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quinta-feira, 18 de março de 2021

Aida de Jesus: 1915-2021

Figura incontornável da comunidade e gastronomia macaenses, Aida de Jesus morreu esta quarta-feira em Macau aos 105 anos.
Nasceu a 24 de Outubro de 1915 na freguesia de Santo António em Macau sendo baptizada como Aida Rafaela da Rosa. Estudou no Colégio Santa Rosa de Lima e casou em 1942 na Sé quando recebeu o apelido "de Jesus". Ela e o marido tiveram três filhos.
Em casa falava-se o português, o cantonense e o patuá (aprendeu com a avó), dialecto em que a Dona Aida era exímia falante.
Fotografia de Laurent Fievet em 2011
Foi cozinheira em vários restaurantes, incluindo no Clube de Macau, Hotel Estoril, Hotel Sintra e Hotel Lisboa até que já como chef célebre fundou no início da década de 1980 o Restaurante Riquexó - 利多澳门餐 - (que ainda hoje existe na Av. Sidónio Pais). Foi desta forma pioneira ao 'tirar' a gastronomia macaense do domínio privado dando-a a conhecer ao público em geral. Herdou as receitas da família e acrescentou-lhe o seu toque pessoal.
O ‘Tacho’ (baseado no cozido à portuguesa mas feito com ingredientes locais como chouriço chinês, toucinho, porco, galinha, dobrada e pato fumado) a ‘Capela’ (picado de carne de porco e chouriço português com ovos e queijo ralado que vai ao forno a gratinar) e o ‘Minchi (refogado de alho e cebola, molho de soja, gengibre e batata frita aos quadrados a que se acrescenta carne de vaca e porco picadas servindo-se com arroz branco e um ovo estrelado), eram alguns dos seus pratos favoritos.
Em declarações à imprensa nos últimos anos afirmou: “As receitas antigas tiveram de ser adaptadas aos nossos dias por causa das porções. Antigamente, como havia pouco dinheiro, a quantidade dos ingredientes era muito pequena”.
Com a morte de Dona Aida, como era tratada habitualmente, perde-se um dos símbolos maiores da cada vez mais reduzida comunidade macaense e uma das também poucas pessoas que dominava o patuá.

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