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quinta-feira, 7 de julho de 2022

Macau no "Atlas Geográfico Ibero-Americano": 2ª parte

 Agricultura, Industria e Commercio

Visto a sua pequena superficie não pode a peninsula de Macau ter importancia agrícola; ao norte ha hortas e arrosaes, porém a cidade tem de se abastecer de fora da maior parte dos generos de consumo. Macau é principalmente um centro commercial. Situada na foz do rio de Cantão foi por muito tempo o emporio do commercio chinês mas a concorrencia de Hong Kong, tambem na foz do rio, e a de outros portos veio diminuir a sua importancia commercial; o gradual assoriamento do porto interior tambem a tem prejudicado; ainda é grande o movimento que alli se verifica. É porto franco desde 1845. É frequente dizer-se que a prohibição em 1874 da emigração de culis, que se fazia por este porto para a América e Hawai, veio dar o ultimo golpe na prosperidade de Macau; é certo que aquella prohibição produziu uma grande crise e que muitos macaístas que se occupavam naquelle negocio se retiraram então para outros portos mas não era isto só por si motivo para que a prosperidade de Macau declinasse permanentemente as causas acima foram das que mais para isso concorreram que porém é certo é que a maior parte do commercio se encontra nas mãos dos chinas.
O principal ramo da industria e commercio da cidade é o opio que se importa cru e se exporta  cosido, occupando-se muitos chinas na sua preparação. Tambem ha officinas de manipulação de chá que é exportado para Inglaterra, fabricas de desmoagem de arroz, de sedas, esteiras e especie de estalos. A pesca, muito florescente, occupa centenares de embarcações com milhares de tripulantes. Os pescadores de Macau e das ilhas da Taipa e Coloane abastecem a cidade, a de Hong Kong e outros portos da China. Os principaes artigos do commercio de Macau são arroz, azeite, chá, fio de algodão, opio, peixe salgado e seda. Em 1901 o movimento total de e exportação foi de 31.281,261 patacas
População
Macau é a cidade mais populosa dos dominios portugueses, depois de Lisboa e Porto. Compõe-se a sua população na maior parte de chinas; mas tem, além de bastantes europeus, um elemento proprio e importante de origem portuguesa que constitue uma raça mixta descendente naturaes do reino e orientaes, chinas, japoneses e malaios. São os macaístas a que os chinas chamam nhons, intelligentes, illustrados e activos. Tambem muitos passam parte da vida noutras cidades da China onde se occupam no commercio.
Acham-se  incorporados na raça branca (ver mapa) que indica a população da provincia conforme o recenseamento de 31 de dezembro de 1899.
É importante a população maritima. (...)

Administração
Á administração preside um governador. Divide-se a provincia em o concelho de Macau e concelho da Taipa, comprehendendo o primeiro a peninsula e o outro as restantes possessões. A corporação municipal de Macau tem ainda o nome de Leal Senado; ella mesma administra o concelho da Taipa onde reside porém um administrador que é o commandante militar. Macau é sede de um bispado que comprehende tambem o de Timor. Tem uma comarca, que pertence ao districto da Relação de Nova Goa; para administrar justiça aos chinas ha um Procurador dos Negocios Sinicos.

Excerto retirado do livro "Atlas geográfico Ibero-Americano, Portugal", em espanhol e português, de J. Barbosa de Bettencourt e Benito Chias Carbó, publicado em Barcelona.
A obra foi premiada na Exposição de Cartographia Nacional realizada na Sociedade de Geographia de Lisboa em 1903. Inclui Cartas Chorographicas "cuidadosamente executadas por pessoal technico sob a direcção do Capitão de Engenheiros do Exercito hespanhol, D Benito Chias Carbó" e "Descripção geographica e estatistica das provincias portuguesas da metrópole e ultramarinas indicando o numero de habitantes de cada concelho e cabeça de concelho do reino segundo os resultados do censo de 1900 e seguida de um indice alphabetico de todas as freguesias do reino com indicação da população respectiva."
Outro dos autores foi J. Barbosa de Bettencourt, engenheiro civil, chefe de secção na Direcção Geral da Estatística e Professor do Lyceu Nacional de Lisboa.

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