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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Os últimos dias do Hotel Riviera

A 24 de Fevereiro de 1969, depois de quarenta e um anos de serviço como Hotel Riviera (abriu a 17 de Janeiro de 1928 sob este nome) encerrou definitivamente as portas.
O espaço funcionou como hotel desde o final do século 19. Primeiro como Hing Kee Hotel,  depois sob as designações Macao Hotel e New Macao Hotel, antes de passar a ser Riviera. Tinha uma localização excelente, no cruzamento da Avenida de Almeida Ribeiro com a Rua da Praia Grande, em frente ao Banco Nacional Ultramarino e virado para a baía da Praia Grande.
Entre as muitas particularidades da história do hotel, destaco por exemplo:
- a porta giratória da entrada principal, a primeira do território por volta da década 1950 e que causou grande sensação na época;
- as arcadas do lado da Praia Grande que primeiro eram passeio público e seriam encerradas na década de 1940.
- os jantares dançantes ao som de orquestra nas décadas de 1950/60.
Em Outubro de 1969, no 30º aniversário da República Popular da China, o edifício já mudara de proprietário (Zhuang que em Junho de 1950 criara o Nam Tung Bank) e acolheu uma "Exposição de Automóveis Chineses". Zhuang, tal como a empresa Nam Kuong (de O Cheng Peng), eram uma espécie de representantes oficiais da China (e do Partido Comunista chinês) em Macau (tb pertenciam à Associação Comercial de Macau) numa altura em que, recorde-se, Portugal e China não tinham relações diplomáticas.
Em 1971 o edifício foi demolido e no mesmo espaço seria construída a sede do Banco Nam Tung. Já na década de 1990 também este edifício seria demolido para dar lugar ao actual sucursal do Banco da China.
Luís Andrade Sá no livro "A História na Bagagem" escreve:
"Quem entrava no Hotel Riviera pela portas principal não deixava de se surpreender. Dali partia um pequeno corredor que dava directamente para a sala de espera, elegantemente iluminada e mobilada ao melhor estilo italiano. De um lado do corredor ficava a sala de jantar onde eram servidas as três refeições diárias e das quais o jantar era mais cara: duas patacas por pessoa. A sala de espera dava ainda para o lounge, aberto até à meia-noite, onde se tomava chá e comiam pastéis de dez avos. E, no fundo do corredor, o indispensável bar que, quase desde o início, manteve a reputação de ser um dos mais bem fornecidos de Macau.
Imagine-se o pasmo dos visitantes a quem era dada a oportunidade de admirar a escadaria, que conduzia ao piso superior, coberta, à semelhança dos corredores, de grossos tapetes «tão bons como os dos melhores hotéis».
Os quartos em número de vinte e dois, permitiam apenas a ocupação de quarenta e quatro pessoas. Uma ocupação que, no entalho, poderia conhecer outros números caso os hóspedes concordasse, com os editoriais, sempre práticos e expeditos de “A Pátria”: «quando os visitantes não se importarem de dormir três ou quatro no mesmo quarto, o número (de hóspedes) poderá subir a oitenta»
A maior parte dos quartos dispunha de casa de banho individual, com água quente e fria e todos os pisos tinham telefone, numa clara demonstração de que os directores do hotel que se substituíra ao «New Macao Hotel», não se haviam poupado à despesas. Aliás, a remodelação custou-lhes cento e vinte mil patacas e importou-se tudo o que havia de bom e do melhor – a concepção arquitectónica à Palmer & Turner (de Hong Kong), a decoração, talheres e pratas à Lane Crawford (também de Hong Kong) e a roupa branca e louças à casa Albert Pick, de Chicago. A mobília era, naturalmente, italiana."
Neste postal ilustrado da década de 1960 pode ver-se o hotel Rivera ao centro e do lado direito uma arcada pertencente ao edifício sede do BNU.

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