempo a unica porta da China para o commercio maritimo com a Europa. Separando aquella orla de terra do resto da ilha com uma alta muralha de pedra prohibindo os portuguezes com graves penas a passagem d'essa linha divisoria e vigiando com numerosas forças e olhos d'Argos o cumprimento d'essa prohibição precaveram-se contra quaesquer projectos de futuras invasões.
Se este presente nos fôra dado hoje ficaria talvez para sempre o que primitivamente era uma estreita lingua de terra meia eriçada de rochedos meia coberta de areas. Porém n'aquella época era tal o esforço dos portuguezes, tão firme, tão energica e perseverante a sua vontade que apesar de todos os estorvos e difficuldades conseguiram transformar os inhospitos rochedos e esteril praia em uma cidade bella populosa e rica. Em breves annos se estendeu pela praia longa fileira de casas e armazens de agradavel aspecto sobresahindo alguns formosos edificios publicos e fez-se rosto ao mar com um extenso caes de cantaria.
Coroaram-se os montes sobranceiros com alguns conventos e fortes. Arborisaram-se as encostas, plantaram-se hortas e jardins em derredor da povoação. D'est arte ao aceno do genio portuguez se ergueu quasi de improviso d'entre rochas e arêas a cidade do Santo Nome de Deus de Macau que teve começo pelos annos de 1557. Como fosse um estabelecimento puramente commercial no seu principio era governado á vontade dos moradores que escolhiam d'entre si um chefe com o titulo de capitão mór. Sendo elevada a nascente povoação á categoria de cidade no anno de 1583 ou 85 foi então creado o senado da camara que ficou regendo a colonia sujeito ao governo da India. As frotas de Lisboa de Goa e de Malaca e as relações commerciaes com a China fizeram rapidamente populosa e florescente a cidade de Macau.

Cresceu e durou esta prosperidade emquanto Portugal se conservou independente e respeitado na Europa e poderoso e influente na Asia. Mas logo que immerecido infortunio lhe fez dobrar a cerviz ao jugo de Castella derrocou-se instantaneamente o imperio portuguez asiatico. Despojado do predominio dos mares em breve perdeu a sua supremacia na India. Os inglezes e hollandezes desaffrontados de tão terrivel competidor apresentaram-se potentes n'aquellas regiões onde o ciume dos portuguezes os havia já combatido e d'onde tinha conseguido expulsal-os. A cidade de Cantão abriu emfim as suas portas aos novos hospedes. O commercio da China mudou de rumo e Macau foi cahindo em progressivo abatimento. Varias tentativas feitas pelos hollandezes para se apoderarem da cidade fizeram conhecer a necessidade de se estabelecer n'ella um governo militar. Foi então enviado de Goa para a defender D. Francisco Carrasco ao qual se succedeu D. Francisco Mascarenhas, o primeiro que para alli foi com o cargo de governador e capitão general.
imagem não incluída na obra referida

Ataques holandeses

Em junho de 1622 surgiu em frente de Macau uma esquadra hollandeza de quinze naus disposta a tentar um desembarque contra a cidade e no dia 20 lançou em terra oitocentos homens bem armados. A guarnição da cidade constava apenas de duzentos soldados mas houve se com tal bravura que o ataque foi victoriosamente repellido e o inimigo mal pôde recolher as naus uns duzentos homens deixando o resto morto no campo ou prisioneiro de guerra. Esta grande victoria foi causa sem duvida de que ficassem escarmentados os que nos cubiçavam aquella colonia. O que é certo é que não tornou a ser affrontada pelo inimigo.
D'este ataque veio-nos comtudo um proveito. O governo chin vendo o perigo que a cidade correu e considerando nos inconvenientes que podiam resultar para o imperio se os hollandezes conseguissem apossar-se de Macau, consentiu em que se fortificasse a cidade. D'ahi datam pois as primeiras obras de defesa. Porém a sua decadencia foi por diante e com ella lhe sobreveio um novo opprobrio e vexação, o poder dos mandarins estabelecido em Macau.

