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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho (1954-2021)

Jorge Paulo Sacadura Almeida Coelho morreu esta quarta-feira na Figueira da Foz. Nasceu em Viseu em 1954. Licenciou-se em Gestão de Empresas e estreou-se na política na UDT. Em 1982 filiou-se no Partido Socialista onde viria a ser um destacado militante. Foi ainda deputado, ministro e conselheiro de Estado.
A carreira como governante começou no cargo de chefe de gabinete do secretário de estado dos Transportes (Francisco Murteira Nabo, que viria a ser Governador interino de Macau) de 1983 a 1985. 
Em 1988 foi nomeado chefe de gabinete do secretário de estado adjunto dos Assuntos Sociais, Educação e Juventude do Governo de Macau, cargo que desempenhou até 1991.
JC em Portugal numa fotografia de Daniel Rocha

Nos dois governos liderados por António Guterres, primeiro acumulou os cargos de Ministro Adjunto e Ministro da Administração Interna e depois Ministro do Estado e do Equipamento Social, cargo do qual se demitiu em Março de 2001 após a queda parcial da ponte que liga Entre-os-Rios e Castelo de Paiva, que provocou mais de 60 mortos.
Foi ainda comentador político na televisão e desde 2008 foi Presidente da Comissão Executiva da Mota-Engil, membro do Conselho Consultivo do Banco de Investimento Global (BIG), Presidente da Assembleia Geral da Sociedade das Águas da Curia e Presidente da Assembleia Geral do Maratona Clube de Portugal.
Fernando Esteves, autor de uma biografia não autorizada de Jorge Coelho ("Jorge Coelho, o Todo-Poderoso”), mas para a qual o biografado aceitou colaborar na condição de "de não a ler previamente ou interferir na sua construção", passou por Macau em Maio de 2014 e foi entrevistado pelo jornal Ponto Final.
"Acho que a passagem dele pelo Governo de Macau não é decisiva. Apesar de tudo foi uma figura secundária. Teve numa pasta importante [secretário-adjunto para a Educação e Administração Pública], mas não essencial e esteve pouco tempo. Não acho que tenha deixado uma marca indelével no território como deixou em Portugal. Cimentou uma aura de competência e combatividade, importante para ganhar espaço no PS. Veio para cá como militante anónimo e voltou como membro do Governo [ministro-adjunto de António Guterres]."
Na entrevista o autor do livro  recordou ainda um episódio em que Jorge Coelho ficaria conhecido como "o bombeiro". A imagem ao lado é de Macau em 1990 e tem por base uma foto de Alfredo Cunha.
"Ontem passei à frente do antigo Palácio do Governador. Abro o capítulo sobre Macau com um episódio épico da passagem do Jorge Coelho por aqui, que cimentou a alcunha dele de “bombeiro”. É uma manifestação de 2500 polícias à frente do Palácio sob uma chuva tremenda. Eles manifestavam-se pelo facto de os outros funcionários públicos terem sido aumentados e eles não. O Governo entrou em pânico e ninguém teve coragem de encarar a multidão. Aquilo estava muito complicado. Os polícias ameaçavam invadir o Palácio. Entretanto as autoridades chinesas já tinham uma força de intervenção pronta a entrar no território e é Jorge Coelho que salva a situação. Ele estava a passar pelo Palácio a caminho de casa e eles falam-lhe da possibilidade de os chineses irem lá limpar aquilo [um representante dos chineses no território disse que estavam 5000 militares na fronteira à espera de avançar]. E ele diz: “No momento em que deixarmos que os chineses venham aqui, a nossa presença deixa de fazer sentido. Estamos a admitir que não somos capazes de administrar o território. Vamos ter de ser nós a resolver”. Então vai para a frente do Palácio, sobe a um carro com um megafone [e tradutor ao lado] e começa aos berros naquele estilo bélico dele e quando acabou de falar vê que a multidão dispersou."

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