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domingo, 11 de setembro de 2022

"A Abelha da China": 200 anos

Há 200 anos, na quinta-feira, 12 de Setembro de 1822 surgia o primeiro jornal de língua portuguesa a ser publicado de forma periódica em Macau com o título "A Abelha da China" / 葡萄牙语.
O nome será certamente uma alusão ao objectivo da iniciativa: 'picar' o poder instituído, ou seja, o Partido Conservador liderado pelo ouvidor Miguel José de Arriaga Brum da Silveira.
Tendo em conta o contexto da época, o semanário assume-se como ‘porta-voz’ do liberalismo (implantado em Portugal dois anos antes), regime político que então se começava a afirmar na ultra conservadora sociedade de Macau dominada pelas ideias do absolutismo.
O semanário político - resulta da liberdade de imprensa instituída pela revolução ocorrido na cidade do porto - era impresso na "Typographia do Governo", a cargo do Senado. Foi estabelecido pelo cirurgião José de Almeida, pelo chefe do Partido Constitucional no território, o major Paulino da Silva Barbosa e era editado pelo liberal e redactor principal, o vigário do Convento de S. Domingos, Frei António de S. Gonçalo de Amarante.
No primeiro número - teve apenas 67 edições no total - de apenas 4 páginas surgem reproduzidas as actas do Senado, "notícias marítimas", um avizo e o editorial:
"Havendo-nos o Leal Senado incumbido a redacção do presente periódico, julgamos ser uma das principais obrigações de um redactor o expor com verdade e com franqueza os motivos, que acelerarão a gloriosa façanha em o dia 19 do mês passado, em que os Macaenses arvoraram o Pavilhão da Liberdade, e derrocaram o horrendo colosso do Despotismo, que a tantos anos haviam suportado. Confessamos todavia, que esta tarefa é superior às nossas forças; mas nem por isso deixaremos de mostrar, o quanto desejamos cooperar da nossa parte para a justificação de um facto, que pôs termo à arbitrariedade, e que consolidou os direitos e os deveres do Cidadão, instalando-se, entre as salvas de um contentamento público, e incessantes vivas de alegria, um Governo Provisório, segundo a vontade geral de todos os Moradores, o qual no pouco tempo da sua instalação, tem dado sobejas provas do seu patriotismo, do seu zelo e da sua actividade pelos interesses nacionais. 
A Energia porém deste povo, sempre leal ao Seu Amado Soberano, e amigo da boa ordem, manifestou nesta ocasião com a maior evidência, que não é somente ao som de bélicos instrumentos entre o fragor das armas, empunhando a espada e derrotando falanges inimigas, que o Amor da Pátria, o denodo e a coragem se manifesta; que ele na paz igualmente se patenteia, e que nesta também se colhem viçosos e imarcescíveis louros, que ornam a fronte dos seus heróis. 
A paz, a tranquilidade e à boa ordem, com que se conduziu o povo Macaense no referido dia será um monumento eterno, que no provir lhe granjeará os maiores elogios. A falta de confiança pois, que ele tinha na Governança e o aferro com que esta pretendia entronizar-se, valendo-se para este fim de meios não só impróprios, mas até indignos do carácter português, foi a causa principal, porque reiteradas vezes se representou ao Senado a necessidade que havia de um Novo Governo, que obstasse, e servisse de barreira à torrente impetuosa de males, que ameaçavam o comércio; um Novo Governo que impedisse uma inevitável e próxima Anarquia; pois que tudo lhe augurava um futuro assaz desagradável e das mais funestas consequências, uma vez que as coisas continuassem do mesmo modo, que até ali continuado havia: isto é: conservando-se no lugar uma das Autoridades cuja exclusão exigiam, como fonte e origem donde brotava todo o mal ao comércio e por consequência à Cidade inteira."
Avizo
"Todos os Senhores que quiserem sobscrever neste periodico, faser alguns avisos, e inserir suas memorias o poderao fazer em carta fechada ao Redactor, dirigindo-se ao Laboratorio Constitucional em casa do Senhor Joaquim José dos Santos as Janellas verdes, aonde se achará o mesmo periodico de venda pelo preço de 100 Reis."
PS: Em 1994 a Universidade de Macau e a Fundação Macau publicaram uma edição fac-simile do jornal - imagem acima - compilando todas as edições (12.9.1822 a 27.12.1823) num total de 294 páginas.

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