O poder dos Mandarins

Os fundadores de Macau tinham sabido crear pela sua actividade e energia uma situação prospera para a colonia. Mas os seus descendentes, amollecidos pelo clima e pelos gɔzos da riqueza, foram trocando os habitos activos da Europa pela indolencia e apathia das raças asiaticas. Achando nos chins bons operarios habeis corretores e caixeiros intelligentes foram pouco a pouco descançando n elles encarregando os de quasi tudo quanto era trabalho. A remuneração liberal d'esses serviços foi attrahindo á cidade primeiramente a classe laboriosa da parte chineza da ilha e mesmo do continente e depois innumeraveis vadios e malfeitores. D'este modo a população chineza de Macau em pouco tempo excedeu muito a portugueza. Emquanto o nosso pavilhão fluctuou triumphante no Oriente emquanto Portugal se fez respeitar em suas possessões ultramarinas por meio das tropas regulares que lhes enviava e n'ellas mantinha, houve socego em Macau. Os ricos mandavam á sua vontade. Os operarios trabalhavam satisfeitos mas com sujeição. Os proletarios faziam o menor mal possivel porque temiam a espada da justiça. Porém, logo que a decadencia da mãe patria se fez sentir nas colonias desataram-se todos aquelles laços e rebentaram na cidade graves desordens entre os chins e os portuguezes. O mais leve pretexto servia de signal de revolta que ao principio era reprimida a custo e depois pela continuação de taes actos desconceituada e sem força a authoridade crescia e rompia em todo o genero de excessos e violencias. N'estas crises as pessoas abastadas e principaes da terra viam-se obrigadas a refugiar-se nos fortes para salvarem a vida deixando as suas casas e estabelecimentos entregues á pilhagem. Foi no meio dos progressos d'este flagello que as authoridades e população portuguezas de Macau invocaram o auxilio das authoridades chinezas contra os chins rebellados. Assim se estabeleceram n'aquella cidade a intervenção e mais tarde a influencia e supremacia dos mandarins. Tão longe foi o abuso d'esta intervensão que a cidade de Macau ficou portugueza apenas no nome e n'um simulacro de authoridades nacionaes. Não se fazia alli cousa alguma sem a annuencia dos mandarins. A seu bel prazer lançavam e cobravam tributos, concediam ou negavam licença para se edificar ou reconstruir qualquer casa, fechavam o porto quando lhes parecia, e obrigavam o governador da cidade a expulsar d'ella os estrangeiros com quem estavam em guerra como succedeu com os inglezes em agosto de 1839 logo que começou a lucta da Inglaterra com a China por causa da questão do opio.

