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terça-feira, 24 de novembro de 2020

The diary of a Russian lady: reminiscences of Barbara Doukhovskoy (1ª parte)

The Diary of a Russian Lady - Reminiscenses of Barbara Doukhovskoy (nee Princesse Galitzine)
Lived through but not forgotten 
London, John Long Limited, 1917

"Diário de uma Senhora russa - Reminiscências de Barbara Doukhovskoy (princesa Galitzine)" é a tradução do título deste livro publicado em Londres em 1917. 

Barbara Fedorovna (1854-1913) era filha do Príncipe Theodore Galitzine. Casou a 11 de Abril de 1876 com Serge(i) Mikhailovich Doukhovskoy, um militar (general) e alto cargo político, chegando a ser governador-geral de uma região da Sibéria.
O diário relata a vida antes e depois do casamento, incluindo várias viagens, nomeadamente à Europa (Exposição Mundial de Paris em 1900), América, Japão, etc. 
Para o livro partes do diário - termina com a morte do marido - foram editadas. Tem anotações por dia e mês mas o ano não é fornecido, deduzindo-se a partir de alguns factos.
Barbara e Sergei viveram em Tashkent, a "Paris da Ásia central" (quarta maior cidade russa na época, depois de Moscovo, S. Petersburgo e Kiev), actual Toshkent, no Uzbequistão, não muito longe da China.
Em 1899, durante uma licença de 8 meses do marido, Sergei, os dois viajam pela Ásia. Partem de Vladivostok em Dezembro, primeiro em direcção ao Japão (Nagasaki), depois Shangai, Hong Kong, Cantão e Macau onde passam quatro dias de Janeiro.
No prefácio, assinado por Constantin Sloutchevsky, um dos poetas russos mais famosos do final do século 19 explica-se que o diário foi escrito nunca a pensar numa edição em livro. "As circunstâncias colocaram a autora no centro de eventos notáveis. Permanecendo fiel ao princípio de não interferir nos negócios do marido, ela se torna, no entanto, a contragosto, a espectadora de factos particularmente interessantes: a guerra, a sociedade russa do final do século 19, a vida exótica nas colónias estrangeiras e as paisagens da Rússia remota como a as regiões do rio Amour na Sibéria Oriental."
Constantin, que era amigo do marido de Bárbara, realça ainda "o talento inato da autora, a sua educação, capacidade de observação" e adianta que algumas partes do diário foram publicadas - sob o título "Fragmentos do diário de uma mulher russa em Erzeroum" - em jornais russos, mas nunca na totalidade. A autora aceitou publicar o livro na condição das receitas servirem fins de caridade.

Excertos (original e tradução ) relativos à estadia em Macau - páginas 468 a 471 - tendo ficado hospedados no hotel Hing Kee:

January 11th.
This morning we took our passage to Macao on an English steamer named The White Cloud. I turned my back to Canton with great pleasure. I think China is a frightful country and wish I had never set foot in it. After eight hours of crossing, the Portuguese peninsula came to view. We saw about a  hundred cannons on the high forts, protecting Macao from the side of the sea. Two hundred years have gone by since the shores of Macao, the oldest European Colony in the Orient, were first visited by Europeans; in 1720* the Portuguese landed and took possession of it in the name of their Sovereign. The front of the town bears the inscription in Portuguese: Cita de no me de Dios, nas ha outra mas leal. (City in the name of God, there does not exist a more loyal one.)
On the quay men besieged us with their cards and prospectuses, each of them trying to lead us into the hotel that they were charged to represent. We took a Chinese interpreter called Fun, who spoke a few words of English, and promised to show us all the sights of Macao. He took us to the Hotel Hing-Kee, standing on the marine esplanade called "Praia-Grande", here a military band plays every evening. The hotel is built Portuguese fashion, with a gallery running around the four sides of the "patio" leading into the various rooms. The gallery is divided in several parts by wooden partitions communicating by doors which we opened, appropriating thus the whole gallery. Outside the air is mild, but it is very cold indoors; we were obliged to have a fire. In front of our hotel a boat, belonging to the Portuguese Customs, is moored; the opposite shore belongs to China.
Hotel Hing Kee na Praia Grande. Imagem não incluída no livro

11 de Janeiro. 
Esta manhã fizemos a viagem até Macau num navio inglês chamado The White Cloud. Virei as costas a Cantão com grande prazer. Acho que a China é um país terrível e gostaria de nunca lá ter posto os pés. Após oito horas de navegação, a península portuguesa apareceu. Vimos cerca de uma centena de canhões nos fortes altos, protegendo Macau do lado do mar. Já se passaram duzentos anos desde que a costa de Macau, a mais antiga colónia europeia no Oriente, foi visitada pela primeira vez por europeus; em 1720 os portugueses desembarcaram e tomaram posse dela em nome do seu soberano. A fachada da vila apresenta a inscrição em português: Cidade do Nome de Deos, não há outra mas leal
No cais, vários homens aproximaram-se de nós com os seus cartões e folhetos, cada um tentando nos levar ao hotel que deveriam estar a representar. Optámos por um intérprete chinês chamado Fun, que falava algumas palavras em inglês e prometia nos mostrar todas as atracções de Macau. Levou-nos para o Hotel Hing-Kee, na esplanada marítima chamada "Praia-Grande" e onde uma banda militar toca todas as noites. O hotel foi construído à moda portuguesa, com uma galeria a percorrer os quatro lados do "pátio" que conduz às várias salas. A galeria está dividida em várias partes por divisórias de madeira que comunicam por portas que abrimos, apropriando-se assim de toda a galeria. Lá fora o ar é ameno, mas dentro faz muito frio; fomos obrigados a fazer uma fogueira. Em frente ao nosso hotel está atracado um barco da alfândega portuguesa; a margem oposta pertence à China.

* data errada; a chegada dos portugueses a Macau remonta aos primeiros anos do século 16 e o 'estabelecimento' desde 1557.
Continua...

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