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segunda-feira, 31 de julho de 2023

Descrição de "Macao" no início do séc. 19

Macao is situated at the southern extremity of the island of Heangshan. It is about two miles in length, and connected with the island by an isthmus, or neck of land, about three quarters of a mile in length and twenty rods in breadth, across which the Chinese have erected a barrier, so that the Portuguese are imprisoned in this narrow strip of land, which is considered as under their jurisdiction, as far as foreigners are concerned. This neutrality has, until recently, been strictly observed. 
The Portuguese obtained the settlement of Macao, by the connivance of the Mandarins, about the year 1537, on condition of paying the Chinese a ground-rent of 500 taels, or about £167 a year. The fortresses are subject to an annual inspection by the mandarin, and not more than twenty-five Portuguese vessels may be admitted in the same year ; this number, however, far exceeds the present number of arrivals. There are likewise two Chinese authorities, one of whom, called a Tso-tang, resides in the town itself, for the Portuguese can exercise no jurisdiction over the Chinese population without consulting with the mandarins; they cannot erect or demolish houses without permission. 
The city of Macao extends to the shores on each side of the sloping neck of land which joins the two barren hills that form the peninsula; the houses are well-built of brick or stone, and covered with white cement. Macao has more of an European appearance than most cities of the East, as the Portuguese have introduced their own style of building at home, regardless of the difference of climate. 
The population has been estimated at thirty-five thousand, of whom perhaps five thousand may be considered subject to Portugal, these however frequently intermarry with the Chinese inhabitants. 
The Chinese part of the city presents, to the eye of the stranger, an intricate mass of narrow lanes, filled with itinerant and noisy workmen and vendors of Chinese articles. The temple of the goddess Matsoo-poo, in the village of Amako, faces the inner harbour, and the grotesque rocks and luxuriant foliage of the beautiful hill of Amako render this spot the favourite resort of visitors to the colony. 

The unfortunate poet Camoens passed part of his exile in Macao, in a retreat which is still called the Cave of Camoens, and here he wrote the greater part of his Lusiad. "The good intention," says a recent visitor, "but bad taste of the present owner, has gone far to destroy the romantic appearance of the exile's retreat, which he had fixed between two high rocks, cleft and separated by one of Nature's freaks. Who can fancy the genius of poetry to have poured forth its strains in the place with its present appearance, all the little roughnesses in the rock being filled up with plaster and whitewash. In an ornamented niche, inclosing the identical spot where the poet sat, is a bronze bust of Camoens; while an inscription in gold records the birth, genius, and death of this victim of the tender passion; who, through an unfortunate attachment, after spending his blood in the hard-fought battles of his country, is reported to have quitted it, exclaiming, "Ingrata patria, non possidebis ossa mea." Ungrateful country, thou shalt not possess my bones. 
The garden that surrounds this grotto, situated to the northward of the town, a little beyond the church of St. Antonio is, indeed, a beautiful little retreat—an oasis in the desert-and, from the kindness of the gentleman to whom it belongs, is open to the public. The cave itself is situated on the side of a gently sloping hill, on the top of which is a small modern quadrangular summer-house, commanding a most beautiful and extensive view of the surrounding country. To the south-westward are seen the Typa, the inner harbour crowded with every variety of native craft, with the opposite shore of the Lapa, with its verdant hills. On the northward we observe that memento of celestial jealousy, the barrier, with the small Chinese town of Tseenshan to the westward of it. While looking towards the east, the beholder is enchanted with the wide expanse of sea, studded with numerous islands, the blue outlines of Lintin or Lantao appearing in the distance.


Excerto de "Payne's universum, or pictorial world: engravings of views in all countries, portraits of greatmen and specimens of works of art, of all ages and off every character", de Albert Henry Payne. Editado por C. Edwards. Londres, 1844-1847.
Obra com um total de 3 volumes. O excerto é do 3º volume. Inclui mais de 60 ilustrações por cada volume, nomeadamente uma vista de "Macao".