O Governo de Ferreira do Amaral

Este estado precario e humilhante melhorou consideravelmente depois d'aquella guerra. Os chins em parte pelo abatimento moral em que os deixaram os triumphos dos inglezes e as arduas condições da paz em parte por benevolencia com os visinhos que nunca os incommodaram prestaram se a fazer varias concessões exigidas pelos governadores de Macau. Para tratar d'este negocio veio á cidade um mandarim enviado pelo alto commissario de Cantão, o célebre Lyn. Ajustou-se pois e levou-se a effeito um tratado pelo qual augmentaram as immunidades de Macau e se coarctaram as intervenções chinezas. O commercio d'esta nossa possessão que tivera um grande desenvolvimento durante a lucta da Inglaterra com a China cahiu na maior prostração assim que pelas condições do tratado de paz foram abertos cinco portos d'este imperio ao commercio de todas as nações. Para obviar a este mal foram tomadas varias providencias sendo a mais importante a que declarou porto franco a cidade de Macau.
A nomeação e chegada a Macau do novo governador Ferreira do Amaral no anno de 1844 assignalaram o começo de uma nova época para esta cidade. As importantes reformas que concebeu e poz em pratica e a posição resoluta e energica que tomou em presença dos chins acabaram de emancipar a colonia da vergonhosa tutela das authoridades chinezas.  Principiando por collocar o porto militar de Macau em um pé respeitavel acabou com os impostos lançados em proveito do governo chinez e despojou as suas authoridades da influencia e jurisdicção que exerciam na cidade. Estas medidas excitaram grande agitação e longa resistencia da parte dos chins. Porém, a coragem e perseverança do governador venceram todas as difficuldades consolidando as reformas e tranquillisando a povoação. Por infelicidade quando esta nossa possessão assim se ia levantando do extraordinario abatimento moral a que chegou quando começava a restaurar-se economicamente por effeito da franquia do seu porto e de outras providencias illustradas sobrevieram dous attentados, um após outro, que encheram a cidade de consternação expondo a perder todos esses beneficios tão custosamente adquiridos. O primeiro d'aquelles attentados foi a violação flagrante e escandalosa do seu territorio e o menos cabo da authoridade por parte da guarnição de uma fragata ingleza que se achava surta no porto e que desembarcando armada accommetteu a cadêa publica e á viva força tirou d'ella e levou para bordo um seu patricio e companheiro que fora preso por se não querer descobrir sendo advertido diante do Santissimo Sacramento na occasião de passar a procissão do Corpo de Deus. Succedeu este escandalo em 1849. No mesmo anno aconteceu o segundo attentado que se seguiu de perto ao primeiro e que foi talvez um triste resultado d'este. No dia 22 de agosto, tendo sahido a passeio a cavallo o governador Amaral foi barbaramente assassinado por alguns chins junto á porta da muralha que separa o territorio portuguez do da China e na presença de um posto militar d'esta ultima nação. Este facto augmentou de gravidade pelos justos motivos que houve para se suppôr que as proprias authoridades de Cantão não eram estranhas á perpetração de semelhante crime. Viu-se então a cidade exposta a grandes perigos. A população chineza, que é a principal, assumiu um aspecto ameaçador e a portugueza, incomparavelmente menor, possuiu-se de um terror panico desmedido. Todavia, graças ao estado de defensa em que o fallecido governador deixára a cidade e á disciplina que introduzira na tropa, e graças tambem ao apoio prestado por alguns navios de guerra britannicos alli estacionados, livrou-se Macau da anarchia e da invasão chineza que lhes estiveram propinquas nos primeiros dias que se seguiram áquella catastrophe. Depois acudiram alli embarcações de guerra e tropas regulares enviadas de Goa com que ficaram asseguradas a paz e tranquillidade da colonia.
O novo governador tendo a cidade bem guarnecida de tropa e defendida, além da artilheria dos fortes, por uma fragata e duas corvetas de guerra portuguezas, exigiu das authoridades chinezas de Cantão uma reparação do insulto por meio da entrega dos criminosos. Ao cabo de muitas delongas e tergiversações do mandarim de Cantão foi-nos dada uma satisfação senão completa comtudo aceitavel. Os criminosos ou pelo menos uns miseraveis indigitados pelo mandarim como authores do delicto foram justiçados na cidade de Cantão. Posteriormente restabeleceu-se a boa harmonia entre os governos chinez e portuguez e do mesmo modo entre os subditos das duas nações residentes em Macau. As guerras em que a Grã Bretanha e a França entraram como alliadas contra a China nos annos de 1854 e 1860 serviram de tornar mais firme aquella harmonia e de proporcionar a Portugal, em virtude de um recente tratado, iguaes favores aos que o celeste imperio concedeu obrigado pelas armas aos francezes e inglezes.
O movimento commercial que houve em Macau durante aquellas duas guerras, posto que transitorio, benefico e importante em resultados, e além d'isso aquelles favores concedidos e uma melhor administração economica na colonia têm melhorado muito a sorte de Macau e promettem lhe um futuro prospero.

Governo, guarnição militar e localização

A cidade de Macau tem por brazão as armas reaes em escudo de prata e em volta o seguinte letreiro 'Cidade do Nome de Deus não ha outra mais leal'. A etymologia do nome de Macau vem de duas palavras chinezas, Ama e Cau. A primeira designa o idolo de um pagode que alli havia desde tempos remotos. A segunda quer dizer porto. Começando os portuguezes a chamar ao sitio Amacau, logo que ahi se estabeleceram deram depois á cidade com pouca differença o mesmo nome.
Compõe-se a administração de Macau de um governador nomeado de tres em tres annos e de um conselho de governo presidido pelo governador e do qual são membros o juiz de direito, o official militar de maior patente, o escrivão de fazenda, o presidente da camara e o procurador da cidade.
O governo de Macau tem por subalterno o governo de Timor. A repartição da justiça consta de uma junta de justiça que tem por presidente o governador e por vogaes o juiz de direito, o commandante do batalhão de artilheria, o presidente da camara, os dous juizes ordinarios e o procurador da cidade. O juizo de direito é formado pelo juiz de direito, juiz substituto e delegado do procurador da coroa e da fazenda. A instancia superior é a relação de Goa.
Há mais na cidade uma junta de fazenda, a repartição de saude publica com um cirurgião-mór e um capitão do porto. A camara municipal goza o antigo titulo de leal senado de Macau.
A guarnição da cidade consta de um batalhão de artilheria e de outro batalhão de infanteria.
Macau está situada a vinte e dous graus e treze minutos de latitude norte e a cento e treze graus e trinta e dous minutos de longitude éste. Dista cincoenta milhas, pouco mais ou menos, da foz do rio Tigre, umas oitenta da cidade de Cantão e quarenta da ilha de Hong Kong onde os inglezes têm um importante estabelecimento. A sua distancia de Lisboa em linha recta é de 1 400 léguas e pelo Cabo da Boa Esperança 3 200.

Cidade

O aspecto da cidade visto do porto é mui formoso e pittoresco. Está edificada em amphitheatro sobre uma extensa bahia. Parte d'ella sentada á beira do mar ostenta uma longa fileira de casas constituidas ao uso da Europa, resplandecentes de alvura e algumas com seus adornos architectonicos. Outra parte eleva-se sobre uma collina pedregosa mediando entre ambas os palmares e mais árvores dos quintaes e jardins. Finalmente corôam-se os montes sobranceiros á cidade com fortalezas e templos que contrastam com as negras rochas graniticas que lhes servem de base.
Os trajos variados e na maior de côres garridas da população chineza que percorre as ruas e anima os caes e diversidade de embarcações que estanceiam no porto muitas de fórmas singulares e exquisitas empavezadas de flammulas e bandeiras multicôres e emfim os resplendores do e a pureza da atmosphera em dias claros dando brilho e realce a tudo isto, completam um quadro que surprehende e encanta os viajantes.
A bahia posto que não offereça ancoradouro perfeitamente seguro, pelo menos em certas épocas do anno é ampla e quasi que fechada pelos cabos escarpados das montanhosas ilhas Lantow e Lintin.

Porto e vida marítima

O porto propriamente dito é muito abrigado, porém é tão pequeno que pouco mais poderá accommodar de vinte embarcações e apenas tem duas braças e meia de profundidade á entrada. Porém, a tres milhas da cidade para o lado do sul ha um bom ancoradouro chamado da Taipa ou Typa que fica entre duas pequenas ilhas e no qual podem surgir e estacionar com segurança quaesquer navios de grande porte. 
É importante o commercio de cabotagem que se faz de um lado até Changai e do outro até ao golfo de Sião e ás Molucas, em cuja navegação se empregam alguns barcos movidos a vapor juncos e lorchas. Estas ultimas occupam-se em Macau ás vezes quando andam piratas na costa a comboiar os juncos e n'esse caso são commandadas por portuguezes, equipadas por chins e armadas com uma ou mais peças de artilheria.
Segundo um documento official possuia o porto de Macau em 1859 três vapores, cinco navios de alto bordo armados ao uso da Europa e trinta e cinco lorchas, ao todo quarenta e tres embarcações com 5 560 toneladas. 
Entre Macau Cantão e Hong Kong, onde chegam as malas da Europa, há carreiras regulares feitas por barcos de vapor que fazem a viagem em cinco horas ou por lorchas e outros barcos chinezes chamados Fast boats. 
Defendem a bahia e o porto tres fortes: o principal é denominado S. Thiago da Barra. É guarnecido com trinta canhões. Tem uma fonte com boa nascente e accommoda trezentos soldados. Para o lado de terra, mas dominando igualmente o mar, defendem a cidade outras tres fortalezas. A mais importante é a de S. Paulo do Monte. Tem assentadas quarenta peças de artilheria e encerra quatro fontes de água nativa, uma cisterna, casamatas e quarteis para mil soldados.
Divide-se a cidade em duas partes distinctas: uma habitada pelos portuguezes e estrangeiros europeus, a outra em que reside a povoação chineza. Esta é a continuação d'aquella para o lado de noroeste.
Paróquias