Tradução
"Macau situa-se na extremidade sul da ilha de Heangshan. Tem cerca de duas milhas de comprimento e está ligado à ilha por um istmo, ou faixa de terra, com cerca de três quartos de milha de comprimento e vinte varas de largura, através do qual os chineses ergueram uma barreira, de modo que os portugueses são presos nesta estreita faixa de terra, que se considera sob sua jurisdição, no que diz respeito aos estrangeiros. Essa neutralidade foi, até recentemente, rigorosamente observada.
Os portugueses obtiveram a colonização de Macau, por conivência dos mandarins, por volta do ano de 1537, com a condição de pagarem aos chineses uma renda fundiária de 500 taéis, ou cerca de 167 libras por ano. As fortalezas estão sujeitas a vistoria anual do mandarim, não podendo ser admitidos no mesmo ano mais de vinte e cinco navios portugueses; este número, no entanto, excede em muito o número atual de chegadas. Existem também duas autoridades chinesas, uma das quais, chamada Tso-tang, reside na própria cidade, pois os portugueses não podem exercer jurisdição sobre a população chinesa sem consultar os mandarins; eles não podem erguer ou demolir casas sem permissão.
A cidade de Macau estende-se até às margens de cada lado da curva de terra que une as duas colinas estéreis que formam a península; as casas são bem construídas de tijolo ou pedra e cobertas com cimento branco. Macau tem uma aparência mais europeia do que a maioria das cidades do Oriente, pois os portugueses introduziram o seu próprio estilo de construção, independentemente da diferença de clima.
A população foi estimada em trinta e cinco mil, dos quais talvez cinco mil podem ser considerados súbditos de Portugal, embora estes frequentemente se casem com os habitantes chineses.
A parte chinesa da cidade apresenta, aos olhos do estrangeiro, uma intrincada massa de vielas estreitas, repletas de trabalhadores itinerantes e barulhentos e vendedores de artigos chineses. O templo da deusa Matsoo-poo, na vila de Amako, fica de frente para o porto interior, e as rochas grotescas e a folhagem luxuriante da bela colina de Amako tornam esse local o favorito dos visitantes da colónia.
O infeliz poeta Camões passou parte do seu exílio em Macau, num retiro que ainda se chama Caverna de Camões, e aqui escreveu a maior parte dos 'Lusíadas'. “A boa intenção”, diz um visitante recente, “mas o mau gosto do atual proprietário, contribuiu para destruir a aparência romântica do retiro do exilado, que ele havia fixado entre duas rochas altas, fendidas e separadas por uma das aberrações da natureza. Quem pode imaginar que o génio da poesia tenha derramado suas tensões no local com a aparência atual, todas as pequenas rugosidades da rocha sendo preenchidas com gesso e cal. Num nicho ornamentado, encerrando o local idêntico onde o poeta se sentou está um busto de bronze de Camões; enquanto uma inscrição em ouro regista o nascimento, o génio e a morte dessa vítima da terna paixão; que, por uma infeliz ligação, depois de gastar seu sangue nas duras batalhas do seu país, é relatado que o abandonou, exclamando: "Ingrata patria, non possidebis ossa mea" / "País ingrato, não possuirás meus ossos".
O jardim que circunda esta gruta, situada a norte da vila, um pouco depois da igreja de Santo António, é, de facto, um belo recanto - um oásis no meio do deserto - e, pela amabilidade do senhor a quem pertence, é aberto ao público. A caverna em si está situada na encosta de uma colina levemente inclinada, no topo da qual está uma pequena e moderna casa de veraneio quadrangular, com a vista mais bonita e extensa do país circundante. A sudoeste vê-se a Taipa, o porto interior apinhado de toda a variedade de embarcações nativas, com a margem oposta da ilha Lapa, com as suas colinas verdejantes. A norte, observamos aquela lembrança do ciúme celestial, a barreira, com a pequena cidade chinesa de Tseenshan a oeste dela. Ao olhar para o leste, o observador encanta-se com a vasta extensão do mar, cravejado de inúmeras ilhas, os contornos azuis de Lintin ou Lantao aparecendo ao longe."

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