São tres as parochias: a Sé que é a mais populosa, S. Lourenço e Santo Antonio. A cathedral é um bom templo porém de architectura pesada. Foi fundada por D. Belchior Carneiro, jesuita nomeado bispo do Japão pelo papa Pio V e fallecido em Macau no anno de 1583. O bispado de Macau foi erecto a instancias d'el rei D Sebastião pelo summo pontifice Gregorio XIII por bulla de 10 de fevereiro de 1575 e foi D. Belchior o seu primeiro prelado. Os outros edificios religiosos são a casa da misericordia, com um recolhimento annexo de donzellas pobres, o convento de Santa Clara, de freiras franciscanas, duas ermidas, sendo uma da invocação de Nossa Senhora da Penha, outrora fortaleza e situada em lugar alto entre dous fortes, e os edificios dos extinctos conventos de S. Domingos que pertenceu á ordem dos prégadores de Santo Agostinho que foi de eremitas do dito santo e de S. Francisco que era de frades franciscanos. Os jesuitas tiveram tambem alli um sumptuoso collegio da invenção de S. Paulo, edificado no anno de 1662 no mesmo sitio onde tinham um hospicio formado em 1565 e incendiado annos depois. 
Pela extincção da Companhia de Jesus ficou pertencendo o edificio do collegio de S. Paulo ao senado de Macau. Em 26 de janeiro de 1834, servindo então de quartel de tropa foi destruido por um violento incendio. No recinto da incendiada igreja estabeleceu-se posteriormente o cemiterio publico.
Além d'estes, os principaes edificios são o palacio do governador, na Praia Grande em frente de um bello caes, a alfandega, a casa do senado, a casa da companhia ingleza das Indias orientaes, o paço episcopal e dous pagodes chinezes. A casa da Companhia das Indias está edificada sobre o caes. É um rico palacio coroado de balaustrada sendo o corpo central ornado de quatro columnas e um frontão. 
O paço episcopal occupa o convento de Nossa Senhora da Guia situado dentro da fortaleza do mesmo nome que se ergue sobre uma montanha alcantilada dominando a cidade e a bahia. Goza-se d'alli um panorama admiravel e a seu turno o paço acastellado dá realce á perspectiva de Macau.

Pagodes

Há em Macau quatro pagodes principaes: dous nas aldeias de Moha e Patane, outro no caminho que vai de Patane para a Porta do Cerco e o quarto proximo da fortaleza de S. Thiago da Barra. Os dous ultimos são os melhores e, sobre todos, o da barra que reune a uma construcção mais sumptuosa a belleza do sitio e o effeito pittoresco produzido pelas suas diversas capellas dispostas com muita arte e bom gosto em amphitheatro por entre grandes penedos e frondosas arvores. 

Hospitais e outros equipamentos

Tem Macau tres hospitaes, dous civis e um militar, e os seguintes estabelecimentos de instrucção publica: o seminario de S. José, antigo collegio de catechumenos chins no qual se ensina theologia, philosophia, latim e chinez e é frequentado por uns trinta seminaristas; o asylo de Santa Rosa onde são educadas umas cem meninas; uma escola de mathematica, das linguas latina franceza e ingleza de lêr e escrever instituida em 1847 pelo senado e cujo movimento regula por cento e cincoenta discipulos.
Possue um museu de historia natural que encerra tambem varios objectos curiosos relativos ás artes e sciencias d'aquelles paizes. Tambem tem uma typographia e um jornal official intitulado Boletim do Governo de Macau.

continua...

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